Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Importância do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitar a experiência partidária do PMDB no seu governo.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. BANCOS.:
  • Importância do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitar a experiência partidária do PMDB no seu governo.
Aparteantes
Íris de Araújo.
Publicação
Publicação no DSF de 04/07/2003 - Página 17022
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. BANCOS.
Indexação
  • ANALISE, SUPERIORIDADE, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ELOGIO, QUALIDADE, ATUAÇÃO, HISTORIA, BRASIL, BENEFICIO, DEMOCRACIA.
  • DEFESA, AUMENTO, PARTICIPAÇÃO, COLABORAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), GOVERNO FEDERAL.
  • QUESTIONAMENTO, PROPOSTA, BANCO DO BRASIL, CRIAÇÃO, INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, ATENDIMENTO, POPULAÇÃO CARENTE, DIFERENÇA, JUROS, DETALHAMENTO, EXPERIENCIA, ESTADO DO PIAUI (PI), EPOCA, GOVERNO ESTADUAL, ORADOR, RESULTADO, COMBATE, DESEMPREGO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Papaléo Paes, do PMDB do Amapá, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros que nos ouvem pela televisão ou pela Rádio Senado, venho a esta tribuna como Senador do PMDB, que dá o apoio de seu voto neste Legislativo.

Mas entendo que as nossas lideranças estão encaminhando mal o nosso Partido. O PMDB é o maior Partido do Brasil, quantitativa e qualitativamente. Um quadro vale por dez mil palavras: quem está presidindo a sessão é o Senador Papaléo, do PMDB, substituindo o líder maior desta Casa, Senador José Sarney, do PMDB, que é maioria aqui. Então, o PMDB é essa história que fez renascer a democracia neste País, história que só a mitologia pode explicar, por meio de Ulisses, encantado no mar. Tancredo, com a força do povo, fazendo voltar a democracia; e Teotônio Vilela, mártir, doente, pregando a redemocratização. E como está no livro de Deus que “a árvore boa dá bons frutos”, há um filho aqui que devia inscrever-se no PMDB.

No meu entendimento, esse Partido não deve ser a base, mas a luz, como disse Cristo: “A luz, o caminho e a verdade”. Pela experiência de ter governado milhares de Municípios brasileiros, dezenas e dezenas de Estados, e por termos sido muitos reeleitos. E essa experiência eu trago aqui, Senador Sebastião Viana: um quadro vale por dez mil palavras. É um Partido de futuro. A experiência é necessária. Shakespeare afirmou que sabedoria é unir, é somar a experiência dos mais velhos com a ousadia dos mais novos: a experiência do PMDB - do MDB de guerra - com a ousadia dos mais novos do PT, de Sebastião Viana. E sábio é o nosso Senador Juvêncio da Fonseca, que representa a ética. 

Mas essa experiência não está sendo aproveitada. E, Sebastião Viana, eu quero dizer que o Presidente Lula - todos nós sabemos - é uma figura mais vitoriosa do que a de Abraham Lincoln, decantada pelos americanos. Pela sua trajetória. Porque é afável, é sincero, é honesto, tem bons propósitos. Mas ele não está sabendo aproveitar o PMDB.

E quero dizer ao Suplicy, aqui presente, que esse negócio do Banco do Brasil criar banco popular para pessoas de baixa renda não vai dar certo. Quem diz isso é o Senador Mão Santa, que foi prefeito, governador duas vezes e que instituiu e fez funcionar o Banco do Povo. Isso não dá certo. Essa idéia existe por causa da inexperiência.

Atentai bem, Senadores Suplicy e Sebastião Viana, a nossa matemática é pouca. É igual à do Ministro Palocci. É de médico. Só sabemos mesmo o 12 por 8 da pressão; que quando o termômetro marca 42, quebra; que a glicemia, com 150, induz o paciente ao coma. A nossa matemática é igual à do Ministro da Fazenda, como também está confirmando, com um sorriso, o médico que preside esta sessão, Senador Papaléo Paes.

Ora, diz-se aqui que o juro vai ser de 2% ao mês. Como é que pode dar certo se estamos vivendo na etapa da globalização, se estamos pregados? Agora há pouco, o Líder do PMDB, que é o Vice-Líder do Governo no sistema bicameral do Congresso, falou em globalização e Alca. Se o mundo está globalizado e o juro americano caiu para 1% ao ano, como pode aqui ser de 2% ao mês? Os mesmos produtos que serão fabricados por esses bem-intencionados - a camisa, o lápis, o sapato - vão competir com os de quem usou o capital de 1% ao ano.

