O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, li uma notícia hoje na coluna do Jornalista Ancelmo Goes, de O Globo, um dos maiores jornais do País, nos seguintes termos:

“José Dirceu avisou a um incrédulo que o Planalto trabalha por São Paulo contra o Rio na escolha da cidade brasileira que disputará a sede dos Jogos de 2012 [os Jogos Olímpicos].

O “Paulistério” acha que, com isso, ajuda a companheira Marta Suplicy, Prefeita de São Paulo.”

Sr. Presidente, não sei se a notícia é verdadeira. O jornalista é idôneo, mas pode ter sido mal-informado. Entretanto, se a notícia for verdadeira, é, sim, preocupante. O Governo Federal tem que ser o árbitro, tem que ser neutro nas disputas entre os Estados da Federação. Se toma partido, isso quebra o equilíbrio e gera descontentamento, ressentimento e enorme preocupação em todos os Estados.

Eu não sou carioca, embora ame o Rio de Janeiro. Não estou tomando partido. Estranho apenas que, repito, falarei sempre no condicional, se for verídica a informação, lamento que o Governo Federal saia da sua posição de neutralidade para favorecer um Estado e, ainda mais, um Partido. Se isso acontecer e for uma linha de conduta, Sr. Presidente, todos nós dos demais Estados vamos ficar inquietos.

Eu penso no meu Amazonas. Manaus tem um enorme parque industrial, Sr. Presidente, e freqüentemente disputa investimentos com São Paulo. Agora mesmo, neste instante, a empresa Moto Honda, que decidiu instalar uma segunda fábrica de motocicletas no Brasil, está indecisa. Vai decidir até o mês de julho se instala a fábrica em Manaus ou em São Paulo. Se essa for uma linha de orientação do Governo, se o Governo Federal sair da sua neutralidade e murmurar aos dirigentes da Honda a sua preferência pelo ABC paulista, já perdemos a disputa, Sr. Presidente.

Além do que, o Governo não sabe o potencial explosivo que tem essa atitude, a reação que pode causar em um Estado como o Rio de Janeiro, quando vir que o Governo deixou de ser imparcial. Isso pode gerar, ao mesmo tempo, desequilíbrio federativo, agitação social e instabilidade política, na medida em que todos nos sintamos inseguros e deixemos de acreditar na isenção do Governo central.

De forma que espero, Sr. Presidente, duas coisas: que, amanhã, o Ministro José Dirceu desminta categoricamente essa nota - não menospreze, não silencie, porque o silêncio será uma admissão tácita de que é verdade - e, depois do desmentido, mostre com atos que ele não está realmente tomando partido na disputa entre dois Estados da Federação, a fim de favorecer um ou outro.