Discurso durante a 17ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Transcrição, nos Anais do Senado, de entrevista com Dom Pedro Casaldáliga, publicada na revista Brasília em Dia. Considerações a respeito de estudo sobre a geração de empregos em trabalho de construção e conservação de estradas.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE EMPREGO. POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • Transcrição, nos Anais do Senado, de entrevista com Dom Pedro Casaldáliga, publicada na revista Brasília em Dia. Considerações a respeito de estudo sobre a geração de empregos em trabalho de construção e conservação de estradas.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 25/07/2003 - Página 20129
Assunto
Outros > POLITICA DE EMPREGO. POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, LEITURA, TRECHO, ENTREVISTA, PEDRO CASALDALIGA, BISPO, IGREJA CATOLICA, ASSUNTO, RENOVAÇÃO, POLITICA NACIONAL, GARANTIA, DIREITO A VIDA.
  • LEITURA, TRECHO, ESTUDO, ASSOCIAÇÃO NACIONAL, CONSULTOR, ENGENHARIA, CRIAÇÃO, EMPREGO, CONSERVAÇÃO, MANUTENÇÃO, CONSTRUÇÃO, RODOVIA, ANALISE, DADOS, CUSTO, VIABILIDADE, UTILIZAÇÃO, RECEITA, CONTRIBUIÇÃO, INTERVENÇÃO, DOMINIO ECONOMICO, DETALHAMENTO, VANTAGENS, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, peço atenção muito especial para o pronunciamento que farei sobre a geração de empregos em trabalhos rodoviários.

Antes disso, quero mostrar e registrar desta tribuna uma entrevista publicada na revista Brasília Em Dia feita com Dom Pedro Casaldáliga, nosso bispo do Araguaia, que peço seja transcrita nos Anais do Senado na sua totalidade.

Lerei apenas alguns trechos. A revista o trata de Dom Quixote Casaldáliga. Cito brevemente algumas passagens da entrevista em que S. Revmª diz:

(...)Eu digo sempre que tudo tem sua vez, deve-se dar o peixe, ensinar a pescar, mostrar onde está o rio... Agora, a perspectiva, evidentemente, é conquistar o rio. O Governo deve atender o programa Fome Zero, mas também estimular a geração de empregos, resolver essas reformas urgentes...

(...)A reforma agrária não interessa a quem tem sido até agora, e continua sendo, o poder. O Brasil, nestes 500 anos de história, tem estado nas mãos de uma oligarquia inicialmente rural. Agora já não é mais só rural; há o poder da terra, dos bancos, das comunicações, da política... E por isso eles se arrepiam quando se fala em latifúndio.

Continua Dom Pedro:

(...) O primeiro direito é o de todos à vida, é um direito de uma certa igualdade humana. Isso é utopia? É, sim, graças a Deus. O Evangelho também é utopia, mas, por trás das utopias, estamos caminhando para que este mundo seja igual, menos violento e mais fraterno.

(...) Eu tenho sido taxado com freqüência de radical, e faço questão de continuar sendo. Radical vem de raiz, de quem vê também as causas e não só os efeitos.

Finalizo esta breve homenagem a esse grande, magnífico personagem que é espanhol, que não nasceu no Brasil, mas que é mais brasileiro que milhões de brasileiros que estão por aí. E S. Revmª defende realmente o nosso País. Vou repetir uma frase dita pelo Homem de La Mancha, já que está sendo chamado de Dom Quixote Casaldáliga:

Sonhar mais um sonho impossível/Lutar quando é fácil ceder/Vencer o inimigo invencível... Se esse chão que beijei for meu leito e perdão, vou saber que valeu delirar...

Sr. Presidente, peço que seja registrada, nos Anais, na sua totalidade, a entrevista de Dom Quixote Casaldáliga publicada na revista Brasília em Dia, a quem cumprimento pela iniciativa.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite-me V. Exª um aparte, Senadora Serys?

O SR. PRESIDENTE (Eurípedes Camargo) - O pedido da Senadora Serys Slhessarenko será atendido na forma regimental.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Muito obrigada, Sr. Presidente.

