Pronunciamento de Mão Santa em 15/09/2003
Discurso durante a 121ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Participação de S.Exa. em debate realizado na Universidade Federal do Piauí para discutir a reforma da Previdência. Participação do PMDB no Governo Federal. Cobrança de verbas para hospitais do Piauí.
- Autor
- Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
- Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
PREVIDENCIA SOCIAL.
SAUDE.:
- Participação de S.Exa. em debate realizado na Universidade Federal do Piauí para discutir a reforma da Previdência. Participação do PMDB no Governo Federal. Cobrança de verbas para hospitais do Piauí.
- Aparteantes
- Pedro Simon.
- Publicação
- Publicação no DSF de 16/09/2003 - Página 27146
- Assunto
- Outros > PREVIDENCIA SOCIAL. SAUDE.
- Indexação
-
- REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, SEMINARIO, UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUI (UFPI), DEBATE, PROPOSTA, REFORMULAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL.
- CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, AUMENTO, NUMERO, SERVIDOR, GOVERNO, DEMORA, LIBERAÇÃO, VERBA, VIABILIDADE, FUNCIONAMENTO, AMBULATORIO, UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUI (UFPI).
O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Papaléo Paes, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros, Senador Pedro Simon, símbolo maior dos 180 anos da história deste Senado, que iguala-se a Ruy Barbosa, fui convidado pelos professores universitários federais do Piauí e por funcionários públicos para um debate na sexta-feira pela manhã. O tema, Senador Mozarildo Cavalcanti, era essa desastrada reforma previdenciária, a PEC 40, perversa, estelionatária, criminosa. Assim, Sr. Presidente, eu tinha o compromisso de fazer um pronunciamento nesta Casa.
De lá veio que o Senado não funcionava às sextas-feiras, mas apenas de terça a quinta. No entanto, hoje estamos aqui, segunda-feira, 15 de setembro de 2003. Cheguei às 14 horas e 30 minutos e só agora, às 17 horas e 23 minutos, consegui usar da tribuna.
Esta Casa mudou. E a ignorância é audaciosa, Senador Pedro Simon. Na natureza, tudo muda. Só há uma força permanente: a mudança. Portanto, o Senado mudou.
Senador Mozarildo Cavalcanti, a água com que V. Exª se banhar hoje em um rio da sua Roraima não será a mesma de amanhã. Tudo muda. O Senado mudou!
Como disse Shakespeare, sabedoria é unir a experiência dos mais velhos à ousadia dos mais novos - simbolizada aqui pela experiência do Senador Pedro Simon e pelos que chegaram a esta Casa. A prova de que houve mudança é que estamos aqui numa segunda-feira.
O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Senador Mão Santa, permite-me V. Exª um aparte?
O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Com todo o prazer, eu e o Brasil escutaremos o Senador Pedro Simon. Há o risco de a Rede Globo e de o SBT perderem audiência, porque, quando se pronuncia o Senador Pedro Simon, o País pára para ouvi-lo e segui-lo.
O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Nobre Senador Mão Santa, posso dizer que é realmente impressionante a audiência da TV Senado no Brasil. Muitos daqueles que imaginavam que a TV Senado seria algo ridículo e grotesco estão verificando que é diferente. Há uma série de atividades do Senado que não têm sido divulgadas pela grande imprensa, como a CPI do Banestado, mas que o têm sido pela TV Senado, permitindo que o Brasil inteiro saiba do que está acontecendo. V. Exª se coloca em primeiro lugar entre os novos Senadores desta legislatura, pela cultura, pela capacidade, pela competência e pelo seu estilo. V. Exª tem um estilo que torna profundamente agradável ouvi-lo como estamos fazendo deste plenário, mas que torna profundamente cativante ouvir em casa, pela televisão, como eu faço, porque V. Exª fala de uma maneira singela, simples, de uma forma que o povo acompanha. V . Exª fala de uma maneira lenta, tranqüila, e o povo sente, pela firmeza com que V. Exª fala, a seriedade e a sinceridade do que V. Exª diz. Isso é muito importante. Há muitos oradores brilhantes, extraordinários, que têm grande cultura e dizem grandes coisas, mas que não conseguem transmitir ao telespectador. É muito importante salientar isso, Senador. Diz-se que, na rádio, você pode fazer um grande discurso e o ouvinte pode gostar ou não ou pode não ligar, você pode ganhar, perder ou nem ganhar nem perder votos. Mas, na televisão, o telespectador gosta ou não, porque ele vê. Entramos na casa do telespectador, na sua intimidade, e ele olha para nós, para os nossos