Discurso durante a 12ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre a reportagem publicada pela revista Veja, de 9 de abril do corrente, que trata do problema da obesidade no Brasil.

Autor
Papaléo Paes (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Comentários sobre a reportagem publicada pela revista Veja, de 9 de abril do corrente, que trata do problema da obesidade no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 17/07/2003 - Página 18449
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), LEVANTAMENTO DE DADOS, CUSTO, DOENÇA, EXCESSO, PESO, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, GASTOS PUBLICOS, SISTEMA UNICO DE SAUDE (SUS), CONTRADIÇÃO, PROBLEMA, DESNUTRIÇÃO, PAIS, NECESSIDADE, CAMPANHA, ESCLARECIMENTOS, POPULAÇÃO, EDUCAÇÃO ALIMENTAR.

O SR. PAPALÉO PAES (PTB - AP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, acaba de ser concluído o primeiro levantamento sobre os custos da obesidade no Brasil. Estima-se que um bilhão e cem milhões de reais são gastos anualmente com internações hospitalares, consultas médicas e remédios para o tratamento do excesso de peso e das doenças ligadas a ele. Só o SUS destina cerca de 600 milhões de reais para as internações relativas à obesidade, o que representa algo como 12% dos gastos do Governo Federal com todas as demais enfermidades.

Este, Srªs e Srs. Senadores, é o início da reportagem publicada pela revista Veja na semana de 9 de abril deste ano. É uma reportagem serena, mas que relata um verdadeiro drama nacional, que, infelizmente, costuma deixar insensíveis até mesmo os próprios obesos.

Os dados são, na verdade, alarmantes em termos de saúde pública. O Brasil é, hoje, o sexto país do mundo em número de obesos. Só perdemos para os Estados Unidos, o recordista, e para Alemanha, Inglaterra, Itália e França. Não se pode negar que estamos ao lado de ilustres companhias, mas, desgraçadamente, numa matéria que em nada nos enobrece. Estamos ao lado de países desenvolvidos, nos quais o problema da obesidade está ligado ao elevado padrão de vida, ao sedentarismo e a padrões alimentares degradados pela ingestão de alimentos ricos em gorduras.

Ora, o Brasil, um país onde ainda há problemas de desnutrição, apresenta 70 milhões de brasileiros e brasileiras acima do peso recomendável. E desses, 17,5 milhões são obesos na definição clássica do termo, isto é, apresentam peso 45 quilos ou mais acima do ideal.

Não há como deixar de ver o comprometimento de nosso projeto de desenvolvimento, se já começamos a padecer de males de Primeiro Mundo, quando ainda sequer conseguimos resolver nossas questões básicas de cidadania. A discussão em torno da viabilidade do financiamento da saúde pública brasileira passa, obviamente, pelo controle dos gastos evitáveis por meio de campanhas de educação popular. E a obesidade, diante desses números, é uma questão inequivocamente de saúde pública.

O índice de obesidade no Brasil duplicou nos últimos 30 anos. No caso da infância e adolescência, a situação é ainda pior, pois a incidência de sobrepeso e obesidade nessas faixas etárias passou de 4% para 14% da população. Fica fácil identificar a causa, quando se vê o número incrível de fast foods que se disseminou pelo Brasil e o regime cada vez mais corrido de vida das pessoas.

Sr. Presidente, dizem que todo gordo é simpático. Ele, contudo, carrega dentro de si verdadeiras bombas de retardo que podem comprometer de modo irremediável sua saúde e, por extensão, a saúde global do País. É um homem bomba pronto para explodir.

Faltas ao trabalho, licenças médicas e morte precoce se inscrevem entre as mazelas socioeconômicas associadas ao excesso de peso. Distúrbios cardiovasculares, diabetes do tipo 2, hipertensão arterial, taxas elevadas de colesterol e triglicerídeos no sangue, cálculos na vesícula e câncer de cólon, entre outras enfermidades, são as conseqüências derivadas do excesso de peso. Esses são ônus com os quais o Brasil não pode arcar sem comprometer seu projeto de desenvolvimento. Devemos, pois, implementar, imediatamente, políticas de educação ou de reeducação para a saúde da população que já é ou tende a se tornar obesa.

Sr. Presidente, a obesidade, como vimos, não se resume apenas a uma questão estética ou funcional. Ela pode ser enquadrada como uma enfermidade por si mesma e pelas doenças que acarreta. E se o problema é grave e oneroso para um país como os Estados Unidos da América, onde mais de 140 milhões de pessoas padecem do mal, a um custo anual para a sociedade de mais de 100 bilhões de dólares, imaginem as Senhoras e os Senhores Senadores, o peso que têm, sem falso trocadilho, no orçamento nacional, os milhões de brasileiros e brasileiras na mesma situação. E o Brasil não pode se dar ao luxo de gastar dinheiro com doença de rico, como se diz popularmente.

Sabemos que disfunções orgânicas podem estar na origem de casos de obesidade, mas, na maior parte das vezes, suas causas estão em hábitos errados de vida e de alimentação. Por isso, compete aos organismos esclarecidos da sociedade e ao Estado a tarefa primeira de educar para a saúde. Às famílias cabe, também, educar-se para a saúde.

Sr. Presidente, num Brasil no qual, cada vez mais, se fazem campanhas para todo tipo de matéria, um programa permanente de educação para a saúde e para o combate a males sociais como a obesidade deve estar em todo orçamento e planejamento da União, dos Estados e dos Municípios. O exemplo do Município gaúcho que criou um programa coletivo de emagrecimento de sua população deveria ser modelo para todo o País.

A prevenção da obesidade é uma responsabilidade social coletiva e do Estado. Não podemos nos dar ao luxo de chegar à situação dos EUA, que gastam cerca de 395 dólares anuais per capita no tratamento de doenças crônicas associadas à gordura. Nós já gastamos 100 reais, o que significa cerca de 30 a 35 dólares. Ainda é menos de um décimo do que despendem os norte-americanos. Oxalá fiquemos por aqui e, quiçá, possamos reduzir, pelo menos em termos relativos, essa cifra.

Sr. Presidente, invistamos em maciços programas de educação de nossa população. Que nossas escolas tenham programas de educação alimentar. Um passo salutar seria, por exemplo, fazer com que as lanchonetes escolares evitassem alimentos altamente calóricos e gordurosos.

As campanhas que têm sido feitas contra o tabagismo e outras questões de ampla repercussão social têm tido boa resposta da sociedade em geral. Almejo, pois, ver uma campanha intensa de combate á obesidade ganhar a mídia e reverter a atual tendência que o Brasil vem apresentando de agravamento do número de obesos na população e das doenças conexas com este mal social.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/07/2003 - Página 18449