Concedo o aparte ao Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senadora, quero cumprimentá-la pela homenagem que V. Exª presta a Dom Pedro Casaldáliga, nessas reflexões tão significativas, dizendo quão importante é assegurar o direito à vida a todas as pessoas, abordando o programa Fome Zero e fazendo um paralelo com o direito ao peixe, a ensinar a pescar e a dominar o rio. Efetivamente, há que se caminhar na direção de se assegurar a todos os brasileiros o direito inalienável de participar da riqueza da Nação e o direito de todos terem a possibilidade de escolher entre as mais diversas alternativas que não sejam simplesmente a de submeter-se a um trabalho que venha a humilhar a pessoa ou a colocar a sua vida em risco. Eis por que a garantia, por exemplo, de uma renda como direito à cidadania para todos significa esse direito à vida. A realização da reforma agrária, defendida por Dom Pedro Casaldáliga, também é algo tão importante e que faz parte desse conjunto de medidas que, acredito, poderão ser colocadas em prática e que constitui a intenção do Presidente Lula neste Governo. Meus cumprimentos e minha solidariedade à V. Exª pela homenagem que presta a Dom Pedro Casaldáliga.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Obrigada, Senador Eduardo Suplicy. V. Exª conhece Dom Pedro Casaldáliga, e, por isso, com certeza, suas palavras têm a profundidade que S. Revmª merece.

Como disse, todos os dias em que tiver possibilidade, voltarei a esta tribuna para falar, Srªs e Srs. Senadores, da questão das rodovias. Hoje solicito a atenção muito especial de V. Exªs, Senador Eduardo Suplicy, que acaba de apartear-me, Senadores Augusto Botelho, Mão Santa e Eurípedes Camargo, que ora preside esta sessão, porque vou abordar um breve trabalho a que atribuo grande relevância, pelos dados que traz. Trata-se de um trabalho extremamente técnico realizado pela ABCE, Associação Brasileira de Consultores de Engenharia, mas que nós políticos precisamos considerar com profundidade, pois trata da correlação entre geração de empregos, preservação e construção das estradas.

            Reza o texto:

Como gerar e conservar meio milhão de empregos nas rodovias brasileiras durante 7-8 anos.

Estudos, Projetos, Construção e Conservação

Na atividade de conservação de rodovias, são gerados em média, para cada 100 km, 70 empregos diretos e 210 empregos indiretos, de forma permanente. Custo médio: R$10 mil por quilômetro por ano.

Restauração

Na atividade de restauração das rodovias pavimentadas existentes, são gerados em média, para cada 100 km, 350 empregos direitos e 1.050 empregos indiretos, durante 3 anos. Custo médio: R$300 mil por quilômetro.

Construção e Pavimentação

Na atividade de construção e pavimentação de rodovias, são gerados em média, para cada 100 km, 650 empregos diretos e 1.950 empregos indiretos, durante 3 anos. Custo médio: R$800 mil por quilômetro.

Programa Mínimo para Atendimento do Setor

Considerando a extensão das rodovias federais já pavimentadas, numa rede não concedida, de aproximadamente 50.000 km, são necessários:

Conservação de toda a rede não concedida de 50.000 km

Recursos necessários por ano: R$500 milhões;

Geração de empregos

Empregos diretos: 35 mil;

Empregos indiretos: 105 mil;

Subtotal: 140 mil empregos.

Restauração

Como a vida útil de um pavimento é projetada para durar dez anos, é necessária a sua restauração ao final desse período, o que significa, em condições normais de conservação e controle do excesso de carga, a necessidade de se restaurar 10% da malha rodoviária em cada ano. Como as rodovias federais encontram-se atualmente em mau estado, para se recuperar o passivo, é necessário um programa que restaure 15% da rede em cada ano, ou seja, 7.500km por ano. O que, na situação atual, é muito pouco, mas, enfim, dentro do estado de normalidade como está sendo colocado.

