Discurso durante a 72ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Transcurso do décimo quarto aniversário do município de Santa Rosa /TO.

Autor
Leomar Quintanilha (PFL - Partido da Frente Liberal/TO)
Nome completo: Leomar de Melo Quintanilha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Transcurso do décimo quarto aniversário do município de Santa Rosa /TO.
Aparteantes
Íris de Araújo.
Publicação
Publicação no DSF de 07/06/2003 - Página 14789
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, MUNICIPIO, SANTA ROSA (RS), ESTADO DO TOCANTINS (TO), ELOGIO, PROGRESSO, RESULTADO, CULTIVO, SOJA.
  • LEITURA, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, MUSICA POPULAR, RECEBIMENTO, PREMIO, CONCURSO, ANIVERSARIO, CIDADE.

O SR. LEOMAR QUINTANILHA (PFL - TO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Santa Rosa é, talvez, um dos menores Municípios do Estado do Tocantins. Era o município desconhecido, até há bem pouco tempo, por uma considerável parte dos tocantinenses. Agora, Santa Rosa, com a infra-estrutura que o Estado começa a implementar, vê florescer a sua economia com a possibilidade do plantio de soja. A soja, no Tocantins, particularmente em Santa Rosa, tem alentado e ampliado a esperança da construção de uma economia sólida que poderá, efetivamente, dar melhores condições de vida à população.

Comemorou Santa Rosa, no último dia 1º de junho, o seu 14º aniversário. Já é um Município ativo, muito bem conduzido pelo seu inteligente e competente Prefeito, Ailton Araújo, que acabou realizando uma festa muito interessante e bonita, resgatando valores cívicos, com atividades cívicas, desportivas e culturais, mostrando para a população que estava realmente vivendo um momento bom de seu desenvolvimento social e econômico; que estava vivendo momento de desenvolvimento de seu Estado, ele que era um Município de infra-estrutura rural, pequenino, com cerca de cinco mil habitantes, que tinha, na agricultura e na pecuária, basicamente, a estrutura de sua economia.

E foi numa dessas atividades de comemoração do aniversário, Sr. Presidente, num concurso de Roda e Catira, aproveitando o folclore, o conhecimento da sabedoria popular desse Município, que um sertanejo, um daqueles milhões de brasileiros que não tiveram a oportunidade de se cultivar, de estudar, de obter maiores conhecimentos, mas revelando-se um cidadão por inteiro, conhecedor e atento das nuanças por que passam o próprio País e não só o seu Estado, revelou em sua moda, em sua cantiga, disputando o concurso que o Prefeito produziu, uma mensagem muito contemporânea, um apelo muito forte, notadamente para as autoridades brasileiras.

Peço ao Sr. Presidente a deferência e a atenção de ler um trecho e transcrever essa bela mensagem que o folião Benevaldo Antonio Gonçalves, mais conhecido como Tapuim, autor da letra da música cantada pelos foliões Benevaldo Antonio Gonçalves e Adalberto Antonio Gonçalves, da Fazenda Açude, do Município de Santa Rosa, no Tocantins, com o grupo que integrava o certame que ali foi disputado.

Ele traz a seguinte mensagem:

Eu aqui, mais uma vez,

quero cantar para vocês,

vou usar meu português,

mesmo alegre e contente,

vou cantar com alegria

no meu ritmo de folia,

umas quinhentas pessoas

estou vendo em minha frente.

Olha que grande beleza,

rodeado nessas mesas,

com as canetas na mão,

os jurados estão presentes.

Agradeço o Prefeito, o nosso amigo Ailton e D. Nádia, pela organização.

De Santa Rosa eu falo pouco.

O ano passado eu já falei,

vocês prestem atenção

no que vou falar d’agora para frente.

Quem tem melhores condições

investe em plantio de soja,

que é uma lavoura grã-fina

e tem que continuar,

tem escanhas e caminhões,

são as melhores condições

para o Brasil inteiro a soja transportar.

Vende a soja de uma vez,

quando é daí uns mês,

ela volta enlatada.

Tem muito agricultor

Na terra não dá valor.

Tá vendendo suas fazendas, e

Outra não vai comprar mais.

Vão morar na cidade,

Para os seus filhos estudar.

Menino começa a malandrá.

Eu fico com dó desses pais.

Aqueles que têm opinião

Sempre fica cidadão,

E a metade só ladrão,

Porque a bandidagem tá demais.

Vou pedir minhas desculpas,

Ao mesmo tempo peço perdão,

Se eu agravei a população,

Por ter tirado essa mensagem,

Hoje em dia tenho filho,

Mas a minha terra não vendo não.

Posso até não ter renda,

Mas ainda tenho coragem.

Até os maiores bandidos

Já tá sendo protegidos.

Estou ficando esmorecido

Com a vida de cidadão.

Fernandinho Beira Mar

Só nasceu para traficar.

No esquema de roubar,

No Brasil ele é o campeão.

O malandro é confortado,

Da polícia é acompanhado

E também é transportado

Nos melhores aviões.

Mas aquele ladrão besta

Não coloca na cabeça

Que o homem têm dinheiro,

E a família tem condições.

Quando o besta vai roubar,

A polícia vai matar.

De vantagem que ele leva

É entrá de costas no chão.

Tá me dando até descrença

De ver tanta violência.

Já vi tanta inteligência,

O homem não sabe o que fazer,

Mas até de lá de dentro ele comunicado

Com os bandidos incentivado,

Eu acho errado demais.

Ligado na internet,

Com telefone e celular,

A sua vida é comunicar

O que vale hoje é os reais.

Eu é que não peço isso,

Eu não quero sacrifício.

