Pronunciamento de Mão Santa em 19/05/2003
Discurso durante a 58ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Reflexões sobre a qualidade e a extensão do cerrado piauiense, adequado para a produção de grãos. Necessidade da construção de duas rodovias no Piauí, de Gilbués a Santa Filomena e de Bom Jesus a Ribeiro Gonçalves, importantes para o escoamento do transporte da soja produzida no Estado.
- Autor
- Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
- Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
POLITICA AGRICOLA.
POLITICA DE TRANSPORTES.:
- Reflexões sobre a qualidade e a extensão do cerrado piauiense, adequado para a produção de grãos. Necessidade da construção de duas rodovias no Piauí, de Gilbués a Santa Filomena e de Bom Jesus a Ribeiro Gonçalves, importantes para o escoamento do transporte da soja produzida no Estado.
- Publicação
- Publicação no DSF de 20/05/2003 - Página 11811
- Assunto
- Outros > POLITICA AGRICOLA. POLITICA DE TRANSPORTES.
- Indexação
-
- ANALISE, SUPERIORIDADE, QUALIDADE, FERTILIDADE, SOLO, CERRADO, ESTADO DO PIAUI (PI), REGISTRO, GESTÃO, ORADOR, EX GOVERNADOR, ELETRIFICAÇÃO RURAL, AUMENTO, PRODUÇÃO, SOJA, ANUNCIO, INAUGURAÇÃO, INDUSTRIA, BENEFICIAMENTO.
- ELOGIO, HISTORIA, ATUAÇÃO, MIGRANTE, REGIÃO SUL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), TRANSFORMAÇÃO, AGRICULTURA, ESTADO DO PIAUI (PI), DESENVOLVIMENTO, TECNICAS AGRICOLAS, PRODUÇÃO, GRÃO.
- ANALISE, VANTAGENS, EXPORTAÇÃO, SOJA, ESTADO DO PIAUI (PI), INFERIORIDADE, PREÇO, FRETE, PROXIMIDADE, PORTO.
- SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DOS TRANSPORTES (MTR), CONSTRUÇÃO, RODOVIA, ESTADO DO PIAUI (PI), BENEFICIO, ESCOAMENTO, PRODUÇÃO.
O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Paulo Paim; Srªs e Srs. Senadores, brasileiros aqui presentes e telespectadores da TV Senado, Sua Excelência, o Presidente da República, está hoje no Maranhão. E, com todo o respeito, eu, que sou filho de maranhense, vou falar aqui da fome combatida pelo Presidente da República, tendo iniciado esse programa por cidades do Piauí - Guariba e Acauã -, um verdadeiro marketing da generosidade desse Governo. Mas quero dizer que o Piauí é muito mais.
Sua Excelência, o nosso Presidente da República, visita a cidade de Balsas, no Maranhão, para ver o pólo de desenvolvimento da plantação de soja. O Piauí, Sr. Presidente Paulo Paim, não é problema, não é somente Guariba, de cuja gente nos honramos, que planta feijão e teve uma colheita maravilhosa. Entendo ser o Piauí a solução para a fome que o Presidente Lula quer debelar, para a fome do Nordeste e do mundo.
De repente, a tecnologia nos leva a explorar o cerrado. Exploraram os cerrados brasileiros. E há menos de 100 milhões de hectares de cerrado: no Mato Grosso - cantado e decantado pelas Lideranças, com uma produção de grãos extraordinária - na Bahia, em Goiás, no Tocantins, no Maranhão. O último a ser descoberto foi o cerrado piauiense. São 11 milhões de hectares do total de cerrado do Brasil, que é 86,7 milhões.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, governando o Estado do Piauí em 1995, fui a São Paulo, Senador Gilberto Mestrinho - cujo nome peço permissão de mudar para “Mestrão”, pela grandeza que trouxe ao Amazonas e ao mundo político com sua experiência. Fui à associação dos criadores e produtores de São Paulo, e eles marcaram uma viagem ao Piauí para conhecer o cerrado. Chegando na capital, Teresina, eu os embarquei, e eles viajaram para o interior. Caro Senador Eduardo Siqueira Campos, quando eles voltaram, ofereci-lhes um almoço. E minha formação é urbana; sou médico cirurgião, minha família não tem vivência rural. Pois bem, 13 empresários de São Paulo, da sociedade de produção de agricultura paulista, disseram-me, durante o almoço, que aquele era o melhor cerrado. Disseram também que conheciam os cerrados do Tocantins, do Maranhão, da Bahia, todos, mas haviam considerado o do Piauí o melhor, por ser uma planície. A topografia do terreno é predominantemente plana. Hoje, quando se visualizam as plantações de soja no Estado, a impressão que se tem é de que são milhares de campos de futebol como o do Maracanã: uma extensa planície.