Recursos necessários por ano: R$2.250.000.000,00

Alguns aqui podem pensar que é um absurdo falar em dois bilhões de reais para conservar estradas hoje. Não é absurdo, Srªs e Srs. Senadores e Sr. Presidente. Só com a Cide - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico -, foram recolhidos em torno de dez bilhões de reais; não imaginei esses valores, mas são fruto de requerimento feito ao Ministério da Fazenda. Esse valor já está recolhido, depositado, intocado. Até o final do ano, está previsto o recolhimento de doze bilhões de reais.

Então, a previsão feita neste estudo aqui é de gastos da ordem de dois bilhões duzentos e cinqüenta milhões por ano; ou seja, é um recurso totalmente plausível dentro do que já temos arrecadado, sem recorrer ao Tesouro, discutindo apenas a famigerada e famosa Cide, que já arrecadou todo esse dinheiro arrecadado.

No caso de tratarmos apenas 7.500km por ano em restauração, gastando dois bilhões duzentos e cinqüenta milhões de reais, teríamos uma geração de oitenta mil empregos diretos - um dos nossos grandes problemas: a falta de emprego para o povo - e de duzentos e quarenta mil empregos indiretos, num subtotal de trezentos e vinte mil empregos.

Esses dados referem-se à restauração da rede.

Para construção e pavimentação - há problemas gravíssimos, como na BR-163 e na BR-174, e precisamos construir e, por conseguinte, pavimentar alguns milhares de quilômetros de rodovias -, a rede rodoviária federal, aquela que não está planejada e aquela que está planejada e não pavimentada, é de aproximadamente quinze mil quilômetros hoje, segundo estudos concluídos. Ou para estudos já planejados, só para deslanchar, processo de pavimentação ou em planejamento.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, um programa de pavimentação de 500km por ano equivale a pavimentação de uma Cuiabá-Santarém a cada dois anos. Recursos necessários por ano, R$400 milhões; geração de empregos por ano - empregos diretos, 10 mil; empregos indiretos, 30 mil; subtotal, 40 mil empregos. Total de empregos diretos, juntando os aspectos conservação, restauração e construção, 125 mil empregos ao ano; total de empregos indiretos, 375 mil, num total de 500 mil empregos, com recursos necessários por ano para conservação, restauração e construção de parte dessas estradas que se fazem necessárias. Precisaríamos de R$3,150 bilhões.

Antes de tratar das observações, concedo a palavra ao Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senadora Serys Slhessarenko, é muito importante a preocupação de V. Exª com as estradas, fundamentais para um país. A primeira mulher que governou este País, Princesa Isabel, recebeu uma carta de D. Pedro I, que estava na Europa. O maior presente que se pode dar a um povo é uma estrada. O Presidente Washington Luís disse: “Governar é fazer estradas”. E um Presidente da nossa geração, Juscelino Kubitschek, médico e cirurgião como eu, disse: “Energia e transporte”. Agora, a Senadora Serys Slhessarenko carrega essa bandeira. O Brasil é um todo. O problema é que os Governadores estão enforcados, e o Presidente da República precisa saber disso. Sua Excelência tem a confiança do povo brasileiro, mas não foi prefeitinho nem Governador como eu. Carreguei essa cruz. A questão do País é um todo. Não basta o Governo Federal receber todos os impostos. Os 27 Estados estão em situação difícil. Ninguém mora no Palácio da Alvorada, apenas o Presidente. O povo brasileiro mora nos 27 Estados, em quase seis mil Municípios. Por lei, o Governador tem a obrigação de destinar 25% do orçamento do Estado para a educação. É uma matemática elementar. Até o Palocci, que já foi prefeito, entende do assunto. Para a saúde, devem ser destinados 12%. Renegociou-se a dívida com 13%; era de 50%. Mas essa dívida é de mais de 13%. Nem todas as dívidas foram negociadas, ainda há outras. Então, todo Governador gasta 15%, 16%, 20% da receita do Estado com o pagamento de dívidas. E tem mais: a Justiça gasta, é cara. Os salários do Poder Judiciário comprovam isso, pois significam de 5% a 6% da receita do Estado. A Assembléia Legislativa do Estado e o Ministério Público custam caro. São caríssimos os salários do Ministério Público. E o funcionalismo? Também gasta muito. Por isso os Governadores apoiaram a reforma do Presidente Lula, porque diminuirá a folha de pagamento dos aposentados. Entendo que deve haver alteração no pagamento da dívida. Não deve haver redução no orçamento da saúde e da educação, como querem. A Lei de João Calmon propõe que 25% do orçamento do Município seja aplicado na educação e a Emenda nº 29, na saúde. Deve haver redução no pagamento da dívida, o que atingirá os banqueiros e o FMI, para que os Governos tenham condições de investir. Juscelino Kubitschek deu o exemplo. Teve coragem de romper com os banqueiros.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Senador Mão Santa, agradeço o aparte. Apesar de o Presidente Lula não ter sido prefeito, não tenho dúvida de que será um exemplo para o mundo de um grande Presidente da República.

