Discurso durante a 116ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do bispo da diocese de Macapá, Dom João Rizatti. Repúdio pelo falecimento do líder do MST em Alagoas, Sr. Luciano da Silva. (como Líder)

Autor
João Capiberibe (PSB - Partido Socialista Brasileiro/AP)
Nome completo: João Alberto Rodrigues Capiberibe
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. REFORMA AGRARIA.:
  • Pesar pelo falecimento do bispo da diocese de Macapá, Dom João Rizatti. Repúdio pelo falecimento do líder do MST em Alagoas, Sr. Luciano da Silva. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 10/09/2003 - Página 26522
Assunto
Outros > HOMENAGEM. REFORMA AGRARIA.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JOÃO RIZATTI, BISPO, DIOCESE, MUNICIPIO, MACAPA (AP), ESTADO DO AMAPA (AP), ELOGIO, ATUAÇÃO, IGREJA CATOLICA.
  • PROTESTO, HOMICIDIO, LIDER, SEM-TERRA, ESTADO DE ALAGOAS (AL), GRAVIDADE, CONTINUAÇÃO, VIOLENCIA, IMPUNIDADE, CAMPO, NECESSIDADE, URGENCIA, REFORMA AGRARIA.

O SR. JOÃO CAPIBERIBE (Bloco/PSB - AP. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, recebemos, em Brasília, com profundo pesar, a notícia infausta do passamento súbito de Dom João Risatti. Estava ele em Roma, no desempenho de suas funções pastorais, às quais entregou o melhor de seus esforços ao longo de sua vida.

Muito mais que lamentar a sua ausência, devemos recordar a sua dedicação à frente do Bispado de Macapá e evocar seus exemplos como parte de nosso patrimônio. Amado pelos fiéis de sua Igreja, Dom João Risatti sempre mereceu o respeito e a admiração de todos os cidadãos de nosso Estado, entre os quais nos incluímos.

Quero registrar o falecimento do Bispo da Diocese de Macapá, Dom João Risatti, e prestar as minhas homenagens a esse homem que serviu a Deus e ao povo. Com 60 anos de idade, 35 deles dedicados à vida religiosa, morreu na noite da última segunda-feira, em Trento, na Itália.

Padre João era conhecido na Molina de Leandro, uma cidadezinha perto de Trento, na Itália, onde nasceu, pelo seu desejo de ser missionário. Em 1964, João foi então acolhido pelo Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras, em Milão, para que estudasse Teologia e realizasse o seu sonho de ser missionário. Ordenado sacerdote em 1968, dedicou os primeiros quatro anos de apostolado na formação de aspirantes missionários, na Itália, mas, para ele, o dia mais bonito de sua vida foi aquele em que pôde sair de sua terra e começar a exercer o próprio carisma missionário no país de sua destinação, o Brasil.

Padre João veio para o Amazonas em 1972, para viver na cidade de Parintins, terra que ele dizia ser de um povo alegre, hospitaleiro, humilde e que tem grande estima a todos os sacerdotes.

Em 1988, Padre João recebeu a sagração episcopal, tornando-se, a partir daí, Dom João Risatti, e, em março de 1993, tomou posse na Diocese de Macapá.

Dom João Risatti estava participando da consagração de uma leiga brasileira, membro da comunidade de Santana. No último sábado, esteve na celebração e depois cumpriu uma agenda de visitas a alguns padres que prestaram serviços em Macapá. Ainda no sábado, o Bispo seguiu para a cidade de Trento, onde foi visitar seus familiares. Dom João se recolheu no domingo à noite e não se levantou às 6 da manhã, como era seu costume. Dom João passou para a eternidade dormindo.

Faço assim, com muito pesar, o registro da morte do Bispo de Macapá, Dom João Risatti.

Sr. Presidente, gostaria de também manifestar minha repulsa em relação a mais um assassinato de trabalhador rural.

Não é possível continuarmos tolerando a matança dos pobres do campo. Mais um líder do MST foi assassinado em Alagoas.

Luciano da Silva, o Grilo, era acusado de participar de saques no Estado e foi atingido por três tiros. Sem julgamento, foi sentenciado e a sentença, executada. Portanto, trata-se de um homicídio, de mais um crime sob encomenda.

O sem-terra Luciano Alves da Silva, de 28 anos, foi morto na noite de domingo com três tiros, quando caminhava por uma estrada de terra, ou seja, foi um assassinato sob encomenda. Em pleno século XXI, a sociedade brasileira continua convivendo com a barbárie, com o crime sob encomenda, com a matança de trabalhadores rurais.

Nessa última semana, esse é o segundo crime que noticio e a respeito do qual manifesto indignação desta tribuna. Será que toda semana terei que vir aqui para anunciar tragédias provocadas pelas desigualdades sociais e pela falta de reforma agrária? O Brasil é o único país da América Latina que ainda não fez a reforma agrária. Um País que tem 8.500 km² de terras agricultáveis não poderia conviver, em nenhum hipótese, com a matança dos seus trabalhadores rurais e principalmente de suas lideranças. Milhares de líderes sindicais e trabalhadores rurais foram assassinados ao longo dos últimos anos, o que, somado ao assassinato de negros e escravos e à matança de índios, mostra que a sociedade brasileira não é a sociedade da cordialidade que pregamos, mas, sim, uma sociedade que pratica a violência contra os excluídos, contra os trabalhadores rurais.

Eram esses os registros, Sr. Presidente. Lamento, profundamente, as duas perdas: a do nosso Bispo Dom João Risatti e a de Luciano da Silva, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/09/2003 - Página 26522