Nobre Senador Sebastião Viana, companheiro médico e Senador, isso não dá certo. A intenção do Presidente Lula é nota dez, mas da intenção não vem a realização. E quero explicar o porquê: com a criação do banco popular, o Ministro Palocci forçaria os bancos privados a acompanharem a linha do juro baixo, de 2% - que, na realidade, é muito alto, mas baixo relativamente.

Nobre Senador Eurípedes, essa idéia não dá certo, porque o banco privado não vai cair nessa. Ele está acostumado aos lucros excessivos. E só ele está ganhando dinheiro. Quando não ganha, há o milagre do Proer. Não vai dar certo, porque o pessoal pequeno é justamente o que vai ter mais trabalho, o que precisará, para fazer a conta, do aumento do número de funcionários: demorará mais a fazer o cadastro, a entender as regras bancárias, as exigências. Não vamos ver banco privado aumentar seu quadro funcional para servir os mais pobres. Isso é uma hipótese vaga.

Então, eu queria trazer aqui a experiência dos Senadores do meu Partido. Temos que cumprir o nosso dever de despertar esse Governo. Copiar não é feio, e quem disse isso foi o maior administrador da história do mundo moderno, Jack Welch, um americano que tornou a GE a mais poderosa e moderna multinacional. Há dois livros publicados sobre ele, Senador Juvêncio, um de um jornalista e o outro dele, que se intitula Jack Definitivo. Esse livro vendeu mais do que o do Papa - e foram lançados na mesma época. E a imprensa, Senador Papaléo, ao entrevistar Jack Welch, perguntou-lhe como é que o seu livro teve uma vendagem superior à do do Santo Papa. E ele respondeu: “Bem, o Papa é realmente uma figura santa, mas acontece que o empresário sou eu. Se o Papa me entregar o livro dele, faço ele ser o mais vendido do mundo”. Isso é um fato.

Bill Clinton, cuja inteligência todos nós conhecemos, quando jogava golfe - aquele jogo em que cada partida demora quatro horas -, convidava Jack Welch para jogar, a fim de, entre uma jogada e outra, aprender administração. Então, Jack Welch ensinava que temos que copiar. Dizia ele: “Os executivos das minhas empresas viajam pelo mundo para descobrir o que há de bom. Eles me contam, e eu aplico”. Inventar é para Einstein. É difícil, Senador Papaléo Paes. Assim, o Governo brasileiro tem que copiar. Já houve Banco do Povo, que copiei no Piauí. Mário Covas, que foi Governador de São Paulo na mesma época em que fui Governador do Piauí, determinou ao seu Secretário do Trabalho, Walter Barelli, que o fizesse. Eu fiz o Banco do Povo, que funcionou e bem. É simples e funciona.

O Professor Muhammad Yunus estudou nos Estados Unidos, voltou para a Índia, e a sua região se libertou, transformando-se em Bangladesh. Ele criou, naquele povoado atrasado, o primeiro Banco do Povo.

O segredo é o seguinte: a primeira clientela são as mulheres, que representam quase 90%. Elas são mais corretas, mais decentes, mais honestas. Em toda a história da humanidade, Senador Juvêncio da Fonseca, assim é traduzido o comportamento das mulheres. Senadora Iris de Araújo, ao refletir sobre o maior drama da humanidade, que foi, sem dúvida alguma, a crucifixão de Cristo, vemos que todos os homens falharam: Anãs; Caifás; Pilatos; o pai de Cristo, José; e Pedro. Todos falharam, mas as mulheres, não. Estava lá a mulher de Pilatos dizendo que ele era justo, estava lá Verônica, como estão aqui, agora, as Senadoras Iris de Araújo, Serys Slhessarenko e Heloísa Helena. Naquela hora, estavam presentes as três Marias, como estão aqui as três mulheres.