Concordo com V. Exª que a área social não deve continuar sendo castigada. É preciso haver recursos para a saúde, para a educação, para a geração de empregos. E a questão da dívida, como bem disse V. Exª, deve ser resolvida.

Sr. Presidente, peço que prorrogue meu tempo por dois minutos para que eu possa finalizar o assunto que abordava. A geração de emprego de que venho falando abrange todo tipo de mão-de-obra, desde a menos qualificada até a mais qualificada. As observações finais que tenho a fazer sobre essa relação rodovias/geração de emprego são as seguintes: são gerados desde empregos diretos, nas atividades de estudo de projetos de engenharia, de meio ambiente, de construção e de controle de qualidade das obras, até empregos indiretos, gerados por fornecedores de materiais, fornecedores de combustíveis, cimento, brita, areia, aço, etc.; fornecedores de máquinas e equipamentos, fornecedores de materiais de escritório, montagem e uso de instalações residenciais, industriais e administrativas, fornecimento de alimentação para os funcionários das empresas. Os empregos gerados nas atividades rodoviárias têm características peculiares importantíssimas. Neste caso, a geração de emprego se estenderá a todo o território nacional, não será algo localizado, restrito a determinado Estado. Além disso, há o uso intensivo de mão-de-obra com pouca qualificação profissional - infelizmente, grande parcela do povo brasileiro ainda não tem a qualificação necessária, mais acurada e mais apurada -, o que viabiliza também o emprego a essa grande parcela da população, que não tem uma qualificação tão especializada. Portanto, como eu já disse, na construção e recuperação de estradas, é necessária uma mão-de-obra extremamente qualificada, mas também a menos qualificada.

Outro item importante diz respeito aos benefícios econômicos e sociais. O transporte rodoviário está inserido em todos os ramos da economia, tanto na cidade quanto no campo, e a existência de rodovias pavimentadas e em bom estado de conservação traz os seguintes benefícios: redução dos custos de transporte, com a conseqüente redução dos preços finais dos produtos para a população - como é o caso da BR-163, que está praticamente toda asfaltada, mas precisando de restauração e que leva os produtos do nosso Estado para Paranaguá, Santos etc. Se sair por Santarém, será muito mais próximo. Para a produção do Estado do Mato Grosso é fundamental o asfalto da BR-163 no trecho do Pará, fora do meu Estado, assim como para a Zona Franca de Manaus.

Outro benefício é a redução do número de acidentes, de mortes. Vejam V. Exªs o caso de Dom Mauro Morelli, que sofreu um acidente por conta da situação de nossas estradas. Outro benefício é o incentivo ao desenvolvimento do turismo, que precisa de estradas, assim como de segurança. Traz também o impulso ao desenvolvimento regional, a integração sociocultural da população, enfim, são inúmeros.

Todos perguntarão sobre a fonte de recursos, e responderei como sempre: a Cide - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico - está aí; o dinheiro está arrecadado, o dinheiro está em caixa, são bilhões em caixa. Não precisamos lançar mão de tudo isso; 20% do dinheiro arrecadado na Cide, resolve a parcela de trabalho que temos que desenvolver nas estradas de hoje até o final do ano, e temos praticamente apenas mais cinco meses. Então temos a Cide, como temos a estimativa de arrecadação para o ano de 2002, conforme relatório da Comissão de Viação e Transportes da Câmara Federal, que, como já disse aqui, está em torno de R$9 bilhões para R$10 bilhões e, com certeza, até o final do ano a previsão é que chegue a R$12 bilhões. Para esse programa todo sugerido aqui, com a arrecadação de hoje da Cide, que já está feita e é para esse fim, para essa finalidade, não precisaríamos nem de 40%.

