Discurso durante a 111ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem a memória do Jornalista Roberto Marinho, presidente das Organizações Globo.

Autor
Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a memória do Jornalista Roberto Marinho, presidente das Organizações Globo.
Publicação
Publicação no DSF de 04/09/2003 - Página 25892
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ROBERTO MARINHO, JORNALISTA, EMPRESARIO, PRESIDENTE, REDE DE TELECOMUNICAÇÕES, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), EMPENHO, INCENTIVO, SETOR, COMUNICAÇÕES, CULTURA, EDUCAÇÃO, BRASIL.
  • SOLIDARIEDADE, FAMILIA, MEMBROS, REDE DE TELECOMUNICAÇÕES.

O SR. RENAN CALHEIROS (PMDB - AL. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, quero, em primeiro lugar, reverenciar a memória do Presidente das Organizações Globo, jornalista Roberto Marinho, cumprimentando seu filho João Roberto Marinho, aqui presente, a todos os funcionários de suas empresas e aos convidados.

O Brasil, sem dúvida, ficou menor sem Roberto Marinho. Ele ocupou um espaço destacado na história brasileira. Nos momentos difíceis do País, nunca lhe faltaram realismo e solidariedade ao nosso povo. Conseguiu, com sua vida, contribuir para mudar a vida de outras pessoas.

Roberto Marinho foi responsável por uma das mais emocionantes sagas empresariais e jornalísticas do Brasil. Construiu as bases de um conglomerado de comunicação que teve participação destacada em quase todos os eventos importantes do século que passou e do início desta década.

Roberto Marinho, com seu espírito empreendedor, está na história como um dos homens mais arrojados do Brasil, uma pessoa dotada de um talento mágico que, do nada, criou empresas, viu o futuro, correu riscos, investiu, gerou empregos e ajudou a fazer a grandeza do País.

Com tudo isso, ele se definiu, certa vez, na Associação Brasileira de Imprensa, com estas palavras:

Nasci homem de imprensa. Fui, sou, tenho sido e só serei, enquanto tiver vida e capacidade de trabalho, apenas e tão-somente homem de imprensa. Este, o meu destino. Esta, a minha vocação.

Esse homem público incansável mostrou que é possível construir um País moderno, dinâmico e progressista. Foi responsável, em grande parte, por quase um século de evolução, principalmente no campo da informação. Roberto Marinho - e as Organizações Globo - ajudaram a construir um Brasil democrático.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, a própria evolução do jornalismo contemporâneo se deu pela coragem e talento de Roberto Marinho. Ele foi um dos principais artífices da cultura brasileira, integrada e cosmopolita, engajada com os temas da cidadania, da justiça social e do meio ambiente.

Sua morte é uma perda para o primado das liberdades. Sinto que o País vai percebendo isso e, aos poucos, se dando conta de que ele era um homem moderno, à frente de seu tempo, que era atento e hábil. Afinal, Dr. Roberto Marinho levou entretenimento a milhões de pessoas. Foi um dos primeiros a acreditar no artista brasileiro. Depois dele, o Brasil passou a existir também no mundo, porque Roberto Marinho investiu na teledramaturgia brasileira e a popularizou em todos os continentes.

Deixou várias lições. Todo mundo fala de sua importância história. O mais importante, no entanto, é falar que ele sempre respeitou todo mundo, acima das divergências ideológicas.

Nos tempos duros da ditadura, abrigou e protegeu jornalistas e intelectuais perseguidos. À frente das Organizações Globo, ajudou o Brasil a se conhecer melhor. O Dr. Roberto Marinho foi um sonhador. O bonito disso tudo é que o sonho dele está eternizado. Toda vez que alguém assistir à TV Globo, ler o jornal O Globo ou ouvir a Rádio Globo vai sentir que o sonho dele virou realidade.

