Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Iniciativa do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva de receber representantes do MST, hoje, no Planalto do Planalto. Considerações sobre a decisão do PT em afastar a Sra. Heloísa Helena.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), REFORMA AGRARIA. POLITICA PARTIDARIA. HOMENAGEM.:
  • Iniciativa do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva de receber representantes do MST, hoje, no Planalto do Planalto. Considerações sobre a decisão do PT em afastar a Sra. Heloísa Helena.
Aparteantes
Ana Júlia Carepa, Arthur Virgílio, Paulo Paim, Pedro Simon, Serys Slhessarenko, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 03/07/2003 - Página 16902
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), REFORMA AGRARIA. POLITICA PARTIDARIA. HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INICIATIVA, REALIZAÇÃO, REUNIÃO, COORDENADOR, AMBITO NACIONAL, MOVIMENTO TRABALHISTA, TRABALHADOR RURAL, SEM-TERRA.
  • COMENTARIO, CONVENIENCIA, REALIZAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), REFORMA AGRARIA, PROBLEMA, CAMPO.
  • SOLICITAÇÃO, LIDERANÇA, PARTIDO POLITICO, REALIZAÇÃO, REUNIÃO, RECONSIDERAÇÃO, DECISÃO, AFASTAMENTO, HELOISA HELENA, SENADOR, BANCADA.
  • MANIFESTAÇÃO, CONFIANÇA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SOLUÇÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS.
  • HOMENAGEM, TIME, FUTEBOL, MUNICIPIO, SANTOS (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DISPUTA, COMPETIÇÃO ESPORTIVA, AMBITO INTERNACIONAL.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em primeiro lugar, quero saudar o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela iniciativa de realizar uma reunião, hoje, com 30 coordenadores, representantes nacionais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, pautada por um diálogo extremamente produtivo, com o objetivo de acelerar as medidas relativas à realização da reforma agrária, para que os assentamentos também sejam realizados da melhor maneira possível. Foi muito importante a forma como o Presidente recebeu João Pedro Stédile e os demais coordenadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Gostaria de assinalar ao Senador Arthur Virgílio, Líder do PSDB, que é oportuno o Senado Federal realizar Comissão Parlamentar de Inquérito a respeito da questão da realização da reforma agrária, do problema no campo. Não acredito que o MST - como S. Exª induziu no seu pronunciamento - não tenha o legítimo caráter de um movimento social que esteja expressando a vontade de trabalhadores que até hoje não tiveram a oportunidade de lavrar a terra, que muitas vezes foram também atingidos pelo desemprego, pela falta de oportunidade à educação e ao desenvolvimento pessoal, e que hoje lutam, como faziam aquelas pessoas descritas no Êxodo, no Antigo Testamento, pela terra prometida e por realização de justiça.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Eduardo Suplicy, V. Exª me permite um breve aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Não é à toa que o MST, nos seus seminários, também lê sempre e reflete sobre a luta pela terra prometida do livro do Êxodo. Então, assim como o Presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu o MST, mas não muitas vezes, o Presidente Lula resolveu recebê-lo, fazendo questão de assinalar que a reforma agrária, em seu Governo, será realizada com o maior empenho possível, de maneira pacífica, com maior observância das leis, mas com a compreensão de movimentos sociais. O Presidente Lula está procurando receber o MST, dialogar com ele e acelerar as medidas necessárias.

