Discurso durante a 91ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio à atitude de servidores que agrediram o Parlamento, quebrando vidraças, em manifestação contra a reforma da Previdência

Autor
Aloizio Mercadante (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Aloizio Mercadante Oliva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PREVIDENCIA SOCIAL.:
  • Repúdio à atitude de servidores que agrediram o Parlamento, quebrando vidraças, em manifestação contra a reforma da Previdência
Publicação
Publicação no DSF de 07/08/2003 - Página 22466
Assunto
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL.
Indexação
  • CONDENAÇÃO, VIOLENCIA, MINORIA, PARTICIPAÇÃO, MANIFESTAÇÃO, FUNCIONARIO PUBLICO, PROTESTO, REFORMULAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL.
  • JUSTIFICAÇÃO, REFORMULAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL, CORREÇÃO, DESEQUILIBRIO, INJUSTIÇA, DESIGUALDADE SOCIAL, DISPARIDADE, DIFERENÇA, LIMITE DE IDADE, SALARIO, APOSENTADORIA, FUNCIONARIO PUBLICO, PODERES CONSTITUCIONAIS, COMPARAÇÃO, TRABALHADOR, INICIATIVA PRIVADA, INSUFICIENCIA, RECURSOS FINANCEIROS, GOVERNO FEDERAL, GOVERNO ESTADUAL, COBERTURA, FOLHA DE PAGAMENTO, APOSENTADO.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP. Como Líder do Governo. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, não existe caminho para este País, para que possamos superar a situação de apartheid social, crescer de forma sustentada, construir a cidadania, melhorar a qualidade de vida e avançar em direção a valores como a solidariedade, a liberdade, a justiça social, que não passe pela mais plena liberdade de expressão, de manifestação dentro do Estado de Direito. E não existe Estado de Direito e nem liberdade se não tivermos um Parlamento livre, independente, pluralista, onde cada homem que aqui está tenha uma condição preliminar, que é o voto.

O voto é a razão da representação. O voto é a expressão da maioria. O voto é a segurança do pluralismo junto com a liberdade partidária, a liberdade de organização. O voto, portanto, é uma dimensão fundamental da democracia representativa e da construção da cidadania.

Portanto, uma minoria que hoje agride o Parlamento, quebra as vidraças, joga pedra na instituição e acha que essa atitude pode intimidar os homens que aqui chegaram está absolutamente equivocada.

Quero dizer, desta tribuna, o respeito que tenho pelo direito legítimo de manifestação dos servidores públicos. Eles têm total responsabilidade e total direito de cidadania para defenderem as suas reivindicações, para organizarem uma manifestação, para pressionarem o Poder Legislativo, o Executivo, o Judiciário, para levantarem as suas bandeiras, os seus argumentos, as suas palavras de ordem e para buscarem, por meio da pressão social, o caminho da negociação, que é sempre aquele que ordena os conflitos numa sociedade democrática.

A minoria a que assisti pela televisão não faz parte dos servidores deste País, não representa os professores, os médicos, os funcionários da diplomacia brasileira, do Banco Central, da Receita Federal e os funcionários de toda ordem, que desempenham o papel essencial de servir ao Estado e de buscar, portanto, defender os interesses da Nação e do nosso povo. Não, não fazem parte. E quero repudiar a atitude que prejudica o sentido da manifestação.

Quero dizer, Sr. Presidente, que cada um dos Senadores e Deputados que aqui estão evidentemente gostariam de estar votando pelo aumento dos benefícios da Previdência para o setor público, dando-lhe melhores condições. Mas não é essa a situação das finanças públicas. O que está sendo votado na Câmara dos Deputados é uma exigência para que possamos ter um sistema de Previdência Social para a maioria do povo brasileiro, o regime geral, próximo ao regime próprio dos servidores. Os desequilíbrios são muito grandes. Não é possível, no serviço público, a mulher se aposentar com 48 anos e o homem com 53. Não está correto, no setor privado, 16 milhões de aposentados e pensionistas receberem até um salário mínimo, ninguém receber mais do que R$1.580 hoje para se aposentar, tendo 40 milhões de pessoas fora da Previdência Social e quando analisamos as aposentadorias no setor público vemos que a média de aposentadoria no Ministério Público é de R$12 mil; do Judiciário, R$7 mil; do próprio Poder Executivo, R$2.980,00; e do Legislativo, R$10 mil. As desigualdades são muito grandes quando analisamos a aposentadoria da maioria do povo, que é de apenas R$380,00.

O projeto precisa ter viabilidade fiscal, sustentabilidade financeira. Os Municípios, os Estados não têm como arcar com o ônus, em um País em que os inativos já pesam mais no orçamento dos principais entes federativos do que propriamente aqueles que estão servindo.