O professor e economista Yunus - cujo livro, Senador Eduardo Suplicy, já li umas três vezes; e já assisti ao vídeo umas quatro vezes - dava preferência a fazer empréstimo para a mulher, para o lar. O pobre não tem o que o banco privado quer, Senador Papaléo Paes: um imóvel ou um patrimônio para hipotecar. Então, eles montavam grupos de amigos, e o empréstimo era feito para esses grupos seletivos. Isso funciona. Fizemos isso no Piauí, Senadora Iris de Araújo.

Podem alegar que, na Índia, só há pobres. Os Estados Unidos, Senador Papaléo Paes, também têm seus dramas de pobreza. O ex-Presidente Bill Clinton lançou um programa de combate à pobreza. E a esposa dele, que hoje é Senadora, Hillary Clinton, soube desse projeto e mandou chamar o Professor Muhammad Yunus, que, de repente, estava com o Presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, que ouviu a sua idéia e a colocou em funcionamento. Como nós não podemos fazê-lo no Governo de Luiz Inácio Lula da Silva?

Bill Clinton, inteligentemente -- porque a formação cultural do norte-americano não iria permitir que expusesse no Congresso, na prestação de contas --, chamou a esposa e mandou que ela e o Secretário adotassem o programa, instalando agências no mesmo sistema do Banco Grameen, do Professor Yunus.

Hoje, esse banco funciona em cem países. Em São Paulo, não faliu - 50% dos Prefeitos mudaram e continuaram. No Piauí, fiz funcionar o Banco do Povo. E como funciona isso? Um quadro vale por dez mil palavras. Funcionava no serviço social, que era dirigido por minha esposa.

O Banco do Estado, depois dessa política do Governo passado, foi obrigado a federalizar um pequeno capital. O fundamento disso é a existência de um serviço social muito atuante, para conhecer as aptidões e a seriedade dos que querem trabalhar. Mas eu lhe daria um exemplo, o mais comum no Piauí: aos vendedores de pipocas, de cachorro-quente, de churros, entregamos centenas de carrinhos. Adalgisa e eu fizemos isso no serviço social. Era um empréstimo de R$300,00. Qual é a política do banco? Juros altos e espaço pequeno. A política do Professor Yunus é alargar o prazo com prestações pequenas. Em Bangladesh, ele cobrava semanalmente; no Piauí, adotei o pagamento mensal. E quero lhes dizer: que povo honrado e correto é o pobre! Quem não tem mesmo vergonha é o rico. O Senador Papaléo Paes, como médico, sabe disso. Eu operava uma pessoa pobre na Santa Casa de Misericórdia, e, depois, ela trazia um galinha, um capote, para me pagar. O branco é que dá calote. Esses grandes caloteiros é que fizeram nascer o Proer. O pobre é honrado, o pobre tem vergonha, ele luta. Foi por isso que Deus mandou que Cristo nascesse entre os pobres, porque eles têm mais vergonha e dignidade.

Na prática, funcionava assim no Piauí, Senador Demóstenes Torres: para que um vendedor comprasse um carrinho de pipoca, era lhe concedido um empréstimo de R$300,00. Acompanhei esse processo. Eles ganhavam dois salários mínimos. Eu conversava e acompanhava, para ter essa experiência. E, hoje, posso dizer ao PT que o PMDB está aqui para ser a luz desses Partidos coligados. E, por esse empréstimo, eles pagavam R$10,00 por mês. Se ganhavam o equivalente a dois salários mínimos, R$280,00, eles pagavam posteriormente. Praticamente não houve inadimplência. Eles têm vergonha. E assim pode funcionar.

Então, fica, aqui, registrada a nossa sugestão, a nossa colaboração, fruto da nossa luta, da nossa experiência, que é tão grande.

Concedo um aparte à Senadora Iris de Araújo, que possui uma experiência extraordinária em sistemas habitacionais, que ninguém possui mais do que o grupo do PMDB em Goiás. Homens e mulheres agradecidos falam que, em um dia só, o Governo do PMDB de Goiás, liderado pelo grande Iris Rezende, entregou mil casas aos sem-teto do Estado.

Ouço, com prazer, a Senadora Iris de Araújo.

