Discurso durante a 101ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem a maçonaria brasileira pelo Dia do Maçom.

Autor
Efraim Morais (PFL - Partido da Frente Liberal/PB)
Nome completo: Efraim de Araújo Morais
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a maçonaria brasileira pelo Dia do Maçom.
Aparteantes
Ramez Tebet.
Publicação
Publicação no DSF de 21/08/2003 - Página 24422
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, MAÇONARIA, REGISTRO, ATUAÇÃO, HISTORIA, BRASIL, MUNDO, ELOGIO, COLABORAÇÃO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Presidente, irmão Senador Mozarildo Cavalcanti, Srª Ministra ex-Senadora, caro companheiro Deputado Nelson Marquezelli, de tantos tempos na outra Casa deste Congresso Nacional, meus irmãos maçons, Srªs e Srs. Senadores, senhoras e senhores, ocupamos a tribuna, nesta feliz oportunidade, para acrescentar a nossa devida participação nas celebrações que hoje marcam a passagem do nosso dia, o Dia do Maçom, esse nosso irmão, independentemente de nacionalidade, raça, crença e convicções, sempre atento aos deveres fundamentais de submissão à Lei, associados aos sentimentos de amor à Pátria, ao regime democrático e à família.

Registros da marcha da civilização esclarecem que a Maçonaria sempre reuniu pessoas de elevado nível cultural ou que ocupavam posições de destaque na sociedade, além daqueles vultos com extraordinária participação na História.

Exemplo disso, os maçons tiveram papel relevante no episódio da Queda da Bastilha, já então inspirados pelos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, refletidos nas três cores do pavilhão francês.

Os Estados Unidos, que hoje contam com mais de 15 mil lojas, quase a metade, portanto, das cerca de 34 mil existentes em todo o mundo, tiveram 14 presidentes maçons, entre os quais George Washington, James Monroe, Andrew Jackson, Franklin Delano Roosevelt e Gerald Ford.

Naquele país, a influência maçônica está registrada até mesmo no papel-moeda. As notas de um dólar têm a figura de seu primeiro presidente, George Washington, Grão-Mestre da Maçonaria norte-americana e seu principal líder. Ademais, têm a figura do Esquadro, símbolo básico de eqüidade, justiça e retidão da Maçonaria; da Chave, o símbolo popular da Maçonaria como guarda dos segredos; e da Balança, como símbolo maçônico de retidão e justiça.

No verso, a expressão In God we trust refere-se ao Deus genérico, e as estrelas, em 13 pentágonos, representam igual número de colônias. A que está colocada acima do Venerável no Oriente do Templo constitui símbolo do homem perfeito, qual seja, “Deus manifestando-se plenamente no homem; o iniciado; e o microcosmo”.

São comumente aceitas as evidências de que a Maçonaria surgiu em meados do século XVII, quando associações de pedreiros livres da Inglaterra passaram a admitir a nobreza, o clero anglicano e profissionais liberais como membros honorários.

Em Londres, em 1717, o reverendo anglicano James Anderson e o refugiado huguenote Jean Théophile Désaguliers fundaram a Grande Loja da Inglaterra, adotando, entre os seus princípios fundamentais, a tolerância religiosa, o racionalismo excludente de formas exteriores de religião organizada como igreja, e a aversão ao sacerdócio oficial e ao credo em milagres, mas a fé em Deus e no progresso da humanidade.

Tempos depois, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, Srs. Maçons, efetivada a modificação de muitos dos seus princípios, restara muito do deísmo inglês do início do século XVIII em toda a Maçonaria, indicando uma origem comum, como demonstra o fato de as “Constituições da Maçonaria”, publicadas em 1723, por James Anderson, um dos fundadores da Loja Maçônica de Londres, constituírem documento universalmente aceito nas lojas maçônicas.

Subdivisões da Maçonaria adotaram rituais e crenças com origens em culturas muito antigas, como a ligação às lendas de Ísis e Osíres, do Egito; o culto de Mitra; a Ordem dos Templários e a Fraternidade Rosa Cruz. São indicadores de que tais ramificações da Maçonaria adotaram filosofias e crenças antigas, tal como aconteceu com o Cristianismo do primeiro século e o Catolicismo Romano de 323 depois de Cristo.

A Maçonaria, com tantos e tão relevantes serviços prestados ao País, sempre teve grande importância em nossa História. Exemplo disso, a bandeira da Inconfidência Mineira registra a expressão latina Libertas quae sera tamen e o triângulo maçônico.

A iniciação de Tiradentes como maçom deu-se na casa de Silva Alvarenga, na verdade uma loja maçônica com aparência de academia literária, porquanto todos os conjurados pertenciam à Maçonaria: Tomás Antonio Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa, Alvarenga Peixoto e Joaquim Silvério dos Reis, o traidor do movimento.

