Discurso durante a 97ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao ex-Senador Dinarte Mariz pelo transcurso dos cem anos de seu nascimento.

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao ex-Senador Dinarte Mariz pelo transcurso dos cem anos de seu nascimento.
Aparteantes
Marco Maciel.
Publicação
Publicação no DSF de 15/08/2003 - Página 23516
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, DINARTE MARIZ, EX SENADOR, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), REGISTRO, BIOGRAFIA, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, meu caro Eduardo Mariz, a quem cumprimento, nominando em você os filhos de Dinarte; minha cara Beth, neta de Dinarte, a quem homenageio como representante dos netos do velho Dinarte presentes nesta homenagem, normalmente o Regimento recomenda que a primeira palavra em sessão de homenagem seja concedida ao primeiro subscritor. Foi muito bom que tivesse falado o Senador Efraim Morais, nosso vizinho paraibano, estimadíssimo amigo, precedendo-me, porque S. Exª disse aquilo que não preciso mais dizer, ou seja, quem foi Dinarte como homem público e como cidadão, deixando-me confortável para fazer o discurso fraterno, filial, de quem conheceu - deixa eu chamá-lo assim - o velho Dinarte.

Em 1955, quando eu tinha 10 anos de idade, e ele já tinha 52, 53, eu era menino, em Mossoró, e ele já era senador, candidato a governador. Eu era filho de Tarcísio Maia, seu amigo, correligionário da velha UDN, líder político de Mossoró, onde ele não era majoritário, e que o recebia em Mossoró para apoiar a sua candidatura a governador do Rio Grande do Norte. Eu tinha 10 anos, ele tinha 52 aproximadamente; eu era um menino e ele já era senador, candidato a governador. Ele morreu em 1984, quando ia fazer 81 anos. Nessa época, eu tinha 39 anos e já era, Sr. Presidente, Governador do Rio Grande do Norte. Veja como são as coisas da vida, como os caminhos se cruzam!

O discurso que eu queria fazer, Srªs e Srs. Senadores, é o discurso fraterno, uma homenagem de quem conviveu com Dinarte a vida toda: como menino, como rapaz, como estudante, como profissional, como engenheiro, como político. Devo dizer, Sr. Presidente, que foi de Dinarte Mariz que recebi os melhores ensinamentos para a minha vida pública. Dinarte ganhou a eleição em 1955 e fez do meu pai o seu Secretário de Educação. Eu, menino, fui morar em Natal nessa ocasião. Meu pai era secretário, e Dinarte, governador.

Não sei se Eduardo se lembra, mas quando Dinarte ganhou a eleição perguntou a Tarcísio, meu pai: “Tarcísio, você quer ser secretário de quê? Você pode escolher a secretaria que vai ocupar”, tal a amizade que os unia, tal o nível de confiança que os conectava. Tarcísio foi ser Secretário de Educação, para fazer talvez a maior obra de Dinarte governador: os dois institutos de educação e para ajudar Dinarte a trazer a Universidade Federal do Rio Grande do Norte para nossa capital; para fazer do Rio Grande do Norte um Estado que se voltava para o futuro, porque, naquela época, em 1956, 1957, 1958, já era sede de uma universidade.

Tarcísio, depois, candidatou-se a deputado federal e se elegeu. Continuaram amigos e foram para o Rio de Janeiro. E lá fui eu para o Rio de Janeiro. Menino já mais taludo, estudante, e Dinarte morando no Morro da Viúva. Convivi com Dinarte, Dona Diva, com os filhos, com Wanderley, com todos e assisti aos telefonemas intermináveis de Dinarte para Tarcísio. Lembro-me como se fosse hoje, Tarcísio na cama do apartamento da Domingos Ferreira, no Rio de Janeiro, conversando com Dinarte uma hora inteira pelo telefone. Era assunto para ninguém acabar, produto de uma amizade limpa, sincera, de uma vida toda.

Sr. Presidente, são essas as memórias que guardo de Dinarte. Formei-me em Engenharia, e o meu pai não era mais político, havia desta vez perdido a eleição para deputado federal. Dinarte continuava líder político enquanto eu era estudante, quer secundarista quer universitário. Na companhia do meu pai que nunca deixou de ser amigo de Dinarte, eu freqüentava o Palácio Monroe e, aqui e acolá, o velho Senado. E foi lá que conheci figuras pelas mãos sempre generosas e atenciosas de Dinarte. Ele me chamava de Zezinho. Apresentava-me a Daniel Krieger, Felinto Muller, Nilo Coelho, figuras da maior importância a quem Dinarte apresentava aquele menino, filho de Tarcísio.

