Discurso durante a 105ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao empresário cearense Delmiro Gouveia, que no começo do século, iniciou a industrialização do Nordeste e fundou a primeira usina hidrelétrica do país.

Autor
Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao empresário cearense Delmiro Gouveia, que no começo do século, iniciou a industrialização do Nordeste e fundou a primeira usina hidrelétrica do país.
Publicação
Publicação no DSF de 27/08/2003 - Página 25067
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, DELMIRO GOUVEIA (AL), EMPRESARIO, ELOGIO, ATUAÇÃO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, PIONEIRO, CRIAÇÃO, USINA HIDROELETRICA, REGIÃO NORDESTE.
  • ESCLARECIMENTOS, SITUAÇÃO, MUNICIPIO, DELMIRO GOUVEIA (AL), ESTADO DE ALAGOAS (AL), RESTAURAÇÃO, RODOVIA, CONSTRUÇÃO, ADUTORA, SANEAMENTO BASICO, ABASTECIMENTO DE AGUA, INTERIOR, EXPECTATIVA, ATUAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL, INICIATIVA, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.

O SR. RENAN CALHEIROS (PMDB - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no momento em que a indústria brasileira mergulha em recessão - devido, em boa parte, aos efeitos dos juros ainda altos da política monetária restritiva que empurrou para baixo os índices de preços e da falta de incentivos ao setor - o Brasil deveria refletir um pouco mais sobre as origens de sua industrialização e sobre os exemplos produzidos nesse período para encontrar saídas criativas para a atual crise.

Refiro-me, especificamente, Srªs e Srs. Senadores, a um pioneiro nordestino, um dos primeiros a idealizar, por exemplo, a agricultura com tecnologia de ponta, que fazia até chover. Esse empreendedor foi Delmiro Gouveia, nascido há 140 anos na cidade de Ipu, no Ceará.

Ele era ousado e inovador. Exportava peles de bode para a moda de Nova Iorque um século antes de se ouvir falar por aqui no mundo fashion. Em 1913, plugou a caatinga na tomada ao inaugurar a primeira usina elétrica do País. Os primeiros carros que assombraram os sertanejos, a fábrica, a terra irrigada, a patinação de rolamento, o cinema, o conhecimento do gelo foram obras de Delmiro Gouveia.

Os rastros de Delmiro, raquítico menino do mato que se fez grande empresário no Recife, estão espalhados e ajudam no combate à miséria da nação semi-árida por todos os cantos do Nordeste.

Mas, claro - como registra o repórter Xico Sá, na edição do último dia 3 de agosto, na Gazeta de Alagoas: “as coisas não correram com a marca do “avexamento” que o empreendedor cearense imaginava, mas as suas iniciais, “DM”, em estilo rococó, com no seu ferro de gado, revelam-se a cada projeto de desenvolvimento dos sertões”, afirmou oportunamente o jornalista.

Na cidade alagoana batizada com o seu nome, antigo povoado de Pedra, a 300Km de Maceió, a Companhia Agro Fabril Mercantil, fundada em 1914 - a primeira na América do Sul a fabricar linhas para costura e fios para malharia -, emprega hoje apenas 620 pessoas. Foi reaberta em 1992, 62 anos depois de o seu maquinário original ter sido atirado em um penhasco do rio São Francisco, quando um grupo escocês comprou a empresa para destruí-la, livrando-se da concorrência no ramo, em 1930.

O Município de Delmiro Gouveia tem 40.537 habitantes. Essa mesma fábrica já chegou a empregar mil pessoas, durante os primeiros anos de funcionamento. Os operários cumpriam jornada de oito horas, tinham moradia, creche, escola e assistência médica gratuitas. Inovações do empresário, no começo do século passado, que ainda hoje não vingaram no mapa do Brasil mais injusto.

Por isso, hoje é importante que a fábrica da Pedra continue a produzir. Temos de fornecer os meios e incentivos necessários para a continuidade de um trabalho que é um verdadeiro legado histórico, por um aspecto, e uma mola propulsora da economia local, por outro.

