Discurso durante a 66ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o voto de repúdio ao Governo de Cuba, aprovado ontem pelo Plenário. (Como Líder)

Autor
Roberto Saturnino (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Roberto Saturnino Braga
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Considerações sobre o voto de repúdio ao Governo de Cuba, aprovado ontem pelo Plenário. (Como Líder)
Aparteantes
Ana Júlia Carepa, Eduardo Suplicy, Leonel Pavan, Pedro Simon, Ramez Tebet, Tião Viana.
Publicação
Publicação no DSF de 30/05/2003 - Página 13566
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, DISCUSSÃO, ORDEM DO DIA, SENADO, SITUAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, MANIFESTAÇÃO, ORADOR, RESPEITO, REGIME, GOVERNO ESTRANGEIRO, MOTIVO, AUSENCIA, FOME, MISERIA, EXPLORAÇÃO, TRABALHO, CRIANÇA, EXISTENCIA, ACESSO, EDUCAÇÃO, SAUDE, SEGURANÇA PUBLICA, CRITICA, IMPRENSA, MANIPULAÇÃO, INFORMAÇÃO, OBJETIVO, FAVORECIMENTO, CAPITALISMO.
  • CRITICA, RESTRIÇÃO, LIBERDADE, DITADURA, PENA DE MORTE, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, IMPORTANCIA, RECONHECIMENTO, JUSTIÇA SOCIAL.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem, no final da sessão, durante a apreciação do último item da Ordem do Dia, travou-se uma discussão a respeito dos acontecimentos em Cuba, se deveriam eles merecer ou não voto de repúdio. E, pela exigüidade do tempo - eram pronunciamentos de cinco minutos no máximo e já se aproximava o horário do fim da sessão -, ficou uma discussão inconclusa, Sr. Presidente.

Tive oportunidade de ouvir alguns Senadores dizerem que estranharam que Cuba fosse objeto de admiração de alguém; que a própria figura de Fidel Castro, que é recebida em toda parte do mundo com todo aplauso, fosse também objeto de admiração. No modo de ver deles, não haveria motivo para isso. Seria uma distorção gigantesca que se fazia por evocação de um passado superado inteiramente.

Srªs e Srs. Senadores, fiquei espantado com essa estranheza por parte de vários dos Srs. Senadores, ilustres Colegas, que não viam nenhum motivo para preservarmos o regime cubano e tratá-lo, bem como o seu líder principal, com certo respeito.

Eu gostaria, portanto, de aduzir algumas razões que, a meu juízo, retratam uma situação que merece respeito. Assim, Sr. Presidente, há estimativas que apontam para a existência, no mundo, de oitocentos milhões de seres humanos que passam fome física cotidianamente, e nenhum é cubano.

Há mais de um bilhão de seres humanos que vivem na situação que se classifica de extrema pobreza, e nenhum desses é cubano.

Há dois bilhões de pessoas no mundo que carecem de medicamentos essenciais ou de assistência médica, e nenhum desses é cubano.

Há mais de cem milhões de seres humanos que vivem na rua. Nenhum desses é cubano.

Há cerca de trezentos milhões de meninos e meninas fora da escola, no mundo. Nenhum desses é cubano.

Há duzentos milhões de meninos e meninas que trabalham no regime de adultos. Nenhum desses é cubano, Sr. Presidente.

Então, são realizações de um conteúdo humanístico e de base moral muito séria, que por isso mesmo nos chamam ao respeito.

Quanto à questão da criminalidade, claro que nenhum país, nem Cuba, conseguiu eliminá-la inteiramente. Mas é sabido que em qualquer cidade de Cuba, qualquer pessoa anda na rua, a qualquer hora do dia ou da noite, sem nenhum receio de ser assaltada ou violentada. Então, é uma situação que merece respeito.

Essas notícias, Sr. Presidente, não saem em nenhum jornal. As notícias veiculadas no jornal são deturpadas e distorcidas, como aquela de que os condenados à morte eram pessoas que estavam fugindo de Cuba por discordarem do regime, quando na verdade eram seqüestradores de uma embarcação. Essas notícias não são veiculadas no jornal, mas são acessíveis a quem se interessa por sabê-las e conhecê-las e tem olhos para enxergá-las.