Então, começaram os investimentos. E por que não votei no José Serra? Em primeiro lugar, por causa de uma destinação. Consegui levar todos os Senadores e Deputados a uma reunião com José Serra, então Ministro do Planejamento, com exceção do “Senador americano” que o povo cassou. Apresentamos um projeto de eletrificação desse cerrado, Senador Gilberto Mestrinho, cujo investimento era de cerca de R$13 milhões, naquele tempo da paridade do dólar em relação ao real. E o Ministro do Planejamento negou os recursos, diante de toda a Bancada, do Governador e de um amigo íntimo que ele tinha, o Dr. Paulo Silva, filho de Alberto Silva, alegando que o Piauí estava endividado.
Contudo, sou um homem do Piauí, e nós não costumamos desistir de nossos objetivos. Assim, Deus me permitiu que houvesse uma reunião da Sudene em que estaria presente o então Presidente Fernando Henrique Cardoso. Sr. Presidente, Senador Eduardo Siqueira Campos, essa reunião com o Presidente ocorreu no começo do Governo. Houve reações ao Presidente da Petrobras, em uma greve incipiente. No plenário, instalou-se uma balbúrdia feita pelos grevistas. O Presidente fazia parte da reunião. A burocracia anunciou uma obra dessas feitas por técnicos, Senador Mestrinho, e, para o Piauí, somente havia açudes, sendo que o Piauí é o Estado do Nordeste que possui mais água. São 19 rios, sendo 6 perenes. E cito alguns deles: o rio Parnaíba, o segundo, tem 1.458 quilômetros; o rio Gurguéia, comparável ao Nilo; os rios Uruçuí Preto, Uruçuí Vermelho, Longá, Poti e outros que não são perenes. Há 100 lagoas e dezenas de açudes. É o maior lençol freático - água subterrânea. Há pontos em que jorra água de 40 metros de altura, como Poço Violeta, em Cristino Castro.
Então, os projetos eram de água e de açude. E o Presidente da República já estava no discurso, quando resolvi interceptá-lo. Lembro-me de que era Ministro o Sr. Cícero Lucena, e eu perguntei a ele como se buzinava. Ele me ensinou, e eu buzinei. Foi devido a uma campainha, Senador Mestrinho, que vi o Presidente Fernando Henrique Cardoso aperreado. No meio do discurso, a campainha soou. Sua Excelência estava preocupado com as manifestações dos grevistas, que ameaçavam invadir o plenário da Sudene, apesar da intensa proteção existente. Sua Excelência ficou olhando para o lado até perceber que estava presente o Governador do Piauí, a quem disse: “Mão Santa, já que V. Exª quebrou o protocolo, fale, diga o quer”. Então, naquele instante, o Piauí ressuscitou. Deus me deu a coragem de dizer: “Senhor Presidente, temos os mesmo direitos. Somos filhos dos votos. Vossa Excelência representa o Brasil e o Piauí, que não quer nada do que está sendo programado pelos técnicos. Vossa Excelência acaba de falar em Juscelino Kubitschek, fonte de inspiração da Sudene, e quero lembrar que Juscelino, quando administrou a Prefeitura de Belo Horizonte, o Estado de Minas Gerais e o Brasil, falava no binômio energia e transporte. Sei do que o Piauí precisa. Estamos para morrer afogados - água tem bastante. Queremos energia e transporte”.
Aquele pedido que eu tinha instrumentalizado e que José Serra, na sua insensibilidade, no seu desamor ao Nordeste, tinha negado, fi-lo publicamente. Nessa perspectiva, eu queria a energia do cerrado, e o Presidente da República, de chofre, diante daquela platéia, comprometeu-se a fazê-lo. E o cerrado, então, foi eletrificado por essa solicitação, por sensibilidade do Presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Foi, então, construída uma linha-tronco, que abrange a região do cerrado, no meio das cidades de São João, Canto do Buriti e Eliseu Martins, perfazendo 230 quilowatt, podendo-se espraiar para 138 quilowatt e 69 quilowatt para o restante.
