Discurso durante a 13ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Alerta para a falta de fiscalização da fronteira de Mato Grosso do Sul, fato este que favorece a entrada do narcotráfico no Brasil. Apresentação de projeto de lei que institui o seguro obrigatório para uso de arma de fogo.

Autor
Delcídio do Amaral (PT - Partido dos Trabalhadores/MS)
Nome completo: Delcídio do Amaral Gomez
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DROGA. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Alerta para a falta de fiscalização da fronteira de Mato Grosso do Sul, fato este que favorece a entrada do narcotráfico no Brasil. Apresentação de projeto de lei que institui o seguro obrigatório para uso de arma de fogo.
Aparteantes
Mão Santa, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 18/07/2003 - Página 18666
Assunto
Outros > DROGA. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • APREENSÃO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, SEGURANÇA, ESTADOS, REGIÃO CENTRO OESTE, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), VITIMA, CRIME ORGANIZADO, UTILIZAÇÃO, ROTA, TRAFICO, DROGA, FACILIDADE, TRANSPOSIÇÃO, FAIXA DE FRONTEIRA, TRANSPORTE FLUVIAL, AUSENCIA, CONTROLE, CIRCULAÇÃO, MERCADORIA, DIFICULDADE, COMBATE, PRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO, TOXICO.
  • REGISTRO, INVESTIMENTO, GOVERNO ESTADUAL, MINISTERIO DA SAUDE (MS), SEGURANÇA PUBLICA, MODERNIZAÇÃO, RENOVAÇÃO, EQUIPAMENTOS, VALORIZAÇÃO, CATEGORIA PROFISSIONAL, SETOR, APRESENTAÇÃO, DADOS, ATUAÇÃO, POLICIA, COMBATE, CRIME.
  • APOIO, CRIAÇÃO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), PROGRAMA, CONVENIO, ESTADOS, SISTEMA, UNIÃO, SEGURANÇA PUBLICA, OBJETIVO, INTEGRAÇÃO, ATUAÇÃO, POLICIA, COMBATE, CRIME ORGANIZADO.
  • ANUNCIO, APRESENTAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, PREVISÃO, PAGAMENTO, SEGURO OBRIGATORIO, UTILIZAÇÃO, ARMA DE FOGO.

            O SR. DELCÍDIO AMARAL (Bloco/PT - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho hoje a esta tribuna falar sobre segurança pública, problema que atormenta a todos nós, sociedade e governo. Num país como o Brasil, no qual parte significativa da população não tem sequer condições mínimas de dignidade de vida, pesquisas têm mostrado, reiteradamente, que a preocupação primeira de nossa gente é com a segurança. Tal constatação deve ser motivo de profunda reflexão para as autoridades constituídas.

Nossos concidadãos acreditam que necessidades vitais para a cidadania, como educação ou saúde, podem ser preteridas em favor de um mínimo de segurança para suas próprias vidas. Isso demonstra que o Estado brasileiro apresenta uma falha estrutural em sua organização e precisa aprimorar sua capacidade de ação e de prestação dos serviços essenciais, que são de sua competência exclusiva.

A preocupação com segurança é de tal ordem na sociedade brasileira, que um dos negócios mais prósperos neste País é o da segurança privada de bens e pessoas. O faturamento das empresas deste ramo, no ano passado, atingiu o patamar de R$7,3 bilhões. Esse valor é quase vinte vezes superior ao do orçamento do Fundo Nacional de Segurança Pública para 2003, que é da ordem de R$404 milhões. Grave é ainda saber que muitos dos que prestam esse serviço particular de segurança são os mesmos que deveriam assegurar proteção aos cidadãos no do aparelho do Estado.

Estudos têm demonstrado que o maior estímulo para o aumento da vigilância privada não está somente no aumento da criminalidade, mas também na incapacidade do Estado em proporcionar segurança aos cidadãos.

É preciso reverter esse quadro de insegurança. O centro da questão está no combate ao crime organizado.

Srªs e Srs. Senadores, o Brasil é hoje um país atacado por todos os lados pelo crime organizado e pelo narcotráfico. Nossa posição geográfica, nossas extensas fronteiras, nossa economia - a mais forte da América Latina - e, sobretudo, a fragilidade de nosso aparelho de segurança são fatores que muito favorecem a ação dos criminosos.

Dentro desse quadro nebuloso para o nosso País, gostaria de destacar a situação particularmente sensível em que se encontram os Estados do Centro-Oeste, especialmente o Mato Grosso do Sul.

Hoje, a América Latina responde por mais de 80% da produção mundial de cocaína e abriga os maiores plantios de maconha do mundo.

