Discurso durante a 17ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre o artigo "Agropecuária - olhando o futuro", de autoria do agrônomo Xico Graziano.

Autor
Lúcia Vânia (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Lúcia Vânia Abrão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • Comentários sobre o artigo "Agropecuária - olhando o futuro", de autoria do agrônomo Xico Graziano.
Publicação
Publicação no DSF de 25/07/2003 - Página 20139
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, AGRONOMO, EX PRESIDENTE, INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRARIA (INCRA), IMPORTANCIA, AGROPECUARIA, CRESCIMENTO ECONOMICO, BRASIL, NECESSIDADE, APERFEIÇOAMENTO, TRANSPORTE, ARMAZENAGEM.

AGROPECUÁRIA - OLHANDO O FUTURO

A SRª LÚCIA VÂNIA (PSDB - GO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como representante de Goiás, Estado em que a agricultura vem apresentando fantásticos avanços em tecnologia e em produtividade, leio, para que conste dos Anais do Senado, o artigo de autoria do agrônomo Xico Graziano, ex-secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, além de presidente do Incra em 1995.

Nesse artigo, intitulado “Agropecuária - Olhando o futuro”, o agrônomo analisa o otimista quadro em que se insere a agropecuária (para o que meu Estado dá expressiva parcela de contribuição) e adverte para a necessidade de aperfeiçoamento da área de logística, incluindo transporte e armazenamento.

Em seu alerta, Xico Graziano assinala:

Que ninguém duvide: o desenvolvimento baseado nos agronegócios representa a maior chance do Brasil.

O artigo, que passo a ler, para que fique integrando este pronunciamento, é o seguinte:

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE A SRª SENADORA LÚCIA VÂNIA EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210 do Regimento Interno.)

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            AGROPECUÁRIA - OLHANDO O FUTURO

            XICO GRAZIANO

Comida está virando combustível. Quem diria! Está chegando a era do biodiesel, que promete uma revolução na matriz energética mundial. Óleos vegetais foram sucesso no passado ao substituírem, na cozinha, a banha de porco. Agora, as plantas oleaginosas vão mover motores a combustão, ocupando o lugar do petróleo.

Energia renovável, combustível ecológico. O mote empurrou o Proálcool e atingiu os óleos vegetais, encontrando na soja sua liderança. É pagar para ver: no prazo de uma década, o óleo diesel estará no escanteio do jogo energético mundial. E a agricultura vai assumir a função de produtora de energia limpa. Nesse jogo, o Brasil vai dar um baile!

Na era pós-industrial, o temor do "efeito estufa" desembocou no conhecido Protocolo de Kyoto, pelo qual os países se obrigam a reduzir suas emissões de dióxido de carbono, basicamente oriundas da queima de combustíveis fósseis. O petróleo foi posto em xeque. Desde então, a ecologia passou a ditar o futuro da economia.

A busca de combustível alternativo induz os europeus a investirem na colza; os asiáticos, na palma; os americanos, no milho. Nenhuma dessas possibilidades vence a competição com a soja nacional. Seja pelo viés ecológico, seja pelos ditames econômicos, o cenário indica vantagem para os trópicos, ricos em energia solar.

Introduzida no País na década de 70, a soja já atinge quase metade da safra nacional. São 52 milhões de toneladas cultivadas em 18,1 milhões de hectares, desde o Rio Grande do Sul até o Maranhão. Tecnologia de qualidade garante a maior produtividade no mundo. Simultaneamente, o complexo soja - grãos, óleo e farelo - abastece o mercado interno e lidera as exportações, estimadas em US$ 8 bilhões para 2003. Coisa de gente grande.

Olhando o futuro, os combustíveis alternativos não estão isolados. Análises fundamentadas mostram enormes perspectivas para o crescimento da produção convencional de soja e, principalmente, de milho. A safra de grãos, atualmente no patamar de 115 milhões de toneladas, passaria facilmente para 150 milhões em 2010. Com 90 milhões de hectares ainda disponíveis para exploração, vislumbra-se um potencial produtivo ao redor de 300 milhões de toneladas de grãos.

Nas carnes, o País acaba de assumir o topo dos países exportadores, puxado pelo "boi verde", carne ecológica do gado criado a pasto. A suinocultura começa a esbanjar a competitividade já reconhecida na avicultura. No pescado, camarão oriundo das fazendas aquáticas do Nordeste ganha mercados preciosos. Frutas tropicais deliciam o mundo.

O potencial é extraordinário, com novos produtos ou com gêneros tradicionais, em que o País já é líder mundial, a exemplo da madeira e celulose, do açúcar, da laranja e do café. Em resumo, o cenário da agropecuária brasileira se vislumbra promissor. Estados Unidos, Europa e China não dispõem de novas áreas agricultáveis. A pergunta surge inevitável: será que o Brasil vai aproveitar-se dessa oportunidade histórica?

Parece que sim. A luta contra o protecionismo dos países ricos começa a ser vencida, com a recente mudança na Política Agrícola Comum (PAC) da União Européia. As cadeias produtivas do chamado agronegócio passam por um grande aprendizado no marketing rural, após séculos vendendo commodities. O exemplo vem do café: as bebidas especiais ganham novos mercados, abertos pelo excelente café expresso.

O governo brasileiro, desde a estabilização da moeda com o Plano Real, securitizou as dívidas rurais e criou as condições para financiamentos com juros fixos, subsidiados, permitindo um salto na incorporação de tecnologia no campo. Programas como o Moderfrota e o Pronaf reativaram o crédito rural.

Este acabou de corrigir uma injustiça ao criar nova linha para incluir os médios agricultores, produtores familiares com sucesso, na política oficial.

Tudo caminha bem.

Há, entretanto, um temor generalizado: o "paradão"! Conseguirá o País oferecer a infra-estrutura necessária para escoar o aumento esperado da safra? Haverá logística de transporte e armazenamento suficiente? Conseguirá a agroindústria se expandir para agregar valor na matéria-prima?

São questões fundamentais. Investimentos vultosos na estrutura de transporte serão exigidos, principalmente pensando no escoamento da safra do Centro-Oeste. Asfaltamento de rodovias, como a famosa BR-153, que liga Cuiabá a Santarém, no Pará; hidrovias, como a Araguaia-Tocantins; ferrovias, como a expansão da Ferronorte até Rondonópolis. São, todas, obras inadiáveis.

Vejam como é dramática a questão logística: a velocidade média dos trens nacionais é de 23 km/h, enquanto os trens norte-americanos correm a 80 km/h.

A culpa recai nas 11 mil passagens de nível das ferrovias nacionais, fato inusitado no transporte ferroviário mundial. Filas quilométricas de caminhões no Porto de Paranaguá contrastam com o escoamento da safra norte-americana, onde 60% dos grãos descem o Rio Mississippi para desaguar diretamente nos porões dos navios.

Na produção de fertilizantes, na oferta de aço e ferro, na indústria de papelão, nos portos, no armazenamento, na irrigação, na energia e telecomunicações, a lição de casa terá de ser cumprida à risca. Se o governo, com as parcerias privadas que precisa estimular, bancar o aluno relapso, acabará condenando o País a perder o ganho de competitividade oriundo da roça.

Que ninguém duvide: o desenvolvimento baseado nos agronegócios representa a maior chance do Brasil. Embute ainda uma vantagem extraordinária: a interiorização do progresso, radicalizando o sonho de JK. O Brasil vai cumprir seu destino. Não mais celeiro do mundo, apenas. Gigante, também, da energia renovável.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/07/2003 - Página 20139