Em 1994, o cerrado piauiense colhia dez mil toneladas de soja. Senador Gilberto Mestrinho; hoje, nos aproximamos de 400 mil toneladas. O Presidente da República foi a Balsas, um pólo nordestino de que nos orgulhamos cuja produção passou de 400 toneladas para 900 toneladas. Nestes últimos anos, em que governamos o Piauí, a produção saltou de dez mil toneladas para 400 mil toneladas, de tal maneira que, depois de buscarmos a Cargill, na Holanda, com Mr. Henk, depois de procurarmos o cearense Moinho Dias Branco, conseguimos a Ceval, da cidade de Gaspar, Santa Catarina, Estado do Senador Leonel Pavan. Em meio às transações, a Ceval foi adquirida por uma multinacional, a Bunge, que só instala uma usina de beneficiamento da soja quando a produção é superior de 300 mil toneladas.
Então, US$400 milhões estão instalados, e vai-se inaugurar em agosto essa grande indústria de beneficiamento da soja, para margarina, óleo, leite e todos os derivados, no Piauí, no cerrado, na cidade de Uruçuí. Essa é a grande transformação.
Agora, uma homenagem aos homens do Sul, região de Pedro Simon, que tanto admiramos. Essa transformação foi possível devido ao homem do Sul. De uma vez só, recebemos uma cooperativa, a Cotrirosa, com 300 famílias de gaúchos. Eles se implantaram lá, se fixaram e trabalharam no Estado, ensinando, educando e transformando o Piauí. Eles no deram a vitória. É essa a razão das transformações.
Então, as pessoas da terceira geração de gaúchos, de catarinenses e de paranaenses não têm mais terras no Sul, de onde saíram para, com a sua formação no trabalho e na agricultura, fixarem-se com amor nas terras do sul do Piauí. Esse é o milagre e a transformação: passou-se de dez mil toneladas de grãos para 400 mil toneladas, em poucos anos.
Comemora-se hoje, em Balsas, o aumento de 400 mil toneladas para 900 mil toneladas.
O avanço do Piauí é muito mais. Agradecemos à energia.
Apresentarei somente um exemplo: 300 famílias, de uma só vez, deixaram a terra santa dos gaúchos para se fixarem no Piauí. Esse é o número maior, mas são várias as famílias que decidem partir isoladamente e vão porque não têm mais terras no Sul. Elas adquirem terras e vão enfrentar o desafio, com o exemplo dos seus pais vitoriosos. A terceira geração está no Piauí, mudando e fazendo transformações.
Sr. Presidente, chamo esse homem de São Paulo de Ministro da Soja, porque tomou uma decisão. Sua mãe, viúva, as fazendas eram pequenas; ele transferiu-se com os irmãos e os cunhados; e hoje têm uma empresa de que todos nos orgulhamos. Além de plantarem soja, arroz e outros grãos e algodão, eles levaram ao sul do Estado esse intercâmbio de civilização e de cultura. Essa é a grande mudança do Piauí. Há depoimentos no livro “Piauí: um Estado diferente” sobre os piauienses de São Paulo, que traduzem todo o sentimento. Esse homem é Sérgio Bortolozzo, administrador de empresas e empresário rural.
Há ainda Bom Jesus, capital do desenvolvimento da região, próxima ao grande rio Gurguéia, comparável ao rio Nilo, a dádiva do Egito, a dádiva do Piauí.
Quando eu era Governador, ia pegar um avião e encontrei dois senhores com biótipo diferente do nosso, grandalhões, lembrando a figura do nosso Senador Leonel Pavan. Eles aproximaram-se e pediram para conversar. Disseram que não eram do Estado, e eu, no meu jeito, respondi: “Está-se vendo”. Pareciam descendentes de estrangeiros, figuras esbeltas. E eles me disseram: “Somos engenheiros, vamos fazer uma solicitação”. Precisavam fazer dois conjuntos habitacionais em Bom Jesus, porque muitas pessoas estavam vindo da Região Sul para aquela localidade e não havia moradia. Do aeroporto eles mostraram os bairros. Pediram-me apenas o compromisso de que eu levasse água encanada para os conjuntos habitacionais.
O Sr. Sérgio Bortolozzo, administrador de empresas e empresário rural, traduz em seu depoimento:
Em meados de 1987, eu meus três irmãos, José Roberto, Hélio e Amilton, percebemos que nossos horizontes nas propriedades que possuímos no Estado de São Paulo estavam ficando cada dia mais reduzidos, em virtude dos altos preços das terras e condições desfavoráveis de exploração da atividade agrícola, principalmente ligada à cana-de-açúcar, café, laranja e gado de corte.