É preciso também ser dito que Cuba é um país pobre. O Brasil é um país muito mais rico do que Cuba. Cuba é um país pobre e está submetido, há quarenta anos, a um bloqueio econômico que ainda aprofunda essa pobreza. Numa situação dessas, conseguir realizar um quadro social merecedor do respeito de toda a humanidade é algo que tem de ser considerado no momento de classificar o regime disso ou daquilo, de ditadura sanguinária. Há um preço, sim, todos reconhecem. Eu sou o primeiro a reconhecer o preço, em termos de restrições à liberdade. Cuba é uma ditadura, sim. E não aprovamos ditadura, qualquer que ela seja.

Agora, é preciso atentar para essas realizações que, como eu disse, têm um conteúdo humanístico enorme que nenhum país conseguiu. É preciso atentar, respeitar e não ficar colaborando com aqueles que querem acabar com esse regime, porque esses resultados constituem uma afronta ao grande velho capitalista do mundo. E é evidente que este império tudo faz, tudo arregimenta e tudo mobiliza, distorcendo o noticiário da imprensa, a fim de determinar a derrocada desse regime que acredito valer a pena preservar; claro que discordando da questão da ditadura, do partido único e, também, da pena de morte. Mas essa discordância é geral para todos os países que adotam a pena de morte. Não vamos particularizar o ocorrido em Cuba.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Permite V. Exª um aparte, nobre Senador?

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Com muito prazer, nobre Senador.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Senador Roberto Saturnino, V. Exª sabe - mas sabe mesmo - da grande estima e do apreço que lhe tenho, Senador que eu julgo da mais alta respeitabilidade. Trabalhamos juntos e pude sentir o fervor cívico de V. Exª pelo nosso País. Mas eu confesso que o discurso de V. Exª está me passando a impressão... e eu lhe faço este aparte porque o pessoal está vendo isso. A pergunta é a seguinte: existe ditadura boa? Não está havendo um proselitismo da ditadura em razão das conquistas sociais de Cuba? Não estaríamos justificando também os anos de autoritarismo que tivemos no Brasil? Porque nos anos de autoritarismo do Brasil, houve progressos no campo material. Naquela época, houve progressos no campo das telecomunicações, por exemplo, para citar apenas um deles. Então, está me dando a impressão de um proselitismo da ditadura. Com isso não concordo, a meu ver não faz jus à grande biografia do homem público chamado Roberto Saturnino.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Senador Ramez Tebet, tenho quarenta anos de vida política. Sempre fui um socialista. Nunca pertenci ao Partido Comunista, mas comecei a minha vida política no Partido Socialista, que pregava o socialismo com a democracia e com a liberdade. Continua sendo essa a minha convicção.

