Discurso durante a 114ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Dia nacional da Amazônia.

Autor
Marcelo Crivella (PL - Partido Liberal/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Dia nacional da Amazônia.
Aparteantes
Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 06/09/2003 - Página 26321
Assunto
Outros > HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, POPULAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, COMEMORAÇÃO, DIA NACIONAL, FLORESTA AMAZONICA.
  • DEFESA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, OPOSIÇÃO, ALEGAÇÕES, ALTERAÇÃO, DISCURSO, PERIODO, CAMPANHA ELEITORAL, EXERCICIO, MANDATO, CHEFE DE ESTADO.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Papaléo Paes, Srªs e Srs. Senadores, inicio o meu pronunciamento congratulando-me com todos os meus irmãos da Amazônia, a maior riqueza de nosso País. Hoje é o Dia da Amazônia e eu não poderia deixar de fazer das minhas primeiras palavras um regozijo, por ser brasileiro, por conhecer a Amazônia, por essa grande riqueza que Deus nos deu. Que possamos todos nós, iluminados por Ele, saber desenvolver a Amazônia de maneira social, digna e inteligente.

Sr. Presidente, recentemente, tomou de novo relevo o hábito grosseiro de se levar o mal a alguém que mude de opinião ou se contradiga ou pense de maneira diferente daquela que pensava ou acreditava no passado. Há pessoas que teimam em usar esse argumento como se ele fosse depreciativo. Espero que, hoje, sob a Luz Divina, possa tratar de maneira lúcida a análise desse fato intelectual, de um ponto de vista humano e espiritual, e que não seja tarde para que possamos compreender e aceitar com generosidade a nossa própria maneira de ser.

Se há algo estranho, inaceitável, é que alguém permaneça para sempre falando e fazendo as mesmas coisas, ancorado em uma estagnação enfadonha, que não tem sintonia com a nossa natureza, origem ou simplesmente com as coisas do nosso dia-a-dia. Porque essas coisas mudam e tornam a mudar; por vezes, voltam ao mesmo lugar, para, mais tarde, mudar novamente, já que somos circunstanciais no sentimento, no pensamento, na própria origem; já que fomos moldados na plasticidade da argila, no pó, do qual viermos e para o qual voltaremos.

Como permanecer para sempre com as mesmas idéias, com as mesmas convicções se, ao terminar de pronunciar estas poucas palavras, meu próprio corpo já não será o mesmo, porque sofro transformações químicas e biológicas, sobre as quais não exerço qualquer controle, que mudam meu corpo e minha aparência, minha alma e minha inteligência?

O curso da nossa vida é uma trilha, não é um trilho. Bem disse Jesus que aqueles que são nascidos do Espírito são como o vento: não sabem de onde vêm nem para onde vão. São eternos alunos da escola da humildade, aprendendo a cada hora, procurando a verdade.

Sei que pessoas assim são criticadas, mas são livres, são leves, são levadas pelas inspirações, como o caminho das aves do céu, como as estações do tempo permanentemente a mudar e a mostrar que sempre haverá um amanhã, eterno professor de quem, com humildade, se dispõe a receber o que Ele tem a nos ensinar.

Assim é o nosso caminho no mundo: às vezes mudamos de opinião várias vezes num dia. E democracia é respeitar nossas crenças religiosas, divergências políticas, preferências literárias, artísticas, musicais, imprecisões, defeitos, convicções. Não consigo entender esse patrulhamento. Por que essa eterna comparação entre o que fomos ontem e o que somos hoje, entre o que dissemos ontem e o que dissemos hoje? Por quê? Pela simples mudança de opinião? Não somos as colunas estáticas de um teatro. Pelo contrário, somos todos artistas da história de cada um, vivida por vezes no amanhecer de uma grande cidade ou, às vezes, na solidão de um alto mar, mas mudamos.

O homem culto e disciplinado é coerente porque sabe mudar. Convicções profundas só as têm aqueles que são superficiais, porque o desconhecido sempre será muito maior do que tudo o que conhecemos.

Sr. Presidente, recentemente, o Presidente Lula tem sido acusado, reiteradas vezes, porque - dizem - mudou o seu discurso. Acusam-no até de ter mudado o seu jeito de vestir, de agir, como se todos fôssemos prisioneiros do passado. O importante não é não mudar, o importante é saber mudar, é mudar para melhor, é mudar como muda a vida. Nesse sentido é que venho defender um ponto de vista humanístico: há tantas coisas para mudar neste País, há tantas coisas para se corrigir, mas não vamos mudá-las se não soubermos, se não tivermos a humildade de entender que cada um de nós, neste grande teatro da vida, segue um curso como o dos rios. Somos espelho das circunstâncias, que, muitas vezes, sequer entendemos.

