Discurso durante a 19ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem pelos 50 anos do Hospital do Câncer em São Paulo.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PPS - CIDADANIA/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem pelos 50 anos do Hospital do Câncer em São Paulo.
Publicação
Publicação no DSF de 29/07/2003 - Página 20501
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, HOSPITAL, CANCER, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), OPORTUNIDADE, RECONHECIMENTO, RELEVANCIA, TRABALHO, GARANTIA, EFICACIA, ATENDIMENTO, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, PACIENTE, INCENTIVO, PESQUISA, CONTRIBUIÇÃO, DESCOBERTA, TRATAMENTO, PREVENÇÃO, DIAGNOSTICO, DOENÇA.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PFL - RR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, se há algum feito na área de saúde de que nós, brasileiros, possamos nos orgulhar, este, com certeza, leva o nome de Hospital do Câncer. Com sede em São Paulo, a instituição celebrou, em abril último, 50 anos de existência, reiterando disposição para comemorar muitos mais anos pela frente. Pelo menos, foi essa a mensagem que, ao povo brasileiro, endereçou a Rede Voluntária de Combate ao Câncer, ao confirmar apoio incondicional à causa humanitária do Hospital.

Antes de qualquer coisa, nunca é demais frisar que a Rede Voluntária desempenha, por motivação puramente filantrópica, papel crucial no processo de arrecadação de recursos e assistência aos doentes do Hospital do Câncer. Nesse espírito, sua generosidade tem ultrapassado os níveis da mesura socialmente protocolar, para adquirir a dimensão da dedicação infatigável ao próximo.

Comprometido com essa dedicação humanitária, o surgimento do Hospital do Câncer nos anos 50 concretiza-se de modo independente, desvinculado de qualquer ligação com instituições oficiais de saúde, sem respaldo financeiro de qualquer organização, tampouco patrocínio de imigrantes. Pelo contrário, naquela ocasião, o foco comunitário despertou o interesse da população paulistana pela viabilização da instituição, do que lhe resultou uma mobilização popular extraordinária em busca dos recursos financeiros. Graças a tal envolvimento, o cidadão de São Paulo pôde à época contar, de imediato, com um corpo profissional de quase 100 especialistas, entre clínicos, cirurgiões, radioterapeutas, laboratoristas, além de 35 enfermeiras. 

Nos dias de hoje, do ponto de vista da formação profissional, o Hospital paulistano tem treinado a elite de oncologistas no Brasil. No conjunto, são mais de 700 médicos de especialidades as mais variadas, com quem várias das capitais brasileiras contam para efetivar, regionalmente, tratamento de alto nível. Ao médico do quadro efetivo, por sua vez, disponibiliza-se o desenvolvimento de pesquisas baseadas no arquivo médico do Hospital, graças às quais se pode analisar historicamente o itinerário do câncer na região subequatorial. Por isso mesmo, além de um centro cirúrgico, um ambulatório, uma sala de curativos, um setor de radioterapia e um bom laboratório, prevalece uma filosofia que se pauta em dar ao paciente o que de melhor existe no mundo.

Sr. Presidente, nas últimas décadas, no entanto, com os incessantes avanços tecnológicos na área, não tem sido fácil a transferência desse conhecimento para o campo médico dos países em desenvolvimento. No Brasil, o desafio tem sido enorme, exigindo do corpo médico um acompanhamento científico e tecnológico quase impossível. Enquanto a geração atual de médicos se depara com o declínio da era das clássicas quimioterapia, radioterapia e cirurgia, a próxima, com certeza, manipulará conhecimentos sofisticados da biologia molecular e da genética, favorecendo sistemas terapêuticos menos invasivos e mais preventivos. Para efetivar o preparo para tamanha transformação, a administração hospitalar necessitará, certamente, de intenso apoio e assistência de toda a sociedade brasileira, para quem, aliás, o Hospital é objeto de explícito orgulho.

Por isso mesmo, nada mais oportuno do que enfatizar o reconhecido interesse histórico do Hospital do Câncer pela catalogação de informações sobre a doença, a partir da qual se pôde erguer um respeitável arquivo científico. Dispondo, atualmente, de 400 mil fotos e desenhos em seu acervo, além do arquivo médico com 300 mil casos registrados, a biblioteca do Hospital é considerada umas das mais completas na área de oncologia. Isso, evidentemente, exerceu enorme impacto sobre a imagem da instituição no exterior, culminando na sua feliz parceria com o renomado Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, da Suíça.