            Ouço-o com muita honra, Senador Arthur Virgílio, antes de passar para outro tema, referente à importante decisão tomada, ontem, por nossa Bancada, que merece algumas reflexões.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Eduardo Suplicy, agradeço por este que será o mais breve aparte deste Senador. Gostaria de comunicar a V. Exª que teremos muito o que debater a respeito do MST daqui para a frente, porque acabei de entregar à Mesa, com 31 assinaturas, portanto com um número mais do que o suficiente, do ponto de vista do Regimento da Casa, o pedido de constituição da CPI, que será lido hoje. A CPI começará a funcionar em agosto; então teremos bastante tempo para discutir sobre o que se trata esse movimento, que V. Exª vê de um jeito e eu, de outro. Mas, com certeza, a partir desse pedido, o Brasil terá uma definição muito clara sobre o que é bom ou ruim para a sua economia, para a sua estabilidade política e para o seu vigor constitucional. Obrigado, Senador.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Arthur Virgílio, será a oportunidade de o Senado Federal ouvir os membros do MST, o Ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, os proprietários de terra, os fazendeiros, os membros da Sociedade Rural Brasileira, que, inclusive, dialogaram inúmeras vezes com o MST - e eu acompanhei de perto. Algumas vezes, fui testemunha do diálogo, por exemplo, entre Luiz Marcos Suplicy Hafers, Presidente da Sociedade Rural Brasileira, João Pedro Stédile e outros membros do MST.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria de assinalar que foi realizada ontem uma reunião da Bancada do Partido dos Trabalhadores, convocada pelo Líder Tião Viana, em que este e o Líder do Governo Aloizio Mercadante observaram que deveríamos tomar uma decisão em relação à Senadora Heloísa Helena, que, em boa hora, acaba de chegar da Bahia.

A Bancada tomou uma decisão grave, de repercussão nacional, por oito votos a quatro, numa reunião em que não estavam presentes os quatorze membros, pois os Senadores Paulo Paim e Flávio Arns tinham outras atribuições naquele momento e não puderam comparecer. Eu até havia feito um apelo aos Senadores Tião Viana e Aloizio Mercadante a fim de que aguardassem a presença de todos, dada a gravidade da decisão. Por diversos motivos, entretanto, os Senadores avaliaram que seria importante decidir naquele momento. Fui um dos Senadores que avaliei que seria muito importante apelar à Senadora Heloísa Helena, por um lado, no sentido de que mantenha atitude construtiva e respeitosa em relação ao Partido, aos colegas de Bancada, ao Presidente, aos Ministros. E esse apelo continuo a fazer carinhosamente, com muita amizade à Senadora Heloísa Helena. Mas, ao mesmo tempo, tendo em vista que o Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores constituiu uma Comissão de Ética para analisar o procedimento da Senadora Heloísa Helena e dos Deputados João Batista Babá e Luciana Genro, parecia-me precipitada a decisão de estarmos eliminando-a, excluindo-a de nossa Bancada. Preferiria ter uma atitude, digamos, de maior construtividade, aconchego, solidariedade a pessoas que viveram conosco, que ajudaram a construir o nosso Partido e que, como todos sabem, têm hoje críticas a certos pontos que envolvem enorme polêmica na sociedade brasileira, sobretudo no que se refere à proposta de reforma previdenciária, não tanto sobre a proposta de reforma tributária, que não entrou até agora no centro dessa polêmica. Parece-me até se tratar de um ponto que poderá ser aceito por esses Parlamentares sem maior problema.

Tendo sido tomada a decisão, encaminhei uma breve mensagem ao meu querido colega e meu Líder Senador Tião Viana, em que escrevi: “Caro, Tião, estou saindo agora da reunião porque quero ir à missa de sétimo dia de morte do pai da Senadora Fátima Cleide”, infelizmente falecido na semana passada. Lamentavelmente, cheguei depois de concluída a missa, porque atrasamos com a reunião. Deixo o meu abraço à Senadora Fátima Cleide por não ter estado presente. Mas transmiti ao Senador Tião Viana que estava triste com a decisão tomada e que não estava me sentindo bem de permanecer na Bancada antes que houvesse decisão do Diretório Nacional a respeito.

            Ainda ontem à noite, recebi telefonema do Presidente do Partido, José Genoino, e do Ministro Antonio Palocci, que, inclusive, me disse o quanto gostaria de contribuir para que houvesse um entendimento entre as partes. S. Exª esteve aqui ontem, e achei muito importante esse telefonema. Também o Senador Aloizio Mercadante pediu-me para que eu considerasse muito a Bancada, pelo respeito que ela tem por mim. Dialoguei com a Senadora Heloísa Helena, hoje de manhã, que me havia telefonado, e recebi a visita, ao meio-dia e quinze, pontualmente, no meu gabinete, do Presidente Nacional do PT, José Genoino, e do meu querido companheiro Tião Viana, por quem desenvolvi grande estima, desde o momento em que nos conhecemos. Em todo o nosso período nesta Casa, nunca tivemos qualquer ação que não fosse sempre de cooperação um com o outro.

