Discurso durante a 92ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Parabeniza a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, que amanhã completará 26 anos sua de fundação.

Autor
Ana Júlia Carepa (PT - Partido dos Trabalhadores/PA)
Nome completo: Ana Júlia de Vasconcelos Carepa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. DIREITOS HUMANOS.:
  • Parabeniza a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, que amanhã completará 26 anos sua de fundação.
Publicação
Publicação no DSF de 08/08/2003 - Página 22692
Assunto
Outros > HOMENAGEM. DIREITOS HUMANOS.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, SOCIEDADE, ESTADO DO PARA (PA), DEFESA, DIREITOS HUMANOS.
  • ANALISE, PERIODO, CRIAÇÃO, ENTIDADE, REGIME MILITAR, DEFESA, JUSTIÇA, DEMOCRACIA, REGISTRO, IMPORTANCIA, CIRCULAÇÃO, JORNAL, COMBATE, VIOLENCIA, INJUSTIÇA, ARBITRARIEDADE, EXPECTATIVA, MANUTENÇÃO, GRUPO, DIREITOS HUMANOS, GARANTIA, LIBERDADE.

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo esta tribuna, na tarde de hoje, para render homenagens à Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos que amanhã completa 26 anos de luta e utopias.

Em uma conjuntura marcada pela violência, intolerância e arbitrariedade, nasceu a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos. Era 08 de agosto de 1977, período em que o Brasil vivia sob o jugo da tirania da ditadura militar.

Desde seu início, congregou as vozes que se opunham ao regime militar e se constituiu na voz dos cidadãos que tinham seus mais básicos direitos violados, seja no campo seja na cidade no Estado do Pará.

Como uma obra nascida do caos, uma nova ordem se fazia necessária e devia ser marcada pelo imperativo da justiça, da democracia e pelo respeito aos direitos da pessoa humana. Era a síntese possível de reunir, a um só tempo, naquela hora, revolucionários, democratas, religiosos, intelectuais, estudantes, trabalhadores do campo e da cidade, homens e mulheres, enfim, todos aqueles que se opunham ao regime militar e que se dispunham a "Resistir".

Logo se fez necessária a criação de um instrumento de divulgação, de comunicação. Assim, nasceu o jornal Resistência, pois resistir era o "primeiro passo". Tratava-se, na verdade, de um código para fazer a defesa política do país, afim de proceder às grandes conquistas que a sociedade ansiava. Era necessário trazer de volta todos os amigos que precisaram fugir, "como num rabo de foguete"; então, se fez necessária a luta pela anistia. Era necessário conquistar a terra; então, se fez a luta em defesa dos posseiros e da Reforma Agrária. Era preciso ter onde morar; então, se fez a luta pela moradia. Fazia-se necessário denunciar toda violência, injustiça e arbitrariedade cometida contra cada mulher, negro e criança; então, lá estava o Resistência noticiando, informando e formando gerações inteiras que cresceriam com a semente da cultura em Direitos Humanos.

E, como fermento na massa, a SDDH, por intermédio de seus militantes, ganharam ruas, feiras, praças, fábricas, campos e rios. Com um sentimento no peito e um jornal na mão, era a hora de garantir o retorno das liberdades democráticas; então, se entornou o caldo da luta pelas "Diretas". Em cada passo havia uma cerca, um dedo duro ou uma bala. Tal como a regra, a luta em defesa dos Direitos Humanos e pelo fim da ditadura militar pressupunha um sério risco de ser preso, espancado ou morto. Não foram poucas as vezes em que a SDDH teve seu jornal apreendido, seus dirigentes tendo que responder a inquéritos nos termos da famigerada Lei de Segurança Nacional, sofrendo atentados e um incêndio à gráfica que imprimia o jornal Resistência.

Como se não bastasse tudo isso, como se não fosse suficiente tamanha violência, as armas do latifúndio e do crime organizado não hesitaram em ceifar a vida de dois ex-presidentes dessa entidade: Paulo Fontelles e Jaime Teixeira. Presto também minhas homenagens póstumas a uma mulher de fibra, guerreira, que lutou contra a ditadura militar e que, além da SDDH, ajudou a construir grande parte das organizações sociais populares do Pará, mas que Deus já levou pra junto de si: Isa Cunha, ex-presidente e fundadora da SDDH.

Ao longo desses vinte e seis anos, mais do que os defensores de direitos humanos, foram os desvalidos desses direitos os mais sacrificados nos conflitos de terra, na luta do sindicalismo rural, nas delegacias, vitimados pela tortura ou por execuções sumárias.

Lamentavelmente, ainda hoje ostentamos tristes cifras de violência, seja institucional ou não. Ao contrário do que parece, a história da SDDH, a mais bela de ser contada, é a história que ela também é o berço de várias outras entidades de Direitos Humanos que nasceram no seu seio, dela surgiram entidades de defesa de negros, mulheres e crianças e que hoje produzem um vigoroso trabalho em suas áreas. É a história também de vários sindicatos combativos que foram criados ou ganhos dos pelegos, de associações de moradores e outros movimentos que tiveram o apoio da SDDH e que dão continuidade a dura tarefa de construir a justiça e a cidadania.

A SDDH é assim, feita de utopias, sonhos e coragem, esse material mágico trazido por dezenas de Advogados, Assistentes Sociais, Sociólogos, Psicólogos e outros profissionais. É a escola de gerações inteiras que por lá passaram e, hoje, estejam onde estiveram, levam consigo as sementes de um mundo de justiça e de liberdade.

Oxalá daqui a 26 anos, a frente desta tribuna possa ser novamente ocupada, não para falar da luta pelos Direitos Humanos, posto que esta já não será mais necessária, visto que tais valores já estarão gravados como fogo no coração de nosso povo, mas, simplesmente para saudá-la como conquista.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/08/2003 - Página 22692