Não se pode fazer essa comparação. Uma coisa são os progressos materiais. Para essa realização humanística e social do regime cubano, Senador Ramez Tebet, vamos tirar o chapéu.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Mas é uma ditadura.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - É uma ditadura, sim. É claro que é uma ditadura, nunca neguei isso. Entretanto, vamos reconhecer que nenhuma democracia do mundo conseguiu isso, Sr. Senador. O conceito de cidadania engloba a dimensão política e libertária, mas engloba também a dimensão social. Nenhum país capitalista conseguiu alcançar essa dimensão social como Cuba. A União Soviética conseguiu também isso. Era um país de mujiques analfabetos, mas de muitos recursos. Cuba é um país pobrezinho e conseguiu isso. É de se respeitar, Senador, porque é um país muito mais pobre do que o nosso e conseguiu isso e nós não conseguimos. Então é preciso considerar essa questão, é preciso ter o bom senso e uma certa qualidade de coração para com a infelicidade do ser humano, para com as carências fundamentais, para com a vida do ser humano. É preciso ter consideração para com a qualidade da vida do ser humano para reconhecer aqui isso. Eu queria dizer que é preciso ter olhos para ver.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Pois não, Excelência.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Eu gostaria de cumprimentá-lo pelo pronunciamento. Ele é a continuidade de um importante debate que se instalou dentro do Plenário do Senado Federal no dia de ontem, um debate que elevou a temperatura das discussões, das opiniões. Uma matéria séria, sem dúvida alguma, que foi o ato que culminou com a execução de três pessoas, que nenhum Parlamentar do Senado Federal defendeu, que ninguém na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional defendeu. Mas nós apenas, no debate, apresentamos a afirmação de que cerca de 84 países ainda praticam a pena de morte neste planeta. Os Estados Unidos praticam a pena de morte. No estado de Minesota, há pouco tempo, no dia da execução da pena de morte pessoas foram consideradas inocentes. Quantos inocentes foram condenados à morte nos Estados Unidos por erros de condução de julgamento? Portanto, não podemos dizer que Cuba é o pior país do mundo apenas por esse erro, cometido também por muitos países. Por ser intolerável para nós, abominamos radicalmente a pena de morte e a falta de liberdade em qualquer modelo de ditadura. Graças a Deus, o Brasil está livre dessa situação. Porém, não podemos negar essa realidade de justiça social praticada naquele país. Há pouco tempo, visitou-me uma jovem cubana casada com um brasileiro que fez Medicina em Cuba. Ela chegou em minha casa, com seus dois filhos, e eu a provoquei: “E Cuba?” Ela respondeu: “Cuba está indo bem. Cuba está recuperando as suas dificuldades. Apesar dos US$70 bilhões que seqüestraram pelo embargo perverso que fizeram ao nosso país, vamos recuperar a nossa economia, os nossos indicadores. Vamos melhorar.” E questionei: “E o Brasil?” Ela disse: “O Brasil é um País muito triste”. Então, falei em tom de provocação: “Mas vocês não têm liberdade”. Ela perguntou: “De que liberdade o senhor fala? No Brasil, as crianças não têm escola. Quantas crianças não têm escola? Quantas não têm comida? Quantos velhinhos não têm uma casa para dormir? No nosso país, todos têm um abrigo, comida, educação. Além disso, participo da vida democrática do meu país, na militância política, nos comitês, nas assembléias permitidas, conforme o conceito de democracia de Cuba.” Esse não é o meu conceito, e nem quero partido único. Não quero centralismo democrático para o meu País, mas devemos respeitar a autodeterminação do povo cubano. Compartilhar com a pena de morte, nunca! Mas V. Exª está corretíssimo, quando defende o direito de ser e o direito de vir a ser do povo cubano. Ninguém precisa seguir a receita do imperialismo norte-americano, porque eles tutelaram a revolução na Nicarágua e permitiram uma violenta ditadura de 50 anos. Na República Dominicana, de Alejandro Trujillo, foram 40 anos de violenta ditadura militar; no Paraguai, com Alfredo Stroessner; no Congo, também. Por essa razão, não queremos para o nosso conceito de democracia esse modelo que diz ser democrata e que estimula ditaduras infinitamente piores. Parabéns a V. Exª pelo discurso. Manifesto aqui minha solidariedade ao povo cubano. Espero que encontrem um caminho democrático parecido com o nosso.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Senador Tião Viana, o nosso dever, de democratas, é exatamente instar ao povo cubano que recupere a democracia, e não que faça derrocada do regime a fim de deixar voltar ao país a máfia cubana que está em Miami, conforme pretende a potência imperial que promove toda essa armação, distorcendo as notícias para provocar essa falsa imagem negativa. Nosso dever não é derrubar essas conquistas, mas instar que se aperfeiçoe o regime em Cuba e conquistem a democracia.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Permite V. Exª um aparte?

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senador Roberto Saturnino, sou de um Estado que fica bem longe do seu Rio de Janeiro, Santa Catarina, e sempre considerei V. Exª um exemplo de homem público. Nós, que éramos do PDT, o tínhamos como um dos homens que mais lutavam contra a ditadura e pelos direitos democráticos. No PDT, por várias vezes questionamos os políticos exilados, a exemplo do grande Governador Leonel Brizola. Nossa luta durou alguns anos para que realmente pudéssemos vibrar com a democracia, com o direito de ir e vir, de falar, mas conseguimos, demos um grande passo. Meu saudoso pai, Rodesindo Pavan, que pertencia ao também glorioso PTB e que chegou a pertencer ao Grupo dos Onze, do Rio Grande do Sul, quando lhe falavam em Fidel Castro, que era da Esquerda, há mais de 20 anos, dizia o seguinte: “Dizer que Fidel Castro é da Esquerda, dizer que Fidel Castro é um homem democrático é ofender e humilhar as nossas lutas por um Brasil livre e democrático”. Meu pai dizia isso já naquela época, porque Fidel Castro sempre impôs, dentro de seu próprio país, as leis que bem lhe entendiam, as leis que beneficiavam os seus interesses. Hoje, Cuba tem um povo exilado em seu próprio país, um povo humilhado, amedrontado, sem condições de sair para as ruas. Não dá para falar. Quem fala contra ele está sujeito a ser preso. Eu apenas quis aparteá-lo, Senador Roberto Saturnino, porque sempre o tive como um dos homens que mais lutou dentro do PDT pela democracia nesse País. Fico envergonhado com o fato de que, há poucos dias, Fidel Castro tenha sido recebido com pompa aqui pelo atual Governo, com festas, com destaque de toda a imprensa sobre sua visita na posse de Lula, um ditador, um “perseguista”, que humilha o seu próprio povo. Temos que repudiar, sim, as ações de um homem que manda assassinar a sua própria gente, o povo que ele governa. Não tem muita diferença entre Saddam e Fidel Castro com relação a sua gente. Fica este meu protesto. Reconheço a sua boa vontade, a sua luta, sei das suas boas intenções e das suas ações do passado, mas defender Fidel Castro, neste momento, é jogarmos por terra todas as nossas lutas democráticas.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Permite V. Exª um aparte, Senador?

