Discurso durante a 120ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários às matérias publicadas no jornal Folha de S.Paulo, edição de hoje, a respeito da queda do emprego na indústria e estagnação econômica do Brasil. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários às matérias publicadas no jornal Folha de S.Paulo, edição de hoje, a respeito da queda do emprego na indústria e estagnação econômica do Brasil. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 13/09/2003 - Página 27074
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, APRESENTAÇÃO, DADOS, ESTATISTICA, AUMENTO, DESEMPREGO, SITUAÇÃO, RECESSÃO, ECONOMIA, REDUÇÃO, ARRECADAÇÃO, RECEITA, CONTENÇÃO, DESPESA, NECESSIDADE, URGENCIA, CORTE, TAXAS, JUROS.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes de mais nada comunico à Mesa, à Casa e à Nação que, ao homenagear, hoje, o grande brasileiro Juscelino Kubitschek de Oliveira, o Senador do PMDB Mão Santa estará falando também pelo meu Partido, o PSDB.

Por todos os títulos, quem homenageia, vale a pena, e quem é homenageado, vale a pena também, que é o grande brasileiro que abriu a perspectiva do desenvolvimento para o interior do País.

Trago a este Plenário duas matérias publicadas, hoje, no jornal Folha de S.Paulo. Ao invés do espetáculo do crescimento, estamos tendo o quadro deprimente de o emprego industrial ter tido a segunda maior queda do ano em São Paulo, com saldo de contratações e demissões, em agosto, de menos 26% sobre julho. Ou seja, isso significa que 6.576 postos de trabalho, representando 0,43% em relação ao mesmo período de 2002, foram fechados. E hoje a Fiesp já admite, em vez de otimismo moderado diante da situação medíocre que aí está, que não haverá empate entre os dados de 2002 e 2003, ainda que pudesse haver uma reação econômica até o final do ano, já que mais de seis mil postos de trabalho deverão ser fechados até o final do ano, segundo a diretora da Fiesp, a economista Clarice Messer.

A outra notícia também é de advertência e, da mesma forma, não é boa. Em vez, repito, de acenar com o espetáculo do crescimento, que tanto tem motivado o marketing político do Presidente Lula, acena com o espetáculo trágico da recessão, do desemprego e da fome. Diz a matéria: “Fundo do poço. Receitas ficam 2,4 bilhões abaixo do previsto até agosto”.

Significa isso que a economia está parada.

Diz o jornal Folha de S.Paulo: “Despesas podem diminuir, para atingir meta fiscal”. E diz o mesmo jornal na manchete de primeira página: “Governo arrecada menos e pode elevar cortes”.

Ou seja, os Ministérios, que já têm orçamento tão magro para investimento, podem ter menos ainda para investir, significando menos movimentação da economia, menos compra no comércio, o comércio comprando menos da indústria, comércio e indústria empregando menos e até desempregando, menos arrecadação. Trata-se de um círculo vicioso, em vez do círculo virtuoso.

Temos promessas radiosas, pois o Governo diz que vamos crescer ano que vem. Até não tenho dúvida, pois seria o pior caos se não crescêssemos ano que vem. Diante deste quadro que aqui está, temos que, pelo menos, crescer algo acima de 4% ano que vem. O que nada representa se compararmos com a Argentina, cujo PIB cai 10%, em um ano, e, no ano seguinte, sobe 5%, em relação a menos 10%. Então, teríamos que ver o que a Argentina faria de seu processo - e tomara que faça o melhor - para continuar crescendo sobre as melhoras obtidas ano a ano.

Não dá para fazermos, agora, enganação estatística com o povo que está vendo o desemprego grassar. Não dá para enganação estatística, imaginando que as pessoas são tolas e não estão vendo o aperto em suas vidas pessoais. A notícia que, muitas vezes, se divulga, sob o efeito da enganação estatística, chega à pessoa que está em casa, vendo televisão, e ela fala: “puxa, tanto otimismo, e o meu vizinho acabou de perder o emprego; eu não consegui o meu ainda; e só quem trabalha, na minha família, é a ‘fulana de tal’!”

Então, às vésperas da nova reunião do Conselho de Política Monetária, a recomendação que o PSDB faz ao Governo Lula, ao Copom, à equipe econômica, é que ouse - repito o que já disse em outras ocasiões -, até porque, se há algo que tem funcionado com razoável eficiência, no Governo Lula, é a parte de política macroeconômica, gerenciada pelo Ministro Palocci. O resto, não. Tenho autoridade para dizer, portanto, que, no resto, a marca é a da incompetência.

Na política macroeconômica, o trabalho do Governo tem sido bom. Se tem sido bom, ousem agora, para não complicar o crescimento em 2004. É possível baixar mais do que os 2% que estou vendo projetados, como previsão do mercado, a título do que seria a decisão do Governo. É possível baixar, pelo menos, três pontos percentuais. Teríamos, ainda assim, juros. Se fossem para 19% os juros reais, projetando, atingimos algo como 14%, no fim do ano. A depender de continuar a inflação nessa trajetória de queda - tem sido esse o resultado admirável do Governo -, teríamos, com 3% a menos, 19% de taxa básica. A inflação ficará abaixo de 5% - ela já está um pouco acima, ou seja, ela está em 6%. Temos, ainda, juros reais altíssimos. Seriam juros reais em torno de 13%. São juros reais insuportáveis, se comparados com outras economias, para tocarmos o desenvolvimento de maneira sustentável.

Portanto, que o Governo ouse desta vez e que baixe, exatamente, tudo o que pode. E vou dizer algo que também tenho repetido aqui e que tem sido quase como um disco que ameaça furar. Tenho dito que é insanidade alguém querer baixar juros só porque quer. É insanidade e já encerro, Sr. Presidente. Por outro lado, é insanidade alguém não baixar tudo aquilo que pode. É insano quem baixa só porque quer e arrebenta a economia, e é insano aquele que não baixa tudo o que pode. Agora, pode baixar, com segurança, três pontos, para, projetando-os, chegarmos a 14% de taxa básica de juros, ao fim do ano, e, quem sabe, com perspectiva de taxa real de um dígito - o que seria psicologicamente bom e seria praticamente bom para nós também.

Fica a advertência. Torço para que o Governo acerte. E fica, aqui, Sr. Presidente, a tristeza de vermos que, em vez do espetáculo do crescimento, as notícias verdadeiras, aquelas que não vem do marketing, apontam recessão, desemprego, estagnação econômica e muita incompetência administrativa.

Muito obrigado.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210 do Regimento Interno.)

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/09/2003 - Página 27074