Não por razões fortuitas, a parceria com a instituição suíça rendeu-lhe, nos anos noventa, uma das mais exitosas experiências de pesquisa. Refiro-me à participação da equipe técnica do Hospital no Projeto Genoma do Câncer, por cujas contribuições, vale acrescentar, não recebeu qualquer recurso financeiro do portentoso consórcio internacional. Além da projeção internacional das pesquisas, suas aplicações práticas convertem-se paulatinamente em realidade, pois as seqüências genéticas ajudam a decifrar a estrutura básica dos tumores, contribuindo para a descoberta de novos tratamentos e métodos de prevenção e diagnóstico.

Acima de tudo, cumpre realçar o aspecto mais enobrecedor do Hospital do Câncer, que se configura na conduta filosófica adotada. Com o lema “a pessoa antes da doença”, sua equipe privilegia o paciente com câncer, e não o câncer per se. Isso necessariamente se reflete na política de investimentos do Hospital, que inverte os padrões econômicos industrialmente estabelecidos e aposta na criação de um pioneiríssimo Centro de Convivência dentro de suas instalações. Seu objetivo consiste em motivar e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, oferecendo-lhes atividades diversas, como é o caso da internet, cinema, salão de beleza, ioga e pintura. Tal iniciativa é um marco na história terapêutica do câncer, reforçando com sucesso as características fundadoras da filosofia do Hospital.

Em outras palavras, com a implantação do Centro de Convivência, o Hospital pôde oferecer aos pacientes mais que um tratamento, pôde oferecer-lhes o resgate da sensação de vida e auto-estima. Isso, naturalmente, só se consumou mediante o trabalho do excelente corpo clínico e a experiência inovadora das parcerias. Não por acaso, o Hospital do Câncer é reconhecidamente a instituição que provê à sociedade a melhor qualidade de tratamento, respeitando os direitos humanos dos pacientes e possibilitando-lhes a manutenção da dignidade, num País que ainda emerge na periferia do desenvolvimento.

Ao lado disso, merece impecável registro o Centro de Alta Complexidade em Oncologia Pediátrica, de cuja equipe multidisciplinar fazem parte especialistas em pediatria, radioterapia, cirurgia pediátrica, endocrinologia, nefrologia, odontologia e outros. Trata-se de um sofisticado aparelhamento terapêutico que se destina a atender a todos os tipos descritos de tumores infantis. Isso só pôde ser realizado graças ao processo incessante de modernização do Hospital do Câncer, que proporcionou a renovação tecnológica da radioterapia. Na mesma linha, em 2002, instalou-se o Millenium VG Hawk Eye, que nada mais é que o mais avançado aparelho no diagnóstico e no combate à doença, detectando marcadores radioativos no corpo e identificando o ponto exato em que está localizado o tumor.

Nesse ano de 2003, ainda, o Hospital do Câncer promete concluir a primeira etapa de um ambicioso projeto em nível nacional. Trata-se da inauguração de uma série de instalações e equipamentos inéditos no País, no meio dos quais se destaca o mais completo Centro Cirúrgico e UTI para câncer da América Latina, além de um avançado complexo de radioterapia. Aliás, o projeto, cuja implantação integral se consumará em 2005, consolidará o único centro latino-americano formador de especialistas em novíssimas tecnologias de radioterapia e física radiológica.

Por último, não poderia furtar-me a, mais uma vez, reconhecer o excepcional trabalho executado pelas mulheres da Rede Voluntária de Combate ao Câncer. Instituída pela memorável Carmen Prudente, conquistou posição modelar nos parâmetros de atuação das sociedades filantrópicas no Brasil. Ostentando, hoje, um quadro de 400 voluntárias, exerce papel crucial nos corredores do Hospital do Câncer, oferecendo apoio e assistência a pacientes e a visitantes. Para concluir, presto homenagem sincera aos 50 anos deste honroso Hospital, reiterando sentimentos de congratulação a sua administração e a todo seu corpo de profissionais.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/07/2003 - Página 20501