Discurso durante a 18ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Solicitação de recursos para o hospital universitário do Estado do Piauí.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Solicitação de recursos para o hospital universitário do Estado do Piauí.
Aparteantes
Augusto Botelho, Íris de Araújo.
Publicação
Publicação no DSF de 26/07/2003 - Página 20463
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • CRITICA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA SAUDE (MS), MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), AUSENCIA, ATENDIMENTO, PEDIDO, ORADOR, REMESSA, VERBA, HOSPITAL ESCOLA, ESTADO DO PIAUI (PI), VIABILIDADE, FUNCIONAMENTO, APARELHO ELETRONICO, HOSPITAL.
  • SOLICITAÇÃO, AGILIZAÇÃO, LIBERAÇÃO, VERBA, HOSPITAL ESCOLA, ESTADO DO PIAUI (PI), MANUTENÇÃO, ATENDIMENTO, POPULAÇÃO CARENTE.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Eurípedes Camargo, Srªs e Srs. Senadores, brasileiros e brasileiras - os que aqui neste recinto assistem a esta sessão e os que a acompanham pela televisão e rádio Senado -, foi-nos concedida a palavra com base no art. 17, o que é uma medalha, pois significa dizer que usamos a tribuna esta semana o máximo de vezes permitido pela legislação. A grandeza deste Congresso, do Senado, traduz-se também no seguinte: detém essa medalha também o Senador Augusto Botelho, que, no seu primeiro pronunciamento, disse que nunca teve um mandato eletivo, quer no Executivo quer no Legislativo, mas está aqui mostrando a sua obstinação política e a garra com que veio representar o povo do seu Estado, Roraima.

Sr. Presidente Eurípedes Camargo, o art. 17 vai por conta do que volto a falar aqui. Completam-se sete meses de governo. Muitos jovens, nos anos 60 - a nossa juventude -, foram embalados por um cântico de guerra. Cântico de guerra que deve ser ouvido pelo Presidente da República, Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, que deve ser tocado novamente. Senador Augusto Botelho, Deus me permitiu estar no Rio de Janeiro em 1967, coração do Brasil, no Maracanãzinho: Flávio Cavalcanti era o Sílvio Santos de então, apresentador inteligente. Ele comandava a realização de um concurso de música popular - finalistas eram escolhidos a cada semana em seu programa de televisão -, e no Maracanãzinho dez candidatos disputavam a final.

Lembro-me de todas as músicas maravilhosas e seus compositores. A nossa vocação para a música! Houve a disputa e, em primeiro lugar, ficou uma música de Tom Jobim, “Sabiá” - homem inspirado por Deus, dotado do dom da musicalidade, que fez Garota de Ipanema, que tanto nos encanta. Não sou um grande entendedor, mas a musicalidade, o meu ouvido ainda recorda, era afinada. “Sabiá” ficou em primeiro lugar, mas o povo se revoltou, o povo queria que fosse outra. Enquanto o primeiro lugar era interpretado por uma orquestra quase sinfônica, um jovem chegou com uma cadeira sobre a qual colocou o pé, pegou o violão e cantou: “Vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

O Presidente Lula tem que dar um disco com essa música para cada um de seus ministros, especialmente para dois. Um deles é o Ministro da Saúde, que outro dia vi nesta Casa e defendi, que tem um programa sério. Todos são testemunhas de que o Governo, com sensibilidade, destinou um salário para buscar os doentes mentais que estão internados, que estão aprisionados nos manicômios, e fazê-los voltar para suas famílias. Eu me desdobrei como Relator, e o projeto foi aprovado na maior velocidade já registrada neste parlamento em 180 anos - algo possível graças ao auxílio da Senadora Heloísa Helena, que usou um artifício, buscou 51 assinaturas de senadores, passou pela Comissão de Assuntos Econômicos, e aqui o Senador Eurípedes é testemunha de que nos desdobramos para aprovar essa iniciativa.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, eu queria mandar esse disco do Geraldo Vandré também para o Ministro da Educação, tão bem representado aqui pelo Senador Eurípedes Camargo, que está presidindo a sessão. O Cristovam é Senador e foi para o Ministério da Educação, mas ele está precisando ouvir “vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

São sete meses, Senadora Iris de Araújo! É muito tempo! A natureza possibilita, em sete meses, o nascimento de uma criança, não é verdade, Senador Augusto Botelho? S. Exª é médico.