            José Genoino e Tião Viana, então, falaram-me das dificuldades que estão tendo, nesses últimos meses, no que se refere à maneira de administrar as dissensões no Partido. Há os casos dos Deputados Federais, mas nos referimos mais à Senadora Heloísa Helena. Em algumas ocasiões, procuraram realizar um esforço para que S. Exª se aproximasse mais. Relataram diversas ocasiões. No entanto, quero transmitir um apelo.

Sr. Presidente do PT, José Genoino, Senador Tião Viana, tendo em vista que ontem só votaram doze dos quatorze Senadores do PT e que se trata de uma decisão tão importante para nós, gostaria sinceramente que tivéssemos uma nova oportunidade de reflexão, uma outra reunião na próxima semana, com a presença dos quatorze Senadores. Quero empenhar-me, como têm feito muitos companheiros - inclusive os que estão presentes e o próprio Presidente José Genoino -, no sentido de que a Senadora Heloísa Helena tenha um procedimento diferente.

Querida Senadora Heloísa Helena - vou falar olho no olho - quero pedir-lhe que tenha, para com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e para com cada um de nossos Ministros, uma atitude sempre companheira. Como diversas vezes a ouvir falar e há poucos dias assisti a uma entrevista de V. Exª na TV Bandeirantes, observei que V. Exª falava do respeito que possui pelo Senhor Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua trajetória, de quanta esperança tem que seu Governo dê certo, da confiança que deposita em Sua Excelência e de que as coisas poderão caminhar num rumo melhor.

Em algumas ocasiões, Senadora Heloísa Helena, V. Exª usou alguns termos que poderiam significar tanto para os Ministros quanto para os nossos companheiros de Partido a sua confiança não total no Presidente, seja por críticas veementes ou qualificações.

Transmito o apelo que faço aos Líderes Tião Viana e Aloizio Mercadante no sentido de que possamos ter uma reunião de reconsideração. O Presidente Lula e o Ministro da Casa Civil, José Dirceu, devem estar conscientes de minha real intenção.

Tenho confiança que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai acertar. Agora pela manhã, Sua Excelência dialogou com o representantes do MST. Desse encontro, saíram João Pedro Stedile e outros dizendo que a reunião tinha sido extremamente produtiva, proveitosa, que houve avanços. Não conheço todos os detalhes, mas o Deputado Adão Pretto, que conhece a situação, disse-me que a reunião foi produtiva - e S. Exª, como um dos mais solidários Deputados Federais ao MST, está presente dando o seu testemunho.

            Afirmo a minha confiança no Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Confio que Sua Excelência vai acertar não apenas na estabilidade de preços, mas vai conseguir o crescimento acelerado da economia e das oportunidades de empregos.

Estou nesta Casa querendo colaborar sempre para que o Presidente acerte ao fazer os programas de transferência de renda da melhor maneira possível, caminhando numa direção de efetivamente conseguir erradicar a pobreza e a fome no País e melhorar a distribuição da renda. Vou-me empenhar ao máximo para que acerte.

Acredito hoje no Presidente mais ainda do que quando disputei as prévias do Partido, tanto que, depois que a perdi, saí pelo Brasil afora dizendo que queria que o Lula fosse nosso Presidente. Pois quero dizer, prezado Senador Tião, que tenho confiança em que o Presidente Lula vai acertar tão bem que provavelmente merecerá o apoio entusiástico da Base do Partido dos Trabalhadores e do povo brasileiro para novamente se candidatar, uma vez que existe o direito de reeleição. Como todos sabem, nem todos os membros do PT são a favor, mas, existindo essa vontade de Sua Excelência, desde já declaro que não serei pré-candidato e que apoiarei a candidatura do Presidente Lula.

