Discurso durante a 18ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Elogios à disposição do governo de rediscutir acordo com o FMI. Saudações à criação do Programa Soldado Cidadão.

Autor
Íris de Araújo (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Íris de Araújo Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA SOCIAL.:
  • Elogios à disposição do governo de rediscutir acordo com o FMI. Saudações à criação do Programa Soldado Cidadão.
Publicação
Publicação no DSF de 26/07/2003 - Página 20466
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, EMPENHO, GOVERNO FEDERAL, IMPLEMENTAÇÃO, PLANO, RETORNO, CRESCIMENTO ECONOMICO, ELOGIO, MINISTRO, CHEFE, CASA CIVIL, ANUNCIO, DISPOSIÇÃO, RENEGOCIAÇÃO, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), CLAUSULA, QUALIFICAÇÃO, DEFICIT, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, SAUDE.
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, ATIVIDADE SOCIAL, FORÇAS ARMADAS, APOIO, POPULAÇÃO CARENTE, ELOGIO, PROGRAMA ASSISTENCIAL, OFERECIMENTO, FORMAÇÃO PROFISSIONAL, JUVENTUDE, PERIODO, CUMPRIMENTO, SERVIÇO MILITAR OBRIGATORIO.
  • RECONHECIMENTO, EFICACIA, PROGRAMA ASSISTENCIAL, QUALIFICAÇÃO, FORMAÇÃO PROFISSIONAL, IMPEDIMENTO, AUMENTO, DESEMPREGO, TRABALHADOR.

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em meio a um mar de insatisfações e justos reclamos contra os juros altos e a estagnação da economia, o Governo começa a encontrar caminhos que, se trilhados com firmeza e espírito prático, hão de propiciar a retomada do crescimento e a oferta de postos de trabalho.

No plano da economia, o Ministro José Dirceu anunciou a disposição do Governo de renegociar com o FMI a cláusula que - por uma contabilidade perversa - considera como déficit os investimentos em infra-estrutura, saúde e educação. Essa disposição de luta, de recuperação da soberania brasileira para investir em áreas essenciais para o nosso desenvolvimento, é, certamente, uma boa perspectiva, que precisa se transformar em realidade nas próximas negociações com o FMI.

Mas há outras boas novas, e desejo comentar uma, em especial, que me tocou profundamente, porque diz respeito a essa juventude, como tive a oportunidade de comentar há pouco, em aparte ao Senador Mão Santa. Para isso, preciso lhes contar uma pequena história. Tentei entrar em contato com o protagonista dessa história real, mas, infelizmente, ele está fora do País. Sem a sua autorização expressa, não considero ético citar-lhe o nome. Os nobres Senadores e Senadoras hão de entender o porquê.

Há cerca de uns 40 anos, um menino do interior de Minas Gerais foi acusado por um vizinho de ter roubado uma bola. A acusação era injusta. Mas o pai da criança - um homem muito severo - preferiu acreditar no vizinho e castigou o menino com uma tremenda surra. Humilhado, o garoto fugiu de casa. Depois de muito andarilhar, acabou sendo acolhido, na Lapa, no Rio de Janeiro, por um grupo de prostitutas que o ajudaram a conseguir comida e um cantinho para dormir.

Era uma vida dura e triste, mas o garoto sobreviveu. Até que chegou a hora de entrar para o Exército. Lembro-me claramente das palavras daquele homem, ao me revelar seu passado. “O Exército me salvou”, disse-me ele, afirmando que, desde que fugira de casa, foi no Exército que conseguiu, pela primeira vez, dormir dias seguidos na mesma cama e com lençóis limpos. No Exército, o jovem soldado comia nas horas certas, tinha uma rotina saudável. Ele, que vivia macambúzio, descobriu a alegria.

Um oficial despertou a confiança do novo recruta, que abriu seu coração e lhe contou sua vida. A resposta do oficial foi generosa: ajudou o jovem a descobrir a sua vocação e o caminho do trabalho. E, então, aquele moço se reencontrou consigo mesmo. Tornou-se capaz de perdoar o pai, que não acreditara nele. E, então, perdoou a si próprio, criou confiança na vida e fez amizades, estudou e trabalhou muito. E, hoje, aquele menino fugitivo é um dos mais conhecidos fotógrafos brasileiros.

Acredito, caro Presidente, que muitos de nós, especialmente os que vieram do interior, são testemunhas do papel social desempenhado pelo Exército brasileiro. Na minha infância, era comum os jovens da roça completarem a alfabetização e até mesmo aprenderem um ofício quando entravam para o Exército.

Depois, num período difícil da nossa história, em que a imagem das Forças Armadas não era das melhores junto a essa juventude, o Projeto Rondon despertou e afirmou em milhares de adolescentes o conhecimento de nossa realidade e o caminho da solidariedade.

Olhando para os nossos jovens, Senador Mão Santa, especialmente para os mais pobres, quero aplaudir desta tribuna o programa “Soldado Cidadão”. Esse programa, integrado aos esforços do “Primeiro Emprego”, dará oportunidade aos novos recrutas de freqüentarem cursos de capacitação profissional enquanto cumprem o serviço militar obrigatório.

Com o “Soldado Cidadão”, o Governo começa a cumprir uma de suas promessas de campanha, que é a de integrar o trabalho dos diferentes Ministérios, sempre buscando reforçar as ações voltadas para a área social. É a chamada transversalidade, tão anunciada, que começa a sair da teoria para a prática.

Meu apoio a esse e a outros programas semelhantes é também um alerta, Senador Mão Santa. É preciso trabalhar em regime de urgência - e em todas as frentes - para que se estanque a progressiva pauperização dos trabalhadores brasileiros, porque essa tendência crescente à marginalização está criando hordas de descontentes, que se tornam objeto dos radicais, que precisam do confronto para engrossar suas fileiras.

Logo no início desta sessão, tive oportunidade, em aparte ao Senador Paulo Paim, de dizer que, hoje, fiquei assustada ao abrir os jornais e ler que Stédile, líder do MST, chama os ruralistas de “inimigos”. Uma declaração dessas pode acender o pavio da violência social, dividir os brasileiros em duas frentes e propor o enfrentamento. Faço uma pergunta: a quem interessa, Sr. Presidente, mais derramamento de sangue? Mais perdas? Mais sofrimento?

Já vimos esse filme e não faz muito tempo - e não gostamos do que vimos. No Governo de João Goulart, quando as legítimas bandeiras das reformas sociais foram usadas para justificar o desafio às autoridades, as ruas se encheram de cidadãos assustados, que pediram o retorno da ordem a qualquer custo. E não faltou, dentro e - o que é pior - fora do Brasil, quem trabalhasse para transformar a repressão no grande instrumento de retorno à ordem.

Não desejo a paz artificial, sustentada pelas armas. Lutei contra isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores. Perdi a conta de quantas vezes percorri o meu Estado, de norte a sul, de leste a oeste - e o Estado ainda não era dividido, não existia o Estado do Tocantins -, pregando o restabelecimento do Estado de Direito. A verdadeira paz só pode nascer do consenso, da negociação. E, para isso, é preciso que a autoridade ocupe o seu lugar legítimo. Que assuma a responsabilidade pela imposição de limites. E o limite é a lei.

Se, “justificado” pela necessidade de muitos, um líder afoito defende a ação da lei, é hora de a autoridade se impor e mostrar que a lei é para todos. Para todos e qualquer um.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/07/2003 - Página 20466