Pronunciamento de Valdir Raupp em 02/06/2003
Discurso durante a 68ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Felicitações ao povo argentino pela eleição do Presidente Nestor Kirschner. Expectativas de fortalecimento do Mercosul e da integração do bloco sul-americano.
- Autor
- Valdir Raupp (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
- Nome completo: Valdir Raupp de Matos
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA INTERNACIONAL.
POLITICA EXTERNA.:
- Felicitações ao povo argentino pela eleição do Presidente Nestor Kirschner. Expectativas de fortalecimento do Mercosul e da integração do bloco sul-americano.
- Publicação
- Publicação no DSF de 03/06/2003 - Página 14066
- Assunto
- Outros > POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.
- Indexação
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- CONGRATULAÇÕES, ELEIÇÃO, NESTOR KIRSCHNER, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, EXPECTATIVA, RECUPERAÇÃO, CRISE, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, MELHORIA, SITUAÇÃO, POPULAÇÃO, REDUÇÃO, DESEMPREGO, POBREZA.
- ANALISE, IMPORTANCIA, COLABORAÇÃO, BRASIL, POLITICA, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, ESFORÇO, CONSOLIDAÇÃO, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), DEFESA, PROMOÇÃO, INTEGRAÇÃO, PAIS, AMERICA DO SUL, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, AUMENTO, PARTICIPAÇÃO, POLITICA INTERNACIONAL, REGISTRO, DIFICULDADE, SITUAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, INTERIOR, CONTINENTE, COMPARAÇÃO, LITORAL.
- CRITICA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), PROPOSTA, CRIAÇÃO, AREA DE LIVRE COMERCIO DAS AMERICAS (ALCA), PREJUIZO, AMERICA DO SUL, DEFESA, ANTERIORIDADE, CONSOLIDAÇÃO, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), REDUÇÃO, IRREGULARIDADE, DIFERENÇA, ECONOMIA, AMBITO INTERNACIONAL.
O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o discurso de posse do Presidente Lula deixou claro o objetivo precípuo da política externa brasileira: construir uma América do Sul politicamente estável, próspera e unida, com base em ideais democráticos e de justiça social. Nesse sentido, é lícito afirmar que a semana passada começou em grande estilo com a chegada ao poder, na Argentina, do Presidente Néstor Kirchner.
O recém-empossado Presidente Kirchner assume o comando da política de um país irmão, grande parceiro comercial e aliado fundamental na busca da inserção latino-americana no mundo, que seja não só economicamente mais justa, como também socialmente mais solidária.
É com um misto de alegria e de alívio, portanto, que felicitamos o povo argentino pela escolha de um nome que parece sintonizado com os objetivos brasileiros no subcontinente sul-americano. Com efeito, o Mercosul tem amplas condições de servir de plataforma a partir da qual os países membros estarão em melhores condições de alcançar o tão acalentado desenvolvimento econômico, político e social pleno.
Sabemos das muitas dificuldades que acometeram nossos vizinhos em passado recente. O neoliberalismo ortodoxo, em conluio com práticas econômico-financeiras equivocadas, não tardou a cobrar seu elevado preço. O resultado de tantos descaminhos foi uma recessão sem precedentes, agravada por condicionantes externos que geraram número recorde de desempregados, redução dos salários reais, empobrecimento da população e aumento das desigualdades na distribuição da renda.
Um dos grandes responsáveis pela retirada da Argentina do “olho do furacão” foi o ex-Presidente Eduardo Duhalde, habilidoso político que conseguiu evitar quebradeira generalizada de bancos e de empresas e a volta da temida hiperinflação. Enquanto, no cenário interno, o Presidente Duhalde buscava equilibrar as combalidas finanças nacionais, no panorama externo, o Presidente argentino tencionava obter apoio brasileiro na urgente tarefa de superação da crise.
O Brasil, é bom que se ressalte, atendeu aos chamados platinos: nosso Governo decidiu conceder tratamento especial ao processo integracionista, em função do caráter estratégico alcançado pelo Mercosul nos últimos anos. Assim, a eleição de Kirchner vem como uma espécie de coroamento dos esforços brasileiros em prol da recuperação da Argentina.
Felizmente, o ex-Presidente Duhalde e o Presidente Kirchner vêem as dificuldades por que passou seu país como fonte de aproximação e de ajuda mútua. A fortíssima crise que se abateu sobre a Argentina e a solidariedade brasileira com seu vizinho serviram para que se estreitassem os laços bilaterais. Esse estreitamento e o aprofundamento do diálogo têm reflexos direto no Mercosul e servirão, ouso dizer, como incentivo para conscientizar os países da região de que o desenvolvimento só virá com a América do Sul integrada sob o signo da democracia e da solidariedade.
O observador incauto poderia perguntar, neste momento: por que apostar na possibilidade de uma América do Sul unida? Afinal, tentativas frustradas de integração não faltam em nossa história, a começar pela Associação Latino-Americana de Livre Comércio (Alalc), fundada nos idos de 1960. Por que acreditar que são válidos os esforços de integração?
Nossa região, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores - refiro-me aqui não somente aos países membros do Mercosul, mas a todos os nossos vizinhos - tem passado por um amadurecimento, por uma depuração político-institucional sem precedentes na história americana. Lembremos, uma vez mais, do caso argentino. Nem a mais grave das crises político-econômicas foi capaz de abalar os alicerces democráticos da sociedade argentina.