Senador Pedro Simon, peço a V. Exª um minuto. Também gostaria de assinalar o meu respeito à manifestação do Presidente José Genoíno e dos Líderes Tião Viana e Aloizio Mercadante, que atenderam meu apelo para realização de nova reunião na próxima semana. O Senador Tião Viana informou-me que irá acertar, de maneira que os 14 Senadores estejam presentes e possam reconsiderar, reavaliar a questão, inclusive à luz da possível atitude da Senadora Heloísa Helena.

Portanto, Senadora Heloísa Helena, peço a V. Exª que também colabore, pois S. Exªs aceitaram realizar uma nova reunião, para que todos possam refletir a respeito.

Caro Senador Tião Viana, também faço um apelo a todos os filiados ao Partido dos Trabalhadores, seja do Acre, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Amapá, no sentido de que os seus Senadores que votaram a favor do desligamento da Senadora Heloísa Helena reflitam e reconsiderem, deixando-na continuar pertencendo à Bancada até que haja a decisão.

Hoje, falando à Rádio CBN e à Rádio Carioca, de seu Estado querido, Senador Roberto Saturnino, eu disse aos seus eleitores: “Falem com o Senador Roberto Saturnino para S. Exª reconsiderar a decisão”. Portanto, quando nos próximos dias estiverem V. Exas nos seus respectivos Estados, se algum eleitor na rua lhes dizer: “Deixem a Heloísa Helena na Bancada”, eles estarão respondendo a um apelo, porque eu lhes pedi que dissessem o que pensam a cada um dos Senadores, Eurípedes Camargo, Ideli Salvatti, Fátima Cleide, Paulo Paim, Ana Júlia Carepa, Serys Slhessarenko, o que acham dessa decisão tão séria - ao próprio Senador Tião Viana, aos Senadores Sibá Machado e Aloizio Mercadante.

Portanto, agradeço a atenção e a confiança do Senador Tião Viana ao promover uma nova reunião na próxima semana.