Ouço o nobre Senador Pedro Simon, do Rio Grande do Sul.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Escuto, com muito interesse, o pronunciamento de V. Exª, profundo, de grande conteúdo, não há dúvida nenhuma. V. Exª faz uma análise evidente, real, clara de que todos nós, do nascimento à morte, vamos nos transformando, conhecendo, vivendo, e a vida vai a nos ensinar. E diz, com razão, V. Exª que sempre o que não conhecemos é muito maior do que aquilo que conhecemos. Defende V. Exª que as pessoas têm o direito de mudar, de se transformar, de buscar novas idéias. A afirmativa de V. Exª é perfeita, não há nenhuma dúvida nesse sentido. Agora, temos que analisar o que diz V. Exª no contexto da política brasileira. Lamentavelmente, a política brasileira não corresponde à análise feita por V. Exª; a análise feita por V. Exª é perfeita: que nós aprendemos e mudamos. Aliás, o mundo nos mostra isso. Galileu Galilei e tantas pessoas sofreram por defenderem idéias e mostrarem que o mundo estava errado. Mas, o que se vê na política brasileira é que as mudanças normalmente não são a busca do melhor, não são a convicção de que, na análise, no estudo, na interpretação do que eu era e do que quero ser, eu me transformo. Na política brasileira, lamentavelmente - embora hoje o nosso Presidente faça questão de dizer que, nas votações de ontem e anteontem, não se usou o “é-dando-que-se-recebe” -, as transformações são mudanças ocasionais. No Brasil, vê-se um cidadão, numa legislatura, passar por cinco partidos, e nenhum de conteúdo diferente do outro, nenhuma modificação motivada por outra razão que não o interesse pessoal. Nos Estados Unidos, na Inglaterra, no Uruguai, na Argentina, se o cidadão mudar de partido não se reelege mais; conta-se nos dedos o número de parlamentares que trocam de partido durante um ano, durante dez anos. Só nesta legislatura, já foram mais de 100; na legislatura passada, mais que 400. Então, há essa indefinição de idéias; partidos que não têm conteúdo, que não têm significado, que não sabem o que querem, que não dizem ao seu povo por que votam; eleitores que votam no candidato A ou no candidato B, porque, na verdade, nenhum tem conteúdo diferente do outro. Com toda sinceridade, considero muito profundo e sério seu discurso. Concordo e sou solidário a V. Exª, que está dizendo, com muita pureza e profundidade, sobre o direito do cidadão de mudar, de se transformar, de ser livre e, em sendo livre, de buscar novos rumos, e que a proibição, a pressão, a coação para que ele não mude suas idéias são absurdas. Concordo com V. Exª. As pessoas podem mudar. Carlos Lacerda era comunista e virou um líder completamente diferente, mudou suas idéias. Várias grandes lideranças no Brasil mudaram suas idéias de um lado para outro. Isso é normal, absolutamente respeitável. O que digo é que não se pode confundir o lado corretíssimo da afirmação de V. Exª - com a qual concordo - com a geléia geral que, lamentavelmente, ao longo do tempo, vem acontecendo no Brasil, fazendo com que não haja uma política séria, um partido sério, uma ideologia séria e a apresentação de um plano de governo por um candidato sem a expectativa de alterá-lo. Isso aconteceu com o Sr. Collor de Mello, que foi o herói da vitória, mas, quando Governo, mudou 180 graus; e com o próprio Fernando Henrique, que, quando candidato, apresentava uma política socialdemocrata, com determinados princípios, mas, depois, adotou uma política completamente diferente. Essa é uma questão para ser meditada. Estou de acordo com V. Exª: nada de fiscalização, de policiamento; vamos deixar a mente humana com a liberdade de ver, avançar, criar, modificar-se. Mas o que está acontecendo é triste, doloroso, cruel: dentro da política, interesses menores e escusos dão vazão não ao que buscamos, que é a pureza de sentimento e a melhoria de condições dos que representamos, mas apenas a questões passageiras, interesses meramente ocasionais. Perdão pelo aparte, mas digo isso pela admiração e respeito que tenho por V. Exª.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ) - Muito obrigado, Senador Pedro Simon. Incorporo suas palavras ao meu discurso, para que possamos, realmente, fazer um divisor e uma diferença.

Quando falo em modificações, refiro-me às evolutivas. O importante é mudar e mudar para melhor. Mudanças oportunistas, interesseiras, não-interessadas sempre darão frutos amargos amanhã.

Agora, reporto-me a esse patrulhamento que fazem ao nosso Presidente, que chega às suas vestes, como se uma pessoa humilde que hoje tem um cargo e um salário melhor não pudesse ter um carro melhor, uma maneira melhor de se vestir. Será que isso incomoda nossa consciência ou nosso inconsciente? O sucesso de uma pessoa que veio de uma origem tão humilde pode, às vezes, trazer-nos desconforto? Essas coisas mesquinhas não têm nada a acrescentar à vida brasileira, porque todos mudamos e queremos mudar para melhor. E mudar o Brasil.

Há pouco, no meu Estado, o Rio de Janeiro, houve a crise do Inca - Instituto Nacional do Câncer, que deixou uma vítima: um brasileiro extraordinário, que foi tudo na vida pública e que, hoje, ainda tem o mesmo número do telefone. É raro encontrar uma pessoa que tenha galgado tantos cargos na vida pública e ainda mantenha o mesmo número do telefone na lista. Quem ligar para a casa do Dr. Jamil Haddad certamente será atendido por ele ou sua esposa. Ele saiu manchado, maculado, criticado. Isso porque se tenta mudar o que não se deve, que é a honra das pessoas, a dignidade, um passado limpo, coisas que deveríamos cultuar.

Portanto, meu Presidente Papaléo Paes, não quero enfadá-lo ainda mais com minhas palavras. Apenas expresso as considerações da minha alma, muitas vezes inconformada, porque o nosso País precisa de união. De mãos dadas, vamos vencer o câncer social que, por exemplo, o Presidente Lula venceu. Alguém, como Sua Excelência, com uma origem tão humilde, talvez não tivesse vencido, mas o Presidente Lula é um vencedor do câncer social que vitima tantos brasileiros, que caem na amargura, na inveja e na tristeza e que, às vezes, acabam, vítimas do alcoolismo, nas calçadas das nossas cidades. Esse brasileiro, que tinha tudo para morrer do câncer social e o venceu, saberá, certamente, cuidar do nosso Inca e dar os destinos certos a esse hospital tão importante em nosso País.

Muito obrigado, Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/09/2003 - Página 26321