Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentário a respeito do artigo "Lupa nos cacos do presidente", do presidente nacional do PSDB, José Aníbal.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Comentário a respeito do artigo "Lupa nos cacos do presidente", do presidente nacional do PSDB, José Aníbal.
Publicação
Publicação no DSF de 09/07/2003 - Página 17390
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, JOSE ANIBAL, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PUBLICAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, INEFICACIA, ATUAÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXCESSO, DISCURSO, AUSENCIA, TRABALHO, BENEFICIO, PAIS.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, leio, para que conste dos Anais, o artigo de autoria do Presidente do PSDB, José Aníbal, publicado ontem na Folha de S.Paulo, no qual é feita uma análise do Governo Lula nesses primeiros seis meses, para salientar que já é hora de começar efetivamente a governar.

A íntegra do artigo é a seguinte:

TENDÊNCIAS/DEBATES

JOSÉ ANÍBAL

Lupa nos cacos do presidente

O governo Lula está para começar. Chega de "saltimbancar", é hora de governar, parece querer dizer o presidente

Otimista incorrigível quando o assunto é Brasil, tenho esperança de que nem tudo esteja errado na frase junina do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o tal espetáculo do crescimento. Afinal, há ingredientes naquelas palavras que, bem catados, podem levar o governo do PT a viver dias melhores. E a maneira com que o ocupante do Planalto se manifesta obriga o brasileiro a saber catar os cacos do presidente -expressão que uso no sentido de improviso, como no teatro, bem entendido.

Na retórica presidencial, a verdade está em cacos. O presidente Lula e seu governo alternam clímax e anticlímax, renegando amanhã o que dizem hoje. O jeito é botar lupa no improviso para tentar decifrá-lo. Há algo mais revelador do que dar biscoito na boquinha de um líder do MST em dia de invasão de prefeitura, tomada de companhia elétrica, sequestro de funcionários, bloqueio de estradas e saques a caminhões? O presidente tirou o chapéu para o descumprimento da lei e botou no lugar o boné do MST. Nenhum pronunciamento lido em ato oficial seria tão transparente e, por isso mesmo, perturbador.

Procurando algum alento para o brasileiro inquieto, vamos nos deter no improviso espetacular sobre o crescimento. Primeiro, a frase. "Esperem, que o mês de julho será o do espetáculo do crescimento. É o mês em que a gente vai começar a fazer a curva que deve ser feita", afirmou o presidente dia 26 último.

É verdade que, à primeira vista, o discurso parece uma bravata, digamos, "gradativa". O Banco Central acaba de rever a previsão de expansão da economia para este ano, que já foi de 2,8% e agora passou a magro 1,5%. O ministro Furlan prevê para os próximos seis meses estagnação nas exportações. Economistas próximos ao governo enxergam risco de recessão até o fim do ano. E o cidadão sente no bolso sua incapacidade de consumir, com a renda achatada em 15% e o desemprego no patamar de 20%. Mas há detalhes promissores nessa peça da oratória presidencial.

Comecemos pelo "esperem". Na oposição, o candidato Lula dizia que tudo resolveria num passe de mágica, com a varinha de condão da "vontade política". Endossava o pensamento do sociólogo Betinho, parecendo concordar que "quem tem fome tem pressa". Chefiava um partido que gritava "Fora FHC" nem bem o então presidente havia sido reeleito em primeiro turno. Agora, a gente sente, Lula está diferente. O uso do verbo esperar e os repetidos pedidos de paciência são a melhor prova disso. Tanto melhor. Podemos esperar que o presidente tenha se conscientizado da complexidade dos problemas nacionais, que pedem soluções consistentes, distantes da retórica de palanque.

"Julho." Vamos imaginar que o uso presidencial do sétimo mês do calendário não foi escolha aleatória. Nessa hipótese, o presidente realmente pensa que é hora de seu governo começar, passados 12,4% do mandato. É ótima notícia. Podemos esperar que o governo pare de se esconder atrás de desculpas inconsistentes sobre a herança que recebeu e trabalhe. Inclusive enquadrando os inativos -os do ministério, claro.

Agora, falemos sobre a expressão "espetáculo do crescimento". Ok, não temos crescimento significativo, mas vamos concordar que não falta espetáculo. Discursos, eventos, encontros, reuniões, visitas, viagens; o governo vive de exposição na mídia. Os programas lançados até agora não têm compromisso com datas e resultados concretos. Seus nomes, porém, são espetaculares. Fome Zero -alguém é contra zerar a fome? Primeiro Emprego -um achado, quase faz a gente esquecer que o que importa mesmo é o décimo milionésimo emprego, promessa do candidato Lula. Quem gosta de espetáculo pode estar certo de que o terá, pelo menos enquanto o governo crer que isso evita tombos maiores na popularidade presidencial.

Passemos o foco para o sujeito da segunda frase: "a gente". Um substantivo coletivo. Bom augúrio vindo de mandatário que pensa inexistir chuva, geada, terremoto, cara feia, Congresso ou Judiciário que sejam obstáculo à sua missão. É indicação de que o sentimento de ser um predestinado, alguém que pode sozinho "salvar este país" está cedendo. Melhor para as instituições, submetidas a solavancos vocabulares que criam na nação um clima de insegurança.

"Vai começar a fazer." Aqui, um predicado que traz a confirmação: o governo Lula está para começar. Chega de "saltimbancar", é hora de governar, parece querer dizer o presidente. Talvez desconfiando de que nenhum governo falastrão passou impune, a exemplo da gestão de Fernando Collor. Essa passagem do discurso presidencial permite imaginar que não vamos mais conviver com frases como "O Brasil saiu da UTI" e "Recebemos uma herança maldita". Haverá menos arrogância e mais ação, eis a promessa implícita.

Analisemos, finalmente, "a curva que deve ser feita". É o trecho que traz a melhor novidade. Havia relativo consenso entre os candidatos no segundo turno da eleição sobre a curva a ser feita. É preciso estimular o crescimento e criar empregos, incentivar exportações e enfrentar a vulnerabilidade externa. É preciso investir com eficiência em ações sociais e combater de fato a violência urbana e o crime organizado. O governo Lula esqueceu seus compromissos ou não sabe como fazê-los virar realidade. Pauta-se pelo imobilismo e ineficácia.

Humor à parte, o país precisa que o governo Lula ache seu rumo e faça logo a curva que deve ser feita. Que os cacos presidenciais e seus efeitos tragam tempos de mais eficiência e menos palanque à administração federal.

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José Aníbal, 55, é presidente nacional do PSDB. Foi secretário da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo (governos Covas e Alckmin).


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/07/2003 - Página 17390