Formado em Engenharia, voltei para o meu Estado, morei em Caicó, terra de Dinarte, lá construí uma estrada que passava pela porta da Fazenda Solidão, onde convivia - e como convivia! - com José Bernardo, irmão de Dinarte, que tomava conta da fazenda e que me servia nos fins de tarde uma maravilhosa goiabada com queijo de coalho. Lembro-me demais das vezes em que Dinarte chegava à Fazenda Solidão e, sistematicamente, eu ia lá conversar um pouco com o velho. O velho Dinarte, amigo do meu pai, meu amigo.

Fui para o Maranhão, já formado em Engenharia, para ser Diretor-Presidente de uma empresa do grupo para o qual eu trabalhava. Enquanto eu fui estudante, engenheiro, nunca precisei de Dinarte. Eu convivia com ele, e ele me tratava maravilhosamente bem como filho de Tarcísio e me considerava. Isso me enchia de orgulho, porque ele me considerava, me tratava com distinção. Até que, no Maranhão, precisei de Dinarte. Aí eu já era empresário. Telefonei-lhe e disse: “Dinarte, estou presidindo uma empresa no Maranhão, que tem um envolvimento tecnológico forte, que beneficia integralmente o coco babaçu. Estamos fazendo aqui amido, álcool a partir da farinha do melaço do babaçu. Estamos fazendo óleo e torta, a partir da prensagem da amêndoa. Estamos fazendo coque siderúrgico a partir da destilação do endocarpo, que é a madeira do coco. E esse coque siderúrgico, que é puríssimo, precisa dar um salto tecnológico, é preciso transformá-lo em briquete. O carvãozinho pequeno tem que ser moído e agregado, para ter uma destinação mais nobre, em fundições nobres”.

E eu não tinha alcance em Brasília para pedir aquilo que eu sabia que era possível: o financiamento para desenvolvimento tecnológico. E eu precisava da sua ajuda. Portanto, liguei para ele, que me atendeu na hora. Ele era 1º Secretário do Senado, ele era o que V. Exª é hoje, Senador Romeu Tuma. Pedi-lhe audiência com o Dr. José Bautista Vidal, que era o então Diretor ou Presidente da STI - Secretaria de Tecnologia Industrial, e ele me respondeu: “Zezinho, passe-me um fax, dizendo o que quer, que vou providenciar essa audiência”. Reagi, porque, quem trabalha em empresa privada, quando ouve um pedido de fax, acha curioso, considera como burocracia. Pensei: “Será que o velho vai me falhar?” Mas passei o fax e, no dia seguinte, veio a resposta do velho, por telefone, dizendo que a minha audiência estava marcada, que eu poderia ir e que ele me acompanharia. Aí, sim, voltei a ter o velho Dinarte na conta que sempre tive: providencial, atento.

Cheguei em Brasília, fomos ao Dr. Bautista, consegui os recursos, e voltei ao gabinete de Dinarte - gabinete que hoje eu ocupo, na ala que tem o seu nome por sugestão minha - Ala Dinarte Mariz.

E lembro-me ainda, Eduardo, que, de frente para ele, no bureau, eu disse: “Dinarte, agora terei que ir a São Paulo. Você manda alguém me deixar no aeroporto?” Ele disse: “Zezinho, aqui não lhe falta nada.”

Eu não era eleitor no Rio Grande do Norte, morava fora; Tarcísio, meu pai, não era mais liderança política, morava no Rio de Janeiro; Dinarte não precisava de mim para nada. Mas o gesto dele foi imediato: “Aqui não lhe falta nada.” Tanto indo comigo à STI, quanto mandando alguém me levar ao aeroporto, tratando-me com toda a decência - esse é o traço característico do homem solidário, generoso e amigo.

Fui para o aeroporto, voltei para o Maranhão, continuei minha vida.

