Discurso durante a 75ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da visita do Presidente da Argentina, Nestor Kirchner, ao Brasil. Defesa do fortalecimento e consolidação do Mercosul. (como Lider)

Autor
Aloizio Mercadante (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Aloizio Mercadante Oliva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Registro da visita do Presidente da Argentina, Nestor Kirchner, ao Brasil. Defesa do fortalecimento e consolidação do Mercosul. (como Lider)
Publicação
Publicação no DSF de 12/06/2003 - Página 15030
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, ALMOÇO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, NESTOR KIRCHNER, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, VISITA, BRASIL, IMPORTANCIA, AUMENTO, INTEGRAÇÃO, AMERICA DO SUL, REFORÇO, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), ESPECIFICAÇÃO, NEGOCIAÇÃO, AREA DE LIVRE COMERCIO DAS AMERICAS (ALCA), ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMERCIO (OMC).
  • ANALISE, EXPERIENCIA, UNIÃO EUROPEIA, POSSIBILIDADE, SEMELHANÇA, INTEGRAÇÃO, UNIDADE, AMERICA DO SUL, ELOGIO, POLITICA EXTERNA, GOVERNO, JOSE SARNEY, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, participei, juntamente com V. Exª, do almoço que o Presidente Lula ofereceu ao Presidente da República Argentina, Néstor Kirchner, que foi eleito em um momento extremamente difícil da história daquela nação, seja pelo colapso econômico herdado pelo novo governo, seja pelas imensas dificuldades políticas, institucionais e sociais geradas pelo modelo neoliberal e pelo regime de convertibilidade, que, semelhante ao primeiro Governo de Fernando Henrique Cardoso, o da âncora cambial, prejudicou muito as contas externas, desequilibrou as contas públicas, impulsionou a privatização sem controle e a desnacionalização da economia e que - no caso do Brasil, foram quatro anos e meio -, por mais de onze anos, levou aquele país a uma situação extremamente delicada, economicamente desafiadora e socialmente perversa.

Mal havia sido promulgado o resultado das eleições, o Presidente Lula anunciou que a sua primeira visita ao exterior seria para a República da Argentina. Tive a honra de acompanhar a delegação que visitou aquele país, em 2 de dezembro. O Presidente Lula foi recebido com um carinho imenso pelo povo argentino, e, naquela ocasião, ficou clara a proximidade e a identidade dos dois povos e a disposição de aprofundar a integração regional.

Nesse inicio de Governo, o Mercosul se recompôs. O Mercosul, hoje, por meio dos quatro países que o integram, trabalha unido nas negociações internacionais da Alca e da OMC. A vitória do Presidente Kirchner permitiu a consolidação dessa estratégia. Estamos oferecendo uma negociação bilateral - Mercosul/Estados Unidos -, o que fortalece a nossa capacidade de negociação e de atuação e a defesa dos interesses dos povos dessa região. Mais do que isso, temos recebido a sinalização de vários Presidentes - como Lúcio Gutierrez, recém-eleito no Equador; Alejandro Toledo, do Peru; Hugo Chávez, da Venezuela; e Álvaro Uribe, da Colômbia - com relação à possibilidade de darmos um passo além na ampliação do Mercosul e na integração de toda a América do Sul.

No almoço, o Presidente Lula homenageou o Presidente José Sarney, usando uma citação que gostaria de repetir: “Como dizem os chineses, quem bebe a água do poço tem que lembrar sempre de quem abriu o poço”. Com essa afirmação, Sua Excelência lembrou que foi o Presidente José Sarney que, juntamente com o Presidente Raúl Alfonsín, deu início a essa obra histórica de constituição do Mercosul.

Saí, desse almoço, seguro de que a relação estratégica que construímos com a Argentina é decisiva para o futuro da América do Sul, para a inserção soberana da América do Sul na ordem internacional, nas negociações com a União Européia e com os Estados Unidos.

Precisamos agora dar um grande passo na busca da integração institucional, do Parlamento do Mercosul, da integração cultural científica, tecnológica e social no sentido mais amplo, a exemplo da União Européia. A Europa entendeu, depois de duas guerras, ocasião em que se dividiu, há meio século, que a sua força está na união econômica, diplomática, política e institucional. Depois de ter construído um mecanismo de coordenação macroeconômica ao longo desse período - o Tratado de Maastrich, parâmetros comuns -, conseguiu construir um Banco Central e ter uma única moeda, o euro, que disputa a zona de influência com o dólar e traz o benefício da senhoriagem, da emissão para o continente, permitindo a sua recuperação e consolidação.

A unidade diplomática da Europa foi fundamental para o peso político e econômico que aquele continente tem hoje no mundo e para a integração política - o Parlamento Europeu - e também social, porque há, inclusive, tempo de televisão em todos os países com a finalidade de integrar culturalmente aquela região, tanto nos esportes como em todas as frentes sociais, legislação trabalhista, previdenciária, entidades sindicais, ONGs.

Eu diria que esse salto de qualidade talvez seja o maior êxito da diplomacia no século XXI. Estamos longe ainda da obra semelhante à União Européia, mas estamos dando um passo decisivo, com uma nova diplomacia. Não se trata de uma diplomacia do Presidente Lula, mas de uma diplomacia de Nação, no sentido de se impor com soberania na reunião do G-8, com a cara da América Latina e do povo latino-americano, e de permitir a articulação do Fórum Social de Porto Alegre com o Fórum Econômico Mundial e a integração do Mercosul e a unidade regional.

Por tudo isso, Sr. Presidente, V. Exª tem um papel muito importante nessa obra. Tenho certeza de que estará muito atento a esse esforço, à consolidação desse projeto.

Hoje, é um dia muito importante, pois o Brasil está recebendo o Presidente de um país amigo, de um país irmão. Temos que acabar com a rivalidade, como disse o Presidente Lula, entre Maradona e Pelé, no futebol. Temos que jogar juntos na diplomacia, na economia, na política, no comércio, na cultura, para enfrentarmos os muitos desafios dessa região pobre e excluída do planeta, que tem muitas dificuldades sociais, para podermos aumentar sua capacidade de negociação, sua ação diplomática, sua presença neste mundo globalizado, com tantos desequilíbrios, e, sobretudo, para podermos reverter a relação entre o mundo da produção, da indústria e da agricultura, com um sistema financeiro volátil e desestabilizador, deste final de século XX e início de século XXI.

Por tudo isso, queria saudar o Presidente Lula, V. Exª e o Presidente Kirchner por essa oportunidade de recomposição, de consolidação e de salto de qualidade na integração regional.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/06/2003 - Página 15030