olhos, para os mínimos detalhes. Quero dizer que, junto com V. Exª, chegou uma plêiade de novos Senadores que realmente deu vida nova, deu dinâmica a esta Casa. Está acontecendo aquilo que V. Exª salienta. Hoje é segunda-feira, V. Exª está falando às 17 horas e 27 minutos e eu estou aqui esperando a minha vez para falar. Espero poder falar até às 18 horas e 30 minutos, pois ainda há outros oradores inscritos. Já aconteceu de não conseguirmos falar em reuniões de segunda-feira por haver esgotado o tempo. No ano passado, as reuniões de quinta-feira eram feitas pela manhã, foram ridiculamente transferidas para a manhã. Em razão disso, elas se esvaziavam, pois as pessoas iam embora quinta-feira cedo ou quarta-feira à noite. Agora, as reuniões de quinta-feira são realizadas à tarde e seguem noite adentro. E as reuniões de sexta-feira, que se realizam pela manhã, às quais muita gente não comparecia, têm começado às 9 horas e têm continuado até 13 horas e 30 minutos ou 14 horas, havendo ainda Senadores aqui e, às vezes, havendo um grande debate. O Senado está vivendo um dos seus melhores momentos. Eu, que estou aqui há vinte anos, posso dizer isso. O Senado vive um dos seus momentos mais importantes e significativos, porque essa gente que entrou traz uma idéia nova, uma preocupação nova, um estilo novo. E há uma coincidência importante: temos gente nova aqui, com vontade de trabalhar, com vontade de debater, de discutir, e um Governo novo, que está apresentando as suas propostas, acertando aqui, errando lá, mas de qualquer maneira é um novo Governo, portanto essa dupla coincidência de Parlamento novo, Senado novo e Governo novo está fazendo com que V. Exª possa dizer com grande orgulho: “Esta Casa vive um grande momento”. E se lhe diziam que não funcionava na segunda-feira, que não funcionava na sexta-feira, V. Exª pode até ter autoridade de dizer: “Não funcionava quando o Mão Santa não estava lá; agora que o Mão Santa está lá, funciona na segunda-feira e funciona na sexta-feira”. Meus cumprimentos a V. Exª.
O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço a V. Exª e incorporo seu aparte ao meu pronunciamento.
Eu queria dizer que nós, médicos - estamos diante de dois médicos, o Senador Papaléo Paes e o Senador Mozarildo Cavalcanti - vamos buscar a etiologia, a causa em tudo, e a causa disso tudo é o exemplo que Pedro Simon nos dá. Como Padre Antônio Vieira disse: “O bem nunca vem só, o exemplo arrasta”. V. Exª nos arrastou à grandeza de ser Senador.
Então, quero chamar a atenção justamente para o seguinte - quis Deus dois médicos aqui presentes -: primeiro, Senador Pedro Simon, o PMDB tem que entrar no debate franco. O maior apoio será - e seremos base ao Presidente da República - levarmos a Sua Excelência a verdade: Senador Pedro Simon, o nosso querido e extraordinário Lula, figura humana generosa, errou no começo; nem tudo está perdido, mas errou mesmo, deu uma mancada. Isso é normal. Nós, que entendemos a natureza, sabemos que quando se vai caminhar, cai, levanta, cai e anda. Está na hora dele, depois da queda, Senador Antonio Carlos Valadares, levantar.
Esse negócio de ter aumentado a máquina foi um erro. Sua Excelência nunca havia governado. Os seus companheiros também são noviços, de tal maneira que é um erro. Por isso que se estuda até para jogar futebol, senão a pessoa fica no time dos peladeiros. Para jogar na seleção, treina-se, estuda-se e se adquire técnica. Então, para administrar há compêndios, estuda-se.
Átila, rei dos Hunos, escreveu um livro de administração. Que beleza os princípios de herança. Também Syrus Publius, romano, escreveu como administrar, mas o livro mais recente é Reinventando o Governo. Ted Gaebler e David Osborne viram que é difícil, que a democracia é complexa. Assim, Bill Clinton, em sua inteligência, mandou dois grandes especialistas em administração escreverem o livro Reinventando o Governo em que resumem que o governo não pode ser grande demais, não pode ser como um transatlântico, um Titanic, porque afunda. Tem que ser pequeno, versátil como um Learjet, mas ficou grande.
Aonde quero chegar? Quis Deus estar presente o sol do PT, Senador Eduardo Suplicy, que está atento. Pela sinceridade, S. Exª tentou ser meu cirineu, Senador Pedro Simon. Desde o primeiro dia, há um ambulatório federal da universidade, no qual foram aplicados US$22 milhões para a obtenção da mais sofisticada tecnologia em exames, e os instrumentos estão perdendo a validade. Se um carro possui um período de validade, independentemente da assistência, imaginem os aparelhos eletrônicos sofisticados da Medicina moderna.
