Discurso durante a 116ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-Ministro Murilo Macedo.

Autor
Eduardo Azeredo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MG)
Nome completo: Eduardo Brandão de Azeredo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-Ministro Murilo Macedo.
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães, Arthur Virgílio.
Publicação
Publicação no DSF de 10/09/2003 - Página 26542
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MURILO MACEDO, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO TRABALHO (MTB), PERIODO, REGIME MILITAR, ELOGIO, ATUAÇÃO, VIDA PUBLICA, CAPACIDADE, CONCILIAÇÃO, DIALOGO, SINDICALISTA, EMPRESARIO, AUTORIDADE MILITAR.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao falar desta tribuna, quero enaltecer a figura do ex-Ministro Murilo Macedo, que faleceu recentemente.

Lembro que este mineiro de Sete Lagoas conseguiu, pela sua inteligência, caráter e sua qualidade de hábil negociador, impor-se, durante muitos anos, no cenário político do Estado de São Paulo e do País, ao ocupar cargos públicos, como o de Secretário do Trabalho daquele Estado brasileiro e de Ministro do Trabalho, no período de março de 1979 a março de 1995, em cinco anos da época turbulenta pela qual passaram as relações sindicais com o Governo Federal.

A revista IstoÉ de 21 de outubro do ano passado retratou o quadro daquele período do governo militar, relembrando que “quando assumiu o Ministério do Trabalho, em 15 de março de 1979, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo era um barril de pólvora”. Havia cerca de 120 mil manifestantes no Estádio de Futebol da Vila Euclides, no dia 1º de maio de 1980, em São Bernardo do Campo. De repente, helicópteros do Exército sobrevoavam o local para intimidar os trabalhadores. Tanques haviam sido despachados para conter os manifestantes. Murilo Macedo, então Ministro do Trabalho, pôs-se à frente do portão no 4º Comando do Exército de São Paulo, no Ibirapuera, e impediu que os tanques partissem. Quando soube dos helicópteros enviados à Vila Euclides, o Ministro procurou o então Ministro Chefe da Casa Civil, Golbery do Couto e Silva, pedindo-lhe que mandasse recuar os helicópteros. Um dos filhos do Ministro Murilo Macedo relembra que o seu pai queria, na verdade, evitar uma tragédia. “Se não tivesse contido o avanço dos tanques, teria havido o maior massacre”.

Sr. Presidente, Srª e Srs. Senadores, a movimentação, às vezes, na política é incongruente. Nos anos em que esteve à frente do Ministério do Trabalho, Murilo Macedo conseguiu, a um só tempo, manter abertos os canais do diálogo do Governo Federal com as lideranças sindicais, que, a despeito disso, consideravam o Ministro Murilo Macedo mais um “Ministro do capital” do que do trabalho, como diziam à época, e ter conseguido, simultaneamente, repito, a desconfiança, desprezo e desafeto da linha mais radical das forças militares que governavam o País. Não tinha, pois, o apoio de nenhum dos dois grupos. Deles, no entanto, tinha o respeito. E isso muito lhe valeu.

Para ilustrar esta constatação, a mesma reportagem da revista IstoÉ relembra, no retrospecto da história do nosso ex-Ministro, os seus encontros com o, na época, principal líder sindical brasileiro, o hoje Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foram encontros sempre na busca do diálogo e do entendimento, ingredientes tão importantes na época para arrefecer os ânimos sempre exaltados e tensos, de um lado, dos sindicalistas, e, do outro, dos militares.

O maior líder sindical do País, Presidente Lula, a convite do ex-Ministro, visitou seu sítio em Atibaia, São Paulo. Ao final do almoço, o clima de entendimento era tal que os dois, de maneira descontraída, puderam encaminhar uma busca de solução.

Narro esse episódio para destacar as razões que sobravam aos chefes militares para não entenderem os procedimentos e a forma de agir do Ministro do Trabalho, Murilo Macedo.

Quero realçar portanto, Sr. Presidente, que Murilo Macedo nunca agiu nos extremos. Preferia sempre as posições intermediárias, centrais, medianas, as posições que conduzem os homens ao diálogo, ao entendimento, ao equilíbrio. As posições emocionalmente controladas e inteligentemente centradas. A vida, por certo, ensinou-lhe, na condução do Ministério do Trabalho, naquele período tão conturbado de nossa História, a exercitar a serenidade e a cultivar a paciência como sendo as grandes virtudes do homem preparado e talhado para ocupar uma função pública. Os revezes a que tanto teve que suplantar enrijeceram sua personalidade política, mas também o fizeram humilde diante do seu destino.

Tive o prazer de conviver com ele. Nascido em Sete Lagoas, cidade natal do meu pai, Renato Azeredo, dele foi contemporâneo e amigo. À sua cidade, Murilo dedicou um carinho sem limites. No que podia, empenhava-se em ajudar, levando desenvolvimento àquela comunidade, atitude clara de quem é solidário ao seu povo, ama sua terra e se orgulha de suas origens.

Trago à memória, a quantos, neste plenário, conheceram e conviveram com aquele mineiro ilustre, o político que abriu as trilhas de seu destino, confundindo-as, hoje, com as trilhas das políticas públicas do sindicalismo brasileiro.

