Discurso durante a 101ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Refutação aos pronunciamentos do Senador Arthur Virgílio sobre a atuação do governo.

Autor
Aloizio Mercadante (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Aloizio Mercadante Oliva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Refutação aos pronunciamentos do Senador Arthur Virgílio sobre a atuação do governo.
Publicação
Publicação no DSF de 21/08/2003 - Página 24489
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • REITERAÇÃO, ANALISE, DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA, EXPORTAÇÃO, SIDERURGIA, AMBITO, HISTORIA, BRASIL, CONTESTAÇÃO, ARTHUR VIRGILIO, SENADOR, CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO, ESCLARECIMENTOS, POLITICA AGRICOLA, ATUALIDADE.
  • DEFESA, POLITICA PARTIDARIA, OPOSIÇÃO, GOVERNO, INTERESSE, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP. Para uma explicação pessoal. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eu gostaria de, primeiramente, dizer ao Líder Arthur Virgílio que duelo é uma coisa antiga. No debate do Parlamento devemos discutir, dialogar, confrontar posições, mas longe de mim tentar impedir que S. Exª fique até 3 horas da manhã para falar por último. Eu acho que V. Exª já deveria inscrevê-lo por último, para termos segurança de que iremos dormir cedo, a fim de amanhã estarmos mais calmos e continuarmos esse debate tão rico que nós temos tido ao longo dos últimos anos.

Mas eu queria dizer, Sr. Presidente, que poucas vezes vi tanta coragem desta tribuna. Porque quando lemos Nietzsche, ele diz que “coragem é defender com convicção aquilo em que não se acredita”. E eu realmente não posso acreditar que o Senador Arthur Virgílio, com a vivência e experiência que tem, possa supor que o resultado espetacular da agricultura brasileira seja resultado de uma política econômica de seis meses. Não.

A agricultura brasileira vem crescendo com sustentabilidade nos últimos três anos, porque os graves equívocos da política de populismo cambial da primeira fase do Governo Fernando Henrique Cardoso foram superados com o câmbio livre. Vem crescendo, porque nós temos vantagens comparativas estruturais. Território; duas vezes mais terra agricultável que a China, apesar de ela colher 435 milhões de toneladas de grãos e nós estarmos colhendo 120 milhões. Isso mostra o caminho a seguir. Nós possuímos 18% da água potável do planeta. Usufruímos índices de solaridade como poucos países. É isso que dá uma vantagem comparativa.

Com uma política agrícola correta e de câmbio equilibrada, a agricultura terá resultados neste e no próximo Governo, porque é um caminho promissor num País como o nosso, principalmente se conseguirmos remover os subsídios dos países ricos, as barreiras comerciais, para expandir a nossa capacidade e fortalecer o mercado interno de massas, para alimentarmos nosso povo de uma forma melhor do que temos feito. Daí as iniciativas como o Programa Fome Zero, o esforço da agricultura familiar. Demos aqui créditos de R$5,6 bilhões; repactuamos a dívida da agricultura familiar; há o Plano Safra; contamos com R$32 bilhões de créditos para a agricultura empresarial, para o agronegócio. Esse é o caminho.

O setor exportador, Sr. Presidente, tem vantagens comparativas estruturais. A mineração é uma vantagem nos últimos quinhentos anos. Por sinal, a descoberta do Brasil já vinha motivada pelo nosso potencial.

Agora, temos de transformar essa vantagem natural das reservas minerais estratégicas em melhor qualidade das exportações, agregando valor, como estão fazendo na siderurgia, na indústria automotiva e na indústria de aviação - o Brasil possui uma empresa aeronáutica que está entre as quatro maiores do mundo. Pela visão histórica da geração, não do Governo anterior, nem do último.

Nos anos 30, começamos a pensar que este País poderia voar. O ITA foi o responsável pela formação de uma geração engenheiros de ponta, que fizeram da Embraer, anos depois, uma empresa capaz de voar. São esses homens públicos que enxergam além dos interesses partidários, além do seu tempo e além de um governo ou da situação em que estão Governo e Oposição, e se movem por princípios, por um projeto e por um compromisso de Brasil, por uma capacidade de diálogo, de tolerância e de interlocução, que fazem a história deste País.

É exatamente por essa biografia do Senador Arthur Virgílio que eu peço a S. Exª que permaneça no caminho do debate com que iniciamos a transição deste País, discutindo para frente, discutindo grande, pensando políticas públicas e pensando menos de quem são os resultados ou de quem são as responsabilidades. É direito da Oposição criticar o Governo; é direito do Governo atual criticar o anterior; é a liberdade de expressão uma razão fundamental do mandato. Nós temos de nos mover e votar pelas nossas convicções, pelas nossas posições e pela discussão de mérito que inspira cada decisão.

Eu tenho certeza que, passado o calor da discussão que faz parte do momento da vida pública, o que é absolutamente compreensível, a qualidade do debate deste plenário - que temos perseguido -, será preservada e, seguramente, , daremos passos fundamentais, aprovando a Reforma Previdenciária e a Tributária, que não são iniciativa do Governo Federal. Foram construídas com os 27 Governadores, que entregaram coletiva e suprapartidariamente as propostas ao Congresso. E tenho certeza que este será o caminho promissor do debate entre Oposição e Governo: o pluralismo das idéias e das diferenças, que tanto enriquecem a vida pública. Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/08/2003 - Página 24489