Discurso durante a 84ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Equívocos na interpretação das palavras do Presidente da República em pronunciamento feito na CNI. (Como Líder)

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Equívocos na interpretação das palavras do Presidente da República em pronunciamento feito na CNI. (Como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 26/06/2003 - Página 16272
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • LEITURA, TRECHO, DISCURSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDUSTRIA (CNI), EFEITO, POLEMICA, INTERPRETAÇÃO, DESRESPEITO, LEGISLATIVO, JUDICIARIO, ESCLARECIMENTOS, AUSENCIA, IMPOSIÇÃO, REFORMA TRIBUTARIA, REFORMULAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL, REFERENCIA, PRIORIDADE, CRESCIMENTO, BRASIL.
  • REPUDIO, TENTATIVA, CRIAÇÃO, CRISE, PODERES CONSTITUCIONAIS.
  • INJUSTIÇA, ACUSAÇÃO, AUTORITARISMO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pela ordem. Sem revisão da oradora) - Sr. Presidente, quando foram feitas as inscrições, pedi a palavra pelo Bloco de apoio ao Governo. A Assessoria da Mesa comunicou que o Senador Tião Viana já havia falado pelo Bloco no início da sessão.

Pedi ao Senador Antonio Carlos Valadares para falar em nome do PSB, e S. Exª assentiu. Quem presidia a Mesa era o Presidente José Sarney, que concordou, mas não anotou o meu nome.

Assim, quero que fique garantida a possibilidade de falar. Outros Parlamentares também tiveram a percepção da concordância do Presidente José Sarney.

O SR. PRESIDENTE (Heráclito Fortes) - Ao assumir a Presidência, fui informado pela Assessoria da Mesa da garantia que lhe foi dada pelo Presidente José Sarney logo após a Ordem do Dia.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Não era para falar logo após a Ordem do Dia, mas neste horário.

O SR. PRESIDENTE (Heráclito Fortes) - Então, após os titulares dos Partidos, V. Exª usará o horário concedido pelo PSB.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço ao Presidente e também ao Líder do Governo.

Considero de fundamental importância, neste debate, não as interpretações, não os julgamentos, mas aquilo que foi efetivamente dito pelo Presidente da República. Estou aqui com a íntegra do discurso de Lula, feito ontem na CNI. Não há, em nenhum parágrafo, qualquer referência às reformas.

Para que não paire dúvida, vou fazer a leitura do trecho com o qual se cria toda a polêmica. Não era de reformas que o Presidente Lula estava falando, mas do crescimento deste País.

E isso, Armando, começa a partir de agora. Você está lembrado do que eu disse, há um mês, de que nós iríamos começar um espetáculo de crescimento neste País. Nós sabemos o que isso representa, sabemos as dificuldades, mas sabemos, também, que, se não houver determinação, eu diria quase que um trabalho de abnegação de todas as pessoas, a gente não consegue o intento.

E eu, irmã, estou com a senhora, quando diz: “A gente não pode nunca deixar de crescer”. Eu, a cada dia que passa, a cada dificuldade, me sinto o brasileiro mais otimista que este País já teve. Nada, podem ficar certos que não tem chuva, não tem geada, não tem terremoto, não tem cara feia, não tem o Congresso Nacional, não tem o Poder Judiciário, só Deus será capaz de impedir que a gente faça este País ocupar o lugar de destaque que ele nunca deveria ter deixado de ocupar.

O Presidente Lula, no discurso da CNI, referiu-se ao crescimento, e não às reformas. E falou com a compreensão que todos os brasileiros devem ter de que não existe nada ou ninguém que é maior ou superior ao interesse nacional, ao desenvolvimento deste País.

Por isso, interpretar e julgar mal essa declaração de que os interesses do nosso País e do nosso povo são soberanos a quaisquer poderes, instituições ou personalidades é, realmente, querer criar a crise, o caos a que o Brasil, felizmente, não foi submetido. Este País ia entrar no caos absoluto pelo descontrole das contas, da economia, e está recuperando-se, superando as dificuldades, entrando em um patamar digno e soberano nas negociações internacionais. Talvez isso tudo esteja criando dificuldades; quem sabe, uma parte dos que estão interpretando, julgando, estava apostando no caos, que não se consumou, não se concretizou.

Agora, por que dizer que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva é autoritário - um presidente que, logo após a eleição, fez uma visita ao Poder Judiciário e ao Poder Legislativo, antes mesmo de tomar posse; que trouxe a mensagem presidencial a esta Casa; que trouxe, pessoalmente, as mensagens de reforma? Qual é o autoritarismo em alguém que chega a este Congresso e diz “Daqui para frente as reformas são responsabilidade do Poder Legislativo”? Está conosco, é deste Poder a decisão do que vai acontecer ou não.

Por isso, esta crise, que causa tanta indignação e tão inflamados discursos, do meu ponto de vista, está sendo criada, porque este País vai ter o espetáculo do crescimento. Este País, com a colaboração de todos os brasileiros, de todas as instituições, só dará certo quando todos estiverem comprometidos com o seu sucesso.

Por isso, Sr. Presidente, não há retratação do Presidente, nem pedido de desculpas. A matéria é clara e é correta. Houve efetivamente má interpretação, e tivemos oportunidade de ver na tribuna Senadores repetindo que o Presidente Lula afirmou que nem o Judiciário nem o Legislativo vão barrar as reformas, quando em nenhum momento a palavra reforma, o assunto reforma esteve no seu pronunciamento na CNI. O que o Presidente estava falando - e que todos devíamos estar elogiando - é que este País vai crescer; este País vai se desenvolver. E todos terão que contribuir para isso.

Sr. Presidente, agradeço a concessão do tempo para que eu pudesse me pronunciar e a gentileza, mais uma vez, do Líder do Governo, de me permitir falar antes dele.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/06/2003 - Página 16272