Baseados na nossa tradição agrícola, pois somos oriundos de família de agricultores, resolvemos conhecer outras regiões e partimos para a região do Cerrado Brasileiro, no Centro-Oeste, onde visitamos e acompanhamos diversas plantações. Ficamos satisfeitos, porém achamos que deveríamos procurar mais.
No início de 1988, partimos para o Cerrado Nordestino, chegamos a Barreiras na Bahia, onde fizemos um período de estudos, seguimos para Balsas, no Maranhão, onde novamente nos instalamos por um período, até que em julho de 1988 - o Presidente está a comemorar o êxito da agricultura em Balsas - conhecemos o Piauí. Ficamos encantados com a qualidade desse solo, com a topografia totalmente favorável, clima perfeitamente apto à produção de grãos e com a hospitalidade do povo piauiense.
Não hesitamos, voltamos para Araraquara, programamos nossos negócios e nossas vidas e viemos para a região de Uruçuí, onde adquirimos uma área de terra e plantamos, já em 1988, uma área de 250 hectares de arroz. Com o passar do tempo, nossa atividade foi aumentando e resolvemos mudar definitivamente para o Piauí, apesar de continuarmos com nossa atividade em São Paulo. Partimos também para a produção de calcário, plantação de soja e milho, além do arroz.
Hoje temos certeza absoluta de que fizemos a opção certa, pois estamos morando num Estado com perspectivas enormes de desenvolvimento, com recursos naturais abundantes e posição invejável do ponto de vista de produção de alimentos.
Estamos contentes, somos piauienses.
No plenário, há Senadores representantes do Centro-Oeste. Citarei outro dado contundente da perspectiva. No Mapa-Múndi, o nosso Piauí fica no meio-norte. A própria Bíblia já diz a verdade com sabedoria: “A felicidade está no meio”. O Estado do Piauí fica mais próximo dos Estados Unidos e da Europa do que os grandes centros. A distância corresponde a 3.600 quilômetros.
A produção de soja do Centro-Oeste precisa embarcar pelos portos de Santos, de Paranaguá, de Santa Catarina. Portanto, o custo do transporte da soja cultivada no nosso cerrado piauiense, apesar de utilizar balsas e atravessar a Ferrovia Norte-Sul, construída pelo Presidente José Sarney, é muito mais barato e competitivo do que o do Centro-Oeste.
Ademais, segundo estudos elaborados pela Companhia Vale do Rio Doce, o custo de exportação de grãos de soja do porto de São Luís, no Maranhão, a Rotterdam, na Holanda, é de 34 dólares a tonelada, enquanto a exportação feita pelo porto de Paranaguá, no Paraná, ou do porto de Santos, em São Paulo, ou ainda pelo porto de Santa Catarina até Rotterdam é de 63 dólares a tonelada. Isso resulta numa economia de 29 dólares por tonelada de soja produzida no Piauí, no cerrado nordestino, o que a torna muito mais competitiva do que a produzida em outras regiões brasileiras.
Sr. Presidente, terminaria, depois dessa orientação, pedindo ao Presidente da República estradas. O Piauí é um Estado extenso, grande. Precisamos de duas estradas transversais, já incluídas no PPA. Uma, partindo do sul, cortando o cerrado, de Gilbués a Santa Filomena; e outra, que vai de Bom Jesus - onde estão se fixando esses irmãos do Sul - a Ribeiro Gonçalves - onde construí uma ponte, com recursos do Governo, batizada com o nome do grande político brasileiro Luiz Eduardo Magalhães. Essas são as solicitações do Piauí.
A gratidão é a mãe de todas as virtudes! Somos aqui agradecidos ao Presidente Fernando Henrique Cardoso pela linha-tronco de 230 quilowatts. Agora, pedimos ao nosso Ministro Anderson Adauto essas estradas, pois elas viabilizarão o escoamento da produção agrícola, da grande riqueza que vai matar a fome de Guaribas, de Acauã, do Nordeste, do Brasil e do mundo.
Que o Sr. Roberto Rodrigues, Ministro da Agricultura, tenha conhecimento dessa realidade, pois o Piauí não se apresenta ao Brasil como problema, e sim como solução.