Discurso durante a 11ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre a manchete de hoje do jornal O Estado de S.Paulo, intitulada "O Presidente do TST acusa Lula de estelionato eleitoral". (como Lider)

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. PREVIDENCIA SOCIAL.:
  • Comentários sobre a manchete de hoje do jornal O Estado de S.Paulo, intitulada "O Presidente do TST acusa Lula de estelionato eleitoral". (como Lider)
Aparteantes
Arthur Virgílio.
Publicação
Publicação no DSF de 16/07/2003 - Página 18112
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. PREVIDENCIA SOCIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DECLARAÇÃO, AUTORIA, FRANCISCO FAUSTO, PRESIDENTE, TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO (TST), ACUSAÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESTELIONATO, MATERIA ELEITORAL, MOTIVO, INCOERENCIA, DISCURSO, PERIODO, CAMPANHA ELEITORAL, ESPECIFICAÇÃO, SITUAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL.
  • CRITICA, ELABORAÇÃO, PROPOSTA, REFORMULAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL, EXCESSO, PARTICIPAÇÃO, CONSELHO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, GOVERNADOR, ESTADOS, AUSENCIA, PRIORIDADE, INTERESSE, SOCIEDADE, FALTA, CONVICÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ALTERAÇÃO, LEGISLAÇÃO, NATUREZA PREVIDENCIARIA.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, COMPROMISSO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DEFESA, TRABALHADOR, VITORIA, ELEIÇÕES, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, NECESSIDADE, PRIORIDADE, INTERESSE PUBLICO, EXECUÇÃO, REFORMA CONSTITUCIONAL, CONTENÇÃO, FRUSTRAÇÃO, CIDADÃO, SITUAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a edição de hoje do jornal O Estado de S.Paulo estampa, na página cinco do primeiro caderno, uma manchete que me causou espécie: “O Presidente do TST acusa Lula de ‘estelionato eleitoral’”. É o Presidente de uma corte do Poder Judiciário referindo-se à eleição do Presidente da República. A alguns pode até parecer um fato insólito o Presidente de uma corte de Justiça estar se referindo ao Presidente da República dessa forma. Alguns poderiam até entendê-la como provocativa. E aqui quero fazer algumas observações e reflexões a respeito, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.

Conheço o Presidente do TST, Ministro Francisco Fausto, potiguar, meu conterrâneo e meu conhecido de muitos anos. Não se trata - muito longe disso - de um radical. É um homem sereno, equilibrado e de profundo bom-senso. E estou seguro - embora não tenha falado com S. Exª - de que a sua declaração ao jornal deve ter sido motivada por solidíssimas provocações de sua categoria, sob a sua liderança, e de que o jornal deve ter arrancado de S. Exª essa declaração, que se viu premido a fazê-lo para verbalizar o pensamento daqueles com quem ele convive.

Logo após o começo da matéria, intitulada com a manchete que acabei de ler, há uma declaração atribuída ao Deputado Aldo Rebelo, Líder do Governo na Câmara, que, respondendo a S. Exª, diz: “Todas as propostas estão previstas no programa de Governo apresentado pelo Presidente Lula”.

Creio, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que o Deputado Aldo Rebelo referia-se ao estelionato eleitoral mencionado pelo Presidente Francisco Fausto, como que justificando: “não, o Presidente está fazendo aquilo que escreveu”.

O Ministro Francisco Fausto, Sr. Presidente, declara - e isso é um fato singular - haver votado no Presidente Lula e manifesta-se arrependido. O Ministro Francisco Fausto é um homem atento, um homem antenado. S. Exª não é uma pessoa desatenta aos fatos ou às propostas; S. Exª é um homem politizado - conheço bem S. Exª.

Custa-me crer que, se o ideário do Presidente Lula fosse um fato público, fosse um documento difundido, o Ministro Francisco Fausto e tantos brasileiros não o conhecessem. O que o Ministro Francisco Fausto conhece, tenho certeza, é o teor do PLP nº 09.

O que é o PLP nº 09, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores? É um marco em matéria de proposta de reforma da Previdência, porque altera o conceito de aposentadoria concedida por contribuição definida ou por benefício definido.

