A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é evidente que todas as pessoas que têm acompanhado o meu mandato nesta Casa durante três anos reconhecem os meus defeitos e também os dos outros. Sei que as pessoas reconhecem o amor, o carinho, o coração generoso e valente que meu querido companheiro Eduardo Suplicy tem. Nós nos amamos tanto, gostamos tanto um do outro, nós nos respeitamos tanto que, certa vez, queridos companheiros Deputados que aqui se encontram, fui ao programa Saia Justa, e a Rita Lee, maravilhosa, propôs que eu namorasse o Suplicy. Para V. Exªs verem como nos amamos. Como sei que o seu coração já está devidamente ocupado, é evidente que não vou disputar esse latifúndio. Ocupo terras, sim, improdutivas para viabilizar a reforma agrária, mas respeito quem legitimamente de forma bela, maravilhosa, ocupou o coração desse homem maravilhoso, que é o meu querido Senador Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Com muita prudência nesse assunto, Senadora Heloísa Helena, porque...

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Não direi nada, absolutamente nada.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Esse é um assunto tão...

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Eu sei, mas sabe o Senador Eduardo Suplicy que, aliás, as candidatas eram muitas, porque ele é uma pessoa maravilhosa. Fizemos um acordo, eu e a Senadora Marina Silva, para que tivesse que passar por nós.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Eu sempre as consultarei, vocês são meus anjos da guarda.

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Só concluindo, Sr. Presidente, agradeço muito o empenho do Senador Eduardo Suplicy. Sei que na reunião da Bancada, tenho certeza que alguns dos Senadores que votaram pela minha suspensão, certamente, o fizeram também constrangidos, porque achavam que era a única possibilidade de solucionar o problema. Sabem, meu querido Senador Eduardo Suplicy e a bancada, por quem tenho muito respeito, que não fiz um recurso à Bancada a respeito da decisão tomada, porque o recurso que preparei foi à Executiva Nacional do meu partido, da qual faço parte; sabe o povo brasileiro que nós podemos ter muitas divergências, diferenças de projetos. Digo, sempre, que ninguém pode ser maior do que ninguém, nessa Casa, no PT ou em qualquer outra estrutura partidária, de dizer que é mais patriota, quer mais construir o PT, quer fazer desse país maravilhoso uma nação justa, soberana, igualitária e fraterna. Partamos do pressuposto de que todos nós somos iguais, porque senão nós começamos a nos dividir entre aqueles que amam mais o PT, entre aqueles que amam mais o País, entre aqueles que fazem isso ou aquilo outro, o que, sem dúvida, não é bom para a democracia.

Agradeço muito a V. Exª pelo empenho gigantesco, meu querido companheiro, bem como à Bancada. Apenas para deixar absolutamente claro, não fiz o recurso à Bancada. O meu querido companheiro Senador Eduardo Suplicy, como sempre, porque é generoso - além de muito valente, é um homem muito generoso, de alma libertária, solidária -, faz um esforço gigantesco para que possamos fazer o bom debate.

Sr. Presidente, eu jamais traria esse assunto ao plenário do Senado, como nunca trouxe em outros momentos de debate partidário. Como o Senador Eduardo Suplicy mencionou, esse debate tornou-se público, obrigando-nos a fazer também o debate aqui no plenário da Casa.

O povo brasileiro sabe que foi instalada uma Comissão de Ética e Decoro Parlamentar, de cuja instalação discutíamos a legitimidade estatutária, já que havia a política. A Comissão de Ética foi instalada e passamos a dar-lhe a legitimidade política. Os Parlamentares, os fundadores do PT passamos sábado e domingo, humildemente, fazendo o debate programado, ideologizado, o debate de idéias na Comissão de Ética, que, do ponto de vista estatutário, tinha de dar um resultado já agora. Fizemos um acordo para garantir que a reunião do Diretório Nacional dos dias 12 e 13 seja a do debate programado sobre as duas reformas encaminhadas pelo Governo. Poderia ser feita uma reunião do diretório para analisar isso ainda em agosto, ainda antes da data do dia 11 de setembro. Tenho certeza de que todos os militantes do PT, embora a reunião esteja marcada para o dia 11 de setembro, um dia muito doloroso para todos os pacifistas no mundo, faremos o debate programado de idéias.

Só para deixar claro: estou de consciência tranqüila. Exageros, defeitos posso ter, mas estou tranqüila com a tradição de democracia interna do meu partido, com a possibilidade estatutária de meu partido de fazer manifestações públicas sobre o debate programático, o debate de idéias. Conheço muito o estatuto do meu partido, como todos os companheiros desta Casa e muitos militantes anônimos por este País. Por isso, sei que pode até ser que alguns queiram a minha expulsão, mas independentemente da classificação entre moderados e radicais, muitos dirigentes, muitos Parlamentares e muitos militantes do Partido dos Trabalhadores estão fazendo um esforço gigantesco para impedir que sejamos submetidos a isso - não apenas os Deputados que estão na Comissão de Ética e Decoro Parlamentar ou algum outro Deputado em função de qualquer decisão a ser tomada devido a uma reforma da Previdência, em relação à qual o partido ainda não fechou questão. Não sabemos ainda qual a proposta que será votada. O único apelo que fiz foi sempre este: pelo amor de Deus, só não me peça para ser cínica, dissimulada e dizer que votarei algo já que nem sei o que virá para ser votado na Casa, do jeito que está hoje. Estatutariamente é possível fazer isto: um apelo, um recurso, para a liberação de votos.

Senador Eduardo Suplicy, Deus proteja V. Exª. A todos os Senadores que acataram a sugestão de V. Exª o meu muito obrigada. Espero realmente que possamos preservar aquilo que nascemos, como partido político, construindo justamente a tradição da democracia interna, do debate qualificado, do debate de idéias.

Muito obrigada, Sr. Presidente, pela concessão do tempo. (Palmas.)