Discurso durante a 116ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Contradições do Orçamento da União para 2004, o que leva o governo petista a fazer mudanças para pior.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. ORÇAMENTO.:
  • Contradições do Orçamento da União para 2004, o que leva o governo petista a fazer mudanças para pior.
Publicação
Publicação no DSF de 10/09/2003 - Página 26610
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. ORÇAMENTO.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), EXCESSO, PROPAGANDA, FRUSTRAÇÃO, POVO, AUSENCIA, CRESCIMENTO ECONOMICO.
  • ANALISE, CONTRADIÇÃO, PROJETO DE LEI ORÇAMENTARIA, REDUÇÃO, RECURSOS, REFORMA AGRARIA, POLITICA SOCIAL, INJUSTIÇA, CRITERIOS, UNIFICAÇÃO, PROGRAMA, TRANSFERENCIA, RENDA, EXCLUSÃO, FAMILIA, AUSENCIA, PREVISÃO, REAJUSTE, SALARIO, FUNCIONARIO PUBLICO, SALARIO MINIMO, AUMENTO, DESPESA, GABINETE, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) -

O GOVERNO PETISTA FAZ MUDANÇAS PARA PIOR

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em diversas ocasiões, fiz advertências ao governo petista do Presidente Lula, envolvendo os problemas mais preocupantes para uma Nação que precisa crescer e não vê qualquer ação efetiva do Planalto. Em vez disso, o que se vê é um velho, enfadonho e diário ramerrão sustentado por promessas vagas. Mesmo assim, só navega por um tempo, o tempo que dure a força da propaganda dos marqueteiros do Planalto.

A propaganda oficial é eficiente, acredita o governo petista. Não importa o quanto vem custando. O dinheiro do povo é gasto a rodo pelos marqueteiros. Só com a mudança do desfile de 7 de setembro, do Setor Militar Urbano para a Esplanada dos Ministérios, lá se foi l milhão de reais, segundo informam os jornais. E, como observou o Estadão, Lula gastou 1 milhão, não usou o Rolls-Royce - que a todos alegrava - e se distanciou do povo.

Eis o que diz uma das manchetes do jornal: Lula fica longe do povo na festa do 7 de Setembro.

Uma questão de opção do Presidente.

O povo se frustra em tudo por tudo. Por conta das contradições do governo petista. E é de contradições que quero falar hoje.

Diversamente do que a Secretaria de Comunicação do Planalto- analisou em relação ao Orçamento da União para 2004, o que mais ali se vê são contradições.

Vamos a elas, uma a uma:

1. FOME ZERO: Anunciado como programa que revolucionaria a área social no Brasil e no mundo, o que se observa é uma redução de 77% em relação aos recursos aplicados no ano passado, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso. Repito: redução de 77%;

Ou o programa foi desenhado com improvisação ou, como parece mais certo, não passou de uma jogada de marketing.

Nesse campo, tudo que o governo petista do Presidente Lula fez foi comprovar que o governo anterior, do Presidente Fernando Henrique Cardoso, estava no rumo certo.

E mais, entre o que Lula prometeu aos eleitores e o que foi realizado, em termos de mudança, tudo não passa de mero esbulho.

2. ÁREA SOCIAL: Apregoam os marqueteiros do Planalto que o Orçamento de 2003 garante mais recursos para a área social.

É outra inverdade.

O que se observa é uma redução percentual da despesa social em relação à despesa total: em 2003, esse percentual era de 72%. Em 2004, será de 70%.

3. UNIFICAÇÃO: A unificação dos programas sociais, que poderia significar um avanço na consolidação dos programas de transferência de renda, vem carregada de forte dose de injustiça. E, além da injustiça, de mais e mais contradições.

A contradição está associada à alteração dos níveis de renda definidos para identificar uma família como pobre ou extremamente pobre.

Até hoje, inclusive, o próprio governo Lula estabeleceu os valores correspondentes a meio salário mínimo e um quarto do salário mínimo para esta definição. Meio salário, pobre; um quarto de salário, extremamente pobre.

Já o Projeto de Lei do Orçamento estipula, para identificar pobres e extremamente pobres os estalões de renda de R$ 100 e R$ 50, sem qualquer vinculação com o salário mínimo.

Vale refrescar a memória petista, que deve estar escaldante de tanta bola na trave e escanteios: o programa do governo garantia que seria implementado um programa de renda mínima universal para as famílias com até ½ salário mínimo per capita.

Passou longe do gol.

E a injustiça fez gol de placa. Vamos lá:

Com base no censo demográfico de 2000, há mais de 9,8 milhões de domicílios brasileiros com renda familiar per capita inferior a ½ salário mínimo mensal. Desse total, 94% são formados por pessoas com idade entre 0 e 17 e/ou 55 anos e mais. Ou seja, as idades que apresentam maior grau de vulnerabilidade.

A injustiça se deve ao fato de que, com esses novos níveis de renda per capita, a meta de famílias a serem atendidas passará a ser de 7,6 milhões.

O que acontecerá com o excedente (ou as famílias “sobrantes”), que já recebem algum benefício?

Hoje, elas são 9 milhões de famílias, recebendo o Bolsa-Escola e o Auxílio-gás.

Pela cartilha petista, serão excluídas 1 milhão e 400 mil famílias.

Vão se somar ao contingente de quem nada tem... E PT, SAUDAÇÕES.

Para a memória do PT ficar mais lembradiça, basta dar uma marcha a ré aos cinco meses iniciais do governo petista. Era aí que os Ministros de Lula criticavam duramente o cadastro único dos programas sociais, porque, em alguns municípios, o número de famílias cadastradas era inferior às que necessitavam de algum benefício.

E agora, como ficamos? Mais de 30% das famílias cadastradas possuem renda per capita inferior a R$ 100.

4. FUNCIONALISMO PÚBLICO: A proposta de Orçamento do governo Lula prevê, para as despesas de pessoal e encargos sociais com o funcionalismo público, um total que passa de 4,94% do Produto Interno Bruto-PIB, em 2003, para 4, 85% do mesmo PIB em 2004. Conclusão: o governo petista do Presidente Lula não tem a intenção de realizar reajustes de salários nem de reduzir o quadro de pessoal.

5. SALÁRIO MÍNIMO: Pela primeira vez, em muitos anos, o Projeto de Lei Orçamentária não define previamente o valor do salário mínimo.

O salário mínimo representa uma importante conquista dos trabalhadores, alcançada com a justa pressão do PT. Mas quando o PT era oposição.

O atual governo apenas afirma que o reajuste deverá ser de 5%, o que está longe da promessa da campanha, de dobrar o valor real do salário mínimo.

Promessa de PT morre na praia.

6. REFORMA AGRÁRIA: Para a reforma agrária, o governo petista destinará, em 2004, apenas R$ 1 bilhão e 5 milhões. Não dá para assentar as 60 mil famílias, que era a meta anunciada na campanha de Lula.

Embora estejam previstos R$ 291 milhões a mais que em 2003, o valor consignado não dá para assentar nada além de 27 mil famílias. Menos da metade do prometido.

7. GABINETE DA PRESIDÊNCIA: Excetuando o forte aumento nas despesas com o gabinete da Presidência da República, de 70,7% em relação a 2003, e de 154% comparado com o de 2002, o orçamento do governo petista do presidente Lula é tímido, sem inovações.

Não ajuda nada e ninguém a chegar a porto firme. Sossobra direto ao fundo do mar. Nem chega à areia da praia.

E isso tem uma tradução: frustra aqueles que votaram supondo um governo de mudanças. Se há mudança, é para pior.

Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/09/2003 - Página 26610