Como Senador, aqui em Brasília, tenho procurado priorizar as necessidades do Município de Delmiro Gouveia, no alto sertão de Alagoas, trabalhando diuturnamente pelo seu desenvolvimento.

Sr. Presidente, restauramos a BR-423, que corta Alagoas da divisa com a Bahia à divisa com Pernambuco, uma das rodovias mais importantes do Estado, que atende ao maior pólo de geração de energia do Nordeste. Construímos adutoras do sertão e do alto sertão, levando água para toda a região. Priorizamos a região também com investimentos em infra-estrutura, em casas populares, em saneamento básico, na construção de açudes, nas áreas de saúde e educação.

Estamos construindo o Canal do Sertão, que vai de Delmiro Gouveia a Arapiraca, com mais de 200 quilômetros de extensão. É um canal de uso múltiplo, que possibilitará milhares de famílias terem água para consumo e usá-la para a agropecuária, para a irrigação e para a piscicultura. Já conseguimos a liberação de R$ 33 milhões e obtivemos o compromisso do Ministro da Integração, Ciro Gomes, para a liberação de mais R$14 milhões até o final do ano. Além disso, Srªs e Srs. Senadores, asseguramos com S. Exª a inclusão do Canal do Sertão na proposta orçamentária de 2004 e no Plano Plurianual (2004/5/6), caracterizando a obra como prioritária no Governo Federal, assim como foi caracterizada no Governo passado.

Delmiro Gouveia é um dos mais importantes Municípios do sertão de nosso Estado e tem, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no Prefeito Luís Carlos Costa, nosso companheiro do PMDB, um dos administradores mais bem avaliados do País, de acordo com várias pesquisas de opinião realizadas.

Foi o poeta sertanejo Raimundo Pelado quem descreveu melhor os feitos deste grande empreendedor nordestino: Quando Delmiro chegou/ naquele triste lugar/ aquilo era deserto/ de ninguém querer morar/ não tinha casa nem gente/ nem estrada pra passar”. A peleja épica continua com os versos de Virgílio Gonçalves de Freitas: Foi o grande Delmiro Gouveia/ que evangelizou o sertão/ que matava a fome alheia/ abrindo as portas à redenção”.

            Delmiro Gouveia era um homem zeloso. A sua preocupação com os hábitos de higiene no antigo povoado de Pedra era grande. Uma simples infração - lembra o pesquisador e historiador Frederico Pernambuco de Melo - valia advertência e multa em benefício de uma caixa de interesse comum dos empregados da sua fábrica. Vejam essa idéia no começo do século passado!

Além de não tolerar sujeira - por isso implantou uma espécie de código de boas maneiras no Município - Delmiro também não permitia o uso de armas de fogo em seus domínios. Em Pedra, homens e animais - exceto bois, porcos e galinhas - só quem mata é Deus, pregava o empresário com convicções pacifistas que deveriam estar inspirando o momento atual.

Mas a ironia da vida, Sr. Presidente, infelizmente, cruzou o caminho de Delmiro Gouveia. Ele foi vítima de emboscada de cangaceiros, a serviço de coronéis da época incomodados com o poder do empresário. Foi, na verdade, a morte do futuro pelas piores forças do passado.

É por isso que fiz questão de defender, neste pronunciamento, uma reflexão sobre as lições de vida, e de trabalho, de Delmiro Gouveia. Hoje, temos a certeza de que é fundamental um ambiente político mais tranqüilo para a economia seguir o processo de redução dos juros e de recuperação.

Os sinais são ruins - já foram piores -, mas a perspectiva é positiva. A recuperação virá, esperamos, o mais rapidamente possível, com a retomada do emprego, com a geração de renda e com um crescimento econômico mais acelerado. Afinal, este é ou não o País do otimismo?

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/08/2003 - Página 25067