Discurso durante a 71ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Sugestão de inclusão de ações de reeducação alimentar e capacitação profissional no Programa Fome Zero do Governo Federal.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL. SAUDE.:
  • Sugestão de inclusão de ações de reeducação alimentar e capacitação profissional no Programa Fome Zero do Governo Federal.
Publicação
Publicação no DSF de 06/06/2003 - Página 14453
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL. SAUDE.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ASSUNTO, ERRO, FALTA, QUALIDADE, ALIMENTAÇÃO, NECESSIDADE, CAMPANHA, ESCLARECIMENTOS, NUTRIÇÃO.
  • DEFESA, INCLUSÃO, PROGRAMA, COMBATE, FOME, ORIENTAÇÃO, NUTRICIONISTA, ESCLARECIMENTOS, POPULAÇÃO, SAUDE, ALIMENTAÇÃO, PREVENÇÃO, DOENÇA.
  • DEFESA, FORMAÇÃO PROFISSIONAL, CRIAÇÃO, RENDA, FAMILIA, PARTICIPAÇÃO, PROGRAMA, COMBATE, FOME.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, brasileiros e brasileiras, agradeço a aquiescência do Presidente Efraim Morais, Líder da Minoria, que nos propicia usar a palavra. Essa Minoria pode transformar-se em maioria.

Peço também permissão ao grande Líder da Oposição, do PSDB, Senador Arthur Virgílio, que trouxe para este plenário a palavra “abilolado”. No Piauí, usamos “abibolado”. Mas S. Exª usou o vocábulo “abilolado”, que está no dicionário do Buarque de Holanda, referindo-se à pessoa do Vice-Presidente José Alencar, que, como todo o Brasil sabe, teve a coragem de mostrar a necessidade de fazer caírem os juros. Mas quis Deus este instante, que esta Casa esteja sendo presidida pelo Líder da Minoria, Efraim Morais. Vou falar, sobretudo, como professor de Biologia, de Fisiologia, médico e Senador da República do Brasil pelo Piauí.

Sr. Presidente Efraim Morais, Líder da Minoria, faz-se democracia faz-se com Oposição forte, e V. Exª a tem transformado. O jornal Folha de S.Paulo, certo dia, veiculou matéria intitulada “Fome Zero Requer Alfabetização Alimentar”. Ou seja, o programa Fome Zero precisa ser “alfabetizado” em alimentação. A autora, uma mulher, que tem mais coragem de dizer as coisas do que os homens, chamada Fabiane Leite, publicou a opinião do médico britânico Philip James, presidente de uma força tarefa internacional contra a obesidade e participante do fórum “Peso Saudável no Brasil”, ocorrido em Brasília. Trata-se de uma autoridade inglesa em nutrição e vida saudável, também estudioso da fome.

O resultado do Fórum mostra que o nosso País gasta anualmente R$1,5 bilhão com excesso de peso e doenças relacionadas. Valor maior do que o gasto pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo em 2002 - exatamente a dívida externa do Piauí quando fui Governador.

Aproximadamente 40% da população brasileira está acima do peso. O número quase triplicou nos últimos 20 anos.

Estudos feitos com mais de dois mil adultos em uma favela paulistana mostraram que 8,5% são desnutridos, 14,6% têm excesso de peso e 21,9% são obesos.

Entre as crianças brasileiras, a prevalência da obesidade cresceu 240% nos últimos vinte anos, contra 66% nos Estados Unidos. Há um crescimento da tendência à obesidade na infância.

“As pessoas dirão que o principal problema do País é a fome. Mas fome e obesidade estão fundamentalmente ligadas”, disse o Dr. James.

A Organização Mundial da Saúde - OMS e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - FAO, publicaram relatórios em que destacam que a comida de má qualidade é um dos fatores que causam mais mortes no mundo. Então, não é a falta de comida, mas, sim, a comida de má qualidade que causa mais mortes.

É óbvio que o País precisa investir em educação para alimentação saudável. Não adianta o Programa Fome Zero chegar aos mais distantes rincões com uma cesta de alimentos - a cesta pela cesta -, ou com o dinheiro para poder comprar, indevidamente, alimentos incorretos.

É urgente que o Programa Fome Zero tenha equipes compostas de nutricionistas para orientar os beneficiários na busca de uma alimentação com qualidade. Também deve fazer parte da equipe o profissional da educação física, para mostrar à população a necessidade do exercício físico.

O Dr. James cita, aliás, o Programa Agita São Paulo, que recomenda 30 minutos de exercícios físicos por dia e é considerado modelo pela Organização Mundial de Saúde.

Quando governei o Piauí, preocupado com os mais carentes, criei, Estado afora, os restaurantes Sopa na Mão, que diariamente serviam refeições balanceadas e nutritivas, sob orientação e supervisão de nutricionistas. Era o alimento de qualidade na mão do cidadão que, naquele momento, estava vulnerabilizado pela pobreza e necessitando desse apoio do poder público capaz de tirá-lo da humilhante condição de pedinte.

Srªs e Srs. Senadores, o Fome Zero não pode limitar-se a um programa de caridade sem planejamento. É preciso sair do caminho perigoso da má alimentação. Precisamos investir em educação para a alimentação saudável, incluindo nutricionistas nesse Programa que irá percorrer todo o Brasil. Os resultados, com certeza, virão garantindo mais saúde com a diminuição de pressão arterial, do colesterol ruim, dos enfartos do miocárdio e dos derrames, acarretando maior qualidade de vida e economia na saúde pública.

É necessário e urgente que se aperfeiçoe o Fome Zero, para que o povo brasileiro venha a ter uma vida mais saudável, e que a prevenção seja colocada em lugar de destaque.

O Fome Zero implantado em alguns Municípios deve ser implementado, mas obedecendo a um rigoroso planejamento técnico com envolvimento de profissionais qualificados.

O Ministro Ciro Gomes disse: “O Programa Fome Zero deve deixar de ser um programa de caridade, mas, sim, um programa planejado para melhorar a saúde e a qualidade de vida”.

Como sabemos que um prato de comida mata a fome, mas apenas o trabalho mata a miséria, sugerimos que paralelamente sejam desenvolvidos com essas famílias os Programas de Capacitação Profissional e Geração de Rendas.

Deve-se obedecer ao que foi dito por Deus: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. Essa é uma mensagem da necessidade do trabalho. O Apóstolo Paulo foi mais além: “Quem não trabalha não merece ganhar para comer”.

Portanto, transfiro o título de “abilolado”, dado pelo Senador Arthur Virgílio ao ilustre Vice-Presidente, José Alencar, ao gestor do Programa Fome Zero, Sr. José Graziano.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/06/2003 - Página 14453