Pronunciamento de Jefferson Peres em 03/06/2003
Discurso durante a 69ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Avaliação sobre a proposta do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva de criação de um fundo internacional contra a pobreza no encontro dos G-8, em Evian, na França. (como Lider)
- Autor
- Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
- Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
- Avaliação sobre a proposta do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva de criação de um fundo internacional contra a pobreza no encontro dos G-8, em Evian, na França. (como Lider)
- Publicação
- Publicação no DSF de 04/06/2003 - Página 14170
- Assunto
- Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
- Indexação
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- COMENTARIO, REJEIÇÃO, MEMBROS, PARTICIPAÇÃO, REUNIÃO, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA, PROPOSTA, AUTORIA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRIAÇÃO, FUNDOS, AMBITO INTERNACIONAL, COMBATE, POBREZA, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, TRIBUTAÇÃO, ARMA DE FOGO.
- AVALIAÇÃO, INEFICACIA, PROPOSTA, CRIAÇÃO, FUNDOS, AMBITO INTERNACIONAL, ERRADICAÇÃO, POBREZA, MOTIVO, INCENTIVO, INDUSTRIA, MATERIAL BELICO.
O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva obteve anteontem, mais uma vez, um êxito pessoal no encontro do G-8 em Evian, um êxito que se repete, pois já aconteceu em outros eventos, e que se explica facilmente, porque o Presidente é visto com muita simpatia, seja pela sua origem operária, seja pela sua trajetória de luta, seja porque hoje representa o Brasil, talvez o País com maior simpatia na comunidade internacional.
Mas, infelizmente, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Presidente Lula não foi feliz na proposta que fez de criação de um fundo internacional contra a pobreza, tanto assim que sua proposta caiu no vazio. A não ser por uma referência educada do Presidente Jacques Chirac, a proposta não foi mencionada no comunicado conjunto do G-8, e foi criticada pelo Presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, e também por um representante do movimento antiglobalização.
Sr. Presidente, por que a proposta do Presidente Lula foi assim rejeitada quase unanimemente? Porque possui um pecado original, um problema de natureza ética, uma contradição insanável: busca combater a pobreza com recursos oriundos de uma indústria condenável, mortífera, que é a indústria bélica. Um fundo internacional de erradicação da pobreza que tenha como fonte uma indústria que produz artigos letais é eticamente indefensável, pois cria para essas indústrias uma justificativa moral: continuarem produzindo sempre e mais porque estão contribuindo para um fundo beneficente. Cria-se uma justificativa até para, quem sabe, os narcotraficantes do Rio de Janeiro, que são os maiores compradores de armas deste País. Isso até aplacaria as suas consciências - se é que as têm -, já que, ao comprarem armas, estariam contribuindo, também, para combater a pobreza no mundo.
Sr. Presidente, como ficaria o projeto do eminente Senador Renan Calheiros - que não se encontra no plenário - que proíbe a produção, a comercialização, o porte, o uso de armas? O projeto estaria contribuindo para reduzir os recursos do fundo proposto pelo Presidente Lula.
O Presidente Lula perdeu uma oportunidade de ouro de, perante aquele foro, sob os holofotes da mídia internacional, apresentar uma proposta realmente viável. Preferiu ser original, foi mal assessorado. E, se os assessores foram do Itamaraty, que me perdoem, mas a nossa diplomacia, tão competente e profissionalizada, cometeu um deslize e deixou fugir essa chance.
Entretanto, para não ser apenas crítico, mas também propositivo, entendo, Sr. Presidente, que o Presidente Lula não devia ter pensado em originalidade. Sua Excelência deveria ter retomado a antiga proposta de criação de um fundo oriundo de uma redução do orçamento militar dos países ricos. Aí, sim, se o Presidente propusesse que, suponhamos, os orçamentos dos Estados Unidos, União Européia e Rússia fossem reduzidos em 2% ao ano, sendo que metade, 1%, seria destinada à constituição desse fundo de erradicação de pobreza, seria uma proposta perfeitamente defensável, porque estaria, a um só tempo, reduzindo os orçamentos militares e, portanto, o mercado para a indústria bélica, e, ao mesmo tempo, alimentando o fundo de combate à pobreza.
Poderia ter recorrido a outra proposta, também original, não sei. O certo é que a proposta que Sua Excelência anteontem propôs não foi uma proposta feliz. Lamento, repito, que o Presidente do Brasil, tão aceito lá fora, tão bem recebido - mais do que recebido bem, recebido calorosamente, com entusiasmo -, tenha feito uma proposta tão pífia, Sr. Presidente.
Estou, sinceramente, lamentando isso.