Chego à seguinte conclusão: é certo, Sr. Presidente, que alguns homens conseguem transcender os estritos termos da responsabilidade funcional, impondo características especiais em suas atitudes. Alargam-se moral e eticamente e, assim procedendo, contagiam os que tomam conhecimento dos seus atos. Dignificam uma profissão, uma instituição e um País ao imporem para si valores que são eminente e predominantemente sociais. Esse é o caso do Dr. Murilo Macedo. Não será incorreto afirmar que sua atuação política esteve em consonância e em harmonia com o seu tempo e que sua trajetória de vida serve hoje, sob o julgamento do tribunal da História, como um exemplo a inspirar os mesmos caminhos do entendimento, do diálogo e da negociação para a prática da política e para o exercício do governo.

De Murilo Macedo, o perfil que a História começa a guardar é o de um homem da maior coerência, que buscava o que era justo e correto no estrito espaço que permeia e distancia os extremos, o estreito espaço onde a inteligência humana busca e encontra o consenso para o entendimento, a paz e a harmonia social.

Face a tudo isso, requeiro a esta Casa legislativa, nos termos regimentais, sejam enviados à família e às autoridades maiores da cidade de Sete Lagoas, onde nasceu o inesquecível Ministro Murilo Macedo, votos de profundo pesar pelo seu falecimento.

Sr. Presidente, essa é a homenagem que faço a um cidadão que soube honrar a vida pública brasileira, exercitando principalmente as características, bem próprias de Minas Gerais, do entendimento e do bom senso.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Perfeitamente, nobre Líder Arthur Virgílio.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - V. Exª faz uma homenagem muito oportuna ao Ministro Murilo Macedo, e eu queria relatar um fato. Eu era um jovem Parlamentar de oposição à ditadura e ele, Ministro do Trabalho. Ele ficou com a fama de ter sido o Ministro das intervenções, porque o regime lhe cobrava isso. Outras pessoas ilustres e corretas foram a favor do regime militar e nem por isso se deixa de reservar para elas um lugar importante na História. Algumas são excepcionalmente importantes para o Brasil e cito, como exemplo, Jarbas Passarinho.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Perfeito.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Trata-se de um homem notável por todos os títulos, orador de escol, homem público correto, no fundo, no fundo, alguém que conseguiu prestar-nos grandes serviços, mesmo servindo àquele regime, e evitar muitas arbitrariedades, muitas vinganças, muitas vinditas. Voltando a Murilo Macedo, eu fui, com um grupo de Parlamentares da Oposição da época, ao Ministério. Havia uma greve, um caso qualquer que levava a uma certa crise política. Fiquei positivamente surpreendido com a cordialidade de Murilo Macedo, com a sua gentileza e, mais ainda, com a sua capacidade de cumprir a palavra. O que nos disse que podia fazer, ele fez, e nos deixou profundamente felizes com a sua postura de alguém que conseguia, em pleno regime arbitrário, receber Parlamentares que queriam desestabilizar o regime. A coisa melhor que se podia fazer, naquele momento, era desestabilizar um regime que não era bom para o País, mas ele conseguia manter esse traço de cordialidade. Portanto, quero me associar a essa homenagem que V. Exª faz, de maneira muito lúcida e muito oportuna, a esse brasileiro que, sem dúvida alguma, marca o seu nome na nossa História também.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Prezado Líder, agradeço a V. Exª pelas suas palavras, que se somam a esta homenagem que faço, hoje, a Murilo Macedo.

Nós precisamos, realmente, tirar exemplos da História recente, de brasileiros que souberam viver momentos turbulentos da nossa vida e em quem nos devemos espelhar para enfrentar as dificuldades atuais.

Concedo um aparte ao Senador Antonio Carlos Magalhães, com muito prazer.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Ouvia V. Exª com o respeito que merece, sempre oportuno, e queria dar o meu depoimento sobre a figura de Murilo Macedo. Murilo Macedo foi, sem dúvida, tudo isso que V. Exª traduz: um pacificador, um homem altamente educado, que conseguia, às vezes, o impossível, graças à sua habilidade. Agora, por um acaso, eu estava em São Paulo e me dirigia à missa do Dr. Roberto Marinho, mas ainda estava sendo realizada, na igreja, uma missa para Murilo Macedo. Pude rezar por ele e, mais que isso, pude dar as condolências à sua família e assistir a uma multidão de brasileiros, sobretudo de São Paulo, participando daquela missa. Era uma demonstração da gratidão do Brasil ao homem que, realmente, fez tudo em defesa dos trabalhadores, como disse V. Exª, mas levando sempre o seu bom senso para as soluções que o momento difícil que ele viveu exigia. Quero felicitar mais uma vez V. Exª pelo seu oportuno discurso, coisa, aliás, que é uma tradição na sua pequena mas já importante vida parlamentar.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Senador Antonio Carlos, muito obrigado pelo seu aparte.

Realmente, devemos homenagear figuras como Murilo Macedo. O meu pai era de Oposição, eu também, na época, ainda na área estudantil, participava do MDB antigo, mas isso não me impede de vir à tribuna do Senado para elogiar um Ministro do regime militar, exatamente porque ele soube entender as dificuldades do momento, soube fazer a necessária mistura de argumentos e, com isso, defender os trabalhadores naquele momento difícil do Brasil.

Que a vida de Murilo Macedo sirva de exemplo para os brasileiros e que possamos ter sempre maturidade, dirigindo as relações brasileiras, seja com os sindicalistas, seja com os políticos em geral. Isso é fundamental, porque a História não perdoa. Ela vem com fatos que mostram que alguns, que no passado foram extremamente críticos em algumas atitudes, acabam se rendendo e verificando que sempre é necessário ter bom senso, uma característica de todos os mineiros.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/09/2003 - Página 26542