Tenho que encerrar. Infelizmente, o tempo urge. Já estão chamando a minha atenção aqui faz tempo. Agradeço à Associação Brasileira de Consultores de Engenharia esse estudo. Obrigado, Sr. Presidente.

 

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SEGUEM DOCUMENTOS A QUE SE REFERE A SRª. SENADORA SERYS SLHESSARENKO EM SEU PRONUNCIAMENTO

(Inseridos nos termos do art. 210 do Regimento Interno)

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            ABCE

            A GERAÇÃO DE EMPREGOS EM TRABALHOS RODOVIÁRIOS

 

A GERAÇÃO DE EMPREGOS EM TRABALHOS RODOVIÁRIOS

"Como gerar e conservar meio milhão de empregos nas rodovias brasileiras durante 7-8 anos"

Estudos, Projetos, Construção, Conservação, Conservação

Na atividade de conservação de rodovias, são gerados em média, para cada 100 
km, 70 empregos diretos e 210 empregos indiretos, de forma permanente. Custo 
médio: R$ 10.000,00 reais por quilômetro por ano.

Restauração

Na atividade de restauração das rodovias pavimentadas existentes, são gerados 
em média, para cada 100 km, 350 empregos diretos e 1.050 empregos indiretos, 
durante 3 anos. Custo médio: R$ 300.000,00 por quilômetro.

Construção e Pavimentação

Na atividade de construção e pavimentação de rodovias, são gerados em média, 
para cada 100 km, 650 empregos diretos e 1.950 empregos indiretos, durante 3 
anos. Custo médio: R$ 800.000,00 por quilômetro.

Programa Mínimo para Atendimento do Setor

Considerando a extensão das rodovias federais pavimentadas, numa rede não 
concedida, de aproximadamente 50.000 km, são necessários:

Conservação de toda a rede não concedida de 50.000 km: 
Recurso necessário por ano: R$ 500.000.000,00

Geração de empregos:

Empregos diretos: 35.000;

Empregos indiretos: 105.000;

Subtotal: 140.000.

Restauração 
Como a vida útil de um pavimento é projetada para durar 10 anos, é necessário 
a sua restauração ao final deste período, o que significa, em condições normais 
de conservação e controle do excesso de carga, a necessidade de se restaurar 10% 
da malha rodoviária em cada ano. Como as rodovias federais encontram-se, 
atualmente, em mau estado, para se recuperar o passivo, é necessário um programa 
de se restaurar pelo menos 15% da rede em cada ano, ou seja, 7.500 km por ano.

Recursos necessários por ano: R$ 2.250.000.000,00

Geração de empregos por ano:

Empregos diretos: 80.000;

Empregos indiretos: 240.000;

Subtotal: 320.000.

Construção e Pavimentação 
A rede rodoviária federal planejada ou ainda não pavimentada é de 
aproximadamente 15.000 km.

Um programa de pavimentação de 500 km por ano eqüivale a pavimentação de uma 
Cuiabá - Santarém a cada dois anos:

Recursos necessários por ano: R$ 400.000.000,00

Geração de empregos por ano:

Empregos diretos: 10.000;

Empregos indiretos: 30.000;

Subtotal: 40.000.

Total de empregos diretos: 125.000

Total de empregos indiretos: 375.000

Total geral de empregos: 500.000

Recursos necessários por ano: R$ 3.150.000.000,00.

Observações

a) Sobre a Geração de Empregos

São gerados empregos diretos nas atividades de estudos e projetos de 
engenharia e de meio ambiente, de construção e de control
e de qualidade das 
obras.

