Discurso durante a 67ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários a respeito de estudo intitulado "O Brasil nas negociações internacionais de serviços de investimentos", de autoria do professor Reinaldo Gonçalves e dos economistas Cristina França e Idalvo Toscano, publicado na revista Argumento.

Autor
Romero Jucá (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RR)
Nome completo: Romero Jucá Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Comentários a respeito de estudo intitulado "O Brasil nas negociações internacionais de serviços de investimentos", de autoria do professor Reinaldo Gonçalves e dos economistas Cristina França e Idalvo Toscano, publicado na revista Argumento.
Publicação
Publicação no DSF de 31/05/2003 - Página 13897
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COMENTARIO, ELOGIO, ESTUDO, PUBLICAÇÃO, PERIODICO, ARGUMENTO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), AUTORIA, REINALDO GONÇALVES, PROFESSOR, UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ), IDALVO TOSCANO, CRISTINA FRANÇA, ECONOMISTA, ANALISE, INSERÇÃO, BRASIL, PROCESSO, GLOBALIZAÇÃO, DISCUSSÃO, DEFINIÇÃO, POSIÇÃO, NEGOCIAÇÃO, AREA DE LIVRE COMERCIO DAS AMERICAS (ALCA), MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), REGISTRO, DESEQUILIBRIO, LIVRE NEGOCIAÇÃO, FAVORECIMENTO, PAIS INDUSTRIALIZADO, CARENCIA, ESPECIALISTA, RELAÇÕES INTERNACIONAIS, PAIS EM DESENVOLVIMENTO, AVALIAÇÃO, INVESTIMENTO, CONTEXTO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.

O SR. ROMERO JUCÁ (PMDB - RR) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, recente número da revista Argumento, publicada pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC), aborda, com a costumeira propriedade, tema de elevado interesse para o País. Trata-se de estudo encimado pelo título “O Brasil nas negociações internacionais de serviços de investimentos”, de autoria conjunta do Professor Reinaldo Gonçalves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e dos economistas Cristina França e Idalvo Toscano, do Banco Central do Brasil.

Conforme esclarece Iara Pietricovsky, do Colegiado de Gestão do INESC, a publicação intenta provocar a discussão e definir posicionamentos frente às negociações que envolvem a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e os Estados Unidos da América (EUA), de um lado, e a América Latina e o Caribe, de outro, tendo em vista “a dimensão internacional e o seu peso nas decisões políticas e econômicas dentro das fronteiras nacionais”.

Os textos reconhecem que as negociações comerciais obedecem às prescrições de planos estratégicos voltados para a ampliação de mercados e da hegemonia política e evidenciam as desigualdades políticas e econômicas entre os países envolvidos no negócio.

Isso se confirma nos contratos entre países das Américas e entre a União Européia, a América Latina e o Caribe, nos quais aos ricos se concedem todas as vantagens, aos pobres resta a concordância com situações que lhes são adversas, sob pena “de serem fulminados pelas grandes corporações”.

O Professor Reinaldo Gonçalves, ao discorrer sobre as negociações de serviços e investimentos no projeto da Alca, relaciona os indicadores internacionais e o estado das negociações das compras governamentais, temas que considera altamente controversos e conflitivos. Indica a posição peculiar dos Estados Unidos no mercado internacional de serviços, enfatizando a preocupação generalizada quanto a possíveis avanços nas negociações do tema, no âmbito da Alca.

Aponta carências domésticas como a escassez de especialistas internacionais, a não ser no âmbito do Ministério das Relações Exteriores (MRE), e de órgão ou instituição de monitoramento e avaliação de desempenho da diplomacia. No entanto, considera a assessoria parlamentar, na área econômica, “de qualidade relativamente boa”, tendo em vista os padrões dos países em desenvolvimento.

Entende que são débeis “a institucionalidade da política externa e a capacitação técnica do Itamaraty”, adicionando, porém, que “no restante dos países latino-americanos e caribenhos a situação varia do amadorismo à aderência automática aos interesses de Washington”.

A economista Cristina França, por sua vez, procede a uma avaliação do processo de investimentos diretos, enfatizando o fato de que os acordos originam disciplinas igualitárias, na aparência, mas que, na verdade, são o produto de condições desiguais de concorrência.

Daí suspeitar, como a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), que a expressão “nivelar o campo de jogo”, usada com tanta freqüência, de fato corresponda “à perpetuação de desigualdades”.

Quanto aos acordos que disciplinam os investimentos diretos, em âmbito internacional, a autora aponta a pressão, velada ou explícita, dos países industrializados, para submeter ao GATS os Acordos de Promoção e Proteção de Investimentos, que dão segurança ao investidor externo.

O Economista Idalvo Toscano, por derradeiro, reporta-se à discussão do “Consenso de Washington”, no que se refere ao tema dos investimentos, para atribuir à política econômica praticada pelo Brasil após 1964 um enfoque de característica neoliberal, dada a sua forte correlação com as recomendações do decálogo do Consenso.

Tal correlação seria justificada pela “internacionalização do setor produtivo e de serviços”; pelo “ressurgimento da chamada ciranda financeira”; pela “concentração do setor bancário”; pelo “nível das taxas de juros praticadas”; pelos “efeitos da privatização do setor elétrico”; e “pelas denúncias em relação ao funcionamento do setor de telefonia pós-privatização”.

Daí, a proposta do autor de que sejam adotadas, como alternativas à “negociação pura e simples de acordos de disciplina de investimentos”, a exigência de que “se deve tratar desigualmente os desiguais”, e que os acordos, tanto os de comércio como os de investimentos, “deveriam ser negociados primeiro entre as pequenas e médias economias e, em bloco, entre estas e as demais”.

Em síntese, a publicação do INESC realiza profunda análise da inserção do País, “nos contextos regional e mundial”, e das implicações de se adotarem políticas liberais fundadas no Consenso de Washington, há pouco referido.

Ademais, calcula o custo macroeconômico, social, político e cultural que os brasileiros estão pagando, enquanto “habitantes deste planeta, onde os poderes e a distribuição das riquezas são desiguais e predatórios”.

Concluímos, Sr. Presidente, essas nossas resumidas apreciações, registrando que o estudo do INESC, a partir da ênfase com a qual defende apropriadamente os interesses brasileiros no conjunto das nações em desenvolvimento, presta relevante contribuição ao debate de questões básicas da política econômica internacional.

Era o que tínhamos a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/05/2003 - Página 13897