Discurso durante a 94ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Elogio à abertura de escolas do Rio Grande do Sul nos finais de semana.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • Elogio à abertura de escolas do Rio Grande do Sul nos finais de semana.
Publicação
Publicação no DSF de 15/08/2003 - Página 23705
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • ELOGIO, DECISÃO, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), MANUTENÇÃO, ABERTURA, FUNCIONAMENTO, ESCOLA PUBLICA, FIM DE SEMANA, PARTICIPAÇÃO, ALUNO, FAMILIA, PROGRAMAÇÃO, PRATICA ESPORTIVA, ARTES, LAZER, VANTAGENS, REDUÇÃO, CRIME, VIOLENCIA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 14-8-2003


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DISCURSO PRONUNCIADO PELO SR. SENADOR PEDRO SIMON, NA SESSÃO NÃO DELIBERATIVA ORDINÁRIA DE 11-8-2003, QUE, RETIRADO PELO ORADOR PARA REVISÃO, PUBLICA-SE NA PRESENTE EDIÇÃO.

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O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes) - Concedo a palavra ao nobre Senador Pedro Simon, como orador inscrito, por 20 minutos.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, registro uma medida que considero da maior importância e que penso ser das que devem ser repetidas pelo Brasil. Trata-se de uma decisão singela, mas muito profunda: 51 escolas, no Rio Grande do Sul, estarão permanentemente abertas aos finais de semana, e a meta é chegar a 600.

Uma escola tem tudo o que é necessário para dar aula, para ensinar, mantêm a cozinha para fazer a merenda escolar, mantêm a cancha de esportes para os esportes. As escolas mais bem aparelhadas têm um pátio coberto para o lazer. Isso tudo fica fechado às sextas-feiras à noite, aos sábados e aos domingos. Normalmente, roubos e assaltos são feitos nessas escolas. As pessoas que não têm o que fazer, numa personalidade doentia, quebram, derrubam muro e fazem o que tem de pior.

O ilustre Secretário de Educação do Rio Grande do Sul, um jovem de grande visão e de grande competência, tomou uma decisão singela: reuniu a comunidade escolar, basicamente os alunos e os pais, e estabeleceu uma programação para cada fim de semana a ser definida pela vila.

Havia as mais variadas atividades: ginástica, música, dança, esporte, lazer. Na realidade, a escola transformou-se num clube, e dos melhores, para toda a família. A escola passou a ser o centro comunitário, o centro de discussão, de análise e de conhecimento de toda a família e, principalmente, um grande fator para evitar a violência e a radicalização nas vilas e nas favelas.

Quando o bravo Secretário José Fortunatti - que tive a alegria de visitar - mostrou-me o projeto, confesso que fiquei emocionado, mas pensei que levaria algum tempo até se adquirir esse espírito, até se formar essa convicção, até se criar esse hábito de as pessoas, em vez de se reunirem no botequim, no bar, no baile da favela, seja onde for, reunirem-se num ambiente aberto, cheio de luzes e de famílias - de crianças, pais e mães -, que é a escola.

Fui informado de que essas pessoas receberam a notícia com emoção. As professoras não serão obrigadas a estar ali e fazer hora extra. Ali está o círculo de pais e mestres, a associação dos amigos do bairro, os moradores; mas muitas professoras compareceram espontaneamente para orientar, para coordenar, porque sentiram a importância, o peso e a seriedade do projeto.

Fico a pensar: em um País como o Brasil, onde há tantas coisas por fazer, uma atitude singela, simples, em que não se gasta um centavo, não se altera absolutamente nada, é capaz de transformar cinco mil elefantes brancos - que são as escolas nos sábados e domingos - que não serviam para absolutamente nada em cinco mil clubes de vizinhança, onde há alegria e lazer, onde serão formados clubes de teatro, de dança e música, terá coral e clube de futebol.

O Secretário me disse: “A recepção foi impressionante, também a gama de idéias e a vontade dessa gente de fazer”. No final de semana de uma favela, o rapazinho que estuda de noite ou de dia não tem o que fazer em sua casa, nem na sua rua. Que chance têm essas crianças de ter um novo horizonte, uma perspectiva a mais?

Com esse projeto, essa perspectiva muda completamente. De repente, o jovem terá chance. Agora, coincidentemente, acontecem os Jogos Pan-Americanos em Santo Domingo. Eles assistem ao evento e conhecem o caso de gente simples que veio do zero e se transformou em homem de medalha de ouro; eles vêem quantas e quantas chances podem aparecer. Assim aprenderão a ter educação, a ter respeito, a ter um ambiente sadio, a ter perspectiva de vida onde haja um lar, onde haja amizade, onde haja respeito, onde haja afeto, onde haja compreensão.

O Sr. Efraim Morais (PFL - PB) - V. Exª permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Com o maior prazer.

Também aqui surgirá, tenho certeza, uma quantidade enorme de projetos que já existem em Porto Alegre. Lá, foi criado um clube de voluntários, um serviço de voluntários gratuito. Em Porto Alegre, foi criado o Grupo Parceiros Voluntários. Iniciado pelo Dr. Jorge Gerdau Johannpeter, hoje é presidido por sua esposa, o projeto é espetacular, mas singelo. De um lado, estão as creches, as ruas, os bairros cujas comunidades passam necessidades; do outro lado, pessoas que têm tempo e que querem trabalhar, ajudar. Por exemplo, o contador que tenha quatro horas disponíveis por semana e possa ajudar informa sua disposição. Também aqui surgirá uma infinidade de voluntários, para colaborar, para dirigir, professores de canto, de dança, de música e professoras de esporte oferecerão sua ajuda.