Estamos nesta Casa pedindo recursos para um hospital-ambulatório, um ambulatório federal que foi iniciado no Piauí em 1987. Em 1989, o Presidente José Sarney, o mais generoso de todos os presidentes dos anos pós- redemocratização, enviou-nos recursos. Presidente Eurípedes Camargo, fui prefeito no Piauí no governo dos Presidentes José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso e por isso posso assegurar que o mais generoso de todos foi o Presidente José Sarney. Ele mandou recursos em 1989. Da mesma forma, mandaram recursos o Presidente Fernando Collor, o Presidente Itamar Franco, o Presidente Fernando Henrique Cardoso, parlamentares - o atual Governador do Estado do Piauí era deputado à época e colocou recursos lá, assim como outros senadores e deputados federais. Esse ambulatório foi construído numa área de quase 19 mil m². Isso significa, Senadora Iris, duas quadras. Tem quarenta ambulatórios, 22 milhões já foram enterrados lá. Teresina é ícone em saúde no Brasil, não por acaso, porque, na Ditadura Vargas, todos os interventores, que eram governadores nomeados pelo ditador civil Vargas, homem muito trabalhador, eram militares em todos os Estados. Mas o Piauí foi diferente, porque somos diferentes: não aceitamos um militar e colocamos um médico. E esse médico, naquela época, entre 1930 e 1945, fez um grande hospital, no qual colocou o nome do Presidente da República.

O Piauí é ícone. O Piauí tem uma medicina mais avançada do que a de Brasília, Senadora Iris de Araújo. No Piauí, fazemos transplantes cardíacos com êxito; o Senador Augusto Botelho sabe que poucos Estados podem fazer isso e, por esse fato e também pela sua localização - a capital é no interior -, todo o interior do Maranhão e o Tocantins vêm para esse hospital.

Senador Eurípedes Camargo, estávamos na reunião com o Primeiro-Ministro José Dirceu - e não usei da palavra, embora estivesse previsto, para uma explicação pessoal, porque o nosso nome foi citado -, e o Senador Tião Viana, esse grande Líder do PT, falava da insatisfação daquilo que ele chama base. Temos que agradecer ao Senador e médico Tião Viana, que se tem esforçado muito. No entanto, estou envergonhado, porque, desde o começo do meu mandato, em nome do Piauí e da medicina, busco R$60 mil para fazer funcionar equipamentos que estão parados.

E a minha preocupação, Senador Eurípedes Camargo, é que estão enganando o Presidente da República; ele não entende de medicina, mas eu sou médico e sei que os instrumentos são todos eletrônicos: são aparelhos de raios-X, eletrocardiógrafos, oftalmoscópios, aparelhos de ultra-sonografia, estufas, etc, todos esses instrumentais da medicina moderna, que estão parados e vão perder a garantia, sem sequer terem sido utilizados, porque faltam R$60 mil para fazê-los funcionar. É um absurdo, pois foram investidos R$22 milhões! E há os médicos, os especialistas, 40 ambulatórios, toda uma infra-estrutura pronta esperando apenas a liberação de R$60 mil para seu funcionamento.

