Discurso durante a 91ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Autoridade moral do PSDB para apontar erros do governo. (Como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Autoridade moral do PSDB para apontar erros do governo. (Como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 07/08/2003 - Página 22468
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • DECLARAÇÃO, CAPACIDADE, ETICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, CONTRADIÇÃO, POSIÇÃO, REFORMULAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL, REFORMA TRIBUTARIA, TOLERANCIA, MOVIMENTO TRABALHISTA, SEM-TERRA, INEFICACIA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, EFEITO, REDUÇÃO, INVESTIMENTO, CAPITAL ESTRANGEIRO, BRASIL.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, acabo de ouvir a palavra serena e, como sempre sincera, do Líder Aloizio Mercadante. S. Exª, com muita altaneria, registra aqui o agradecimento e o valor de partidos e pessoas que souberam, ao longo do tempo, manter a sua coerência com o passado recente.

Tenho a impressão, então, Sr. Presidente, que, como Líder do PSDB nada tenho que explicar a ninguém sobre a coerência do meu Partido, que é capaz de pagar os seus preços para ficar com seus princípios e, assim, mais do que nunca, se sente com autoridade moral para estabelecer pontos de crítica a equívocos do Governo que aí está. Por exemplo, dizíamos há anos que as reformas eram essenciais, mas elas eram chamadas e estigmatizadas como neoliberais, inimigas das liberdades do povo, de direitos adquiridos e o Governo hoje em dia sabe que, sem mexer profundamente na estrutura esclerosada deste País, não consegue levar , com êxito, um governo.

É cômodo para mim e é gratificante, apesar de não gostar do termo, poder dizer isso desta tribuna.

Da mesma maneira e levando em conta que o Governo saiu de uma posição para outra em relação às reformas, faço aqui alguns alertas: não deixem que se instale uma crise de autoridade neste País. Não gosto do binômio anarquia-repressão. Prefiro a normalidade em que vivemos durante oito anos de um governo, que pode ser criticado porque eu queira fazê-lo, mas que, sem dúvida, com muita serenidade, consolidou o processo democrático nesta terra.

Não gosto da idéia de que se esteja questionando o direito de propriedade nesta terra sob a leniência, uma certa leniência do Governo Federal. São o Movimento dos Sem-Teto, o Movimento dos Sem-Terra, o movimento dos sem-juízo, o movimento dos sem-história, o movimento de todos aqueles que imaginam que há um país a ser desestabilizado, quando entendo que tem uma economia a ser consolidada, a partir de emissões de mensagens corretas e justas para os investidores, para agentes econômicos, para a sociedade brasileira como um todo.

Temos dito que este Governo, que não teve a não ser que aprofundar a política macroeconômica que herdou, começa a pecar no macroeconômico. Porque, no macroeconômico, ele é tímido demais, pode rebaixar juros e não o faz.

Chego a dizer, Sr. Presidente, que é tão grave e tão tresloucado alguém rebaixar os juros só porque quer, numa declaração de vontade, quanto é grave e tresloucado não se baixar todo o juro que se pode para se propiciar um clima de mais otimismo em torno da retomada do crescimento econômico deste País.

Temos dito e temos alertado o Governo, e agora não se pode duvidar da nossa boa-fé para com o País, da nossa boa-fé inclusive para com o gesto do Governo que coincidam com os nossos, que este Brasil não pode tratar o microeconômico do jeito como faz o atual Governo. E a linguagem que o Governo usa em relação às agências é uma linguagem, a meu ver, pouco amadurecida, pouco responsável, porque começa a afugentar investidores de médio e de longo prazo, e isso terminará acarretando complicações para os próprios desígnios macroeconômicos do Governo.

Quando digo que há uma inércia administrativa e um Governo que demora a operar, que não começa a agir, sabem os Líderes da Base governista que não me move nenhum sentimento de revanche, não me move nenhum sentimento menor, que não me move nada a não ser alertar o Governo, cumprindo o meu papel de oposição, para que cumpra efetivamente com o seu papel de governo.

Termina sendo bom o episódio de ontem, porque, daqui para frente, sinto-me com muito mais autoridade para ser o parceiro, que não bajulará, que não brigará por cargos, para ser o parceiro que alertará, em linguagem dura, macia, mais ou menos macia, mais ou menos dura, do jeito que nos parecer conveniente na hora.

Então, alerto para a inércia administrativa, alerto para o assembleísmo. Governo, a meu ver, no presidencialismo, não opera com conselhos, opera a partir de decisões firmes que saiam - e saiam inabalavelmente firmes - depois de muita convicção democrática de se estabelecer em todos os caminhos legítimos que o governo possa ter para tomar decisão. Governo não se faz com conselhos.

No microeconômico, a coisa vai muito mal. Vejo o esboço de um certo nacionalismo fora de moda, démodé, ameaçando o convívio com investidores, que podem muito bem completar o espírito que me parece justo de se fazer o Brasil crescer sustentadamente, a partir de reformas estruturais necessárias.

Portanto, Sr. Presidente, quando encerro a minha fala, quando digo ao Brasil e quando me reporto ao Governo a respeito do quadro que aí está, eu o faço diante de uma sociedade com sua economia estagnada, diante de uma sociedade que tem batido, mês a mês, recordes de desemprego, diante de uma sociedade aturdida - e aí quero compreendê-la -, porque ouviu um discurso na campanha e está vendo outro na prática do Governo. Alguém me pergunta: “Você prefere o discurso da campanha ou aquela coisa tímida, que quase não foi divulgada, que é a chamada Carta aos Brasileiros?” Prefiro a Carta aos Brasileiros, mas ela foi tão timidamente posta que o que ficou no imaginário popular foi a promessa de dez milhões de empregos e a idéia de se fazer conciliar alto crescimento econômico imediatamente com baixíssima inflação. E nós sabemos que isso não é possível, se formos à essência do que pode realizar a economia em consciência a favor do povo e da sociedade.

Portanto, o PSDB volta aqui para dizer que jamais se furtará a cumprir com o seu dever; apenas procurou fazê-lo sem recurso à violência, por um lado, e, por outro lado, sem leniência para com o que diz respeito, por exemplo, ao direito à propriedade. O PSDB continuará cumprindo o seu dever e fazendo o alerta duro, às vezes amargo, mas firme e patriótico, de quem está vendo um Governo perder os seus ganhos no macroeconômico por timidez, perder a perspectiva de governo pela inércia administrativa e pelos equívocos que têm sido monstruosos em relação às agências reguladoras e aos investidores, num movimento - e aí concluo, Sr. Presidente - que já não é mais nem sequer o movimento do não-investimento do Brasil. É um movimento mais grave, é um movimento de desinvestimento. Não é alguém que opta por não investir no Brasil, preferindo, por exemplo, o México; é alguém que opta por tirar os seus investimentos do Brasil, aqui desempregando, em função da falta de confiança e de um risco que cresce, que se deslocou do macro para o micro e que, agora, volta para o macro, criando um quadro que é de fim de lua-de-mel efetiva do Governo com a sociedade, por um lado, com Wall Street e com os investidores internos, por outro lado. Muito obrigado. Fica o alerta.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/08/2003 - Página 22468