A Maçonaria também foi a inspiradora da Revolução Republicana de 1817, em Pernambuco, que levou D. João VI a decretar a proibição do movimento.

Some-se a isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que a Independência do Brasil foi proclamada em 22 de agosto de 1822, no Grande Oriente do Brasil, constituindo o episódio conhecido como “Grito da Independência”, mera confirmação, já que o Brasil desligara-se de Portugal em 8 de janeiro daquele ano, o Dia do Fico, um grande empreendimento maçônico, dirigido por José Joaquim da Rocha, que, em conjunto com um grupo de patriotas maçons, fundara o Clube da Resistência, o verdadeiro responsável pelo histórico feito.

Gonçalves Ledo e José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patrono da Independência e Primeiro Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, com outros maçons, tramaram a independência. Dom Pedro I, um mês após a Proclamação, foi aclamado Grão-Mestre Geral da Maçonaria do Brasil.

Em 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca, ao proclamar a República, também ocupava esse cargo. O primeiro ministério então formado foi na sua totalidade constituído de maçons, porquanto organizado por Quintino Bocaiúva, antigo Grão-Mestre.

No episódio da libertação dos escravos, houve grande participação de maçons. Entre as maiores lideranças abolicionistas, destacaram-se o Visconde do Rio Branco, José do Patrocínio, Joaquim Nabuco, Euzébio de Queiroz, Rui Barbosa, Cristiano Otoni e Castro Alves.

Também foram membros da Maçonaria brasileira Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias; os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto; os ex-Presidentes da República Prudente de Morais, Campos Salles, Rodrigues Alves, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Wenceslau Braz e Washington Luiz; e os vultos ilustres de Saldanha Marinho, Luiz Gama, Carlos Gomes, Casemiro de Abreu e Café Filho.

Estima-se a existência de cerca de 600 lojas maçônicas em todo o País, reunindo mais de 100 mil participantes, que têm decisiva participação em atividades comunitárias, observando os princípios basilares de amor fraterno, amparo mútuo, prática filantrópica e permanente procura da verdade e da realização da felicidade para todo ser humano.

Atualmente, considera-se que vivemos “a maioridade maçônica do Brasil”. Em sua história, ficou demonstrado que ela não se confunde com um filosofismo contemplativo e, se eventuais cisões e dissidências ocorreram no transcorrer da história, não foi desprezado o espírito de fraternidade, de intensa solidariedade humana e de acendrado amor às liberdades, nos campos político, filosófico e do resguardo do elevado princípio da igualdade entre os homens.

Decerto, criaram-se desavenças entre maçons e os que professavam doutrinas espiritualistas, notadamente entre católicos romanos. Felizmente, no transcorrer da década de 70, possibilitou-se que o Arcebispo Primaz da Bahia oficiasse cerimônia religiosa em um templo maçônico, sob a inspiração do ecumenismo defendido pelo Papa João XXIII no sentido de pôr fim às barreiras da intolerância religiosa.

Empenhando-se na prática do bem aos necessitados, para assim merecer o próprio aperfeiçoamento, os maçons procuram estar presentes na hora das aflições dos menos favorecidos, oferecendo solidariedade aos que necessitam de ajuda nas calamidades públicas; o amparo às viúvas, órfãos e menores abandonados, sem desatender à necessidade de contribuir para o aprimoramento das instituições que mantêm a riqueza da Pátria.

Com esses resumidos apontamentos, Sr. Presidente, que marcam a nossa participação nas comemorações do Dia do Maçom, procuramos demonstrar que a Maçonaria brasileira, a despeito de eventuais cisões e dissidências...

