Discurso durante a 92ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar ao empresário e jornalista Roberto Marinho. (Como Líder)

Autor
Paulo Octávio (PFL - Partido da Frente Liberal/DF)
Nome completo: Paulo Octávio Alves Pereira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar ao empresário e jornalista Roberto Marinho. (Como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 08/08/2003 - Página 22594
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ROBERTO MARINHO, JORNALISTA, EMPRESARIO, REDE DE TELECOMUNICAÇÕES, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), RELEVANCIA, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, PAIS.

O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF. Como Líder.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vivemos hoje um dia de constrangimento e desolação, sentimento de perda, mas não podemos estar tristes. A Nação brasileira haverá de rememorar por infindáveis anos o dia de hoje, 7 de agosto, como um marco na história da cultura e do jornalismo brasileiro.

Este é um daqueles raros dias em que o tempo se segmenta e com ele a história, demarcando a fronteira do passado com o futuro, sem considerar o presente. Estou falando, Sr. Presidente, da morte do Dr. Roberto Marinho.

O dia de hoje é o presente, é este vazio, atropelado pela grandiosidade da vida e do passado desse grande brasileiro. E todo o legado que fica de sua enorme obra passa ao tempo futuro, pois são os frutos, exemplos, empreendimentos e enormes lições de empreendedorismo e de humanidade que ficam para balizar o futuro da cultura nacional e da História do Brasil.

Estamos todos constrangidos e desolados pelo sentimento de perda, o que é natural. Os legados do grande jornalista, do grande comandante de empresas encerram-se com a extinção da vida desse homem que fez parte da História e testemunhou todos os grandes momentos da vida brasileira do século passado.

Mas não temos o direito de estar tristes. É preciso lembrar que o Dr. Roberto, a par do empresário e do intelectual que foi, foi também, e sobretudo, um grande animador de espetáculos, um produtor de alegria, um homem que por meio da televisão levou entretenimento e diversão a todos os brasileiros.

Foi o chefe da grande companhia da alegria, como podemos caracterizar também a sua rede de televisão.

Impulsionado pela coragem e ousadia do empresário moderno, sempre investiu muito na modernidade e na qualidade, predicados essenciais para que um conglomerado como a Rede Globo de Televisão se afirmasse no contexto do mundo globalizado de hoje.

Coragem, tenacidade e obstinação nunca faltaram a esse homem que foi capaz de contribuir de maneira imensurável para a melhor qualidade de vida de milhões de pessoas, homens, mulheres e crianças, dos mais remotos rincões deste País.

Levou alegria, diversão, cultura e, logicamente, informação a todo o Brasil, como um agente de integração daqueles brasileiros menos aquinhoados pela sorte e de longínquas paragens, aos hábitos e costumes da vida moderna, das grandes cidades e das gerações do asfalto.

Não bastasse isso, Sr. Presidente, Roberto Marinho criou a Fundação que leva o seu nome, uma das mais meritórias instituições com que o País já contou em diversos setores da cultura, com destaque especial no campo das Ciências, das Artes, do Patrimônio Histórico e Artístico, da Literatura e da História, além do mecenato que incluiu substancial ajuda financeira e proporcionou a recuperação de tesouros ameaçados de perecimento irremediável por carência absoluta de recursos.

E, na projeção que o Brasil pode ter até bem pouco tempo atrás no contexto internacional, por meio da divulgação do esporte, da nossa música, da nossa cultura, particularmente pelas artes cênicas, Roberto Marinho teve papel fundamental. Foi quando, há 20 anos, começou a exportar para o mundo as novelas produzidas pela Rede Globo, ainda antes da banalização do uso dos satélites. Antes da famigerada globalização, Roberto Marinho já estava fora do Brasil vendendo a nossa cultura, divulgando a nossa imagem e contribuindo para a afirmação do Brasil no contexto das nações desenvolvidas.

Na política, Sr. Presidente, fez parte da história republicana do século passado.

Repórter de O Globo, com 21 anos de idade, assume a direção do jornal 24 dias depois de sua fundação, em conseqüência da morte do pai, jornalista Irineu Marinho. O filho sucederia o pai e começaria a mais longa direção de um jornal. A linha familiar alcançaria três gerações.

Ao completar 94 anos, Roberto Marinho, ainda no centro de gravidade da maior rede nacional de rádio e televisão, começa a deslocar-se para o segundo plano nas empresas, cujo comando vinha passando aos filhos.

Conviveu com figuras exponenciais do jornalismo brasileiro, como David Nasser, Nelson Rodrigues, Carlos Lacerda, Samuel Wainer, Herberto Mosses, seu colaborador no Globo, e Assis Chateaubriand, e exerceu papel importante nos Governos de Getúlio Vargas, apoiando o Presidente com suas publicações.

Sr. Presidente, neste dia em que a imagem do Dr. Roberto Marinho, esse brasileiro que tanta contribuição trouxe a este País e tanto poder e influência exerceu ao longo de um dos mais importantes períodos da história política e econômica brasileira do século XX, está viva em nossas memórias, não posso deixar de dar meu testemunho do cidadão, do ser humano e do amigo que foi Roberto Marinho.

Tive a honra e a felicidade de poder conviver estreitamente com esse homem, em 1992, durante as Olimpíadas de Barcelona, na Espanha. Eu e meus filhos fomos anfitriões do Dr. Roberto, durante pelo menos vinte dias naquele ano, em um barco ancorado ao largo da costa daquela maravilhosa cidade espanhola. Assistimos juntos aos jogos olímpicos e convivemos com a rica e incomparável personalidade de um homem muito culto, educadíssimo, extremamente sensível, solidário, carinhoso com os amigos e extremamente simples.

Nossos vinte dias de convívio foram, para mim e para meus filhos, uma grande experiência humana, um aprendizado de vida e de muita alegria. E é essa alegria que nos move, hoje, a lembrá-lo, já com saudades e com imenso sentimento de vazio pela sua morte.

Encerro esta minha singela homenagem póstuma a esse grande homem, sentindo como se estivesse ainda muito próximo, com sua proverbial cultura e grande bom humor, chamando-nos a atenção para a importância da alegria e da paz de espírito, situações que Roberto Marinho procurava sempre preservar em seu dia-a-dia, durante toda a sua existência.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/08/2003 - Página 22594