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Sr. Senador Leonel Pavan, fica muito bonito na boca de V. Exª isso o que V. Exª diz, e compreendo perfeitamente.

Senador, tenho 40 anos de vida política, e compreendo, e compreendo. Antes de ser do PDT e do Partido Trabalhista, fui do Partido Socialista e continuo sendo um socialista até hoje. E sei perfeitamente que ainda não se realizou o socialismo democrático, mas continuo confiante de que ele vai se realizar e respeito muito essas realizações humanísticas que nenhum país capitalista aí não conseguiu. Eu respeito. Se V. Exª não respeita, tem todo o direito. Acho que fica muito bonito V. Exª protestar e chamar Fidel Castro disso ou daquilo. Eu não chamo. Eu não vou dar nenhum empurrãozinho, nem com o dedo mindinho, para derrubar aquele regime e para que a máfia de Miami volte a governar Cuba. Então, fico com a minha consciência e V. Exª fica com a sua. Isso é a democracia e por isso estamos aqui.

            Concedo o aparte ao Senador Pedro Simon.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Em seguida ao Senador Pedro Simon, eu gostaria de pedir um aparte, Senador.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Pois não.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Os jornais estão noticiando hoje que os americanos, os aliados e os ingleses estão reconhecendo que não havia arma de destruição no Iraque. E eles já sabiam que ou não havia ou que já tinham sido destruídas.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Não havia, e até falsificaram documentos.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Exatamente. Então, hoje está ficando claro que o que aconteceu ali foi uma exploração de um fato para desmoralizar, para demolir um povo, para roubar a economia de um povo. O Iraque que, há oito anos, não podia negociar o seu petróleo, que estava sob o controle da ONU, mas agora que os americanos estão lá, mandando no Iraque, e agora a ONU liberou para que eles possam negociar, vender, fazer o que quiser com o petróleo do Iraque. Numa hora dessa, num momento como esse, não tenho nenhuma dúvida, meu nobre Senador, das restrições que tenho em relação a Fidel Castro. Penso que ele foi longe demais. Acho que ele já devia ter feito uma abertura, conduzido seu irmão, ou seja lá quem for, mas ele não está deixando saída. Daqui a pouco ele morre e o que vai acontecer? Quanto a isso não tenho dúvida nenhuma. Agora, numa era dessa, do mundo, em que estamos vendo o americano entrando, esmagando o Iraque, mandando aviso para o Irã e para outros países, como a Arábia Saudita, para que tome cuidado, mandando aviso até para Israel: “Olha, você vai lá e negocie com o palestino de uma vez, se não você não vai ter para onde ir”. Numa hora como essa, de repente, vejo muito mais Senadores dizendo horrores de Cuba do que não disseram sobre Bush, sobre os ataques do Iraque; estavam silenciosos, caladinhos, não disseram uma palavra quando o mundo inteiro protestou contra o que não foi uma guerra, mas foi uma invasão, uma barbárie, um esmagamento.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Foi um massacre.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Pois agora, de repente, aqueles que caladamente consentiram com o que o Sr. Bush fez, estão achando que é o fim da humanidade, é um erro - porque foi um erro -, foi uma burrice do Sr. Fidel, de Cuba, fazer aquela chacina. Aquelas mortes foram uma estupidez! Ninguém pode defender aquilo. Não há dúvida nenhuma de que ninguém defende aquilo. Mas daí a querer comparar com este mundo em que estamos vivendo, pelo amor de Deus! Felicito-lhe, porque V. Exª sempre foi um homem de coragem. A sua vida, a sua biografia, ao longo do tempo, tem sido a de um homem de coragem. Como lutei para que V. Exª ficasse no MDB! E V. Exª se retirou da vida pública, enojado dela! De repente, V. Exª aparece como candidato a Senador com o Brizola. E Brizola com 2%. Aí foi procurá-lo: “Mas vem cá, rapaz, tu não ias para casa?” “Eu ia para casa, mas achei que era uma vergonha ir sozinho. Vou lutando!” E terminou com uma vitória espetacular! V. Exª é um homem de idéias, de princípios e de doutrina; é um homem de dignidade, de seriedade e de pensamento! Eu o admiro, pois numa hora como essa, quando muitos silenciam, mesmo estando no PT, V. Exª continua o mesmo. Perdoe-me o que lhe vou dizer, mas tomei conhecimento de que o PT está tomando hoje uma atitude igual à que o PSDB tomou. Quando entrei com requerimento para instalar a CPI para apurar as empreiteiras corruptoras, o Senhor Fernando Henrique mandou retirar as assinaturas. Pois estou tomando conhecimento agora de que o Sr. Mercadante comunicou a Casa que os Líderes se reuniram para suspender a CPI. Mas V. Exª continua o mesmo. Meus cumprimentos!

