Discurso durante a 116ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à cidade de São Luís do Maranhão pelo transcurso do aniversário de sua fundação.

Autor
Roseana Sarney (PFL - Partido da Frente Liberal/MA)
Nome completo: Roseana Sarney Murad
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à cidade de São Luís do Maranhão pelo transcurso do aniversário de sua fundação.
Publicação
Publicação no DSF de 10/09/2003 - Página 26619
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, SÃO LUIS (MA), ESTADO DO MARANHÃO (MA), REGISTRO, HISTORIA, CAPITAL DE ESTADO.

A SRª.ROSEANA SARNEY (PFL - MA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje, ocupo esta tribuna para homenagear a minha cidade natal, São Luís do Maranhão, fundada em dia oito de setembro de 1612.

Em São Luís o presente e o passado juntam-se para preservar o nosso patrimônio arquitetônico, um dos maiores e mais homogêneos de todo o Brasil, construído ao longo de séculos, pelo trabalho de sucessivas gerações de maranhenses. Seu Centro Histórico tem cerca de 3500 imóveis dos séculos XVIII e XIX distribuídos, principalmente, pelos bairros da Praia Grande, Desterro e Portinho.

Os amplos sobrados coloniais ainda preservam as fachadas da cerâmica portuguesa e marcam a paisagem da cidade, que é Patrimônio Cultural da Humanidade - título recebido da UNESCO em 1997, no meu primeiro governo. Ter nossa cidade como Patrimônio da Humanidade é uma vitória dos maranhenses e o reconhecimento pelo trabalho de preservação da cidade realizado pelo governo do Estado.

A história da capital maranhense começa em 1612, com sua fundação pelos franceses, comandados pelo fidalgo Daniel de La Touche, em uma expedição autorizada por Maria de Médicis, regente da França na menoridade de Luís XIII. Seu nome foi dado à colônia durante a fracassada tentativa de lá deitar as raízes de uma França Equinocial, depois da tentativa de fundação da França Antártica no Rio de Janeiro, em 1555. A nau capitânia, chamada Regente, era comandada pelo almirante François de Razilly, senhor de Rasilly e Aunelles, glória da Marinha francesa de então; a nau Charlotte, pelo barão de Sancy e a nau Saint’Anne por Claude de Razilly, barão de Launay.

Entre os capuchinhos da frota estavam Claude d’Abeville, autor de um dos mais importantes e famosos livros da historiografia maranhense, a “História da missão dos padres capuchinhos na Ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças”, na tradução de César Marques, que narra a viagem da França, de onde a expedição partiu a 19 de março de 1612, ao Brasil, assim como os sucessos relacionados à fundação solene da cidade no dia oito de setembro, com a celebração de uma missa e a realização de uma procissão, e à expulsão dos franceses; Yves d’Evreux, o superior dos padres, que viria a escrever a “Viagem ao Norte do Brasil, feita nos anos de 1613 a 1614”, impressa em 1615, mas destruída ainda na tipografia por motivos políticos, sendo reeditada somente em 1864 por Ferdinand Denis. Esse livro foi reeditado novamente em 1929 por Humberto de Campos e, mais uma, em 2002, pelo governo do Maranhão, na coleção Maranhão Sempre, de obras importantes para a História do Maranhão, quando eu era governadora do Estado.

Os franceses encontraram na Ilha Grande, ou Upaon-Açu, os índios Tupinambás, que os chamaram de papagaios amarelos, por sua cor e por sua fala rápida.

Em 1614, os franceses sofreram uma grande derrota na Batalha de Guaxenduba para tropas vindas de Pernambuco comandadas por Jerônimo de Albuquerque, que havia recebido por Provisão Real de 29 de maio de 1613, o título de Capitão da Conquista e Descobrimento das Terras do Maranhão. Após essa batalha foi assinado um armistício. Em 1615, foram definitivamente expulsos com a ajuda de mais tropas vindas de Pernambuco, comandadas por Alexandre de Moura coadjuvado por Diogo de Campos. Daniel de La Touche, abandonado pelo seu governo, foi levado preso para Olinda e, depois, transferido para Lisboa, onde ficou preso por dois anos no forte de Belém. Daí em diante, São Luís passaria a ser uma das mais portuguesas cidades do Brasil.