É indicado Governador do Rio Grande do Norte Lavoisier Maia, que me convidou para ser Prefeito de Natal. Pensei: como Prefeito de Natal? A minha vida inteira fui empresário e nunca tinha visto um processo de serviço público. “Como, Lavoisier, vou ser Prefeito de Natal?” E ele disse: “Eu preciso de alguém com a sua capacidade de luta, que venha a me ajudar sendo Prefeito de Natal - nomeado àquela época - e eu Governador.”

Hesitei, mas terminei aceitando ser Prefeito de Natal. Eu ia para passar quatro anos de minha vida no serviço público e, depois, voltar à atividade privada. E, aí, precisei de Dinarte Mariz várias vezes - ele, Senador, e eu, Prefeito. E todas as vezes que precisei de Dinarte, eu tive um amigo fiel. Terminei a Prefeitura. Acho que me saí de razoável a bem como Prefeito e terminei no limiar de uma nova candidatura. E aquilo que eu imaginava que viesse a acontecer - voltar para a iniciativa privada - não aconteceu, porque queriam que eu fosse candidato a alguma coisa.

E, aí, Dinarte Mariz, com a sua intuição política, intuição à flor da pele, imaginou que, depois de terem sido Governadores Tarcísio Maia, com o seu apoio decisivo, na época da Revolução - Dinarte Mariz foi decisivo para que Tarcísio Maia, à época, fosse escolhido Governador -, e Lavoisier Maia, seria um risco ter outro Maia como candidato a Govenador em eleição direta. Era a primeira eleição direta após a Revolução e ele considerava um risco a minha candidatura pela pecha de oligarquia que se poderia apresentar. E o adversário que se vislumbrava era o tio de Garibaldi Alves, Aluízio Alves, um homem talentosíssimo, que saía de uma cassação, era a grande vítima.

Como deixar o terceiro Maia ser candidato a governador? O talento de Aluízio e a acusação da oligarquia iriam reduzir a pó aquela candidatura. Ele manifestou-se contra num primeiro momento e quem o convenceu foi o pragmatismo, as pesquisas de opinião pública que mostravam que ou o candidato era José Agripino ou a UDN - ou o PDS da época - podia perder a eleição. Porque José Agripino era o candidato que entrava forte no eleitorado de Natal. Antes de ser Prefeito de Natal, ele não existia politicamente, mas, em função da administração - que inclusive Dinarte ajudou José Agripino a fazer - em Natal, ele tinha conquistado muitos adeptos e tinha se transformado num grande eleitor na capital.

Então, ou era ele o candidato ou o sistema poderia perder a eleição e aí Dinarte entrou de cabeça na minha campanha e me ajudou a ganhar a eleição e a ser o primeiro Governador eleito após o período revolucionário.

Lembro-me demais, Eduardo, das vigílias que fizemos juntos. Lembra-se das vigílias? As vigílias foram produto da emulação política entre Aluízio e Dinarte, um de cada lado. Aluízio, esperto, inteligente, líder popular, subia no caminhão às 6 da tarde e descia no dia seguinte pela manhã e Dinarte fazia a mesma coisa, “olho por olho, dente por dente”. E eu herdei essa loucura que eram as passeatas e vigílias. Fiz na campanha de 1982 dezessete vigílias, foram dezessete noites que passei acordado. Subia no caminhão às 18h e teve dia em que desci ao meio-dia do dia seguinte, com uma multidão de 100 mil pessoas acompanhando, para ganhar a eleição junto com Dinarte, na maior vitória da história política do Rio Grande do Norte em termos proporcionais.

Em 1984, Dinarte morreu. Estive aqui no hospital para visitá-lo. Vim ao Salão Negro para acompanhar as suas exéquias. Seu corpo chegou a Natal e o recebi como Governador e acompanhei Dinarte até Caicó.

Guardava de Dinarte os ensinamentos que me passou ao longo da vida.

Eduardo, quando fui eleito Governador, queria que Dinarte indicasse o Prefeito de Natal - ainda era por indicação. E disse isso a ele, que ficou muito honrado e feliz. Quem não quer um pedaço de poder? A prefeitura de Natal era importantíssima. Quando esse assunto chegou ao conhecimento da classe política, um mundo de gente caiu em cima de Dinarte para ser indicado Prefeito.