Senador Pedro Simon, com muita honra, concedo o aparte a V. Exª.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - O nome e a palavra de V. Exª são respeitados nacionalmente. V. Exª está desde o início no Partido, quando ninguém imaginava que ele um dia chegaria à Presidência da República. V. Exª se candidatou em eleições majoritárias exclusivamente para ajudar o Partido. A palavra de V. Exª sempre foi a do entendimento, de respeito, de luta, de garra. Ninguém mais do que V. Exª defendeu os interesses do PT, mas sempre dentro do entendimento. V. Exª disputou uma convenção porque achava que, democraticamente, essa disputa somava para o Partido. Muitos do Partido que ganharam a convenção acharam um absurdo V. Exª querer disputar com um mito - mas creio que V. Exª estava certo. Agora, vem V. Exª, mais uma vez, mostrar seu estilo, sua maneira de ser. Essa é uma questão interna do PT, e temos de respeitá-la. Mas, com todo respeito ao PT, essa questão é nacional. É uma questão nacional e o Brasil inteiro está olhando para a Bancada do PT no Senado. O Brasil inteiro está acompanhando o que está acontecendo com Bancada do PT. O Brasil inteiro acompanhou a vitória do PT. O Brasil inteiro acompanhou a vitória do Lula. O Brasil inteiro torcia e torce para que o Lula dê certo. O Brasil inteiro está se interrogando: aonde vamos? Como é? Por que se está fazendo isso e aquilo? O Brasil inteiro se pergunta por que algumas questões pelas quais o PT lutou a vida inteira quando Oposição, hoje, no Governo, não está realizando? Essas são as questões que estão sendo levantadas e, em meio a elas, a Bancada se reúne e põe para fora, deixa de fora, suspende uma Senadora como a Heloísa Helena? Sinceramente! Felicito o Líder do PT por marcar uma nova reunião. Essa nova reunião faz mais o estilo do Líder do PT, a quem admiro e por quem tenho o maior respeito, a maior admiração e o maior carinho, por já demonstrar que nela ocorrerá a revisão. É claro que haverá revisão. A Senadora Heloísa tem o seu estilo, o seu jeito de ser. Até V. Exª, da tribuna, apelou para S. Exª - e eu o faço também daqui: Calma, Senadora Heloísa! É importante que S. Exª entenda que há momentos em que é preciso ter calma. Há momentos em que é importante que o debate se dê dentro do Partido, internamente. Penso que o PT está necessitando de um debate interno. E esse entendimento não é só meu, mas do Brasil inteiro. Ele é necessário, assim como o entendimento da diferença entre “eu sou PT” e “eu sou Governo”. É importante entender que, em sendo PT, o Partido me obriga fazer e onde há a minha liberdade. Essas são questões muito sérias da democracia mundial. Em qualquer democracia, em qualquer momento, essa postura sempre foi discutida; mas que se discuta internamente, no PT, antes de se excluir uma companheira. Que se debata antes de agir. Felicito V. Exª pelo pronunciamento e também ao Líder do PT, por recolocar a questão em debate. Em nome do Brasil, espero que com esse reexame, a decisão seja anulada e, assim, possamos ver o novo caminho desejado. Se torcêssemos para que as coisas dessem errado, estaríamos dizendo: “Muito bom! Que expulsem hoje a Senadora Heloísa Helena. Amanhã ou depois, o mesmo poderá acontecer com outros Parlamentares, que seja constituído um novo partido. Que haja uma nova linha, um racha, isso pode ser bom para quem? Para o Brasil, não. Por isso acreditamos ser muito importante o discurso de V. Exª. Também muito importante é a humildade que o Presidente Lula venha a ter, talvez a mesma de ontem, apesar de ser Presidente da República, e entenda que esse é um assunto a ser decidido por Sua Excelência. Ninguém decide pelo Presidente, porque, o que ocorrer amanhã, seja de quem for a decisão, ela pertence ao Presidente Lula. Meus cumprimentos e a minha solidariedade ao pronunciamento de V. Exª. À Senadora Heloísa Helena, calma.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Pedro Simon, agradeço muito a V. Exª. Ainda ontem, a propósito justamente desse assunto, eu dei o livro de Joseph Stiglitz - Prêmio Nobel de 2001 - ao Ministro Antônio Palocci. O referido escritor foi o economista-chefe do Banco Mundial e do Presidente Bill Clinton. Em seu livro, A Globalização e Seus Malefícios - os Os Seus Descontentes, em inglês - o escritor relata justamente o quão importante seria se o Banco Mundial, o FMI, ao invés de simplesmente ter um clima de concordância quanto às políticas recomendadas pelo FMI e pelo Banco Mundial aos países em desenvolvimento, sobretudo - e que muitas vezes levaram a desastres -, tivesse dado maior guarida e espaço àqueles que chamavam atenção para as políticas que, muitas vezes, empobreceram países, causaram desemprego e má distribuição da renda. Também ressalta a importância do clima em cada instituição, em cada lugar, sobretudo em um partido de trabalhadores, que tem a tradição democrática do mais livre debate de idéias, que pudéssemos ter, portanto, o estímulo a que companheiros, por vezes, chamem a atenção de aspectos que são legítimos e que levam em consideração a aspiração, o anseio de tantas pessoas. Então, talvez a Senadora Heloísa Helena, o Deputado Babá, a Deputada Luciana Genro e o Deputado João Fontes estejam por vezes dizendo coisas que possam até o Presidente e seus Ministros pensar: “Puxa, essa doeu no fígado!”. Que a Senadora Heloísa Helena, às vezes, procure não dar golpes que possam ferir tão fortemente esta ou aquela pessoa do Governo.