Os empregos indiretos são gerados por:

- fornecedores de materiais: asfalto, combustível, cimento, brita, areia, aço, 
etc, 
- fornecedores de máquinas e equipamentos; 
- fornecedores de materiais de escritório; 
- montagem e uso de instalações residenciais, industriais e administrativas; 
- fornecimento de alimentação para os funcionários das empresas. 
Os empregos gerados nas atividades rodoviárias têm como características 
peculiares: 
- presença em todo território nacional; 
- uso intensivo de mão de obra com pouca exigência de qualificação 
profissional.

b) Sobre os Benefícios Econômicos e Sociais

O transporte rodoviário está inserido em todos os ramos da economia, na cidade 
e no campo. A existência de rodovias pavimentadas e em bom estado de conservação 
traz os seguintes benefícios: 
- redução dos custos de transporte, com a conseqüente redução dos preços 
finais dos produtos para a população; 
- redução do número de acidentes; 
- incentivo ao desenvolvimento do turismo; 
- impulso ao desenvolvimento regional; 
- integração sócio-cultural da população.

c) Fonte de Recursos

Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico - CIDE 
Estimativa de arrecadação para o ano de 2002,conforme relatório da Comissão de 
Viação e Transportes da Câmara Federal: R$ 7.250.000.000,00. 
O Programa sugerido consumiria 43% da arrecadação da CIDE. 
As rodovias de maior volume de tráfego podem ser concedidas, com a conseqüente 
redução do desembolso da união.

Fonte: ABCE - Associação Brasileira de Consultores de Engenharia

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            ENTREVISTA

Dom Quixote Casaldáliga

            Não só pela sua nacionalidade espanhola, mas também pela sua semelhança física, o bispo de São Félix do Araguaia, dom Pedro Casaldáliga, considerado pelos generais que tomaram o poder em 1964 um radical, por defender uma reforma agrária a qualquer custo, lembra Dom Quixote de La Mancha, o imortal personagem de Miguel de Saavedra Cervantes. Radical? Ele não acha isso pejorativo, porque ser radical é sua missão desde os 40 anos, quando deixou a Europa para se embrenhar no interior do Mato Grosso, lutando por justiça social.

            Agora, aos 75 anos, ao redigir sua carta de renúncia dirigida ao Vaticano, por ter completado a idade limite, ele se inspirou em um fragmento da peça O Homem de La Mancha ("Sonhar mais um sonho impossível/Lutar quando é fácil ceder/Vencer o inimigo invencível... Se esse chão que beijei for meu leito e perdão, vou saber que valeu delirar...") É que, longe de se aposentar, pretende continuar na América Latina para lutar contra aquele que considera o inimigo invencível - o capitalismo neoliberal.

            Com a saúde fragilizada pelo Mal de Parkinson, que o leva a ter a mão esquerda tremendo continuamente, obrigado a manter o controle da pressão arterial, o homem franzino transforma-se em um gigante quando fala sobre as desigualdades sociais no Brasil e a insensibilidade dos governantes de países do Terceiro Mundo para enfrentar o poder econômico que tanto os esgota.

            Morando em uma humilde casa, cujas portas ficam abertas dia e noite, com as paredes sem reboco, foi de lá que ele concedeu a entrevista que se segue, pregando o que Miguel Saavedra Cervantes já antecipava há mais de 500 anos - a indignação diante de um mundo tão injusto socialmente.

            Marcone Formiga - Qual a avaliação que o senhor faz dos seis primeiros meses do governo Lula?

            Dom Pedro Casaldáliga - Eu disse, certa vez, que a esperança continuava, mas que ela começava a se cansar. Entendo perfeitamente que hoje se está vivendo a política de um modo muito globalizado - querendo ou não, nenhum país pode andar sozinho, por conta própria. Também reconheço que os interesses econômicos pesam. Por outro lado, há reformas nacionais que são urgentes, necessárias. Agora, como o governo parte de muitas alianças, certamente precisa fazer concessões, e aí vem a impaciência. Por exemplo, no meio destas reformas todas que são necessárias, eu acho que não se pode adiar a reforma agrária - uma reforma raiz, a dívida mais antiga que o Brasil tem com o seu povo. Por outro lado, é evidente que não se pode descuidar do desafio da inflação, porque há compromissos internacionais, dentro do atual mundo globalizado, que precisam ser respeitados. Agora, eu tenho a impressão de que se poderia urgir mais as respostas à grande dívida social - que seriam a reforma agrária, tudo o que se refere a emprego, atenção a reivindicações diárias do povo... O Brasil continua passando fome. Acabamos de ver análises internacionais da Unesco sobre a educação no país que reafirmam a necessidade de reformas sociais.