Ora, Srªs e Srs. Senadores, a fronteira do Mato Grosso do Sul com os países vizinhos estende-se por 1.147 quilômetros - dos 587 quilômetros são secos e 560 quilômetros são molhados por rios e charcos. Isso constitui uma extensa faixa de circulação de bens e pessoas de difícil controle, sem recursos e equipamentos adequados. Agravam a situação a insuficiente repressão à produção de maconha na região e o poderio dos traficantes em relação à produção e à distribuição de cocaína.

O poder das organizações criminosas que lidam com as drogas é muitas vezes superior ao dos Estados nacionais, em cujos territórios se instalam. Será preciso uma mobilização muito grande da sociedade para que possa haver uma reversão desse quadro. É importante que haja uma decisão política firme para combater esse mal e suas fortíssimas garras sobre as sociedades subdesenvolvidas da América Latina.

Alguns países tentam a implantação de programas de substituição do cultivo da cocaína pelo da soja e do milho e têm enormes dificuldades de levar a cabo tal projeto pela importância econômica e social - impressionante - da atividade ilegal. Estima-se que mais de 500 mil pessoas trabalham na indústria da cocaína na região. Os governos não conseguem convencê-las a trocar uma atividade ilegal e rentável por outra produção sujeita à ordem internacional.

O crime, enquanto não é punido, é sempre mais lucrativo, justamente por sua margem de risco muito maior.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Mato Grosso do Sul, que não é centro produtor nem consumidor de importância, torna-se uma vítima do crime organizado, por ser a rota natural do tráfico de drogas em direção aos grandes centros consumidores do Sul e do Sudeste.

O crime organizado nos ataca por todos os lados. Ora é a droga que nos invade por terra e pelos ares, ora é a saída ilegal de veículos furtados em outros Estados, que são vendidos ou trocados nos países vizinhos e retornam ao Brasil em forma de droga ou armamento, para fomentar a criminalidade e a insegurança.

A constatação de que meu Estado se torna vítima desse ciclo perverso é fácil de verificar-se. Mais de 90% das prisões efetuadas no Mato Grosso do Sul são de criminosos naturais de outros Estados; a maior parte da droga apreendida dirige-se a São Paulo, maior centro consumidor do País.

Falando com um pouco de triste ironia, Mato Grosso do Sul entra como Pilatos no Credo, ou seja, não é produtor, não é consumidor significativo, mas tem todos os ônus de ser rota preferencial dessa nefasta rede criminosa.

O desafio é grande. O Governo de Mato Grosso do Sul tem desenvolvido importantes ações no sentido de melhorar a segurança pública no Estado.

Parcela significativa do Orçamento tem sido investida na modernização do aparelho policial. Implantação de laboratório de DNA, aquisição de viaturas, de equipamentos de comunicação e de Informática, de armas, de coletes antibalísticos, de munições etc. são alguns dos esforços empreendidos pelo Governo para a melhoria do sistema de segurança pública.

Os prédios que abrigam as unidades das Polícias Civil e Militar e do Corpo de Bombeiros, na capital e no interior do Estado, estão sendo reformados e ampliados.

Para valorização dos profissionais do setor, foi adotado realinhamento salarial, iniciado em dezembro de 2000. Os quadros têm sido ampliados com convocação de aprovados para a Polícia Civil e com realização de novos concursos públicos para preenchimento de 400 vagas na Polícia Militar. Além dessas vagas, é imprescindível o aumento do efetivo policial militar em mais de 300 homens.

Outras medidas urgentes fazem-se necessárias, como a implantação da Polícia Comunitária, para atender aos assentamentos e às aldeias indígenas.

Deve ser criado um programa de incentivos que facilite a obtenção de financiamento para aquisição de casa própria e de veículo para os policiais civis, militares e bombeiros, conferindo-lhes maior dignidade e motivação para o trabalho.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Polícia Federal e as Polícias Estaduais, em meu Estado, têm agido corajosa e decididamente no combate ao crime organizado. Nos últimos cinco anos, foram presos 4.110 traficantes e apreendidos mais de 300 toneladas de maconha, 20 toneladas de cocaína, 1.100 veículos terrestres e 60 aeronaves. São números expressivos e que não incluem dados de 2003, o que demonstra a operosidade das forças policiais brasileiras, apesar das deficiências estruturais que possuem.

O Departamento de Operações de Fronteira do Mato Grosso do Sul tem exercido importante contribuição para os resultados obtidos no combate ao crime no Estado. Esse departamento é pioneiro no trabalho integrado das Polícias Civil e Militar.