E quais são os ajustes que estão sendo feitos, por exemplo, sobre os inativos, como foi mencionado desta tribuna? Quando o servidor se aposenta, deixa de recolher os 11%. Como ele se aposenta com o salário integral, recebe um acréscimo salarial de 12,3%. Que sistema previdenciário pode basear-se em uma situação em que quem vai para casa aposentado ganha mais do que quem continua trabalhando, exercendo a função? Mesmo assim, estabeleceu-se um teto de R$1.058,00 e, agora, a Câmara chegou a R$1,2 mil, que é exatamente a metade do teto do setor privado, de R$2,4 mil. Para os salários até aquele valor, não será cobrada a contribuição. As pensões de até R$2,4 mil não têm qualquer tipo de desconto, dando segurança para a família dos servidores. Isso é um avanço para o processo de negociação.

Em relação à Justiça, o Supremo Tribunal Federal solicitou as informações dos diversos Estados da Federação, mas apenas seis Estados encaminharam os dados da folha de pagamento do Judiciário. Por isso, só se conhece a folha de pagamento do Poder Judiciário de seis Estados. O menor salário é de R$27 mil, no teto; e o maior, R$52 mil. Eu pergunto se, em um País em que 40 milhões estão fora da Previdência e que o salário mínimo é de R$240,00, não temos que votar um subteto. É evidente que temos.

O critério encontrado pela Câmara dos Deputados, de fixar o teto em 85,5% do salário do Ministro do Supremo, que está em torno de R$18.000,00, é o que estabelece o art. 93 da Constituição. É exatamente a média do critério estabelecido na Constituição; portanto, tem amparo constitucional e um critério técnico para chegar a esse ponto de equilíbrio, e creio ser um caminho promissor para que possamos respeitar a independência e a liberdade do Judiciário, o papel fundamental que exerce, a auto-estima e o prestígio que esse Poder tem que ter na sociedade, dentro de regras, que são as restrições orçamentárias que enfrentamos.

Por isso somo-me àqueles Parlamentares que votaram com responsabilidade. Quero, desta tribuna, citar a importância que teve a atitude da Base do Governo de sustentar aquele projeto. E mais do que isso: os 33 Parlamentares do PFL que votaram, ontem, a favor da reforma contribuíram com o País; o PSDB, como Partido que tomou a posição de votar favoravelmente à reforma, deu uma demonstração de grandeza política e de responsabilidade pública.

Há momentos na História em que temos que nos guiar por esse espírito público de compromisso com o horizonte, de coragem cívica, de capacidade de enfrentar a diferença que temos, a legitimidade de disputar o poder, cada um pelo seu Partido, pela sua legenda, pela sua bandeira, mas entendendo o que está em jogo, nesta Nação, a importância que estamos dando para reequilibrar as finanças públicas a médio e longo prazo, não apenas para o Governo Federal, mas para os Municípios, que vivem uma situação de penúria, os Estados, que não podem suportar os encargos dos servidores que aí estão, sobretudo porque a folha de pagamento de inativos supera a dos ativos.

Por isso tudo, Sr. Presidente, quero dizer aos manifestantes que aí estão que a negociação foi feita à exaustão, 340 audiências foram realizadas com o relator da Câmara, todas as mediações possíveis foram feitas dentro da visão de justiça social, inclusive porque vai se reduzir - e essa é uma das emendas - os encargos dos autônomos, para incluir 40 milhões de pessoas que estão fora do sistema. Esta é uma dimensão fundamental: a justiça com a sustentabilidade fiscal e financeira.

Concluo, Sr. Presidente, dizendo que eu tantas vezes vim a esta Praça ao longo da minha militância e lutei para que isto pudesse ser possível na democracia: a liberdade de manifestação, de pressão sobre os poderes, o que é legítimo, democrático e correto, mas não venham atirar pedras neste Poder, porque não vão intimidar os homens que aqui estão. Nós votaremos com a nossa consciência e vamos defender esta Casa, como fizemos no passado com a ditadura. Respeito os servidores e quero dizer, como comecei: tenho absoluta convicção porque pude assistir à manifestação pela televisão. Não foram os servidores. São minorias que, infelizmente, até pela sua juventude, não sabem o que é a ditadura, não sabem o sentido de ter um Parlamento livre, aberto, e que possam eles vir aqui decidir no futuro o destino da Nação, mas venham pelo único caminho que esta Instituição permite: pelo voto e representar o povo brasileiro, pois esse é o único caminho para o Estado de Direito, para a liberdade democrática e para esta Nação se construir como uma Nação civilizada, cidadã, justa e solidária.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/08/2003 - Página 22466