Se perdemos uma referência, ganhamos o seu exemplo. Ele era um homem do bem. Quantas vidas não salvou com a sua solidariedade! Com programas relevantes, como o “Criança Esperança”, ajudou decisivamente o futuro do Brasil. Com o “Globo Rural”, afirmou valores tecnológicos nacionais e fortaleceu nossa agricultura, que hoje participa com 30% de nossas exportações. E o que dizer da Fundação que leva o seu nome como verdadeiro emblema da cultura e apoio às artes?

A defesa que ele fez da liberdade, a naturalidade com que defendia a pluralidade de idéias e a maneira como promoveu a integração deste País são eternas. Ele vale não só pelo que fez, mas pelo que vai continuar sendo feito graças a ele.

As comunicações no Brasil devem muito ao espírito ousado e inovador do Dr. Roberto. Suas empresas produziram um novo estilo, um novo padrão de fazer jornalismo que fez escola, influenciou as comunicações como um todo e acabou ajudando a levar a imprensa nacional a outro patamar.

Esse jornalista destemido levantava vôos sempre em novas direções. Preparou seu grupo para os desafios do terceiro milênio, liderando o investimento na Internet, dando os primeiros passos da TV digital, ações que fizeram dele um empresário moderno.

A reunião do controle de empresas líderes em seus setores elevou naturalmente a estatura de Roberto Marinho, que teve um relacionamento próximo com todos os Presidentes da República do Brasil desde Getúlio Vargas.

Aos poucos, o leitor, o intelectual e o jornalista foram descobrindo que a abundância de paradoxos não denunciava contradições. Antes, como o tempo aos poucos foi provando, revelava lucidez e imaginação em graus pouco encontrados no século passado, além de uma forte paixão pelo trabalho.

É muito provável que Roberto Marinho tenha sido o primeiro grande jornalista - e não apenas do Brasil - a descobrir a vocação do veículo para o serviço ao cidadão e para a educação da sociedade.

Outros, antes e depois dele, enfatizaram uma suposta missão da imprensa de produzir a transformação social. Em meados do século passado, ele já procurava mostrar a variedade de caminhos, em vez de apontar uma única opção.

Desde menino, fascinado pela equitação, Roberto Marinho foi um apaixonado pelos esportes, atividade que ajudou a se afirmar em nosso País, pela cobertura jornalística que sempre recebeu, produzindo generosos títulos e levando alegria aos lares de cada canto de nosso País.

Dr. Roberto gostava da natureza, em especial do mar. Essa paixão foi assim revelada por ele mesmo, certa vez:

(...) foi o mar que me deu uma das mais ricas lições de vida: a de saber enfrentar os desafios com a firmeza dos fortes e a serenidade dos sábios.

Que a memória de Roberto Marinho sirva de inspiração para que o Brasil continue investindo no seu futuro, voltando os olhos para a educação e a cultura! Que o Brasil use seu exemplo de coragem, ousadia, talento e criatividade como estímulo para a promoção de um País mais desenvolvido economicamente e socialmente mais justo!

Para encerrar esta homenagem, quero citar outra frase de Dr. Roberto, que resume, a meu ver, tudo o que ele era ou significava. Ao receber o título de doutor honoris causa da Universidade Gama Filho, ele disse:

Não falto à verdade nem à modéstia se digo que aqui estou na condição de jornalista. Jornalista por escolha e por destino, vedes em mim o título de que me orgulho, ou seja, toda uma vida inteira dedicada à imprensa... Homem de jornal 24 horas por dia, em todas as circunstâncias de minha vida, compreendo, assim como Rui Barbosa, que o jornal é o grande agente de educação nacional.

Quero, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, deixar aqui, como Líder do PMDB e em nome de todos os Senadores do Partido, sem exceção, especialmente em nome do Senador Hélio Costa, que, durante oito anos, foi funcionário da Rede Globo, meu registro de apreço e admiração pelo Dr. Roberto Marinho.

Meus cumprimentos à Família Marinho e aos funcionários das Organizações Globo, que perdem seu exemplo maior de profissional sério, repórter competente e chefe batalhador.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/09/2003 - Página 25892