Discurso durante a 21ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Relatório sobre sua viagem ao Estado de Israel.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Relatório sobre sua viagem ao Estado de Israel.
Publicação
Publicação no DSF de 31/07/2003 - Página 20743
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • RELATORIO, VIAGEM, ORADOR, EDUARDO SUPLICY, SENADOR, PARLAMENTAR ESTRANGEIRO, AMERICA LATINA, VISITA, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL, OBSERVAÇÃO, PROCESSO, PAZ, ORIENTE MEDIO.
  • ANALISE, POLITICA INTERNACIONAL, ORIENTE MEDIO, DIFICULDADE, NEGOCIAÇÃO, COMENTARIO, DISPOSIÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, ESTABELECIMENTO, PAZ, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL, PALESTINA, APOIO, MAIORIA, OPINIÃO PUBLICA, POSSIBILIDADE, AUXILIO, POLITICA EXTERNA, BRASIL.
  • ELOGIO, DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL.

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu me inscrevi na semana passada, mas foi tão complicada a semana, que terminei sem poder usar da palavra e sem fazer um relatório da viagem que eu e o Senador Eduardo Suplicy fizemos a Israel.

            Aproveito para, nesta ocasião, apresentar alguns dados, sentidos por mim, dados apresentados pelos conferencistas, e, principalmente, para dizer desse sentimento que me assolou no Estado de Israel.

            Recebemos um convite para, juntamente com representantes de mais 26 países da América do Sul e do Caribe, de toda a América Latina, irmos lá e olharmos o que está sendo feito pelo processo de paz.

Eu já havia ido a Israel três vezes. Toda vez que se vai a Israel, vive-se uma nova experiência, porque é um país que cada dia mais se consolida e se fortalece, principalmente na área tecnológica.

Todos sabem que juntamente com Israel foi criado um estado palestino. Mas os palestinos foram solicitados a não se declararem um Estado, pois, no dia seguinte à sua criação, os árabes iriam, todos juntos, encerrar com Israel. E estaria resolvido o problema.

Foi um ledo engano dos países árabes, porque Israel não foi varrido do mapa e ainda ganhou a guerra, para surpresa do mundo. Foi uma guerra, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, de um país com poucos milhões de pessoas contra outro com oitenta milhões de pessoas, como a luta de Davi contra Golias. E, para surpresa de todos, Davi ganhou.

Tivemos outras guerras depois disso e o mundo todo pagou por essa desavença entre árabes e judeus. Cada dia que passava, Israel consolidava mais o seu poder. E, de repente, Israel não é mais um Davi: passou a ser um Golias tecnológico. E as guerras que se seguiram, como a dos Seis Dias e a do Yom Kipur, todas foram vencidas por Israel, pela organização, pela tecnologia, pelo apoio do exterior, e a verdade é que esse país passou a ser respeitado e temido. E hoje temos o Estado Palestino já implantado, em termos, com um Primeiro-Ministro, que sucedeu a Yasser Arafat, mas os dois lados continuam se digladiando até hoje, o que não conseguimos entender. Para nós, brasileiros, é muito difícil entender o sentimento deles.

Lembro-me de uma história de quando estávamos no Iraque. Eu tinha uma escola naquele país para os brasileiros que estavam perfurando petróleo em Majnoon, na confluência do Tigre com o Eufrates. Um engenheiro da Petrobras saiu da Bahia e foi para o Iraque. Na hora de passar na alfândega, o engenheiro, que havia levado alguns long-plays - era época dos long-plays -, teve seus discos quebrados, as capas rasgadas e tudo jogado no chão. Ele, então, perguntou o que estava acontecendo. O cidadão da alfândega, de cara feia, não disse nada e foi direto na Enciclopédia Barsa que o engenheiro tinha levado para os filhos lerem, procurou a letra I e arrancou as páginas onde havia referências a Israel. O engenheiro zangou-se e, por isso, foi preso e passou sete dias numa prisão em que, de dia, chegava a 50 graus quando havia sombra e 60 graus quando não havia. O sujeito perdeu a pele toda de tanto suar, seus olhos infeccionaram. Todos queríamos saber o que se passou. É que a estrela do chapéu do long-play do Luiz Gonzaga era a de seis pontas, não a estrela árabe. Logo, ele era um sionista. Imaginem se na cabeça de um brasileiro faz diferença uma estrela ter cinco ou seis pontas! Mas para aquela região faz, e muita. Continuamos sem entender o que está se passando. Mas a verdade é que a briga reflete-se no mundo inteiro, gera instabilidade no Oriente Médio, eleva o preço do petróleo, e nós, que nada temos a ver com a briga, pagamos caro.