O reitor da universidade, que quis Deus fosse médico, competente médico, professor de doenças infecto-contagiosas, magnífico reitor, Professor Leopoldino, quer o dinheiro, Senador Eurípedes Camargo, apenas para o custeio, para pagar a energia, o telefone, o sabonete, o papel higiênico, a toalha. E quer essa verba desse Governo, dos dois Ministérios poderosos: o da Educação e o da Saúde. E por quê? Porque é um hospital universitário. E os hospitais universitários, Senador Augusto Botelho, servem para aprendizado e aperfeiçoamento para os estudantes de medicina, enfermagem, fisioterapia, psicologia, enfim, para os estudantes das áreas de saúde. Por isso, há o art. 17.

Estou defendendo quem vai ser atendido. Não são os poderosos e os ricos, Senadora Iris de Araújo. Nunca fiz minha carreira política ao lado dos poderosos da elite. Sempre a fiz ao lado dos humildes, necessitados e sofridos, para quem a estrutura do Governo vai ser útil. O rico não tem problema, Senador Augusto Botelho, pois tem plano de saúde, pega aviões da Varig e da TAM e vai a São Paulo. O pobre pena!

Fomos artífice da vitória do Presidente Lula no Piauí. Entregamos até o Governo do Estado para um Governador do PT. Mas fica muito mal, Senador Eurípedes Camargo. Fica muito mal! E os Senadores, perplexos, dizem: “Como o Senador Mão Santa, que é do Piauí e apoiou o Lula, não consegue, com dois Ministros poderosos, R$60 mil?” Isso é, como diz Boris Casoy, uma vergonha. Sou cirurgião e tenho que ser prático: R$30 mil para um Ministro e R$30 mil para o outro. Isto não é nada! Este é o respeito que o Piauí exige do Presidente da República, que tem que manifestar gratidão àquele Estado, pela sua grandeza histórica, pois foi o povo piauiense o único povo que teve a coragem e a bravura de, em uma batalha sangrenta, expulsar os portugueses deste País.

Concedo a palavra, primeiramente, às mulheres. Ouço com prazer a Srª Senadora Iris de Araújo.

A Srª Iris de Araújo (PMDB - GO) - Senador Mão Santa, ao longo destes cinco meses em que me encontro nesta Casa, aprendi a ouvi-lo e, o que é melhor, a aprender com suas palavras, principalmente agora, quando V. Exª se refere a uma época que considero dourada da nossa juventude. Ainda mais quando se refere aos versos de Vandré - “Vem, vamos embora, que esperar não é saber; quem sabe faz a hora, não espera acontecer” -, que se transformaram no hino da juventude da época na qual se forjou V. Exª como estudante de Medicina, no Rio de Janeiro. E o líder que começou a se formar naquela época, embalado por esses versos, transformou-se no grande líder que, hoje, assume essa tribuna quase que diariamente para defender o seu Estado, o Piauí. E nessa defesa, Senador Mão Santa, V. Exª nos tem tornado partícipes da sua luta. E o seu Estado, o Piauí, mencionado por V. Exª de uma maneira tão carinhosa, já está sendo discutido pelo País afora. Para tanto, junto-me a V. Exª nesse seu lamento sobre a questão da saúde para dizer que os Senadores, os representantes do povo, neste Parlamento, devem, sim, lutar por aqueles que ficam na fila e aguardam um atendimento médico. E como V. Exª coloca tão bem, não falta muito para que se possa viabilizar isso no seu Estado. E avanço um pouco mais, porque não sei se terei tempo de dizer algo que diz respeito à juventude também. Precisamos restabelecer a esperança neste País. Para tanto, temos que restabelecer a confiança em todos os setores desta Nação, de forma a que possamos entoar, todos juntos, não apenas os versos de Vandré - são muitos os grandes artistas brasileiros que poderão nos mobilizar -, mas um verso que está aí há muito tempo: “Já raiou a liberdade no horizonte do Brasil”.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sensibilizados estamos eu e todo o Brasil ao ouvir V. Exª, brilhante Senadora Iris de Araújo.