Senador Artur Virgílio, o PLP nº 9, apresentado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso em 1999, era uma proposta de criação - não mais do que isso - de fundos complementares de aposentadoria. O projeto não retirava direito de ninguém, e o regime previdenciário continuava. Criava-se apenas o fundo de pensão privado, que sinalizava, evidentemente, o fim da integralidade, sem dúvida nenhuma.

Tenho certeza de que o Ministro Francisco Fausto tomou conhecimento do PLP nº 9, além de ter acompanhado o processo, porque ele estabelecia um divisor de águas no sistema previdenciário ao criar o conceito novo de aposentadoria por contribuição definida e estabelecer um teto que, a partir dele, os que quisessem aposentar-se com um teto mais alto deveriam contribuir com um fundo de pensão, com a previdência privada complementar.

O Ministro Fausto certamente acompanhou o PLP nº 9, que representava uma mudança real na Previdência. Entretanto, o projeto não foi votado, porque o Partido dos Trabalhadores obstaculizou, impediu, ficou contra, em todos os momentos, sinalizando para o Ministro Fausto e para tantos brasileiros que era a favor da integralidade. Por isso, o Ministro Francisco Fausto e tantos brasileiros devem ter votado no Presidente Lula.

Mas o que vem ocorrendo e o que frustra o Ministro Francisco Fausto, que acusa o Presidente de estelionato eleitoral? É o projeto de reforma da Previdência que Sua Excelência trouxe pessoalmente ao Congresso Nacional, acompanhado de Governadores e Ministros, em um enorme séqüito, em pacotes bem enrolados, como se tudo isso traduzisse o sentimento e a vontade nacional.

Que proposta é essa? De quem é a paternidade? Com quem ela foi discutida?

Essa proposta foi escudada inicialmente pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que se reuniu algumas vezes para estudar várias matérias e que, talvez, tenha se detido na apreciação de uma proposta de reforma da Previdência. Esse foi o primeiro escudo. O segundo foi o consenso, que hoje se discute, dos Governadores.

Portanto, essa proposta chega sem uma paternidade definida. Não é do Poder Executivo, mas transportada por ele; ela é pseudo-escudada pelo “pensamento” dos Governadores e do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

Estabelecida a discussão, o Judiciário se manifesta e fala em direitos adquiridos.

E aí, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o que mais me preocupa é a falta de convicção. Não acredito em proposta que não esteja vestida com a roupa da convicção. E sem convicção, estabelece-se uma enorme confusão quanto à paternidade, quanto à possibilidade de evolução da proposta.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Concede-me V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador José Agripino, há diversos tipos de inteligência. O de V. Exª é, a par de brilhante, cortante, cirúrgica; sua inteligência é “cabeça-de-engenheiro”, bem-arrumada. V. Exª toca no ponto fulcral para entendermos as confusões do Brasil contemporâneo. Alguns dizem, talvez de boa-fé, que o Presidente Lula venceu as eleições porque fez a Carta aos Brasileiros e, com isso, mostrou que não era nenhum bicho-papão para os mercados - com o que não concordo. O Presidente Lula venceu as eleições porque usou o jargão da “mudança a qualquer preço”, do ponto de vista da qualidade de vida do povo, do avanço social, do crescimento econômico, sem estar estribado em dados reais. A Carta aos Brasileiros foi dirigida aos mercados, e não adiantou de muito. Tanto que houve o overshoot do dólar, resultando em prejuízo de R$13 bilhões para o País, àquela altura. Ou seja, era uma tentativa de mostrar para os mercados que era possível assimilar o candidato favorito. O candidato favorito não convenceu na ocasião, só depois; mas tenta tirar nota 11 na sua relação com o mercado, a ponto de, estando ultraconservador, hesitar em baixar os juros na medida do possível. O que levou o Presidente Lula a ganhar a eleição foi precisamente o discurso dos que hoje, chamados de radicais, são ameaçados de expulsão do Partido; foi a história do plebiscito da Alca; foi a história do plebiscito para se pagar ou não a dívida externa; foi a idéia de que não se podia gastar mais do que 10% das receitas correntes da União com o pagamento de juros e de mais serviços da dívida; foi o jargão da felicidade social, que viria porque o ungido estaria descendo à Terra. Daí a frustração do Ministro Fausto, eleitor de Lula, que, na verdade, acreditou que a Carta aos Brasileiros - nem sei se S. Exª tomou conhecimento dela - era algo muito menos importante que, por exemplo, a carta aberta, publicada em todos os jornais, que Sua Excelência, o Presidente Lula, então candidato, mandou ao Presidente Fernando Henrique Cardoso dizendo o seguinte: “Não serei covarde, não me agacharei diante do FMI; no primeiro momento, mudarei a política econômica”. Ou seja, isso é que emocionava o povo. Duvido que alguém tenha se emocionado com a Carta aos Brasileiros. Eleição é muita emoção, e emoção de sobra houve na proposta de se fazer milagre com a economia brasileira. Por isso, quero dizer duas coisas: primeiro, que compreendo e respeito a frustração do Ministro Fausto. Em segundo lugar, digo ao Ministro, em tom de consolo, que pelo menos S. Exª é um eleitor frustrado não anônimo, daqueles que hoje têm um grande espaço, até horário nobre, para falar da sua frustração. Os da rua estão podendo se manifestar aos poucos e cada vez mais nas pesquisas de opinião e, por enquanto, estão amordaçados. Parabéns a V. Exª pelo lúcido e cirúrgico discurso que faz nesta tarde.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Agradeço o aparte, Senador Arthur Virgílio. V. Exª apresenta dados muito sólidos, fatos verdadeiros e contemporâneos. Concordo inteiramente com V. Exª.