Portanto, seja pelo lado humanitário seja pelo lado econômico, interessa que haja paz na região. E nossa missão foi a de tentar ajudar as duas nações que possuem descendentes no Brasil. A colônia judaica no Brasil possui atualmente cerca de 180 mil pessoas, a grande maioria bem posicionada. Por outro lado, os descendentes de árabes somam cerca de oito milhões. Aqui vivem bem, mas lá estão brigando.

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou carta ao Primeiro-Ministro israelense, Ariel Sharon e ao Presidente palestino, Yasser Arafat, a fim de que observassem o exemplo do Brasil e realizassem o esforço de paz. A aflição dos dois lados é muito grande, Sr. Presidente. De um lado, são milhões de palestinos que desejam a paz e a ascendência econômica. O conflito fez com que perdessem 150 mil empregos, de saída. E, pior, fez cair o PIB pela metade. Israel, por sua vez, sofreu prejuízo na área do turismo. É impossível fazer turismo em um país onde, em qualquer local, de repente alguém explode e mata todos. Israel está perdendo US$3 milhões por ano. Já perdeu cerca de US$12 bilhões, o que pesa na economia.

Sempre houve intransigência dos dois lados, mas, pela primeira vez, a intransigência está sendo quebrada e os dois lados querem paz. O lado de Israel tem uma certa facilidade, porque só tem uma força armada. O lado da Palestina tem uma dificuldade, porque o Primeiro-Ministro Mahmoud Abbas manda em 40% do exército formado por 40 mil homens, e em 60% quem manda é Arafat. Mas não basta isso. Há dois ou três movimentos guerrilheiros, como o Hesbolah, que dificultam a negociação, porque há um interlocutor de um lado e, do outro, são muitos e não tão coordenados entre eles.

A verdade é que, quando estivemos com Shimon Peres, Presidente do Partido Trabalhista, ele mencionou que sabiam que havia um túnel em algum lugar, mas não sabiam onde. Agora descobriram o local e já ingressaram nele, com uma enorme esperança de que, no final, haja a luz da paz. Ele disse também que precisam da nossa ajuda, de todas as formas, porque nosso País tem muitos descendentes de judeus. Eles estão dispostos a pagar um preço altíssimo. Podem chegar a pensar, desde que haja muitas negociações, até em dividir Jerusalém. Seria um caso inusitado: uma mesma cidade que é capital de dois povos, duas nações, dois países. Porque hoje os palestinos dizem que Jerusalém Leste é a sua capital; e os judeus dizem que Jerusalém é a sua capital. Até isso eles aceitam.

O que podemos dizer aqui e agora? Podemos dizer que, no nosso feeling, no nosso entendimento, Israel quer a paz. Uma pesquisa feita com o povo palestino mostra que 80% dele também querem que haja paz, porque estão cansados. Na parcela restante, os outros 20%, há os mais extremados e outros que não entram no mérito. Enfim, está-se costurando essa paz.

Mas falei de outros sentimentos, quais sejam, Senador Mestrinho, de ver um país de 21 mil km², portanto menor do que Sergipe, ter uma tecnologia que não temos; um país que possui oito universidades com pesquisas que ultrapassam o somatório das nossas e que compra aviões nos Estados Unidos, muda a parte aviônica e vende para eles tecnologia nova. Como estão em guerra, precisam fazer um esforço, então compram foguetes e os transformam, na fábrica Raphael, então passam a ter foguetes superiores aos americanos, cuja tecnologia é vendida para o mundo todo. Porém, não vendem somente isso, vendem irrigação e outros produtos de tecnologia.