            Marcone Formiga - O Fome Zero tem sido muito criticado. O que acontece se o programa fracassar?

            Dom Pedro Casaldáliga - O Fome Zero tem um matiz necessário e compreensível de assistencialismo, porque a fome não espera. É aquela velha história de dar o peixe ou ensinar a pescar. Eu digo sempre que tudo tem sua vez - deve-se dar o peixe, ensinar a pescar, mostrar onde está o rio... Agora, a perspectiva, evidentemente, é conquistar o rio. O governo deve atender o programa Fome Zero, mas também estimular a geração de empregos, resolver essas reformas urgentes...

            Marcone Formiga - O senhor acha que é possível controlar o poder econômico?

            Dom Pedro Casaldáliga - É necessário, pois não é possível que o mundo continue assim. Eu sei que isso é utopia... A verdade, o amor, a liberdade, são utopias; entretanto, é para isso que estamos neste mundo - para conquistar a verdade, a liberdade e o amor. Há um clamor mundial crescente que nos dá esperança. Como temos falado bastante da Internacional Comunista, Socialista, Operária, podemos ir falando cada vez mais da Internacional Humana, contestando a guerra do Bush. Tem surgido de forma muito explícita e bela esta Internacional Humana. Há muitos núcleos significativos no primeiro mundo de protesto e solidariedade, reivindicando um novo mundo. Então, é possível e necessário contestar o capitalismo, que hoje é neoliberal e neoimperial. A humanidade não suportará por muito tempo o imperialismo; aliás, temos visto nos últimos dias como o suposto prestígio de Bush tem caído vertiginosamente em seu próprio país...

            Íris Formiga - Afinal, a tão falada globalização significa mais progresso ou menos emprego?

            Dom Pedro Casaldáliga - O drama é o mesmo de sempre. Nós temos vivido aqui no Araguaia, em mais de 30 anos, esta contestação dos latifúndios adversários. Nós somos contra o progresso, porque nos perguntamos sempre: progresso para quê? progresso a custa de quê? o que se entende por progresso? Por exemplo, transformaram o Mato Grosso em um infinito campo de soja para exportação... Durante uma coletiva de imprensa no governo anterior, dizia o índio Carajá, que inclusive é advogado: "Estou achando que o governo está mais interessado em alimentar os porcos da Europa do que zelar pelo povo do Brasil. Soja para exportar, soja para os porcos da Europa! Enquanto a mesa do brasileiro está vazia, com 30 milhões passando fome". Então, se o progresso não for mais ou menos igualitário para todos os povos, não é progresso; acaba sendo exclusão para a imensa maioria.

            Marcone Formiga - Na prática, quais as vantagens e desvantagens da globalização?

            Dom Pedro Casaldáliga - A grande vantagem é que, cada vez mais, a humanidade está se sentindo una; isto é uma benção de Deus, porque a humanidade una é uma só família humana - a grande família dos filhos de Deus, de todas as raças, culturas e religiões. A unidade da família humana é um bem, porque una é a humanidade. Em segundo lugar, dentro desta perspectiva, a possibilidade crescente da intercomunicação. Tudo isso é um bem. O mal é que esta globalização se faz a partir do capitalismo neoliberal e neoimperialista. Uma globalização que signifique uma espécie de macrocultura, macroeconomia, que acaba sendo uma macrodominação, não nos interessa, porque representa uma minoria atendida e a imensa maioria na pobreza e crescente exclusão. Isso estabelece uma verdadeira macroditadura economissista.

            Íris Formiga - O senhor é a favor do movimento antiglobalização?

