Discurso durante a 61ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre matéria publicada pela Revista Argumento, edição de número 11, que tratou do tema: "As dificuldades para o controle social das agências de crédito à exportação: o caso Brasil".

Autor
Romero Jucá (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RR)
Nome completo: Romero Jucá Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMERCIO EXTERIOR.:
  • Comentários sobre matéria publicada pela Revista Argumento, edição de número 11, que tratou do tema: "As dificuldades para o controle social das agências de crédito à exportação: o caso Brasil".
Publicação
Publicação no DSF de 23/05/2003 - Página 12588
Assunto
Outros > COMERCIO EXTERIOR.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, DISTRITO FEDERAL (DF), ANALISE, DIFICULDADE, EXECUÇÃO, CONTROLE, SOCIEDADE, AGENCIA NACIONAL, CREDITOS, EXPORTAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, ATUAÇÃO, INICIATIVA PRIVADA, INSTITUIÇÃO PUBLICA, BRASIL, NECESSIDADE, AMPLIAÇÃO, ACESSO, POPULAÇÃO, GESTÃO, FUNDOS PUBLICOS, GOVERNO FEDERAL.
  • REGISTRO, RESPONSABILIDADE, CONGRESSO NACIONAL, COLABORAÇÃO, COBRANÇA, DIVULGAÇÃO, DADOS, OPERAÇÃO, AGENCIA, CREDITOS, EXPORTAÇÃO.

O SR. ROMERO JUCÁ (PMDB - RR) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC), organização não-governamental sediada nesta Capital, publica, desde 2000, a revista Argumento. Trata-se de publicação das mais competentes, voltada para temáticas atuais, como os transgênicos, a globalização na América Latina e a situação da criança e do adolescente no Brasil.

O número 11 da Argumento teve como tema “As dificuldades para o controle social das agências de crédito à exportação: o caso Brasil”. No parecer correto dos autores - os economistas Luiz Fenelon e Newton Marques -, o tema é tão relevante quanto pouco transparente. Essa opacidade é exatamente o que dificulta qualquer tipo de controle social que se queira exercer sobre essas instituições, em especial no Brasil.

Com muita dedicação, os autores garimparam, aqui e ali, dados que levantam a ponta do véu que cobre as práticas de financiamento às exportações existentes no País. Em termos de escopo, o trabalho de Fenelon e Marques reveste-se de verdadeiro pioneirismo, abrindo o caminho para estudos futuros ainda mais profundos e reveladores.

Inicialmente, é lícito que nos perguntemos: a que se deve o crescente interesse que a sociedade civil tem manifestado em relação às agências de crédito à exportação, ou, abreviadamente, ACEs? O que mudou nessas agências, para que elas, subitamente, se tornassem o foco das atenções? A resposta é: nada. As ACEs não mudaram. O que mudou foi a própria sociedade, que se interessa, cada vez mais, pela divulgação dos gastos públicos, pela implementação das políticas sociais, pela forma com que o erário é gerido pelo Governo.

Essa nova e saudável postura da sociedade em relação aos atos dos agentes governamentais bate de frente com a forma de atuação das ACEs. Tradicionalmente, essas agências não primam pela transparência de seus atos, nem pelo respeito a cláusulas sociais e de proteção ao meio ambiente.

Essa foi a principal conclusão a que chegaram os autores. A escassez de informações com que ambos se depararam constitui o maior óbice ao exercício do controle social das ACEs.

Examinemos a estrutura do trabalho. O primeiro capítulo define as agências de crédito à exportação como entidades governamentais, ou com participação governamental, cujo objetivo é promover e dar cobertura a exportações e investimentos. No caso específico do Brasil, tendo em vista a importância das exportações para a geração de divisas, o Governo tem se esforçado para estimular também o sistema privado de seguros de crédito às exportações. Exemplo desse esforço foi a criação, em 1997, da SBCE - Seguradora Brasileira de Crédito à Exportação S/A.

O segundo capítulo delineia os tipos de recursos externos que ingressam no Brasil. São cinco as modalidades apresentadas: investimento externo direto, empréstimos externos em moeda, financiamentos, importação financiada e pagamento antecipado de exportação. Ao fim do capítulo, há uma análise da forma de apresentação da balança de pagamentos pelo Banco Central, cuja metodologia foi recentemente alterada.

O capítulo seguinte apresenta dois quadros com o montante de recursos que podem ser considerados como originários de agências de crédito à exportação, no período 1995-2001. Mais uma vez, os autores ressaltam: as estatísticas oficiais não são organizadas de forma apropriada, o que muito dificulta qualquer tentativa de identificar os recursos que efetivamente provieram das ACEs.

O Capítulo 4 é extremamente importante. Nele, investiga-se como as instituições financeiras internacionais registram e destinam os créditos aos fornecedores. É interessante frisar que o Senado Federal toma parte nesse processo, uma vez que, no caso dos recursos externos destinados ao financiamento de políticas governamentais, os créditos devem ser aprovados pelo Senado e registrados no Banco Central. O Congresso Nacional, portanto, constitui-se em potencial fonte de controle social sobre o investimento desses recursos. O problema é que, no caso de créditos externos destinados à iniciativa privada, uma cortina de fumaça cobre as negociações efetuadas. Nas palavras dos autores, “enquanto existe disponibilidade das informações para o setor público, esbarra-se na inexistência de dados estatísticos para o setor privado, mesmo de forma agregada, dado o sigilo bancário”.

            É preciso destacar a extrema relevância dessa questão, Srªs e Srs. Senadores. É imperioso que a opinião pública conheça, em detalhes, o montante de recursos estrangeiros aplicados na economia de nosso País, bem como a origem desses recursos e em que projetos são aplicados. O acesso a esses dados é imprescindível para que a população possa avaliar objetivamente os impactos econômicos, sociais e ambientais das iniciativas financiadas pelo capital estrangeiro.

De modo didático - característica, aliás, que permeia todo o trabalho -, Fenelon e Marques revelam, no Capítulo 5, como funcionam as principais ACEs do mundo, quais sejam: o Eximbank dos Estados Unidos, a Agência Hermes e o KfW da Alemanha, o Banco do Japão e as agências de crédito à exportação do Reino Unido.

O Capítulo 6 concentra-se nas duas principais ACEs nacionais: a SBCE e o BNDES-Exim. A Seguradora Brasileira de Crédito à Exportação S/A é uma seguradora privada, criada em 1997, que tem como acionistas um pool de bancos e seguradoras. O BNDES-Exim, por sua vez, oferece, desde 1991, uma linha de financiamento para apoio à exportação para empresas estabelecidas no Brasil, de capital nacional ou estrangeiro, em condições competitivas com o mercado internacional. Os recursos liberados pelo BNDES-Exim, em 1999, foram da ordem de 2,1 bilhões de dólares, valor correspondente a 4,5% do total exportado pelo País naquele ano.

A publicação conta ainda com vários anexos, que relacionam, por exemplo, as principais ACEs do mundo e os principais projetos governamentais financiados com recursos externos em 2000.

Não há dúvida, Srªs e Srs. Senadores, de que o presente número da revista Argumento constitui-se em importante estímulo para a análise mais aprofundada das agências de crédito à exportação. Dado o montante de recursos públicos envolvidos nas operações das ACEs, faz-se necessário, como afirmam Luiz Fenelon e Newton Marques, um efetivo controle social dessas instituições. Vale lembrar, por fim, que parte desse controle cabe justamente ao Congresso Nacional, um dos órgãos que podem e devem cobrar mais transparência na divulgação dos dados sobre as operações das agências de crédito à exportação.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/05/2003 - Página 12588