A Srª Iris de Araújo (PMDB - GO) - Ouvindo V. Exª, fui obrigada a meditar, Senador Mão Santa. A primeira vez que ouvi seu apelido, que se tornou a sua marca, fiquei curiosa para saber quem era esse homem que tinha o nome tão expressivo de Mão Santa. Ouvi, no Piauí, durante a campanha presidencial, o relato de várias pessoas que se referiam a V. Exª com o maior respeito, com a maior admiração. Ao vê-lo nessa tribuna fazendo-nos refletir sobre o momento que estamos vivendo no País; o momento depois das eleições, o momento em que este País foi balançado, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, pelos ventos da esperança de um Governo que se elegia sob a égide da mudança e da transformação daqueles que esperavam - e tenho a certeza que ainda esperam - que haja uma transformação. O nobre Senador nos expõe o seu pensamento de maneira clara, competente e prática, que considero a solução que este País espera. Senador Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores, desculpem-me se estou tomando um pouco do tempo, mas devo dizer que, neste momento, o PMDB, o PT e os partidos aliados devem se unir para oferecermos propostas viáveis, a fim de este País realmente saia da condição subalterna em que viveu até agora e se transforme no País que queremos. A esperança ainda persiste, Senador Mão Santa, mas é preciso que os olhos e os ouvidos se abram e percebam que todas as linguagens, principalmente a que está sendo manifestada aqui, no Senado, por intermédio das Lideranças de todos os partidos, sejam entendidas como projetos que digam respeito ao bem deste grande País. São essas as minhas palavras ao ouvi-lo, Senador Mão Santa. Conheço a boa intenção de V. Exª ao assomar à tribuna, ao se colocar como um peemedebista que conhece os problemas e que sabe como fazer. A voz de V. Exª faz parte do coro que quer o bem do País. Congratulo-me com V. Exª e junto a minha voz à dos bem-intencionados, à dos que amam o País e que torcem para que o melhor aconteça, aprovando todas as propostas, todos os projetos que são viáveis. Peço a Deus que o Senhor Presidente da República também nos ouça de onde estiver.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço...

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. Fazendo soar a campainha.) - Senador Mão Santa, V. Exª já ultrapassou 15% do seu tempo. Peço a sua compreensão.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço.

Estou vendo agora que os médicos estão evoluindo na matemática. O Ministro da Fazenda é médico; o Senador Papalélo Paes agora fez uma prova dos noves, ao fazer referência aos 15%. Mas eu pediria a aquiescência da Presidência porque a importância do tema é muito grande.

A Senadora Heloísa Helena está ao telefone, mas eu queria dizer a S. Exª, que é enfermeira, que só é chamada na hora da dor, da dificuldade, do sofrimento, que não sei como um Partido desse pode ameaçar uma figura generosa como essa! Não posso dizer que é um D. Quixote, porque é muito feminina, mas é uma figura simbólica para os humildes.

Mas é justamente o banco do povo que vai dar emprego. O BNDES empresta para os grandes grupos, que dão poucos empregos com grandes salários, porque a maquinaria moderna desemprega. São os pequenos que possibilitam a cura - e falo como médico - da maior doença deste País, que é o desemprego.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes) - Quero lembrar que V. Exª ultrapassou em 25% o seu tempo. Portanto, não pode conceder apartes, pois seu tempo já se esgotou.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Quero dizer que o coração de V. Exª é maior do que a Senadora Heloísa Helena disse que era o coração do Senador Eduardo Suplicy.

Agradeço a intenção...

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes) - O Regimento é maior do que o coração.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Segundo Rui Barbosa, só tem um caminho: a Lei e o Direito.

Vamos encerrar as nossas palavras agradecendo as boas intenções dos grandes Líderes que queriam usar da palavra. Em respeito à lei, cedemos.

Sabemos que são os cirineus que querem carregar a cruz de Luiz Inácio Lula da Silva de governar este País. Agradeço. Estão aqui os três cirineus, os verdadeiros homens que ajudaram na dificuldade de Cristo: o Eduardo Suplicy; o nosso Juvêncio, que se iguala a Rui Barbosa; e o nosso Delcídio, que seria, no Governo Luiz Inácio Lula da Silva, o transformador de um time que está aí, e que nos lembra as peladas de sábado, na seleção de ouro do Brasil de 1958.

São essas as nossas palavras e o nosso agradecimento a V. Exª, Sr. Presidente, pela grandeza do seu coração, por nos permitir ultrapassar o tempo - e não é sem razão, porque V. Exª é cardiologista.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/07/2003 - Página 17022