Faço uma pergunta a V. Exªs, com a certeza de se enganarão na resposta como me enganei: quem tem maior PIB, Arábia Saudita ou Israel? Todos dirão, de estalo, Arábia Saudita, mas é um engano, pois tem metade do que tem Israel, que vende tecnologia e frutas.

Esse foi o sentimento que tive: entre 6 milhões de pessoas, 1,9 milhão é de árabes, drusos, palestinos, o restante é judeu. Essas pessoas criaram toda aquela tecnologia. Como, no Brasil, não conseguimos fazer o mesmo, com tantos recursos, com tanta riqueza? Naquele deserto, eles conseguem fazer todas aquelas maravilhas. Temos muito que aprender, temos muito que trabalhar e temos que levar muito a sério a pesquisa. Não a pesquisa filosófica, mas a pesquisa para exportação. E é por isso que um país como aquele consegue exportar tecnologia, que rende mais do que petróleo jorrando à flor do solo. Então, eu senti essa preocupação.

Na CPI do Banestado, ouvi a Polícia Federal dizer que os carros passam pela ponte trazendo recursos do lado de lá. E apenas preenchem um formulário na Polícia Federal declarando o valor. Mas como não são seguidos o tempo todo, ninguém sabe o que transportaram realmente. Então, não conseguimos controlar nossas fronteiras. Dezoito milhões de armas entraram pelas nossas fronteiras.

Aquele povo tem 650 km de fronteira cercados e com sensores. Se um animal lá encosta, rapidamente aparece uma patrulha. Ah, mas eles estão em guerra! Eu sei. Ah, mas 650 km, no Brasil, não é nada! Eu sei. Mas eles são apenas 6 milhões e levam a sério a missão a que se propõem.

No Brasil, vemos uma grande confusão, como, por exemplo, o MST invadindo pedágio, prefeitura. Isso, num país que vive a paz, que busca a paz e que odeia a violência.

Lá, eles também odeiam a violência, mas, infelizmente, as duas nações vivem em atrito. Agora, estão buscando uma solução. A Jihad - a guerra santa - que havia sido decretada foi transformada em hudnah, que quer dizer trégua. Os dois lados estão lutando para ver se a trégua se expande.

Enfim, que conclusões trago dessa viagem? A de que podemos ajudar por meio de nossos organismos. Já pedi ao nosso chanceler que nos ajudasse. S. Exª explicou-me as ações do Brasil. Estamos cumprindo nossa missão de buscar a paz. Com certeza, podemos também aprender muitas lições com aquele povo.

Às vezes, quantidade não significa qualidade. Li, por exemplo, uma pesquisa feita por um organismo mundial. Nos mil últimos anos, as Nações árabes publicaram menos livros do que a Espanha no último ano. É uma pena esse descuido. Em português, está acontecendo o mesmo. No Brasil, as publicações são mínimas. Temos muito que aprender com aquele povo. No entanto, temos que torcer, em primeiro lugar, para que tenham paz. Falo tanto dos palestinos quanto dos israelenses. Se pudermos ajudar será importante, por menor que seja a ajuda. Se não houver paz no mundo, e naquela região, pagaremos um preço caro em termos econômicos. Sofreremos, também, em termos humanos. Possuímos 8 milhões de descendentes de árabes e 200 mil cidadãos que professam o judaísmo. Esta Nação eclética, onde a paz reina, luta pela paz permanente e, com toda a certeza, poderemos colher exemplos importantes, tanto do ponto de vista do processo de paz, quanto da tecnologia e da pesquisa.

            Por último, ouvi estas palavras de Shimon Peres, olho no olho: “Não vamos matar Arafat, não vamos fazer mal a ele nem extraditá-lo, porque assim nos pediram os americanos. Mas estes nos pediram também o seguinte: ‘Não conversem com ele no momento, porque, segundo informações, ele tem feito corpo mole em relação ao terrorismo, que queremos encerrar. Por isso, vamos prestigiar Abu Mazen’”.

A briga não é nossa e não cabe a nós o julgamento. Só podemos torcer para que haja paz naquela região.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/07/2003 - Página 20743