O que eu peço a Jesus Cristo

É só saúde e paz.

Eu morro na minha roça.

O que eu aprendi foi puxá enxada e machado,

Que é a profissão dos meus pais.

Planto o arroz e o milho,

Planto andu e mandioca,

Planto a fava e feijão,

Para a fome combater.

Gosto de abóbora, melancia e pepino,

Planto batata-doce que é boa para estender.

Crio o frango caipira

E o capado no chiqueiro,

Crio umas vacas leiteiras

E tenho o leite para beber.

Quando chegam meus amigos,

Nada eu tenho escondido, tenho a comida caipira

Para poder oferecer.

Todos os anos eu tenho horta

E não vou comprar verduras,

Que a nossa agricultura

É boa para produzir.

Planto cenoura e beterraba

E também planto rabanete

E gosto de plantar o quiabo,

Que não dá trabalho para engolir.

Planto o coentro e a cebola

E gosto de plantar o alho,

Que o tempero é bom demais,

É aquele que nós fazemos aqui,

De um tempero mais gostoso,

Para ficar mais cheiroso,

Colocamos a favaca e também o jaborandi.

Nessa mensagem simples, Sr. Presidente, o sertanejo brasileiro, o homem que vive de sol a sol procurando defender o sustento de sua família, mostra que está atento ao que está acontecendo no País. Fala do momento de florescimento da economia do seu Município, que despertou para o plantio de soja e vai com isso modificar sua face social e econômica, mas revela a outra face, odiosa, do abandono, por que passa principalmente o pequeno produtor rural brasileiro, que vende sua terra, vem com pouco dinheiro para a cidade, atraído por suas luzes, a fim de trazer seu filho para estudar, e não consegue mais voltar ao interior e comprar outra propriedade. Acabado o dinheiro, seguramente ele deverá seguir o exemplo de Fernandinho Beira-Mar.

Enquanto a desassistência ainda perdura no meio rural, canta Tapuim, em prosa e verso, que o bandido mais famoso do Brasil tem escolta da Polícia para viajar, usa os melhores aviões, bem como o aparato do Estado para comer, beber e dormir.

É uma mensagem que cala fundo em nossos corações e consciências. Esse exemplo, Sr. Presidente, vem de um Município pequenino, a nossa Santa Rosa, que vive um momento de muita esperança, muito bem conduzida pelo seu Prefeito, acreditando que o futuro haverá de ser melhor para a sua economia e para a sua boa gente.

A Srª Iris de Araújo (PMDB - GO) - Senador, V. Exª me concede um aparte?

O SR. LEOMAR QUINTANILHA (PFL - TO) - Ouço V. Exª, com muita atenção, nobre Senadora Íris de Araújo.

A Srª Íris de Araújo (PMDB - GO) - V. Exª apresenta a fala simples do sertanejo, e sabemos que o repentista nasce repentista. Não existe uma escola em que se formam os repentistas. Na realidade, é um sertanejo que tem essa habilidade, por sua vivência, pelo convívio com as pessoas que o cercam, de transformar a realidade em versos. Fala de maneira agradável, mas ao mesmo tempo profunda. Acredito que V. Exª, ao ouvi-lo, tenha sido tocado, como fui agora, para a necessidade de estarmos atentos. Não podemos permitir, Senador, que pessoas que trabalham a terra, que lutam por ela - diz o repentista que jamais venderá sua propriedade, que lutará por ela -, impossibilitados de nela permanecer, engrossem a multidão daqueles que vão para as cidades em busca de um lugar melhor e acabem transformando-se em partícipes de uma situação de tragédia; além do crédito, precisamos dar-lhes assistência técnica. Muitas vezes, o sertanejo, por falta de formação que lhe possibilite trabalhar a terra, acaba desistindo, apesar de ter recursos para continuar. V. Exª foi muito feliz ao expor a palavra de um sertanejo neste Plenário, para nos emocionar, para dar uma lição a todos nós que estamos aqui para representá-lo. Parabéns pela oportunidade.

O SR. LEOMAR QUINTANILHA (PFL - TO) - Agradeço a V. Exª, nobre Senadora, a contribuição que traz a esta reflexão provocada pelo poeta Tapuim, o sertanejo do interior que resiste a integrar essa horda de rotos e famintos, que há quase 50 anos provoca um dos mais fortes e perversos fenômenos sociais que o Brasil experimenta: o êxodo rural. Nosso País, há tão pouco tempo, tinha uma população basicamente rural: mais de 70% dos brasileiros viviam no campo. No entanto, o produtor rural foi tangido pela necessidade, pelo desamparo, pelas dificuldades dos programas de apoio existentes no País, em contrapartida às facilidades do cidadão urbano - luz elétrica em sua porta, rua pavimentada, escola para seus filhos na esquina, hospital logo mais adiante, financiamento de casa própria, financiamento para todas as modalidades de demandas, comércio. Além de enfrentar dificuldades de acesso às tecnologias que permitiriam seu desenvolvimento, não conta, normalmente, com estradas em boas condições, para fazer escoar sua produção ou mesmo transitar com sua família em segurança. Enfim, essa é uma atitude perversa que ainda perdura no País e que acentua esse fenômeno social a que me referi, o êxodo rural.

Espero que esse clamor pungente, transcrito em uma roda de catira, que emocionou a tantos quantos, como eu, puderam ouvir Tapuim e seus companheiros cantarem em Santa Rosa, sensibilize aqueles que podem contribuir para inverter esse processo tão perverso de apoio ao cidadão urbano e de desamparo e desapreço ao cidadão do campo.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/06/2003 - Página 14789