Discurso durante a 113ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Interpelação ao Senhor Vice-Presidente da República, Doutor José Alencar, acerca da transposição das águas do Rio São Francisco.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Interpelação ao Senhor Vice-Presidente da República, Doutor José Alencar, acerca da transposição das águas do Rio São Francisco.
Publicação
Publicação no DSF de 05/09/2003 - Página 26143
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • ANALISE, DEBATE, TRANSPOSIÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO, CONFLITO, OPINIÃO, SENADOR, ESTADOS, DOAÇÃO, RECEPÇÃO, AGUA.
  • DEFESA, URGENCIA, IMPLEMENTAÇÃO, PROGRAMA, RIO SÃO FRANCISCO, SIMULTANEIDADE, RECUPERAÇÃO, TRANSPOSIÇÃO, APOIO, ATUAÇÃO, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • COMENTARIO, ALTERNATIVA, IRRIGAÇÃO, AUMENTO, UTILIZAÇÃO, MÃO DE OBRA, SEMELHANÇA, PAIS ESTRANGEIRO, INDIA.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Sr. Presidente, creio que não estou tirando o lugar de nenhum nordestino, porque seria um atrevimento meu, que venho do Rio Grande do Sul. Vim, tranqüilo e feliz, para esta sessão, primeiro, por estar no nosso meio o ilustre Vice-Presidente, por quem tenho enorme respeito, pela sua luta e passado. V. Exª representa um papel muito significativo ao lado do Presidente da República. V. Exª não é mais um Vice-Presidente. Confio muito na sua sabedoria, capacidade e competência.

Até o início desta sessão, acreditava que essa missão que o Presidente Lula deu a V. Exª era uma das mais importantes -- Sua Excelência estava valorizando o Vice-Presidente, mostrando o apreço que tinha por V. Exª e entregando-lhe uma das mais extraordinárias missões do País --, mas estou vendo que a primeira missão de Vossa Excelência será a de acertar com esses nordestinos, porque, na verdade, o que é uma maravilha para uns, para outros parece que não é. Nós, do Sul, sempre tivemos, a distância, uma enorme admiração pelo rio São Francisco. Desde que aprendemos nas primeiras aulas de história, “o Rio da Integração Nacional”, aprendemos a ver e acompanhar que realmente o desenvolvimento do Brasil, durante um longo período, foi acompanhando as águas do rio São Francisco. E quando vemos, de um lado, Estados que podem receber e que estão em situação precaríssima e que, com as águas do rio São Francisco, poderiam melhorar, poderiam ter uma chance de avançar...

Vi discursos patéticos daqueles Estados que querem as águas do rio, cobrando dos outros, dizendo que é maldade, “vocês não podem fazer isso conosco, vocês têm que ter caridade com a nossa gente”.

E vejo, por parte dos Senadores que acham que o rio não está em condições de fazer as transformações que V. Exª defende, o sentimento de que, na verdade, S. Exas pensam na sobrevivência do próprio rio.

Com toda sinceridade, acho algumas coisas. Primeiro, a Senadora Heloísa Helena disse algo muito importante: essa é obra para começar e fazer. Projeto já temos uma meia dúzia. Só no Governo Fernando Henrique, que eu me lembre, houve três: do Aluízio Alves, o do nosso Ministro aqui e do Senador Ney Suassuna. Penso que é uma destinação política definitiva o Presidente da República assumir: “Eu vou fazer”. Então, essa obra é prioritária. Essa acredito que essa é a primeira questão.

A segunda questão é que devemos falar de duas coisas ao mesmo tempo. Concordo com a revitalização do rio e com as pessoas que defendem que ele está morrendo, que é importante fazer obras para sua revitalização, mas também concordo com a transposição do rio e vejo, inclusive, a possibilidade da vinda de outros rios que possam fazer uma verdadeira revolução naquela região. Se ali tivermos um pouco de coragem e um pouco de garra, com a mistura dos rios, poderemos fazer uma obra de primeiríssima grandeza.

Nunca me esqueço, quando li uma obra relatando como foi a transformação da região da Califórnia, que era um deserto mais seco que o Nordeste. Ali começou com a transposição do rio Colorado. Com a transposição e outras medidas mais, a realidade agora é outra.

Realmente, V. Exª foi escolhido no momento exato. Ninguém melhor do que V. Exª tem condição e autoridade para levar adiante essa obra. Com toda sinceridade, os dois lados que falam têm razão. Se o rio já não é o mesmo em Alagoas e a população já está sofrendo a falta, as condições estão diminuindo e logo ainda farão a transposição, eles têm razão de perguntar como ficará. O Rio Grande do Norte que sonha em ver chegar o rio também está nas suas razões. Mas acredito que dentro do Brasil temos condições de atender os dois lados. A obra vai ficar mais cara ainda? Vai. Mas temos condições. E se analisarmos que ali é questão de uma região se transformar em uma realidade enorme não há dúvida.

O mal é que mesmo no Nordeste, o Brasil gosta das obras grandiosas no gasto e não nas conseqüências. O Brasil fez Itaipu, até então a maior hidrelétrica do mundo. Poderíamos tê-la construído um pouco menor, só brasileira. Isso preservaria e evitaria a destruição de Sete Quedas. Gastaríamos infinitamente menos. Contudo, ela assim não seria a maior do mundo.

Sob a ótica da validade, vale a pena.

Algo que vejo com restrição é a irrigação no Nordeste. Quando o Senador José Sarney era Presidente da República, eu tive a honra de ser seu Ministro e entreguei uma proposta que é copia do que, naquela época, a Índia estava iniciando. Hoje a Índia exporta alimentos. Trata-se da irrigação manual feita com a ajuda das pessoas, com uma singeleza que não gasta quase nada. A nossa, no Nordeste, é igual à de Israel, da Alemanha ou dos Estados Unidos. Não sei se essa pompa é necessária.

Contudo, com a capacidade que V. Exª tem de absorver o que está aqui e de colocar as coisas nos seus devidos lugares, essa é uma obra das que coloco em primeiro lugar no Brasil.

De resto, o meu carinho muito grande e a minha admiração por V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/09/2003 - Página 26143