Essa medida, meu bravo Secretário José Fortunatti, é espetacular. Felicito o Governo Germano Rigotto, do Rio Grande do Sul, que com uma medida dessa natureza tem um novo alvo, faz algo realmente novo. Parece mentira, faz algo que, parece mentira, estava na nossa frente. Fui Governador do Estado e nunca apareceu diante de mim uma proposta maravilhosa como essa.

Com muito prazer, concedo um aparte ao Senador Efraim Morais.

O Sr. Efraim Morais (PFL - PB) - Senador Pedro Simon, tive a oportunidade de conhecer o Secretário José Fortunatti que, se não me engano, foi Deputado Federal e, depois, Vice-Prefeito da Capital. Quero parabenizar essa atitude brilhante do Secretário de Educação do Rio Grande do Sul, um primeiro caminho que deve ser copiado por todos os Estados brasileiros. V. Exª disse bem: os voluntários surgirão, e tenho a certeza de que, além deles - esse apelo deveremos fazer -, os empresários também poderão participar dessa grande idéia. Esse programa deve ser copiado não só pelos Governadores, mas pelos Prefeitos. São muitas as escolas brasileiras que podem funcionar aos sábados e domingos, em cada bairro, em cada rua, cidade ou recanto deste enorme País, servindo até como unidade da família, como forma de uni-la. De segunda a sexta-feira, está-se aprendendo, estudando. Por que não transformar a escola, nos sábados e domingos, em meio de valorização da família, patrocinar a união da família, de jovens que, muitas vezes, convivem durante quatro, cinco anos, e não conhecem nem os pais uns dos outros? Leve o meu abraço ao Secretário José Fortunatti, pois sua idéia é simplesmente brilhante. Haveremos de copiá-la; pelo menos é isso que irei sugerir ao meu Estado, a Paraíba. Parabéns a V. Exª por trazer ao nosso conhecimento a idéia brilhante do Secretário, digna de ser seguida por todo o Brasil.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço demais o aparte de V. Exª.

Quero dizer uma coisa muito importante: conversando com o Secretário e com o Governador Germano Rigotto, soube que tudo começou com as pesquisas que eles receberam. Quando há mais violência, inclusive com morte, tiros, brigas, lutas? No fim de semana, principalmente nas sextas-feiras e nos sábados à noite. Por que acontece isso? Porque essa mocidade não tem aonde ir, a não ser os caminhos que a levam ao bar, às danças diferentes, às drogas, aos caminhos que a levam por aí.

Foi baseado nisso que eles chegaram à conclusão de que não adiantava apenas a luta e o esforço para orientar os jovens se não lhes oferecessem algo de positivo, de concreto, alguma ocupação.

Esse clube, essa escola poderia reunir toda a família, estabeleceria uma convivência, todos juntos estudando, tendo atividades; o jovem veria a mãe torcer pelo filho que está jogando, a emoção do pai ao ver a filha dançando música clássica, ver que aquela senhora que se imaginava não ter nada possuir uma voz e entrar para o coral. De repente, podem surgir valores, amizade e profundidade no entendimento.

Temos no Brasil uma grande televisão nacional, que unifica o Brasil inteiro, isso é bom, mas, ao mesmo tempo, esquece porque não tem como olhar para os bairros, para a cidade, para o interior do nosso Brasil. Se pretenderem e conseguirem junto a essas escolas rádios comunitárias, que possam defender, debater, analisar ter programação dessa gente, veremos surgir muitos talentos diferentes, muitas pessoas que estavam talhadas por nada encontrar um caminho.

Há uma jovem gaúcha, Marlova Noleto, representante da Unesco no Rio Grande do Sul, que é extraordinária, uma das mais competentes e mais capazes nessa área. Ela acompanhou e orientou o projeto que tem o apoio e o estímulo da Unesco. A Professora Marlova Noleto, é quem mais entende sobre essa matéria, no Brasil.

Por isso, meu amigo Governador Germano Rigotto, e meu bravo Secretário José Fortunatti, vejo aqui uma daquelas decisões espetaculares, na qual vale a imaginação, a criação, a vontade de buscar algo que é necessário. E fico a pensar: meu Deus, meu Deus, nesse Brasil, quanto tempo, quantas coisas podemos fazer praticamente com pouco. Quantas coisas podemos fazer, sem banco multinacional, sem fundo internacional, sem dólar, sem grandes empreendimentos, sem empreiteira; quantas coisas nosso povo é capaz de criar. E um Governo como o do PT, um Governo popular, acho que o Governo pode ver iniciativas desse tipo e outras tantas que são feitas, em muitos lugares do Brasil, para entender que os programas sociais do Governo são imensos e não dependem apenas de governo, apenas de dinheiro.

Muito obrigado.


             V:\SLEG\SSTAQ\SF\NOTAS\2003\20030814DO.doc 12:36



Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/08/2003 - Página 23705