A Srª Ana Júlia Carepa (Bloco/PT - PA) - V. Exª me concede um aparte?

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Nobre Senadora, eu preciso antes dar um aparte ao Senador Eduardo Suplicy, que me havia pedido.

Mas quero agradecer as palavras do Senador Pedro Simon, que é outro veterano como eu. Nós nos conhecemos tão bem, de forma tão limpa e há tanto tempo...

O SR. PRESIDENTE (Heráclito Fortes) - Senador Roberto Saturnino, a Mesa apela para que V. Exª encerre, pois estamos sendo cobrados pelos oradores seguintes. Compreendo, mas peço que V. Exª...

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Sr. Presidente, de minha parte já encerrei. Gostaria apenas de pedir que sejam breves os apartes do Senador Eduardo Suplicy e da Senadora Ana Júlia Carepa.

O SR. PRESIDENTE (Heráclito Fortes) - Exatamente. Após os apartes, peço que V. Exª colabore com a Mesa.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - O Senador está tão em baixa! Pelo menos dê um tempinho para ele, Sr. Presidente. Ele está em uma causa tão difícil! Pelo menos dê um tempinho para ele. A causa dele está tão difícil, dê pelo menos um tempinho para ele se defender.

O SR. PRESIDENTE (Heráclito Fortes) - Nobre Senador Pedro Simon, infelizmente a Mesa tem outra causa a zelar, que é o cumprimento do Regimento Interno. E V. Exª, como Senador exemplar, haverá de colaborar com o seu estreante companheiro.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Não há dúvida. Se há uma causa sagrada nesta Casa é o Regimento. O resto não importa. O Regimento é o Regimento.