O Presidente Lula ganhou a eleição com promessas de ruptura com o FMI, com cartas distribuídas de proteção aos aposentados e às viúvas, com uma história de vinte anos de luta. Não foi uma carta distribuída, num dado e fortuito momento, que não chegou nem ao conhecimento de um mínimo percentual da opinião pública, que motivou o brasileiro a votar nele.

O brasileiro votou nele por uma história de compromissos, que é a história do PT, que é a história cobrada hoje do PT pelos servidores públicos que vêm à Esplanada dos Ministérios, pela confusão que se estabelece no País neste momento.

Aí surge a minha preocupação, Senador Arthur Virgílio. Digo e repito que o PFL faz oposição por resultados, deseja, sempre que puder, fazer um bom entendimento no sentido de obter ganhos para a sociedade; o PFL faz oposição cobrando coerência e compromissos de campanha, mas não vai tocar fogo na lona do circo. Nosso Partido não quer ver o circo pegar fogo, mas não vai deixar de interpretar a voz das ruas.

Quem ganha, exerce governo; quem perde exerce oposição. E o PFL quer se colocar como oposição a serviço do interesse do povo brasileiro, que deseja coerência do seu governante.

A proposta de reforma tributária não tem ainda uma face definida, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores. Quem é o pai? São os Governadores, é o Poder Executivo, é o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social? É a influência do Judiciário? Cadê a digital da proposta de reforma previdenciária?

Aí entra a manifestação, Senador Tião Viana, que tenho que respeitar, do Presidente do TST, que interpreta a frustração dele, daqueles com quem ele convive e, suponho, de milhares de brasileiros.

Senador Arthur Virgílio, fico pensando se a viúva que votou em Lula o faria se ele dissesse: “Vote em mim, viúva, porque você, no meu Governo, vai valer 30% menos? Vote em mim, aposentado, porque, quando você votar em mim e eu for Presidente, você vai valer 11% menos, aposentado! Agora, vote em mim, porque vou ser o Presidente do seu coração! Vote em mim, Ministro Fausto! Vote em mim, porque a Previdência que lhe prometo é aquela que defendi no PLP nº9, quando fiquei a favor da integralidade! Vote em mim, porque lhe prometo coerência!”

Não é a isso que o Brasil está assistindo, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores! E tenho a obrigação de interpretar a frustração das viúvas que não querem valer 30% menos, dos aposentados que não querem valer 11% e do Ministro do TST, que, com justa razão, julga-se vítima de estelionato eleitoral!

Com a palavra o Governo do Partido dos Trabalhadores!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/07/2003 - Página 18112