Discurso durante a 78ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Saudação às iniciativas de preservação da natureza levadas a cabo pelo Instituto para a Preservação da Mata Atlântica - IPMA.

Autor
Teotonio Vilela Filho (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AL)
Nome completo: Teotonio Brandão Vilela Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Saudação às iniciativas de preservação da natureza levadas a cabo pelo Instituto para a Preservação da Mata Atlântica - IPMA.
Publicação
Publicação no DSF de 17/06/2003 - Página 15687
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, ENTIDADE, PROTEÇÃO, MATA ATLANTICA, CRIAÇÃO, PROGRAMA, DESTINAÇÃO, RECUPERAÇÃO, MEIO AMBIENTE, ESPECIFICAÇÃO, REFLORESTAMENTO, EDUCAÇÃO, PROJETO FLORESTAL, PARTICIPAÇÃO, EMPRESARIO, ECOLOGISTA, AMPLIAÇÃO, CONHECIMENTO, COMUNIDADE, PROFESSOR, ALUNO, ESCOLA PUBLICA.

O SR. TEOTÔNIO VILELA FILHO (PSDB - AL. Sem registro taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nesse Semana Internacional do Meio Ambiente, em que mais se costuma lembrar a extensão da devastação e da depredação dos ecossistemas, prefiro saudar a esperança de iniciativas para sua preservação, pois afinal o que me move é a certeza de que não basta preservar o pouco que temos, mas reconstituir o muito que perdemos. Saúdo iniciativas como a do Instituto para a Preservação da Mata Atlântica, uma organização criada por empresários e ambientalistas, a maioria de Alagoas, para preservar o que ainda resta de um dos biomas mais ricos do planeta e, ao mesmo tempo, dos mais ameaçados em todos os tempos.

O IPMA já desenvolveu projetos de reservas particulares do patrimônio natural para mais de 10 mil hectares de mata atlântica, a maioria situada em terras de usinas de açúcar de Alagoas, algumas localizadas também no Rio Grande do Norte e em Pernambuco. Outros tantos projetos estão se encaminhando ao IBAMA, entre os quais se destacam a Reserva de Salvador Lyra, com 1.631 hectares em terras da Usina Marituba, em Alagoas, e a Reserva de Santa Isabel, com mil hectares, em terras da Usina Porto Rico, no mesmo estado. Representam, no conjunto, mais que a garantia hipotecada da preservação desses 10 mil hectares: constituem sementes que por certo germinarão multiplicadas para plantar a consciência de que só a convivência harmônica com todos os ecossistemas garantirá a nossos filhos a vida que eles esperam no ambiente que eles exigem.

Não faltará quem diga que ainda é pouco, é muito pouco, esgrimindo números de uma devastação perturbadora. A Mata Atlântica, que, por sua importância, foi considerada reserva da biosfera e proclamada patrimônio da humanidade, foi reduzida a menos de 8% de sua cobertura original, que se estende do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. Pior ainda: no Nordeste, acima do Rio São Francisco, escaparam hoje menos de 2% da floresta nativa.

Nos últimos onze anos, segundo dados que os jornais registram, foram devastados 10 mil quilômetros quadrados de mata atlântica, o equivalente a um campo de futebol a cada quatro minutos. Nenhum outro bioma em todo o mundo tem resistido a tantos atentados.

Essa conjuntura de devastação torna mais importante e significativa a constituição do Instituto de Preservação da Mata Atlântica, que se dedica à conservação e recuperação desse ecossistema, a partir da criação de reservas particulares, de reflorestamento e de educação ambiental. O IPMA é um avanço tanto mais expressivo não apenas pelo engajamento de empresários e ambientalistas nessa luta em defesa da Mata Atlântica, mas até pela visão que os norteia, de que preservação não se faz apenas com legislação ou policiamento, mas com a participação das comunidades locais e com seu envolvimento em projetos de melhoria da qualidade de vida, de geração de renda e de conservação dos recursos naturais.

