Discurso durante a 61ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Estarrecimento com as informações prestadas pelo delegado da Polícia Federal, Dr. José Francisco Castilho Neto, em depoimento ontem na Comissão de Fiscalização e Controle, sobre a existência de depósitos de empresários e políticos brasileiros em contas CC-5 em Nova York.

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
BANCOS.:
  • Estarrecimento com as informações prestadas pelo delegado da Polícia Federal, Dr. José Francisco Castilho Neto, em depoimento ontem na Comissão de Fiscalização e Controle, sobre a existência de depósitos de empresários e políticos brasileiros em contas CC-5 em Nova York.
Publicação
Publicação no DSF de 23/05/2003 - Página 12508
Assunto
Outros > BANCOS.
Indexação
  • DEFESA, NECESSIDADE, APURAÇÃO, DENUNCIA, DEPOIMENTO, AUTORIA, JOSE CASTILHO NETO, DELEGADO, POLICIA FEDERAL, COMISSÃO DE FISCALIZAÇÃO E CONTROLE, CONFIRMAÇÃO, TRANSAÇÃO ILICITA, EMPRESARIO, POLITICO, BRASIL, DEPOSITO, AGENCIA, BANCO DO ESTADO DO PARANA S/A (BANESTADO), PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu e meus companheiros de Partido ficamos estarrecidos com o depoimento prestado ontem, na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado, pelo Delegado José Francisco de Castilho Neto.

Sr. Presidente, aquele depoimento não foi uma declaração feita por um policial qualquer a um jornal, mas o testemunho prestado por um policial que comanda uma investigação há muitos meses, confirmando que cerca de U$30 bilhões foram depositados no Banestado, na agência de Nova Iorque, por intermédio das contas CC-5, produto de operações ilícitas envolvendo empresários e políticos brasileiros - alguns, segundo o delegado, de renome. S. Sª disse, textualmente: “Quando esses nomes vierem a público, e se forem condenados, haverá uma limpeza na política nacional”.

Em qualquer outro país, esse depoimento teria provocado um terremoto político, uma crise, e, no regime parlamentarista, talvez até voto de desconfiança ao governo. Aqui, está passando como se fosse uma coisa banal. Nem os meios de comunicação, nem o Congresso, nem o Governo estão dando a atenção devida a esse escândalo, um dos maiores, talvez, da República, se os fatos denunciados forem verdadeiros.

E o delegado está sendo prestigiado? Não. Lamentavelmente, em maio do ano passado, ainda no governo anterior, foi afastado, segundo S. Sª, inexplicavelmente. Voltou ao Brasil. Em março, neste Governo, conseguiu retornar a Nova Iorque, pediu prorrogação de prazo para lá ficar e concluir a investigação. Não foi atendido. Retornou ao Brasil e, há muitos dias ou semanas não consegue falar com o seu chefe imediato.

Um pedido de criação de CPI, para apurar os fatos aqui no Congresso, deixou de ser apresentado, não sei exatamente o motivo. Caso meu nome esteja lá - deve estar -, vou pedir à primeira signatária, Senadora Ideli Salvatti, que converse com os subscritores do pedido, porque ele pertence a todos nós. Estranhamos que, mesmo com o número regimental mínimo, o requerimento não tenha sido apresentado. Sabe-se lá exatamente por quê.

Certo é, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que este fato escandaloso não pode continuar ignorado pelo Senado. Se realmente a Senadora não apresentar pedido de formação de CPI, vou tentar convocar o Ministro da Justiça, ao qual está vinculada a Polícia Federal; Ministro da Fazenda, sua ligação com a receita e o Banco Central, para trazê-los para um debate, a fim de provocar a imprensa, porque isto não pode continuar assim. Não podemos continuar bancando avestruzes, fingindo que o fato não existe e não é grave. Não é só grave, é gravíssimo! A sociedade brasileira precisa de uma resposta. Se esta resposta não for dada, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, e se ficar comprovado, aos olhos da opinião pública, daqui a algumas semanas ou meses, que realmente não houve vontade e determinação para apurar esses fatos, por conveniência política ou por medo, Sr. Presidente, será a desmoralização da classe política brasileira. E o Governo não vai sair imune disso. Se transparecer que o Governo está conivente e tolerante com isso... Que não pense que, em nome da governabilidade e da aprovação das reformas... Se parecer ou ficar evidenciado aos olhos da sociedade que o governo está abandonando seus compromissos éticos, não pense que isso não o abalará profundamente. Um governo que não tivesse esse compromisso antes da eleição talvez não sofresse nada, mas não é o caso deste governo presidido por Luiz Inácio Lula da Silva.

Espero que, principalmente os partidos governistas, meditem sobre o assunto. Esse fato é gravíssimo e não pode ficar como está, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/05/2003 - Página 12508