Vamos ver se posso contribuir. Se um dia V. Exª, Senadora, pensou que o Lula não disse a verdade em determinado momento ou discurso, então diga: “Creio que o Presidente cometeu um engano. Eu queria mostrar-lhe que, neste caso, foi assim ou assado”. Se V. Exª tiver este procedimento, com carinho, quem sabe contribuirá para que o nosso Partido tenha maior unidade, pois, ainda na reunião de ontem, os nossos Líderes disseram: “É preciso que nós, na Bancada, tenhamos muita unidade, porque, senão, como fazer com que toda a Base de Sustentação do Governo venha apoiar as medidas?” Ressalto o quão importante é isso.

Esse debate transbordou no seio da Nação - tem razão V. Exª, Senador Pedro Simon. Agradeço-lhe sobremaneira as palavras, que são de quem tem experiência, conhecimento do Parlamento, da vida política e a sua recomendação, certamente, será ouvida por cada um dos nossos 14 Senadores.

Senador Paulo Paim, com muita honra.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Eduardo Suplicy, fiz questão de aparteá-lo na intenção de mais uma vez cumprimentá-lo. V. Exª vem à tribuna do Senado buscando construir, mais uma vez, o entendimento na Bancada do PT aqui no Senado e no Partido dos Trabalhadores. Quero apenas reafirmar o que V. Exª disse. Ontem, juntamente com o Deputado Tarcisio Zimmermann, coordenador da Bancada gaúcha, exatamente às 16h30, eu estava conversando como Ministro da Defesa, José Viegas Filho, sobre a fusão Varig e Tam. Cumprimento V. Exª pela iniciativa de propor outra reunião. Conversei com a Senadora Heloísa Helena e com o Líder Tião Viana minutos atrás, que me confirmaram a realização da reunião semana que vem e com a presença dos 14 Senadores.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Inclusive da Senadora Heloísa Helena.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Com certeza. Tanto o Senador Flávio Arns quanto eu não nos encontrávamos na Casa por ocasião daquela outra reunião. Estou otimista, como V. Exª, que haveremos, nas instâncias do Partido e na reunião da Bancada, de encontrar uma saída que signifique a unidade do Partido dos Trabalhadores. Ainda mais: estamos trabalhando muito para construir uma saída negociada, na própria reforma da Previdência, que nos permita votar a redação final harmonicamente. O meu aparte é especialmente para cumprimentá-lo pelo apelo generoso, humilde que faz, como um grande homem que é V. Exª. Por isso, parabéns a V. Exª na certeza que faremos uma bela reunião, semana que vem, na busca do entendimento.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Paulo Paim, V. Exª contribuirá, contribui sobremaneira porque inúmeras vezes formulou críticas à reforma da Previdência, mas tem procurado manter a unidade do Partido. Por isso, V. Exª poderá também servir de uma extraordinária ponte para a manutenção da Senadora Heloísa Helena no seio do Partido que ela ajudou a construir.

Senadora Ana Júlia, por favor, com muita honra.

A Srª Ana Júlia Carepa (Bloco/PT - PA) - Senador Eduardo Suplicy, quero também parabenizar V. Exª não só pelo que hoje diz na tribuna, mas pelo seu gesto, pela atitude ponderada feita nas duas direções. V. Exª somou bastante, ontem, ao ponderar - o que também fiz na reunião da nossa Bancada, para refletirmos melhor, construirmos pontes que nos unam e não edificarmos muros que possam nos separar. Ser Governo não é fácil. Digo isso por fazer parte do Governo há seis anos, representando o Município de Belém. Também tive divergências, mas não saí do Partido dos Trabalhadores; pelo contrário. Sempre tenho dito e repetido que a chance de o Brasil dar certo é agora. Todos nós temos essa compreensão. Este é o momento de fazermos aquilo que sempre foi a nossa marca: construir a unidade na diversidade, mas, certamente, com um debate respeitoso e carinhoso. Faço esse apelo a todos, por todo o carinho que tenho pela Senadora Heloísa Helena - S. Exª sabe disso -, a fim de que essa ponte seja realmente construída dos dois lados para nos encontrarmos no meio. Com certeza, faremos uma grande obra de engenharia e contribuiremos para o Brasil dar certo. Não tenho a menor dúvida de que a oportunidade deste País é grande, e a vontade política é imensa. E não será por pequenas diferenças que deixaremos de construir a unidade que sempre foi a nossa marca. Vários Deputados Federais vieram à Casa solidarizar-se com essa tentativa - tenho certeza de que dará certo - de construção da unidade com respeito. Podemos ter opiniões divergentes, mas devemos manifestá-las com o necessário respeito, tentando construir um consenso, principalmente internamente. Penso que a discussão fundamental não deveria ser pública. O debate das nossas diferenças deve ser feito privilegiadamente nos fóruns internos. Acredito ser esse o melhor caminho, o mais lúcido. Parabéns, Senador Eduardo Suplicy.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Agradeço à Senadora Ana Júlia Carepa o aparte. Como V. Exª pôde perceber, às vezes, o debate do PT, Partido do Governo, transcende nossas fronteiras e se torna um tema nacional. Daí porque, hoje, diversos Senadores de outros Partidos desejam partilhar das nossas preocupações.

