Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Repúdio contra críticas feitas a S.Exa., na sessão de ontem, quando afirmou que membros do MST estavam cometendo crimes ao invadir propriedades.

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL. REFORMA AGRARIA.:
  • Repúdio contra críticas feitas a S.Exa., na sessão de ontem, quando afirmou que membros do MST estavam cometendo crimes ao invadir propriedades.
Publicação
Publicação no DSF de 11/07/2003 - Página 17748
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL. REFORMA AGRARIA.
Indexação
  • REPUDIO, AGRESSÃO, INJURIA, ORADOR, ALEGAÇÕES, OPOSIÇÃO, REFORMA AGRARIA, DEFESA, LATIFUNDIO, MOTIVO, DISCURSO, CRITICA, METODOLOGIA, ILEGALIDADE, ATUAÇÃO, MOVIMENTO TRABALHISTA, SEM-TERRA, PREJUIZO, DEMOCRACIA.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na seqüência do meu pronunciamento de ontem desta tribuna, sofri uma agressão de forma oblíqua, na medida em que fui contestado de forma insultuosa. Fui rotulado, depois de ter criticado os métodos do MST, de inimigo da reforma agrária e defensor do latifúndio.

Sr. Presidente, esta é a forma mais primária e intelectualmente menos honesta de se travar uma discussão: a tentativa de desqualificação do oponente. Não se contestam os seus argumentos, simplesmente se coloca um rótulo para desqualificá-lo e, dessa forma, tentar ganhar a discussão que não se ganhou à base da argumentação.

Na minha juventude, já fui assim, Sr. Presidente. Já sofri da doença infantil do esquerdismo - a definição não é minha, mas de Vladimir Ilitch Lênin, que assim cunhou seus extremistas. Quando eu desfraldava a bandeira do socialismo e não tinha argumentos contra pessoas que se opunham a mim, imediatamente eu as rotulava, colocava-lhes na testa o rótulo de serviçal da burguesia, lacaio do imperialismo ianque, e assim encerrava a discussão.

Sr. Presidente, fui duro com o MST porque não concordo com as práticas ilícitas, e quem diz isso não sou eu, mas o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Maurício Corrêa, que ainda ontem disse que invadir terra, mesmo improdutiva, é ilícito civil e penal.

Ataquei os métodos do MST - o próprio MST que considero um movimento revolucionário -, mas não desqualifiquei os que defendem o MST. Não, Sr. Presidente. Penso que muitos que defendem o MST o fazem, a meu ver, de forma equivocada. Pensam que o MST realmente é um movimento que procura apenas fazer reforma agrária. Reconheço a boa-fé dessas pessoas. Outros nem tanto; outros sabem o que há por trás do MST e querem isso mesmo, querem que o MST alcance os seus objetivos ocultos.

Sr. Presidente, adoro o debate, o debate educado, civilizado e inteligente de troca de idéias. Mas o debate selvagem, de insulto e de desqualificação do adversário, a esse tipo não estou acostumado e vou aqui, doravante, ignorar solenemente. Quem quiser discutir comigo, debater no campo das idéias, eu adoro; na base do insulto, não. E o plenário do Senado não é palco para esse tipo de discussão. Gosto de debater com democratas, não com mentes totalitárias. E o que é que identifica uma mente encharcada de totalitarismo? “A verdade e a justiça estão comigo; quem se opõe a mim está com a iniqüidade e com a mentira. Eu defendo o povo; quem está contra mim defende interesses inconfessáveis.” Essa é a mentalidade totalitária do fanático.

Eu me considero um democrata puro, porque parto do princípio de que pessoas que se opõem a mim têm os mesmos bons propósitos que eu, apenas pensam diferente, e devo por isso respeitá-las. E só se pode ser respeitado se se respeita o oponente.

Faço essa declaração para que fique registrado em ata. Para os que gostam de discussão de nível menor, digo que lhes resta uma esperança: eles podem ficar felizes, porque, quem sabe, um dia, o MST assalta o “Palácio de Inverno”, vale dizer, o Palácio do Planalto e implanta uma ditadura do proletariado. Então, eles não terão nem que discutir comigo. Aí terei um destes três destinos, estou tranqüilo: ou a prisão, ou o exílio, ou o paredão. Mas, por enquanto, vou ficar falando o que penso enquanto posso.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/07/2003 - Página 17748