Parecer haver, na atualidade, uma consciência resoluta de que a América do Sul é a nossa inarredável circunstância geográfica e histórica. Estreitarmos os laços entre países que guardam tantas semelhanças entre si significa assegurarmos melhores condições econômico-sociais para todos. Digo mais, Srªs e Srs. Senadores: uma América do Sul bem integrada altera qualitativamente a inserção de todos os seus países no tabuleiro das forças globais e regionais que caracterizam a sociedade contemporânea.
Fortalecer e aprofundar o Mercosul significa, em última análise, qualificar o Brasil como interlocutor-chave do Cone Sul, significa acrescer pontos importantíssimos na contabilidade de nosso crédito externo. Um Mercosul forte, que fale em uníssono para o mundo, dá-nos alento para buscarmos integração com os demais países componentes da América do Sul.
Tocamos, aqui, em um aspecto que merece toda a atenção do Presidente da República e do conjunto da sociedade brasileira: a geografia que interessa ao Brasil não se restringe ao Cone Sul, área de abrangência dos países membros e países associados do Mercosul. É claro que o grau de complexidade atingido pelos esforços de integração no âmbito do Mercosul permite-nos inferir que é a partir dele que se construirão outras conformações integracionistas.
Porém, a priorização do Mercosul não pode ocorrer em detrimento de patrimônios de integração regional, representados, por exemplo, pela Associação Latino-Americana de Integração, Aladi. Outras realidades, outros paradigmas, tais como a Comunidade Andina e mesmo o mecanismo de coordenação política representado pela Organização do Tratado de Cooperação Amazônica também podem contribuir para que os bons ventos da integração atinjam a totalidade do território sul-americano, espalhando seus benefícios do Mar do Caribe à Terra do Fogo, do Atlântico ao Pacífico.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Rondônia está localizada, mais ou menos, no centro da América do Sul. Infelizmente, é enorme a distância para chegarmos aos portos do Atlântico. Hoje estamos muito mais perto do Pacífico do que do Atlântico, e as vias de integração - hidrovias, ferrovias e rodovias - não foram construídas.
Sr. Presidente, se olharmos hoje uma fotografia tirada por satélites, principalmente à noite, veremos algo muito impressionante: o desenvolvimento deu-se nas costas dos oceanos Atlântico e Pacífico, restando o meio de todos os nossos países - Brasil, Peru, Bolívia, Venezuela e Argentina. As grandes cidades, os grandes centros e as grandes indústrias estão nas costas dos oceanos Atlântico e Pacífico. Mas hoje aparece uma luz no final do túnel: as vias de integração estão ocorrendo, principalmente a Rodovia do Pacífico, um acordo entre o Governo brasileiro e o Governo peruano. As usinas do rio Madeira poderão gerar outras vias por meio das eclusas para navegação via rio Beni e Mamoré, até proximidades dos portos do Pacífico, do Chile e do Peru.
Felizmente, depois de mais de 100 anos de assinatura do tratado entre o Brasil, a Bolívia e o Peru, estão-se concretizando agora essas vias de integração. Dessa forma, Rondônia, meu Estado, certamente ficará mais próximo dos grandes centros consumidores, até para exportação para o grande mercado da Ásia. Rondônia está pronta hoje para produzir carne, derivados do leite, soja, café e para beneficiar madeira para fazer móveis. Enfim, são muitos produtos que o meu Estado hoje produz e que poderão ser exportados para outros países e grandes centros consumidores.
Essa preocupação é particularmente relevante no contexto brasileiro, de grandes assimetrias regionais. Afinal, a integração só se justifica quando vem promover maior coesão entre os entes federados e resgatar as injustiças históricas que sempre permitiram algumas áreas da Federação em claro prejuízo de outras.
Não queremos nem podemos projetar um futuro para a América do Sul que reproduza ou perpetue tais desigualdades, em escala subcontinental. Não é por outra razão, aliás, que a criação da Área de Livre Comércio das Américas, a Alca, suscita tanta celeuma. Celebrar acordo de tal envergadura, com a pressa que alguns nos tentam impor, pode trazer aos pactuantes novas distorções, além de provavelmente agravar injustiças já existentes. Perpetuar protecionismos em nichos privilegiados, em escala hemisférica, é o mesmo que renunciar à possibilidade de se construir um continente socialmente mais justo.
A Alca, Sr. Presidente, vai ocorrer inevitavelmente, mas não com a pressa com que os americanos querem, para se contrapor à União Européia, porque o dólar já se enfraqueceu diante do Euro. Aí está a razão da pressa dos americanos, que querem, a qualquer custo e com a maior brevidade possível, a criação do mercado comum das Américas, a Alca. O Brasil não pode ceder a essa tentação sem antes consolidar o nosso mercado - não o só o Mercosul, mas o mercado da América do Sul, juntando os países andinos aos que hoje integram o Mercosul.
É por esses motivos que a eleição do Presidente Kirchner, cujo discurso apresenta notável convergência com os interesses brasileiros, representa salutar sopro de renovação no projeto do Mercosul. Se o mais alto mandatário brasileiro pagou com a própria trajetória de vida o elevado preço das assimetrias regionais brasileiras, emigrando para São Paulo num pau-de-arara, o recém-empossado Presidente argentino, ex-Governador da longínqua Santa Cruz, na Patagônia, também conhece, por experiência própria, a importância do desenvolvimento equânime entre as diversas regiões componentes de um país.
Junto de minhas felicitações ao povo argentino segue, pois, minha esperança de que a experiência do Presidente Kirchner, somada à riqueza da trajetória pessoal do Presidente Lula, possam traduzir-se num Mercosul revitalizado, apto a proteger suas qualidades sobre todos os países e regiões sul americanas.
Estou convencido, Sr. Presidente, de que reunimos condições ímpares para operar ponto de inflexão em nossa tão bonita história.
Muito obrigado.