Percebi que o velho ficou cheio de perna, porque ele tinha me dito algo que não esqueci nunca: “Zezinho, se você acertar, ganhamos todos. Se você errar, nos liquidamos todos”. Aí disse-lhe: “Dinarte, sinto que você está em dificuldades. Que tal se a gente, de comum acordo, encontrar um candidato, um bom técnico para fazer um bom trabalho como Prefeito de Natal?” Ele concordou. Ele abriu mão do poder para que eu fosse um bom Governador.

Dinarte deu-me um conselho, Sr. Presidente, do qual nunca me esqueci: “Conviva com todos, mas escolha os seus”.

Dinarte foi um homem que só teve o primeiro grau, mas foi um homem que valorizou como Governador a educação, porque construiu, na época, os dois maiores institutos de educação do Estado, um em Mossoró e um em Caicó, e trouxe a Universidade, para não falar no Tribunal de Contas do Estado que instalou, pelo homem probo e sério que era e que queria ver as contas públicas bem fiscalizadas.

Dinarte, quando me disse “conviva com todos, mas escolha os seus”, ele estava me dizendo que, em política, há as flores e os espinhos, há os caracteres bons e os caracteres que não são bons. Para você ganhar, tem que agregar. O líder tem que agregar, tem que somar. Some para ganhar, mas governe com aqueles em que você confia, do ponto de vista ideológico, do ponto de vista ético e do ponto de vista pessoal.

Talvez essa tenha sido a maior lição da minha vida pública, porque o meu maior patrimônio político não é o que fiz como Governador por duas vezes, mas a probidade que o povo do Rio Grande do Norte entende de que sou proprietário. Passei pela prefeitura e por dois governos e ninguém atinge a minha honra pessoal. Aprendi a sê-lo com Dinarte.

Dinarte, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, foi um homem probo. Dinarte foi um homem rico e não posso dizer que tenha morrido pobre, mas não morreu rico. Dinarte foi um solidário, um generoso. Dinarte enfrentou os comunistas na Serra do Doutor, foi tido como homem de direita, um anticomunista inveterado. Mas na hora em que os comunistas do Rio Grande do Norte precisaram de uma mão amiga no exílio ou em qualquer lugar, quem esteve ao seu lado foi Dinarte de Medeiros Mariz. Ele não deixava amigo no meio do caminho.

