Pronunciamento de Ana Júlia Carepa em 06/08/2003
Discurso durante a 91ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Desagravo ao jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, em razão do constrangimento que lhe foi imposto pelo site Observatório da Imprensa, que chegou a atribuir-lhe autoria de uma matéria que foi criminosamente enviada à publicação em seu nome.
- Autor
- Ana Júlia Carepa (PT - Partido dos Trabalhadores/PA)
- Nome completo: Ana Júlia de Vasconcelos Carepa
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
IMPRENSA.:
- Desagravo ao jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, em razão do constrangimento que lhe foi imposto pelo site Observatório da Imprensa, que chegou a atribuir-lhe autoria de uma matéria que foi criminosamente enviada à publicação em seu nome.
- Publicação
- Publicação no DSF de 07/08/2003 - Página 22528
- Assunto
- Outros > IMPRENSA.
- Indexação
-
- DEFESA, JORNALISTA, ESTADO DO PARA (PA), VITIMA, FRAUDE, FALSIFICAÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, REMESSA, INTERNET, DENUNCIA, DESRESPEITO, EMPRESA JORNALISTICA, INJUSTIÇA, DESCONHECIMENTO, ESCLARECIMENTOS.
vA SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria de fazer um breve registro em desagravo ao jornalista paraense LÚCIO FLÁVIO PINTO, em razão do constrangimento que lhe foi imposto pelo site OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA, que chegou a atribuir ao jornalista a autoria de uma matéria que foi criminosamente enviada à publicação em seu nome, mesmo após este ter enfaticamente comunicado ao site que não era o autor do escrito, tendo na verdade, sido vítima de uma falsificação de seu e-mail.
O jornalista Lúcio Flávio Pinto é um dos mais proeminentes profissionais da imprensa brasileira, em particular da Amazônia. Editor de uma experiência singular no jornalismo local, quinzenalmente à dezesseis anos publica o Jornal Pessoal, espaço de debate e informação sobre temas candentes que surgem na maior região do Brasil, tendo sido já por diversas vezes premiado, inclusive internacionalmente.
No início de julho de 2003, o Observatório da Imprensa recebeu um e-mail em nome do jornalista, no qual o remetente prometia fazer denúncias sobre a conduta de jornalistas atuantes na grande imprensa nacional, os quais supostamente agiriam como o malfadado repórter do The New York Times, Jayson Blair, recentemente desmascarado por fraudar o conteúdo de diversas matérias.
Ao tomar conhecimento do fato, o jornalista Lúcio Flávio Pinto imediatamente comunicou a fraude ao editor de plantão do Observatório da Imprensa, declarando peremptoriamente não ser o autor da reportagem. Para sua surpresa, recebeu a seguinte resposta do editor-assistente Luiz Antônio Magalhães, a qual reproduzo sua parte principal :
“O caso do artigo enviado na semana passada será tema de debate na próxima edição do Observatório. Nos investigamos o caso - inclusive rastreando o e-mail do Yahoo que foi usado para passar a matéria - e temos evidências suficiente para concluir que o texto é realmente de sua autoria. O Klester e o Cláudio Ângelo deverão escrever a respeito, o Dines comentará o episódio e Marinilda e eu escreveremos um texto contando a história da investigação posterior. Pretendemos dar conhecimento a você do material produzido por nós e abrir espaço para sua defesa.”
Pode-se imaginar a situação kafkiana e inédita na qual se encontrou o jornalista, acusado de produzir uma matéria na qual, por sua vez, seriam acusados diversos profissionais da imprensa de fraudarem suas reportagens e, mesmo diante de sua veemente negativa, alertando inclusive que o e-mail enviado ao Observatório não era o que usualmente utilizava, mas sim um criado no site Yahoo, via-se diante da possibilidade da malfada falsificação ser publicada com sua assinatura.
Felizmente, a matéria não foi ao ar tendo sido descoberto a tempo que o e-mail de onde provira fora criado em São Paulo, configurando claramente a fraude perpetrada contra o jornalista Lúcio Flávio Pinto.
Apesar disso, não é admissível a postura inicial do Observatório da Imprensa, admitindo como verídica uma reportagem, mesmo diante da negativa veemente de seu suposto autor, e ameaçando veiculá-la contra a vontade deste.
Há sempre de se lembrar, especialmente em um momento como o atual, que têm surgido no Brasil e no mundo evidentes sinais de intimidação à liberdade de imprensa e que um dos principais esteios desta garantia constitucional é a credibilidade e a responsabilidade dos meios de comunicação em praticar um jornalismo plural e sustentado em fatos e dados sólidos, evitando a todo custo o sensacionalismo fácil.
Era o que tinha a dizer.