Discurso durante a 101ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apoio à iniciativa do Senador Pedro Simon de indicar o nome do diplomata Sérgio Vieira de Mello para o Nobel da Paz.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Apoio à iniciativa do Senador Pedro Simon de indicar o nome do diplomata Sérgio Vieira de Mello para o Nobel da Paz.
Publicação
Publicação no DSF de 21/08/2003 - Página 24541
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • ANUNCIO, PROXIMIDADE, REUNIÃO, COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES E DEFESA NACIONAL, AUDIENCIA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA DEFESA.
  • APOIO, PROPOSIÇÃO, PEDRO SIMON, SENADOR, INDICAÇÃO, SERGIO VIEIRA DE MELLO, DIPLOMATA, PREMIO, AMBITO INTERNACIONAL, PAZ, HOMENAGEM POSTUMA, REALIZAÇÃO, MISSÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), ESPECIFICAÇÃO, REESTRUTURAÇÃO, SOBERANIA, PAIS ESTRANGEIRO, IRAQUE.
  • LEITURA, NOTA OFICIAL, AUTORIA, KOFI ANNAN, SECRETARIO GERAL, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), HOMENAGEM POSTUMA, SERGIO VIEIRA DE MELLO, DIPLOMATA.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Eduardo Siqueira Campos, usarei bem menos do tempo que eu teria disponível, inclusive a fim de conceder a oportunidade aos Srs. Líderes inscritos de usarem da palavra ainda nesta sessão, até porque às 18 horas e 30 minutos devo presidir a reunião da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, em que estaremos ouvindo, em audiência, o Ministro da Defesa, José Viegas Filho.

Mas eu gostaria, Sr. Presidente, de, nesta tarde, fazer uma proposição comum à iniciativa do Senador Pedro Simon no sentido de que o Sr. Sérgio Vieira de Mello seja indicado para receber, ainda que post mortem, o Prêmio Nobel da Paz. Há apenas um caso na história dos Prêmios Nobel da Paz em que uma pessoa, tendo falecido anteriormente, foi também premiada pelo Nobel da Paz. Refiro-me ao Secretário-Geral da ONU, o sueco Dag Hammarskjold, que, em 1961, havia montado uma operação para reduzir uma secessão de uma província do Congo Belga, hoje Zaire, a Província de Katanga, que assumiu durante um certo tempo o papel de chefe de uma espécie de governo mundial. Entretanto, ele morreu, pouco depois, num acidente de avião bastante misterioso. E a Academia de Estocolmo resolveu homenagear esse sueco, em 1961, pelo esforço que ele vinha realizando como Secretário-Geral da ONU para que houvesse paz na África e nos mais diversos países do mundo.

Ora, Sr. Presidente, foi justamente o Sr. Kofi Anan, Secretário-Geral da ONU, que designou Sérgio Vieira de Mello para as missões que realizou, em especial essa última de coordenação das atividades da ONU no Iraque, e que divulgou uma nota ontem muito bela a respeito do Sr. Sérgio Vieira de Mello, que passo a ler:

A perda de Sérgio Vieira de Mello é um golpe amargo para as Nações Unidas, e para mim pessoalmente.

A morte de qualquer colega é difícil de suportar; eu não posso pensar em ninguém que fosse mais indispensável ao sistema da ONU que não Sérgio. Ao longo de sua carreira, ele tem sido um servidor excepcional da humanidade, dedicado em aliviar o sofrimento de seus semelhantes, homens e mulheres, ajudando-os a resolver seus conflitos e reconstruir suas sociedades despedaçadas pela guerra. Em seu trabalho com pessoas de todos os continentes, como um oficial do Alto Comissariado para Refugiados, como Coordenador de Ajuda de Emergência, como meu Representante Especial em Kosovo e Timor Leste, e (por um breve período) como alto Comissário da ONU para Direitos Humanos, em todas essas posições ele impressionou a todos com seu charme, sua energia e sua habilidade em realizar as tarefas, não pela força, mas pela diplomacia e persuasão.

No Iraque, onde ele passou os últimos meses de sua vida, ele estava trabalhando dia e noite para ajudar o povo do Iraque a voltar a ter controle de seu próprio destino e construir um futuro de paz, justiça e completa independência. É trágico que ele tenha agora dado sua vida à essa causa, junto com outros que, como ele, eram servidores devotados e amados das Nações Unidas. Aqueles que os mataram cometeram um crime, não apenas contra as Nações Unidas, mas contra o próprio Iraque.

            Eu compartilho a dor da família de Sérgio. Nós todos sentiremos imensamente sua falta, como colega e como amigo. Vamos também nos esforçar para sermos dignos dele, e para completar o trabalho que ele começou, para que sua morte na seja em vão.

Queremos aqui prestar homenagem a sua senhora, Any Vieira de Mello, e aos seus dois filhos. A Srª Any era francesa e ambos moravam com seus filhos na cidade de Genebra. E obtive a informação, hoje, que o seu enterro será realizado, por escolha da família, em Genebra mesmo. A informação me foi dada pela Srª Luciana Mancini, sua secretária e assessora, no escritório da ONU, em Genebra. Tive a oportunidade de conversar, agora a pouco, com a Srª Luciana Mancini, que confirmou a dedicação extraordinária de Sérgio Vieira de Mello ao seu trabalho e às pessoas.

Um homem que, embora ocupando um cargo de tanta importância, estava sempre pronto para a ouvir a todos, quaisquer que fossem as pessoas ou o nível.

Avaliamos, eu e o Senador Pedro Simon, que Sérgio Vieira de Mello reúne todos os méritos para efetivamente ganhar o Prêmio Nobel da Paz, por sua coragem, suas iniciativas no Timor Leste, quando preparou o governo provisório, até que Xanana Gusmão, eleito pelo povo, assumisse; no Kosovo; antes no Líbano e nas fronteiras da Tailândia e de Camboja, quando ali houve uma guerra tão danosa para a vida de tantas pessoas.

Sr. Presidente, por sua coragem, pela maneira como agiu, Sérgio Vieira de Mello merece, post mortem, ser laureado com o Prêmio Nobel.

Avalio que a iniciativa que o Senador Pedro Simon teve - e que era também o meu propósito nesta tarde - deve ser apoiada por todo o Senado e enviada à Academia Real de Ciências da Suécia, entidade que decidirá até o final do ano quem será laureado com o Prêmio Nobel da Paz.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/08/2003 - Página 24541