Discurso durante a 66ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Voto de congratulações ao Ministro da Cultura, Sr. Gilberto Gil, pela intenção de recriar o Instituto Nacional do Livro (INL).

Autor
Valmir Amaral (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/DF)
Nome completo: Valmir Antônio Amaral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL.:
  • Voto de congratulações ao Ministro da Cultura, Sr. Gilberto Gil, pela intenção de recriar o Instituto Nacional do Livro (INL).
Publicação
Publicação no DSF de 30/05/2003 - Página 13708
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, DECISÃO, MINISTERIO DA CULTURA (MINC), RECRIAÇÃO, INSTITUTO NACIONAL DO LIVRO (INL), BENEFICIO, POLITICA CULTURAL, VALORIZAÇÃO, LIVRO.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, INSTITUTO NACIONAL DO LIVRO (INL), HISTORIA, BRASIL, CRIAÇÃO, BIBLIOTECA PUBLICA, MUNICIPIOS, REALIZAÇÃO, CONCURSO, PREMIO, ESCRITOR, PUBLICAÇÃO, OBRA LITERARIA, OBRA CIENTIFICA, CRITICA, GOVERNO, FERNANDO COLLOR DE MELLO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXTINÇÃO, ORGÃO PUBLICO, TRANSFERENCIA, FUNÇÃO, BIBLIOTECA NACIONAL (BN).

 

O SR. VALMIR AMARAL (PMDB - DF) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a situação do mundo e do País não nos traz muitos motivos de comemorações. Entretanto, é preciso mencionar as boas notícias, sempre que se apresentem, até como forma de compensar a tendência negativista dos noticiários. É, portanto, com satisfação, que registro, nesta oportunidade, meu voto de congratulações ao Exmo. Sr. Ministro da Cultura, o compositor Gilberto Gil, que, segundo notas divulgadas recentemente na imprensa, tenciona recriar o Instituto Nacional do Livro, INL, extinto no Governo Collor.

A iniciativa, se levada a bom termo, permitirá a correção de um dos grandes equívocos cometidos contra a cultura do País. O Ministério da Cultura, como podemos nos lembrar, foi uma das maiores vítimas do desmonte do Estado brasileiro. E o INL foi mortalmente atingido pelo processo.

Criado em dezembro de 1937 por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema, em mais de meio século de existência, o INL prestou importantes serviços à cultura, a despeito da permanente escassez de recursos, já que os tecnocratas que manejam os orçamentos jamais consideraram o livro como produto essencial.

Foi com o esforço do INL que se criaram bibliotecas públicas em mais de 4 mil municípios do País. Os prêmios que distribuía, mediante concurso, constituíam estímulo à emergência de novos talentos que não encontravam condições para divulgar suas primeiras produções.

Outro relevante papel do Instituto, exercido por órgãos congêneres em todo o mundo, era a publicação de determinados livros, de grande valor cultural, mas de difícil vendagem, normalmente recusados pelas editoras comerciais. Por exemplo, o grande público não se interessa por um Dicionário do Português Medieval. Para isso, existia o Instituto Nacional do Livro, que cumpria o dever do Estado de interferir para a formação de um acervo precioso ao alcance da nova geração de pesquisadores e estudiosos de todos os matizes.

O INL existia, afinal, para programas dessa natureza, que complementam a atividade editorial. Outra área em que atuava com desenvoltura era a das edições críticas, abrangendo autores brasileiros que se tornaram clássicos, por constituírem, a par de sua excelência como ficcionistas e poetas, um repositório da língua bem escrita. Por terem caído no domínio público, esses autores se tornaram vítimas de edições apressadas, comercializadas eivadas de erros. O texto, que deveria ser depurado, muitas vezes se deteriorava. Cumpria ao INL, antes de tudo, fixá-lo definitivamente, mediante pesquisas aprofundadas e eruditas, a cargo de especialistas notórios.

Com a extinção do Instituto Nacional do Livro, suas competências foram transferidas para a Fundação Biblioteca Nacional e passaram a ser exercidas pelo Departamento Nacional do Livro. As bibliotecas públicas estão oficialmente integradas em um Sistema Nacional de Bibliotecas, dentro da Biblioteca Nacional.

Ora, Srªs e Srs. Senadores, a Biblioteca não consegue cumprir a contento nem mesmo sua tarefa básica de publicar a bibliografia brasileira, registro das obras que chegam ao seu acervo por meio de depósito legal. Não tem a vocação nem a estrutura administrativa, nem o peso político necessário para coordenar um sistema de bibliotecas públicas.

É uma confusão administrativa achar que essa tarefa cabe à Biblioteca Nacional. A Biblioteca Nacional é, fundamentalmente, um centro de referência bibliográfica, um local privilegiado de guarda de acervo e de pesquisa. Essas funções não se confundem com a de um sistema de bibliotecas públicas, que devem ser muito mais dinâmicas, abertas para uma interação com a comunidade, centros de difusão de informação, cultura e lazer, e não de preservação de acervos.

Srªs e Srs. Senadores, se concretizada a recriação do INL, teremos a oportunidade de corrigir um equívoco e de fazer avançar a questão do livro, no Brasil, para além das frases e das declarações de boas intenções.

Não basta ficar repetindo Monteiro Lobato, e sua afirmativa consagrada de que “um país se faz com homens e livros”. Trata-se de agir e de fazê-lo de forma conseqüente e democrática. Escritores, professores, editores, livreiros e bibliotecários têm de ser ouvidos e têm de participar da execução de uma política abrangente para o livro em nosso País. Sem isso, Srªs e Srs. Senadores, não há modernidade possível.

Reabilitar o Instituto Nacional do Livro pode ser o passo inicial dessa grande jornada.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/05/2003 - Página 13708