O Projeto Segurança na Fronteira, em parceria com o Governo Federal, prevê reaparelhamento das forças policiais e fixa um conjunto de ações para policiamento ostensivo em área crítica.

Apesar do esforço empreendido pelo Governo do Mato Grosso do Sul, a interestadualidade e a internacionalidade do crime ali praticado exigem a intervenção da União e o aporte de recursos humanos e de materiais que são de responsabilidade da área federal.

Nesse sentido, cabe ressaltar a iniciativa do Governo Federal, por intermédio do Ministério da Justiça, que está realizando convênios com vários Estados da Federação para implantar o Sistema Único de Segurança Pública, SUSP, concebido com o objetivo de integrar as ações das polícias nas três esferas do Poder Executivo para uniformizar as ações no combate à violência e, em especial, ao crime organizado.

O SUSP deve focalizar seis áreas de atuação prioritárias: gestão unificada da informação, gestão do sistema de segurança, formação e aperfeiçoamento de policiais, valorização das perícias, prevenção da violência e da criminalidade, ouvidorias independentes e corregedorias unificadas.

Srªs e Srs. Senadores, é preciso que as ações sejam planejadas, articuladas e, principalmente, executadas com a utilização de tecnologia de ponta, para o aparelhamento das instituições policiais do País.

Um dos exemplos do emprego de tecnologia para o combate ao crime organizado é o projeto encaminhado ao Ministério da Justiça pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa do Cidadão do Estado de Santa Catarina, elaborado em conjunto com a Universidade Federal de Santa Catarina. O projeto prevê o monitoramento dos acessos à região da Grande Florianópolis. Conta com a implantação de 32 câmeras de TV e radares, a serem distribuídos ao longo deste trecho, monitorando 24 horas por dia o tráfego de veículos, com a possibilidade de acompanhar veículos suspeitos, preparar operações de fiscalização, controle de tráfego de cargas perigosas ou de transportadoras de cargas e de passageiros, assim como fiscalização para ações antidrogas. Funcionará também para agilizar o atendimento às ocorrências de acidentes.

Porém, não podemos conviver com ações isoladas. É preciso que os outros Estados busquem alternativas com tecnologia agregada, para coibir a ação criminosa organizada. Não há mais tranqüilidade possível para qualquer cidadão.

Vivemos uma crise real de segurança e de credibilidade na capacidade de o Estado atuar na defesa da sociedade.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, planos mirabolantes de ação já foram propostos. Precisamos de resultados. O Estado do Mato Grosso do Sul deseja ver-se livre do aprisionamento, por ser rota de um crime do qual não participa e pelo qual não é responsável. A população sul-mato-grossense clama por proteção e por condições de vida pacífica, para poder realizar seu projeto de desenvolvimento social e econômico.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Delcídio Amaral, V. Exª me permite um aparte?

O SR. DELCÍDIO AMARAL (Bloco/PT - MS) - Ouço V. Exª, nobre Senador Mão Santa. É uma grande honra.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Delcídio Amaral, nesta Casa, V. Exª apresentou o melhor pronunciamento sobre o grave problema energético. Quanto ao tema, creio que ninguém excede V. Exª em competência. Outro dia, V. Exª nos surpreendeu com um discurso sobre estradas e transportes, justo o pregado por nosso ícone Juscelino Kubitschek: energia e estrada. Agora, V. Exª nos surpreende e ao País ao apresentar o pronunciamento mais sério já feito nesta Casa sobre segurança, um dos grandes males deste País. Portanto, aproveito a oportunidade da presença da Senadora Ideli Salvatti, também Senadora do PT - eu também participei da vitória do nosso querido Presidente Luiz Inácio Lula da Silva -, para dizer que está na hora de Sua Excelência mudar o time e convocar esta inteligência moça do Mato Grosso do Sul para participar do primeiro escalão do Governo.

O SR. DELCÍDIO AMARAL (Bloco/PT - MS) - Muito obrigado, Senador Mão Santa, pelas referências.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - S. Exª fala em nome da Casa.

O SR. DELCÍDIO AMARAL (Bloco/PT - MS) - Muito obrigado, Senador Pedro Simon. É uma honra.

Ao encerrar, meu caro amigo Presidente, Senador Luiz Otávio, gostaria de registrar que estou apresentando um projeto de lei do Senado que institui o seguro obrigatório para uso de arma de fogo, muito alinhado com as preocupações do Presidente José Sarney com relação à indenização de vítimas.

Sr. Presidente, agradeço a atenção e o carinho de todos. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/07/2003 - Página 18666