Em 1641, a cidade foi invadida pelos holandeses. Em 1644, os portugueses expulsaram os invasores, tomando posse da região definitivamente. Do seu nascimento francês, e ainda que orgulhosa disso, São Luís não conserva quase nenhuma marca.

A cidade, banhada pelas águas da baía de São Marcos, é ensolarada o ano inteiro. A ilha onde está localizada, de quase mil quilômetros quadrados, tem praias muito bonitas, como a Ponta d'Areia, São Marcos, Calhau, Olho d'Água, Araçagi e a Praia da Guia, imortalizadas nas letras de diversas canções de músicos populares maranhenses, além de extensos manguezais, responsáveis pela preservação de uma riquíssima flora e fauna marinhas, com enorme variedade de peixes, caranguejos e outros frutos do mar.

Sr. Presidente, a natureza foi pródiga com o Maranhão, e Deus a completou com um povo trabalhador e hospitaleiro, que tive a honra de governar por quase oito anos. Eu poderia falar dos maranhenses e de suas qualidades por longo tempo e ainda haveria muito a dizer. Mas escolhi, como síntese de meu povo, um de seus traços culturais mais marcantes: a literatura.

A cidade de São Luís é conhecida, com toda a justiça, como a Atenas Brasileira, denominação a ela atribuída ainda no século XIX pela presença de grandes nomes maranhenses no panorama cultural brasileiro. Eles formaram naquela época o que ficou conhecido como o Grupo Maranhense do qual faziam parte grandes poetas, prosadores, tradutores, jornalistas, professores, gramáticos, educadores, biógrafos e cientistas, que, embora não sendo, todos, de São Luís tinham a cidade como referência e paixão. O Grupo Maranhense era composto por ilustres figuras como: Odorico Mendes, Sotero dos Reis, João Lisboa, Gonçalves Dias, Henriques Leal, Pedro Nunes Leal, Trajano Galvão, Sousândrade, Gentil Braga, Joaquim Serra, Dias Carneiro, Antônio Joaquim Franco de Sá, Gomes de Sousa. Além dos escritores desse grupo, tivemos outros como César Marques, Celso Magalhães, Teófilo Dias, Adelino Fontoura, Raimundo Correia, Artur Azevedo, Aloísio Azevedo, Graça Aranha, Catulo da Paixão Cearense, que, apesar do nome, era maranhense, Humberto de Campos, Coelho Neto, Viriato Corrêa, Odylo Costa, filho, Franklin de Oliveira, Oswaldino Marques, Lago Burnett, Bandeira Tribuzzi, João Mohana, José Maria Nascimento, Maria Firmina. Hoje, essa tradição é continuada por nomes como Josué Montello, Ferreira Gullar, Nauro Machado, Manoel Caetano Bandeira de Mello, Lucy Teixeira, Jomar Moraes, José Chagas, Luís Augusto Cassas, José Louzeiro.

Srªs e Srs. Senadores, a esses nomes, permito-me adicionar mais um, o do meu pai, o presidente José Sarney, da Academia Brasileira de Letras, com uma obra literária conhecida e admirada no Brasil e em vários países em todos os continentes, governador do Maranhão e presidente da República, que, tenho certeza, se une a mim e aos demais senadores maranhenses, nesta homenagem que faço à cidade de São Luís do Maranhão.

Parabéns a São Luís por esses trezentos e noventa e um anos de fundação, período em que se tornou um marco na vida dos maranhenses e dos brasileiros.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/09/2003 - Página 26619