A Srª Serys Slhessarenko (Bloco/PT - MT) - Senador Eduardo Suplicy, concede-me V. Exª um aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Pois não, Senadora Serys Slhessarenko, mas peço que seja breve, pois já estou no limite do meu tempo e o Senador Sibá Machado também deseja fazer uma intervenção.

A Srª Serys Slhessarenko (Bloco/PT - MT) - Senador Eduardo Suplicy, além de elogiar a grandeza com que se porta V. Exª, devo dizer a todos os Srs. Senadores e Senadoras que me ouvem e ao Brasil que realmente escute o que diz o Senado Federal, que o Partido dos Trabalhadores funciona assim: não há nada feito às escondidas. É claro que, como V. Exª disse, e muito bem, transcende o debate. Também quero dizer ao Líder Tião Viana, da grandeza de, no momento em que V. Exª reivindicou a retomada da discussão, com a presença dos catorze Senadores, de pronto e de plano o nosso Líder acatou o pedido, e assim a discussão terá continuidade. É dessa maneira que avançaremos, é assim que a democracia neste País avançará. Não será com acordos, discussões ou negociatas, às vezes espúrias, sobre as divergências internas do Partido que as coisas se resolverão; é discutindo abertamente. A minha postura é clara para o Brasil inteiro: fui contra o afastamento da companheira Senadora Heloísa Helena, acredito que é um quadro da maior valia para o nosso Partido e para o País. Penso que é assim que construiremos a democracia: discutindo, aprofundando a discussão, fazendo com que as nossas diferenças diminuam. Dessa forma, conseguiremos a unidade para transformar este País naquele com que os trabalhadores sempre sonharam e que é, também, o sonho do Presidente Lula, com certeza. Muito obrigada e um abraço carinhoso. V. Exª, cada vez mais, transcende a grandeza de homem público.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Senadora Serys Slhessarenko, pelo seu aparte.

Quero assinalar a presença dos Deputados Dr. Rosinha, Walter Pinheiro, Lindberg Farias, Tarcisio Zimmermann, João Alfredo, Chico Alencar, Ivan Valente, Ary Vanazzi, João Grandão, Orlando Desconsi, Paulo Rubens Santiago, João Batista - Babá -, Gilmar Machado, que dialogam amistosamente com o Senador Tião Viana. Isso demonstra que há um apelo desses Deputados que representam a base do PT a S. Exª e aos Senadores Delcídio Amaral e Sibá Machado no sentido de que revejam a decisão.