Deixo um apelo ao Governo que ajudei a eleger, que nós piauienses ajudamos a eleger: que o nosso bravo Senador Eurípedes Camargo, desses petistas que têm sensibilidade política e responsabilidade administrativa, leve ao Ministro da Educação, Cristovam Buarque, essa resolução em nosso nome e em nome do Piauí.

Agradeço ao Senador Eduardo Suplicy - a gratidão é a mãe de todas virtudes - pelo esforço extraordinário que envidou. Isso valoriza o Governador, que também pertence ao PT. Agradeço ainda ao assessor especial da Presidência da República, Francisco Escórcio, que está com todos os dados e documentos assinados por mim, pelo companheiro do PMDB Senador Alberto Silva e pelo Senador Heráclito Fortes.

Por isso, tenho usado a palavra todas as semanas, de acordo com o art. 17 do Regimento Interno. E vou continuar levando esse cartão amarelo por ter falado. Só não vou falar na próxima semana, porque o Presidente José Sarney designou-nos para representar o Congresso Nacional em um encontro sobre energia no México.

Concedo um aparte ao Senador Augusto Botelho, de Roraima, que trouxe sua sensibilidade de médico a esta Casa.

O Sr. Augusto Botelho (PDT - RR) - Senador Mão Santa, é com emoção que faço este aparte a V. Exª, para dizer que muito me honra compartilhar, nesta Casa, da sua presença e da presença da excelente e simpática Senadora Iris de Araújo. É um prazer também poder desfrutar do seu conhecimento filosófico, das suas citações freqüentes e variadas, que, somadas a 40 anos de experiência - V. Exª ainda não completou 40 anos de profissão, mas, quando estudava Medicina, já lidava com as pessoas -, aperfeiçoam seu conhecimento sobre a pessoa humana. É emocionante ver esse seu clamor por essa pequena quantia que fará funcionar um ambulatório de 40 consultórios, onde serão atendidas, no mínimo, mil pessoas por dia, em consultas médicas. Faço este aparte para dizer a V. Exª que estou do seu lado, na hora e onde for preciso, para conseguirmos levar esses recursos para o seu querido e meu também já querido Piauí. Tenho certeza de que V. Exª conseguirá isso, porque Sua Excelência o Presidente tem muita proximidade com o Ministro da Educação. E a sua reivindicação propõe meio a meio para funcionar. Deus colocou tudo junto, para podermos conseguir isso para o seu Piauí.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço a participação de V. Exª, que traz sua experiência sofrida de médico de um Estado com dificuldades e que, estoicamente, desdobra-se como político e médico em Roraima. V. Exª lembrou a capacidade de consulta diária desse ambulatório, que é a de dois mil exames laboratoriais. Quantos pobres, Senador Eurípedes Camargo, serão beneficiados! Além disso, há a oportunidade de aprendizado e aperfeiçoamento da mocidade estudiosa que se dedicou à ciência da saúde.

Essas são as nossas palavras, na tentativa de ajudar, para que o PMDB seja a luz que ilumina.

Senador Eurípedes Camargo, sei que, todo fim de semana, a equipe do Governo participa de uma pelada. Por isso, vou falar como povo.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros, digo ao Presidente Lula, com franqueza: Vossa Excelência tem a sua luta, e eu também tenho a minha e o orgulho de ter nascido no Piauí. Deus me abençoou e tornei-me médico. Considero a Medicina a ciência mais humana e o médico o grande benfeitor da humanidade. E sinto-me mais orgulhoso ainda, Senador Eurípedes Camargo, quando vejo que ninguém melhor do que um médico dirigiu este País: Juscelino Kubitschek.

Senador Eurípedes Camargo, na pelada de fim de semana que os Ministros jogam - usos essas idéias para facilitar a compreensão do assunto -, estou colocando a bola na linha do pênalti, sem goleiro, para o Presidente da República fazer esse gol em benefício do povo pobre e da grandeza do Piauí.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/07/2003 - Página 20463