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Senador Efraim Morais, ouso pedir para fazer um aparte ao brilhante pronunciamento de V. Exª.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - V. Exª me orgulha com esse aparte.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Não estou em condições de pronunciar um discurso como o que V. Exª está fazendo. Portanto, quero usar de um aparte porque não posso deixar de manifestar o meu pensamento a quem preside os trabalhos neste momento, o Senador Mozarildo Cavalcanti, a quem prestei o meu apoio para a solenidade que hoje aqui se realiza. Cumprimento efusivamente V. Exª, que tinha mesmo que estar na presidência destes trabalhos. Assim como ninguém melhor do que V. Exª, Senador Efraim, para fazer o que V. Exª fazendo: mostrando ao Brasil que, no campo cívico, no campo político, a Maçonaria é a própria história da nossa Pátria, é a própria história do Brasil. O pronunciamento de V. Exª demonstra que não teria havido a independência da nossa Pátria ou os grandes movimentos deste País não fora o espírito público e a abnegação da Maçonaria, melhor dizendo, dos maçons. Fazendo referência à solidariedade humana e à fraternidade, V. Exª, no último tópico do seu pronunciamento, deixa isto bem claro: não há outra instituição no mundo além da Maçonaria a praticar tanta solidariedade, e a praticar essa solidariedade em silêncio, sem manifestação externa, sem manifestação pública, olhando para os que mais necessitam, olhando, como diz V. Exª, para os órfãos, para os necessitados, lutando pela eliminação das desigualdades. Vejo que, em nosso País, essa luta é incrementada dentro de cada um daqueles a quem agora me dirijo, aos maçons que aqui se encontram. Não existe ninguém que tenha maior fervor de fraternidade e solidariedade no peito. O próprio lema da liberdade, da igualdade e da fraternidade está a demonstrar que, ao lado da luta política, tem que estar a luta pela melhoria da qualidade de vida, a luta pelos mais necessitados, a luta por aqueles que sofrem. Sr. Presidente, Senador Efraim Morais, V. Exª desincumbiu-se muito bem da missão. Se ninguém mais for falar nesta Casa, se ninguém mais tiver que falar, já falamos. A presente homenagem enche o meu coração de júbilo e de contentamento, uma vez que a Maçonaria é a própria história do Brasil. Cada uma destas cadeiras do Senado é uma cadeira republicana. Cada uma destas cadeiras, onde os maçons estão sentados nesta solenidade, nesta homenagem que o Senado lhes presta, cada cadeira desta é uma cadeira em defesa da Federação, em defesa da igualdade, em defesa da fraternidade, em defesa da liberdade e - hoje mais do que ontem - em defesa de um país mais justo, mais humano, de um país que nós todos queremos mais solidário. Por isso, ao ver os maçons aqui presentes, na Casa da democracia, que é este Senado da República, na Casa da Federação, que é este Senado da República, vejo que continuamos a fazer a história do Brasil e que a história do Brasil depende muito do trabalho e do fervor da nossa instituição, que é a Maçonaria. Quero, mais uma vez, Sr. Presidente, cumprimentar V. Exª, cumprimentar este meu querido amigo, Senador Efraim Morais, e cumprimentar aqueles que aqui se encontram representando os milhares e milhares de maçons espalhados pelos quatro quadrantes do território nacional. Parece que estou exagerando, eu nem sabia que tinha condições de um pronunciamento - está dando quase um pronunciamento, e isto é um aparte -, mas permitam-me que eu lhes diga que, neste momento, quem está aqui presente não é só a Maçonaria do Brasil, mas a Maçonaria do mundo inteiro, porque a nossa instituição é universal. Se todo mundo tivesse o espírito da Maçonaria, não estaríamos assistindo, entristecidamente e com luto nos nossos corações, a esses acontecimentos que estão ocorrendo no mundo, lá no Oriente, e que ontem vitimaram um grande brasileiro, um brasileiro que prestou serviços a nossa Pátria, um grande diplomata, um homem nosso, um maçom. Não é à toa que estou falando isso: estou falando num preito de justiça e de reconhecimento a quem, no mundo, estava mostrando o que é ter espírito maçônico, estava mostrando o que é a nossa diplomacia, o que é este Brasil que amamos, este Brasil que estimamos, este Brasil que, com a nossa ajuda, se Deus quiser, será - como é, mas vai ser cada vez mais - uma grande pátria, uma grande nação, uma nação fraterna a mostrar para esse mundo tenebroso que está aí que aqui é muito melhor do que lá fora, que lá fora eles precisam olhar o sentimento de fraternidade do Brasil. Que o mundo inteiro olhe para o espírito de fraternidade, de filantropia e de dignidade que norteia a Maçonaria brasileira e a Maçonaria universal. Muito obrigado.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Sr. Presidente, tenho a felicidade de ser aparteado por este extraordinário Senador e ex-Presidente do Senado Federal, Senador Ramez Tebet, que, com tanta sabedoria e equilíbrio, dirigiu os destinos desta Casa e do Congresso Nacional.

Senador Ramez Tebet, incorporamos por inteiro o aparte de V. Exª, pela maneira emotiva que sempre o caracterizou e pela segurança de suas palavras. V. Exª faz uma homenagem justa e perfeita neste nosso dia, o Dia do Maçom, quanto relata, em pequeno histórico, tudo que aconteceu na Maçonaria desde séculos passados.

Sou eu quem digo obrigado a V. Exª pelo aparte. Parabenizo-o pela firmeza, pela lucidez e, acima de tudo, pela emoção com que o fez.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, meus caros irmãos maçons, com esses resumidos apontamentos que marcam nossa participação nas comemorações do Dia do Maçom, procuramos demonstrar que a Maçonaria brasileira, a despeito de eventuais cisões e dissidências, jamais permitiu o sacrifício das virtudes maiores, o amor à liberdade, a fraternidade e solidariedade entre os homens e, sobretudo, a igualdade entre eles.

Que Deus, o Supremo Arquiteto do Universo, guarde a todos os mestres e discípulos das escolas de perfeição em todo o mundo.

Era o que tínhamos a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.

(Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/08/2003 - Página 24422