Concedo o aparte ao Senador Sibá Machado.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Eduardo Suplicy, muito obrigado por permitir que eu participe desse pronunciamento. Também sou partidário do entendimento de que é impossível as ações do PT ficarem apenas em suas instâncias, tanto é que estamos aqui debatendo essa matéria. Quero agradecer ao Presidente José Sarney a complacência da Mesa ao permitir a elasticidade do tempo para que abordemos o assunto. Além de tudo o que já foi comentado, quero lembrar que nós, que estamos aqui e temos os nossos propósitos, individuais ou coletivos, não podemos discutir o mérito e o demérito da inteligência, da sapiência, da capacidade de atuação de cada um e da sua importância para o Brasil. Os oitenta e um Parlamentares desta Casa e os quinhentos e treze da Câmara, todos, com certeza, estão imbuídos da mais sincera disposição de trabalhar e dar de si o melhor para a construção do Brasil. Eu só queria lembrar que a instância que tomou tal decisão era verdadeira, legítima e tinha quorum para tal. O que discutimos é o aspecto político da nossa disciplinaridade e a elasticidade da tolerância. Portanto, a preocupação de V. Exª, lembrada naquele momento, de que precisava de catorze pessoas foi contemplada. Entendemos isso como mais um espaço da elasticidade da tolerância. Aqui não há intolerância alguma. O que houve foi uma decisão tomada na instância competente, com quorum para tal, que pode ser revista tanto por essa instância como por qualquer outra. Cabe-me, neste momento, parabenizar V. Exª, primeiro, por ser um dos fundadores do PT; segundo, por ser um dos iniciantes da experiência partidária do petismo nesta Casa; e, por último, pela sua tranqüilidade de estar fora e acima das correntes internas do Partido dos Trabalhadores, portanto com autoridade absoluta para iniciar esse debate por quantas vezes se fizerem necessárias. Quero lembrar a V. Exª que, na reunião da semana que vem, deveremos chegar a um veredicto, pois temos instância para isso. O que o Partido precisa dizer é até aonde vai a elasticidade da tolerância da disciplinaridade. E isso não compete a A ou a B, mas somente aos membros do Partido. Para encerrar, quanto ao pensamento dos Líderes do nosso Partido, também quero manifestar-lhes a minha gratidão, o meu respeito pela capacidade de atuarem nesta Casa. V. Exª, em todos os momentos, também se esforçou para que essa disciplinaridade fosse tratada coletivamente nos foros adequados. Era isso o que desejava dizer. Muito obrigado pela sua preocupação!

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Sibá Machado, pelo seu aparte. Gostaria de sugerir a V. Exª e a todos os catorze Senadores que abram uma janela em seus respectivos sites, a fim de que os eleitores de todos os Estados avaliem essa situação e digam se devemos afastar a Senadora Heloísa Helena de nossa Bancada, ou se devemos dizer a S. Exª que se aproxime de nós, fique conosco e procure proferir palavras mais construtivas a respeito do Presidente da República e de seus Ministros. Farei isso em meu site e consultarei meus eleitores. Sugiro que cada um de V. Exªs faça o mesmo até a reunião do próximo dia 14. Sugiro também que os diversos portais da Folha de S.Paulo, do Terra, de O Estado de S.Paulo, de O Globo e do Jornal do Brasil consultem os eleitores, a fim de que digam se a Senadora Heloísa Helena deve permanecer na Bancada do PT ou se já deveria ter sido afastada. Façamos a consulta, nós que sempre demos tanta importância à opinião de nossa base.

Senadora Heloísa Helena, permita V. Exª que conclua com um ponto de grande afinidade com o Líder do Governo, não tanto com o Presidente da República, que certamente estará torcendo pelo Santos hoje, pois afinal é o time brasileiro que está na final da Copa Libertadores da América. Eu inclusive vou precisar pedir-lhe licença, querida Senadora Heloísa Helena, porque preciso torcer pelo meu time, dar toda a força ao Robinho, ao Diego, ao Elano, ao Paulo, ao Ricardo, e com os torcedores do Santos cantar:

Agora quem dá bola é o Santos

O Santos é o novo campeão

Glorioso alvinegro praiano

Campeão absoluto desse ano

Santos, Santos sempre Santos

Dentro ou fora do alçapão

Jogue onde jogar

És o leão do mar

Salve o novo campeão

Essa é uma homenagem do Senado Federal ao Santos, que disputa hoje a Libertadores da América. (Palmas.)

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/07/2003 - Página 16902