O IPMA, por exemplo, faz educação ambiental desde o ano passado, quando o Instituto começou a promover seminários de percepção ambiental, para a formação de professores das escolas da região. As aulas são ministradas na própria mata, onde os professores conhecem os diversos ecossistemas e sua biodiversidade. Vinte e uma usinas do Rio Grande do Norte, de Pernambuco e, sobretudo, de Alagoas já realizaram esses seminários de percepção ambiental, capacitando 500 professores de 120 escolas públicas. E para que todo mundo possa aprender a conhecer e a gostar da Mata Atlântica, o Instituto está inclusive criando um Centro de Visitação, para levar alunos, professores, comunidades e turistas a conhecerem o bioma talvez mais ameaçado entre os principais ecossistemas.

Até o próximo ano, as usinas sócias do Instituto da Mata Atlântica estarão plantando 1 milhão e meio de mudas em suas áreas de recomposição florestal. Foi criado, para tanto, no município alagoano de Cajueiro, um Centro de Produção de Mudas, com capacidade para 1 milhão de mudas de 65 espécies diferentes, a cada ano -- hoje um dos maiores centros de mudas nativas do Brasil. Os primeiros resultados já se fazem sentir.

O Programa de Recomposição Florestal Natural, por exemplo, também experimentado numa área de 150 hectares no município alagoano de Cajueiro, começa a mostrar resultados: depois de três anos do início de sua implantação, toda a área está em franca recomposição, com o reaparecimento de espécies vegetais e o retorno alentador de diversas espécies de aves, mamíferos e répteis.

O reflorestamento que se pretende contemplará, sobretudo, as matas ciliares, que vão melhorar a qualidade dos rios, com benefícios para toda a fauna aquática. Registre-se, a propósito do cuidado especial com os cursos d'água da zona da Mata Atlântica que, já este ano, o IPMA está iniciando um programa de identificação e proteção de nascentes em todas as áreas das usinas associadas: as margens das barragens construídas para irrigação estão sendo inclusive reflorestadas, de forma a criar verdadeiros santuários naturais para nossa fauna mais característica.

Não faltará quem lembre que a agroindústria do açúcar cometeu equívocos históricos em relação ao meio ambiente. Ninguém desconhece e todos lamentam que muitas usinas tenham jogado nos rios da zona da mata o vinhoto de suas dernas. Tal prática, felizmente, já parece dessas coisas que a antiguidade sepultou, pois o vinhoto, hoje, é um adubo orgânico que nenhuma empresa sequer admitiria desperdiçar.

Apesar de toda a incompreensão da opinião pública para com a agroindústria do açúcar nordestino, registre-se, por questão de justiça, que foi a cultura da cana-de-açúcar a responsável direta pela conservação do solo da zona da mata, apesar da íngreme topografia montanhosa da região. Os antepassados de cana trouxeram para a região não apenas a gramínea que ajudava a reter o solo, mas também técnicas fundamentais como a curva de nível, sem a qual os solos da zona da mata hoje estariam tão erodidos quando os do semi-árido mais devastado.

São iniciativas como essa de criação do Instituto de Preservação da Mata Atlântica, por parte de empresários e ambientalistas do Nordeste, sobretudo do setor açucareiro de Alagoas, que nos transmitem a mais profunda esperança de uma convivência de respeito e harmonia com todos os ecossistemas, na sua preservação e em sua recuperação. São lições que usineiros do Nordeste dão ao Brasil. Mais que isso, são senhas de futuro que nossa geração garante com a hipoteca de seu próprio patrimônio, mas sobretudo com o aval de sua própria consciência conservacionista.

Por ocasião das comemorações da Semana do Meio Ambiente, registro, como todos, e lamento, como raros, os atentados múltiplos e contínuos que se fazem a nossos ecossistemas; prefiro, no entanto, saudar a esperança de iniciativas para sua preservação. Por iniciativas como a do IPMA, acredito, e acredito com o mais vivo entusiasmo, que é possível não apenas salvar ainda o pouco que temos, mas é possível também reconstituir o muito que perdemos.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/06/2003 - Página 15687