Discurso durante a 90ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

101 anos da revolução acreana. (como Lider)

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PSB - Partido Socialista Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • 101 anos da revolução acreana. (como Lider)
Publicação
Publicação no DSF de 06/08/2003 - Página 22216
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, POPULAÇÃO, ESTADO DO ACRE (AC), COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, REVOLUÇÃO ACREANA, REGISTRO, ENTREGA, DIRETOR, MUSEU, REPUBLICA, GOVERNO ESTADUAL, SIMBOLO, REVOLUÇÃO.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (Bloco/PSB - AC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, trago hoje ao Plenário um assunto muito caro e sensível não apenas para mim, mas, com certeza, para os Senadores Tião Viana e Sibá Machado.

Comunico à Casa e a meus nobres Pares que amanhã, 6 de agosto, o Diretor do Museu da República, Ricardo Vieiralves, entregará ao Governo do meu querido Estado do Acre a Bandeira e a espada utilizadas por José Plácido de Castro durante as campanhas da Revolução Acreana. Para se ter uma idéia da importância desses objetos para a história do Acre e de seu povo, basta dizer, Sr. Presidente, que a Bandeira a ser confiada à guarda do Governo do Estado, depois de 101 anos, ainda guarda perfurações de bala e está suja de sangue - sangue derramado nos campos de batalha, para que aquela região, então disputada e objeto de cobiça internacional, fosse, como de fato o foi, anexada ao território nacional.

A espada, um sabre que, segundo consta, José Plácido de Castro envergava em solenidades militares, traz a inscrição “E. I. A, 24 de janeiro de 1903”, uma alusão ao Estado Independente do Acre estabelecido naquela data, com a capitulação dos bolivianos durante a tomada da cidade de Puerto Alonso, em seguida rebatizada de Cidade de Porto Acre.

A entrega desses objetos faz parte das comemorações dos 101 anos da Revolução Acreana. Em Rio Branco, a Capital do Estado, e em Xapuri, lugar por onde a Revolução Acreana foi iniciada, por todo o dia de amanhã haverá festas e homenagens aos heróis que perderam suas vidas nas trincheiras em busca de liberdade e da cidadania brasileira. O Governador Jorge Viana depositará uma coroa de flores no obelisco situado na esplanada do Palácio Rio Branco, em homenagem aos homens e mulheres que fizeram do Acre uma causa e por ela deram suas vidas. Entre essas mulheres está a figura lendária de Angelina Gonçalves, dona-de-casa que assumiu o lugar do marido ferido em combate e teve sua bravura e destemor reconhecidos inclusive pelos seus inimigos de batalha, os bolivianos, que a capturaram de armas em punho reagindo à invasão de sua colocação.

Em Xapuri, cidade mundialmente conhecida como berço de outro grande herói nacional, o sindicalista Chico Mendes, histórias como de Angelina Gonçalves e dos comandantes da revolução liderada por José Plácido de Castro serão lembradas, porque foi por ali que tudo começou. No vigor dos seus 27 anos de idade, há 101 anos, Plácido de Castro se propôs a expulsar o sindicato multinacional Bolivian Sindycate, que solapava as riquezas produzidas com a exploração da borracha, e proclamou a necessidade da revolução porque, nas suas palavras, “A guerra é o Legítimo Tribunal dos Excluídos”.

Vejam, então, Srªs e Srs. Senadores, que não estamos aqui falando de uma guerra qualquer. Estamos falando da história de homens e mulheres que, de armas em punho e com toda a bravura que a circunstância requeria, fizeram uma declaração de amor ao Brasil. É por isso que o Acre tem essa história tão peculiar. É o único Estado deste País que se tornou brasileiro por opção de sua gente.

Portanto, muito mais que guardião dos símbolos de sua história, o Acre é um exemplo de amor e patriotismo. O hino acreano, escrito pelo médico Francisco Mangabeira, literalmente nas trincheiras dos campos de batalha, é ao mesmo tempo uma declaração de guerra ao audaz invasor, mas também uma canção de amor ao Brasil. É praticamente impossível ficarmos impassíveis diante dos acordes de nosso Hino. Mas este Estado, que é um exemplo vivo de brasilidade, foi, por longos anos, uma espécie de filho enjeitado da Nação. Logo após a vitória da Revolução, criou-se a figura esdrúxula do Território Federal. Com isso, por mais de 60 anos, os acreanos foram privados de escolher seus governantes, já que os Governadores eram indicados e nomeados pelo Governo Federal. Alguns dos que governaram o Acre, em cuja história o Senador José Guiomard Santos é uma honrosa exceção, não sabiam sequer onde o Acre estava localizado no mapa do Brasil. Mas, 41 anos depois, o Acre vive sua segunda revolução. Através do voto popular e escorado numa história que começou lá atrás, com os empates organizados por Wilson Pinheiro, em Brasiléia, e depois por Chico Mendes, em Xapuri, chegou ao Governo do Estado a figura do Governador Jorge Viana e de uma equipe comprometida com o passado e com o futuro daquela terra. Eleito em 1999 e reeleito em 2002 com votações expressivas e extraordinárias, Jorge Viana é, como foi José Plácido de Castro, o condutor de uma revolução em que o inimigo já não anda de armas em punho. O inimigo é o atraso, é a política predatória do meio ambiente e da falta de um projeto específico para uma região que é não só emblemática como absolutamente única. Na condução de um projeto que combate o atraso, o Governador Jorge Viana tem mostrado ao mundo que é possível se buscar desenvolvimento sem agredir e sem violar o meio ambiente. Tem mostrado que, no meio da selva brasileira, é possível também se viver com dignidade e sem que seja necessário aos homens e mulheres daquela região copiarem estereótipos estranhos e alheios à sua cultura e ao seu modo de vida. Para isso, criou-se uma palavra nova, um termo até então inexistente para designar o que o homem amazônico está fazendo por ali. Florestania, a cidadania do homem da floresta.

É por tudo isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que me sinto à vontade para falar sobre esse assunto nesta Casa. Sem cabotinismo, creio que a nossa geração, a geração sonhadora, que se inspira na história da nossa gente, está realizando, no Estado do Acre, no coração da Amazônia brasileira, algo que é verdadeiramente digno dos nossos antepassados. Lutar, preservar e buscar o desenvolvimento com absoluto respeito à natureza é, a meu ver, estar à altura do sangue derramado nos campos de batalha pelos homens e mulheres que, há 101 anos, iniciaram a epopéia da Revolução Acreana.

Viva o Acre! Viva a Revolução Acreana!

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/08/2003 - Página 22216