Discurso durante a 121ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comunicação de sua desfiliação do PMDB.

Autor
Gerson Camata (S/PARTIDO - Sem Partido/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Comunicação de sua desfiliação do PMDB.
Publicação
Publicação no DSF de 16/09/2003 - Página 27130
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ANUNCIO, ROMPIMENTO, ORADOR, FILIAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), JUSTIFICAÇÃO, EXISTENCIA, MEMBROS, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, ACUSAÇÃO, CORRUPÇÃO, PARTICIPAÇÃO, CRIME ORGANIZADO.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, V. Exª, esta Casa e o povo brasileiro estão acompanhando a luta do Estado do Espírito Santo, da sociedade capixaba, da OAB e das entidades civis contra o crime organizado.

Ao então Presidente Fernando Henrique Cardoso foi pedida uma intervenção no Estado diante do agigantamento das proporções da ação do crime organizado na máquina pública. Sua Excelência, então, criou uma missão especial que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por meio de seu Ministro Márcio Thomaz Bastos, novamente enfatizou mandando uma equipe de Procuradores e de policiais federais para o Estado do Espírito Santo. Esse trabalho resultou na prisão de alguns Parlamentares e na suspensão do mandato de outros. Vários Parlamentares e ex-servidores do Governo do Estado estão com as suas prisões preventivas decretadas pela Justiça Federal.

Entendíamos que o crime organizado tinha levado uma punhalada e estava recuando diante da ação da Justiça. O Governador Paulo Hartung tem se esforçado - pondo em risco a própria vida - exigindo das forças policiais e dos Procuradores do Estado uma ação constante contra o crime organizado. No entanto, ontem descobrimos que o crime está muito mais organizado do que supúnhamos.

Em uma convenção fantasma, sem convocação, o crime organizado tomou de assalto o PMDB do Espírito Santo. Formou uma executiva, Sr. Presidente, de temer. O Presidente é o Deputado Marcelino Fraga, que está sendo processado seis vezes, inclusive por desvios de fundos do próprio PMDB. O outro, que deve ser o Vice-Presidente da Executiva, é o Prefeito Guerino Zanon. S. Exª sofre a grave acusação de, como prefeito, liberar verbas para a faculdade da qual é dono, no Município de Linhares. Dois Parlamentares do PMDB, Deputados Estaduais, tiveram o mandato suspenso, estão com suas prisões preventivas decretadas. Os dois são membros da Executiva do PMDB que o crime organizado colocou para dirigir o nosso Partido. Um senhor chamado Wilson Rese, processado por desvio de material na Secretaria de Educação, foi o Secretário-Geral do Partido na convenção clandestina efetuada ontem.

Tudo começou há quinze dias, no balneário capixaba de Jacaraípe, quando o ex-Presidente da Assembléia Legislativa, que agora está preso - foi preso há uma semana - participou de uma reunião com alguns próceres do PMDB. Lá, prepararam a tomada do Partido. O PMDB, que têm excelentes prefeitos, grandes vereadores, boas lideranças políticas, ficou em uma situação difícil. Imagino o que esses prefeitos, na campanha para eleição ou reeleição municipal, vão fazer com esse monte de gente de comportamento ruim, ligado ao crime organizado, à frente do palanque.

Os bons e os honestos começam a debandar e a deixar o Partido. Hoje, aprendi uma palavra nova. Um prefeito me ligou dizendo que o PMDB se transformou num valhacouto do crime organizado. Fui ao dicionário e descobri que valhacouto, uma palavra que eu nunca havia escutado, significa refúgio. E como tenho medo de pertencer ao valhacouto diante dos fatos que ocorreram ontem! Nas proximidades da convenção, havia muitos carros com placa de Curitiba e do Rio de Janeiro e os serviços de informação da polícia não detectaram estar essas pessoas hospedadas em hotéis, portanto, elas não queriam se identificar. Percebemos que está em andamento um movimento nacional. E é bom advertir os partidos políticos que o crime organizado começa, depois de migrar um certo do tempo para o Judiciário, a tentar fazer seus tentáculos penetrarem na política.

Diante disso, Sr. Presidente, ontem mesmo a ex-Deputada Rita Camata, que foi a candidata do PMDB à Vice-Presidência da República, se desfiliou do Partido em Vitória. E estou comunicando à Mesa a minha desfiliação também do PMDB neste momento, por meio desta carta que encaminho à Mesa.

É com pesar que faço essa opção de deixar um Partido ao qual durante anos servi, onde durante anos fiz grandes amizades, um Partido pelo qual lutei e cuja bandeira carreguei sua bandeira. Não posso carregá-la agora que está conspurcada pela presença de gente de passado pouco recomendável. Vai ser uma pena: com a Executiva formada ontem de assalto, quando chegarem as eleições municipais, para se fazer uma Ata do Partido, teremos que recolher assinaturas nas prisões. Foi uma convenção clandestina e poderia ser anulada, mas eu prefiro entregar a bandeira e deixar o Partido, até por temer pela minha vida e dos meus familiares.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/09/2003 - Página 27130