            Dom Pedro Casaldáliga - Eu sou antiglobalização economissista, antiglobalização neoliberal, antiglobalização capitalista e imperialista. Agora, eu sou a favor da mundialização, de um mundo puro, mas que também respeite as respectivas identidades culturais. Todos sabemos que, na medida em que vai crescendo uma consciência mundializada, cresce também a reivindicação das identidades étnicas e culturais. Está se vivendo isso na Europa do centro, na Europa do Leste, e está se vivendo na América Latina, com a reivindicação dos povos indígenas. Isso será necessário porque é humano, é justo - uma só humanidade, mas uma humanidade plural. O Brasil, até por Constituição, se reconhece, pelo menos teoricamente, pluriênico e pluricultural; mas quando chega a hora de respeitar o direito de terra, de autonomia, de cultura própria dos povos indígenas, infelizmente, a política é outra.

            Íris Formiga - Como resolver a desigualdade social na América Latina?

            Dom Pedro Casaldáliga - Em primeiro lugar, seria necessário que a América Latina e o Caribe partissem para encontrar a união da nossa América, como diriam os libertadores Martín, Bolívar e companhia. A união de outras unidades é o primeiro passo. Em segundo lugar, partir para estas reformas fundamentais. A América Latina continua sendo o continente mais irricultável, e o problema da terra aqui vem desde suas origens - das sesmarias, capitanias, latifúndio. Então, precisa ser feita uma verdadeira reforma agrária e agrícola, simultaneamente, dentro da hora que estamos vivendo. Esta reforma seria a primeira reforma base, a reforma raiz, porque o primeiro mal de toda a América Latina é o latifúndio. Depois, dentro desta comunhão de povos e irmãos, facilitar o intercâmbio econômico e cultural para que se possa dialogar melhor com os países da América do Norte, Europa, Ásia e África.

            Marcone Formiga - Por que se fala tanto em reforma agrária e ninguém a faz?

            Dom Pedro Casaldáliga - A reforma agrária não interessa a quem tem sido até agora, e continua sendo, o poder. O Brasil, nestes 500 anos de história, tem estado nas mãos de uma oligarquia inicialmente rural. Agora já não é mais só rural; há o poder da terra, dos bancos, das comunicações, da política... E por isso eles se arrepiam quando se fala em latifúndio. Eu acho necessário que o Brasil e o mundo tomem consciência de que o latifúndio é uma perversidade estrutural. Enquanto não se impõe um limite à propriedade da terra, se impede a democracia.

            Marcone Formiga - O Movimento dos Sem-Terra vem sendo acusado de radical...

            Dom Pedro Casaldáliga - Bendito seja o Movimento dos Sem-terra. Ele era necessário e é providencial. Se pode até discutir certos gestos concretos, mas a reivindicação é mais do que legítima. O MST, outros movimentos de sem-terra e a própria Comissão Pastoral da Terra - que tem prestado uma contribuição muito válida ao movimento - são movimentos providenciais que sacodem a inércia oficial. Não se teria feito nada do que se fez nos últimos anos em matéria de reforma agrária, muito timidamente, se não houvesse ocorrido esta sacudida. E também pelo clamor de certos setores da igreja e de outros grupos mais conscientes politicamente.

            Marcone Formiga - Com relação às últimas invasões do MST, o senhor acha que o governo do PT está surpreso ou omisso?

            Dom Pedro Casaldáliga - O PT é bastante MST; ou o MST é bastante PT, mesmo que ele tenha feito questão de dizer que não pertence ao partido. Há uma sintonia de aspirações entre o PT e o MST, portanto não é novidade a reivindicação do movimento para que seja um PT legítimo. Acontece que uma coisa é estar na oposição e outra coisa é estar no governo. E aí surgem os interesses daquelas alianças de que eu falei há pouco... No encontro que teve com os bispos, na Assembléia Nacional da CNBB, Lula nos disse: "Nós só podemos ir ao Congresso tendo a certeza de vencer. As reformas sociais, políticas e econômicas que o governo apresenta precisam de um respaldo majoritário do Congresso". Então, eu acho que continua sendo um trabalho do MST, do PT e de todos os grupos que queiram justiça, fraternidade e paz no Brasil, cobrar. Nós todos temos que ser sempre um pouco oposição; uma oposição construtiva. As igrejas e o evangelho estarão sempre na oposição; sempre reivindicarão aquela utopia que para nós, cristãos, tem um nome: o reino de Deus.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/07/2003 - Página 20129