O SR. PRESIDENTE (Heráclito Fortes) - Muito obrigado pela compreensão de V. Exª.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Roberto Saturnino, V. Exª confirma sua trajetória e sua opção em favor da construção democrática do socialismo. Os pronunciamentos de V. Exª, tanto o de ontem quanto o de hoje, merecem nosso respeito e solidariedade e chamam a atenção pela maneira fraterna como se pronuncia sobre o que se passa com o povo cubano. Estive em Cuba por duas vezes. E nas duas ocasiões pude, conforme V. Exª diz, observar as conquistas sociais produzidas pela forma de construção do socialismo. Quando lá estive, senti enorme vontade, e ainda tenho hoje, de dizer aos cubanos que avalio que o seu regime, a sua forma de organização socioeconômica, na verdade, irá fortalecer-se se eles se aprofundarem no aperfeiçoamento das instituições democráticas. Que possam os cubanos permitir uma imprensa mais livre! Que possam os cubanos permitir a formação de outros partidos políticos! E que sejam menos rígidos na defesa das conquistas de sua revolução - conquistas essas que devem defender. E que seja, então, o requerimento ontem aprovado nesta Casa - eu próprio votei a favor - visto pela maioria dos Senadores como um sentimento nosso de irmãos brasileiros para com os cubanos, dizendo-lhes para aperfeiçoar sua democracia. Não recomendamos a pena de morte, pois acaba causando esse tipo de sentimento como o causado em tantos brasileiros, incluindo-se alguns Senadores. Pedimos aos nossos irmãos cubanos que tenham mais tolerância quanto às sentenças feitas contra aqueles que têm opiniões contrárias ao regime político, porque essa tolerância, a nosso ver, fortalecerá a democracia. Por outro lado, é preciso repudiar com firmeza qualquer intenção do povo e do Governo dos Estados Unidos em querer realizar uma ação bélica, militar ou em provocar a derrocada do regime cubano por meios tais como os utilizados contra o Iraque. Ontem, estive, juntamente com outros Senadores e Deputados Federais, na Embaixada de Cuba, a convite do Embaixador Jorge Lezcano. E ele nos informou que há uma intenção bastante clara das autoridades norte-americanas em dizer: foi o Iraque, possivelmente agora será Cuba. Ora, saibam os norte-americanos que, deste Plenário do Senado, erguer-se-ão muitas vozes de críticas contra qualquer ação que tente modificar as instituições de Cuba por meios bélicos, pela força. Saibam os norte-americanos que muitos dos povos da América Latina souberam transformar as suas instituições por meios pacíficos, como nós mesmos o fizemos nas últimas décadas, passando do regime militar, que havia sido apoiado pelo Governo dos Estados Unidos, para o aperfeiçoamento das nossas instituições, com eleições livres e diretas. Meus cumprimentos, meu respeito e minha amizade por V. Exª.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Senador Suplicy, agradeço-lhe imensa e profundamente o aparte. A identificação de pensamento entre nós é a mais perfeita. Concordo com tudo que V. Exª disse e subscrevo.

A Srª Ana Júlia Carepa (Bloco/PT - PA) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Sr. Presidente, vou conceder o aparte à Senadora Ana Júlia. De minha parte, já encerrei.

O SR. PRESIDENTE (Heráclito Fortes) - Tem a palavra V. Exª.

A Srª Ana Júlia Carepa (Bloco/PT - PA) - Muito obrigada, Sr. Presidente. Queria parabenizar o Senador Roberto Saturnino e dizer que concordo com o que foi exposto aqui, se não me engano, pelo Senador Pedro Simon, de que algumas vozes foram muito ferinas contra o fato ocorrido em Cuba. Todos aqui condenaram o ocorrido, mas, com certeza, todos querem um processo de democratização de Cuba. Porém, não vamos admitir, como V. Exª tão bem expôs, uma intervenção. É isolar mais ainda um país, já tão discriminado, tão sancionado pelos Estados Unidos, que pensam que são os donos do mundo. Os Estados Unidos criam terroristas e ditadores do mundo como Saddam Hussein, como Bin Laden. Eles são cria dos Estados Unidos. É a criatura que se volta contra o criador. Já propus anteriormente - mas, infelizmente, era véspera de feriado - que fôssemos uma comissão de Senadores ao Iraque participar da reunião parlamentar. Se os Estados Unidos ousarem repetir essa atitude autoritária que têm tomado ao longo do tempo e que tem sido uma marca na história dos Estados Unidos, apoiando a ditadura militar no Brasil, a ditadura militar no Chile - em que morreram tantos brasileiros e tantos chilenos, brasileiros que lutavam pela soberania, que, em defesa do povo brasileiro, foram mortos com o aval dos Estados Unidos. Mortes tão condenáveis quanto as ocorridas em Cuba. Portanto, quero propor que, se ousarem, possamos não só levantar a voz contra, mas me proponho a ir a Cuba defender a autodeterminação dos povos, para que esse povo possa, inclusive, ter como exemplo a nossa história de luta e democratização, para que, com certeza, encontre o caminho não só dos seus direitos sociais, mas também da democracia. Parabéns, Senador Roberto Saturnino.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Obrigado, Senadora Ana Júlia. Quero dizer que serei um dos seguidores dessa sua iniciativa. Se V. Exª me convocar, estarei lá para, como soldado, seguir seus passos.

Sr. Presidente, agradeço a benevolência, peço desculpas aos oradores seguintes pelo tempo que tomei e encerro minha exposição.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/05/2003 - Página 13566