Dinarte foi um líder nato, a quem as pessoas acompanhavam porque ele sabia cultivar, pela relação positiva ele que tinha com as pessoas. Ele não impunha a liderança, ele cativava, ele conquistava o apreço das pessoas. As pessoas aprendiam a querer bem ao velho Dinarte.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o maior legado de Dinarte Mariz ao Estado do Rio Grande do Norte - ele que foi um líder nacional, ele que talvez tenha sido uma das figuras do Rio Grande do Norte com melhor expressão no plano nacional, ele a quem coloco, no plano dos estadistas potiguares, ao lado de Felipe Camarão, de Pedro Velho, de Jerônimo de Albuquerque, de Augusto Severo e de Zé Augusto - foi o nível de consciência política que propiciou ao povo do Estado. Pela emulação que estabeleceu, Dinarte-Aluizio, pelo debate político que estimulou a vida toda, deu maturidade ao povo do Rio Grande do Norte para refletir, para raciocinar e para escolher bem. Talvez esse tenha sido o maior legado de Dinarte. E é em nome desse legado que aqui estou - emocionado, é verdade, não consegui deixar de trair a minha emoção em alguns momentos - para prestar, em nome do povo do Rio Grande do Norte, que me elegeu, esta homenagem a um grande líder, a quem o Estado deve muito, porque, se sabe escolher, o sabe porque contou, na sua vida pública, com um homem sério que se chamou Dinarte de Medeiros Mariz.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - V. Exª me concede um aparte?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Com o maior prazer, Senador Marco Maciel.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Nobre Líder, Senador José Agripino, escuto com muita atenção V. Exª, que traça um perfil correto da figura exemplar do Senador Dinarte Mariz. Quero dizer que, além de subscrever tudo o que V. Exª, com conhecimento de causa, diz a respeito do homenageado, posso também acrescentar o fato de eu haver convivido com Dinarte Mariz, embora eu ainda na Câmara e ele já no Senado, e testemunhado muitos gestos generosos por ele praticados ao longo da sua longa e profícua vida pública. Ele era, antes de tudo, um telúrico. Uma vez João Cabral de Melo Neto disse que o telurismo é a marca de todo homem, mas certamente, o nordestino é mais telúrico do que qualquer outro. A sua personalidade pode começar a ser definida a partir daí. Além disso, foi, como V. Exª salientou, um homem múltiplo: empresário, político e cidadão com uma visão ampla do mundo. É lógico que ele era sobretudo político e, por isso mesmo, pôde, nas diversas funções que exerceu, quer no plano estadual ou no plano federal, ajudar o seu Estado do Rio Grande do Norte e contribuir muito para o desenvolvimento da região nordestina. Tive oportunidade de trabalhar com ele na Cocene, Comissão Coordenadora dos Estudos do Nordeste, organizada basicamente pela Bancada do Partido ao qual pertencíamos, a Arena. A essa Comissão ele trouxe contribuição extremamente positiva, recomendando uma série de ações, algumas das quais implementadas, buscando melhorar a condição de vida do nordestino e, assim, ajudando a corrigir as desigualdades que marcam ainda o País de nossos dias. Por isso, Senador José Agripino, ilustre Líder, cumprimento-o pelo seu discurso. Essa é uma homenagem que o Senado Federal e o Congresso Nacional deviam à personalidade de Dinarte Mariz. Ele constituiu uma grande família, outro traço muito positivo das pessoas generosas. Isso tudo nos ajuda a fazer com que seu exemplo continue entre nós. Esta homenagem, no momento em que celebramos os cem anos do seu nascimento, ajuda-nos a melhor situar o papel que ele teve em diferentes episódios da nossa História. Como disse Ortega Y Gasset, “o homem é também as suas circunstâncias”. A presença de Dinarte Mariz é ainda muito forte entre nós. Ali e acolá, eu me lembro de conversas que com ele mantive, de exemplos que ele deixou. E, por isso, eu posso dizer, repetindo Rui Barbosa na despedida de Machado de Assis, “a morte não divorcia, aproxima”. Dinarte continua próximo de nós, sobretudo a nos orientar nos seus exemplos. Muito obrigado a V. Exª.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Eu é que agradeço ao Senador Marco Maciel o seu aparte substantivo, porque S. Exª conviveu com Dinarte Mariz. É verdade que S. Exª é muito mais jovem do que Dinarte, mas, como começou prematuramente na vida pública, conviveu durante um bom tempo com o Senador Dinarte Mariz, de modo que pode, com muita propriedade, com muita sinceridade, prestar o depoimento sobre Dinarte Mariz.

Lembra-se, Senador Marco Maciel, de que ele era um homem elegante no trato? Ele era quase um dândi. Nascido em Caicó, conhecia o mundo inteiro, freqüentava os bons lugares do Rio de Janeiro e de São Paulo, mas não desconhecia as suas origens. Ele gostava mesmo era de Caicó. Ele, quando chegava ao Rio Grande do Norte, passava uns dias ou horas em Natal e pegava a estrada para Caicó. Tanto que nós sabíamos, por antecipação, que ele queria ser sepultado em Caicó.

Em 1984, eu tinha 39 anos de idade e já era Governador do Rio Grande do Norte, e tive a ventura de prestar as homenagens ao meu amigo velho Dinarte. Um avião particular o levou a Natal, ele entrou na cidade aplaudido pelas pessoas ao longo das avenidas, foi velado em Natal, e daí seguimos de avião para Caicó, onde vi bonita manifestação de uma gente que foi para a rua espontaneamente, para ver pela última vez o seu líder, o seu benfeitor. O mundo de Dinarte era Caicó. Era o telúrico Dinarte Mariz, como V. Exª o chama.

V. Exª precisava ver a multidão, Senador Marco Maciel, no pequeno cemitério de Caicó, no lusco-fusco das seis da tarde - não esqueço nunca -, os soldados da Polícia Militar prestando as últimas homenagens militares, os tiros, e o caixão de Dinarte descendo à sepultura. Não esqueço nunca nem a imagem do sepultamento nem as lágrimas do povo de Caicó, que perdia o seu líder e o seu amigo.

Era isso o que tinha a dizer, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, registrando que o Senado, neste dia, homenageia uma figura que foi muito importante para esta Casa, que muito construiu, como aqui foi dito, e que merece de verdade a homenagem que se presta a ele, o potiguar Dinarte de Medeiros Mariz.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/08/2003 - Página 23516