Faltam R$60 mil reais para colocá-los em funcionamento, entretanto este Governo não tem dinheiro. Creio que é falta de dinheiro, porque o Senador Eduardo Suplicy foi nosso companheiro na luta, reivindicou, trabalhou, assim como o Senador Tião Viana, a quem também sou agradecido. Aquela santa guerreira, mártir do PT, foi comigo aos Ministérios, o que deve ter contribuído para o acidente vascular cerebral que sofreu. Andei com a “santa trindade” do PT, mártires, implorando desse Governo R$60 mil para o Piauí, a fim de fazer funcionar uma instituição pública que serve aos estudantes universitários, que devem atender os pobres.
O serviço público é que vai atender os pobres. Os ricos não têm problema, pegam um avião da TAM ou da Varig e vão para São Paulo. E o Ministro da Educação também, porque é universitário. Os dois Ministros. Havia outro para pedir e eu não o fazia porque acreditava que devia aguardar.
Senador Papaléo Paes, gostaria de dizer que há outro grande hospital, iniciado pelo Senador Heráclito Fortes, quando Prefeito de Teresina, e eu de Parnaíba, entre 1988 e 1991. O Prefeito é do PSDB, mas o fato é que a obra se transformou em um elefante branco, e não existe financiamento pelo Ministério.
Muito bem. Fui a minha cidade, Parnaíba. Senador Pedro Simon, se V. Exª me permite, na Grécia, Sêneca disse: “se você não sabe para que porto vai, ventos nenhum lhe ajudarão”. Eu sei; os ventos me ajudam; estou aqui para defender os pobres, os humildes e os necessitados. Cheguei aqui cantando e entendendo que o povo é o poder. É esse meu entendimento. Não existe, a meu ver, Poder Legislativo, Poder Judiciário e nem Poder Executivo. No meu entender, no L’Esprit Des Lois, somos instrumentos da democracia.
Senador Pedro Simon, o poder é o povo. O povo é o poder. É o povo que paga a conta. Aliás, eu me devotei trabalhando numa Santa Casa de Misericórdia. Em 1991, incorporei um hospital federal e o municipalizei, pois, entristecido, na minha cidade, o Prefeito anunciou e já marcou a data - os vereadores me mostraram uma carta explicando a falta de apoio - para fechar todos os atendimentos de emergência e urgência.
Então, este Governo está enganado. Aprendi com o caboclo do Piauí que é mais fácil tapar o sol com a peneira do que esconder a verdade. A verdade é que o povo está abandonado, sem emprego, sem saúde, sem educação, sem segurança. Só não perdemos a vergonha. Sabemos que a democracia nos dá alternância do poder. Essa é a verdade.
Exerci a Medicina na minha cidade e nunca ouvi dizer que fechariam um hospital. E Parnaíba não é simplesmente Parnaíba, não. Senador Antonio Carlos Valadares, digo como Sêneca, que não era nem de Atenas e nem de Esparta: Parnaíba não é uma pequena cidade, é a minha cidade. Ela simboliza as 5.546 cidades deste País. Se em Parnaíba, governada pelo PT, em que confiamos, em que acreditamos, fecha-se...
Senador Pedro Simon, nunca vi um negócio como esse, porque não há apoio. Os prefeitos encontram-se em dificuldade. Mas esse Congresso acreditou - e acreditou bem - no mais honrado dos médicos e no melhor Ministro da Saúde: Dr. Jatene. Possibilitou-se, então, a criação da CPMF, para oxigenar e salvar a saúde, mas seus recursos foram desviados. Depois, inventaram a Cide. Isso tudo, hoje, Senador Papaléo Paes, representa mais da metade dos tributos, cujas fatias não são dadas para os locais onde vive e sofre o cidadão. O PT dizia: “não tenha medo de ser feliz”. Eles querem aquele sonho, mas está todo mundo apavorado.
Imagino como estão a minha Parnaíba e as outras cidades. Ninguém mora no Palácio da Alvorada, só a família do Presidente do Brasil. O povo mora nas cidades, e essa é a verdade.
Vou dar o maior apoio ao povo, pois represento o PMDB e sigo sua mensagem. É aquela que Ulysses, encantado, do fundo do mar, deixou: “Ouça a voz rouca das ruas”. E a voz rouca das ruas é esta: vamos ter coragem de levantar da queda dos primeiros passos falsos do governo, diminuir, amanhã, esse ministério e mandar os seus recursos para onde há falta: educação, saúde e segurança. Isso é melhor que contemplar aqueles que vão com a cuia pedir ministério. Nós, não! Somos do PMDB de Teotônio Vilela - que, com câncer, teve a coragem de andar para libertar este País da doença maior, a ditadura - e do PMDB da moderação de Tancredo Neves.
Estamos com paciência, mas já vamos para fim do primeiro ano de Governo, ou 25% do mandato.
Queremos agradecer ao Senador Eduardo Suplicy pela coragem de nos ajudar, assinando documentos. Mando nossas últimas palavras aos céus, a Deus, à padroeira da minha cidade, Nossa Senhora da Graça, e à grande Deputada Francisca Trindade, santa mártir do PT, para que se lembre realmente de levar fatos concretos para melhorar as vidas dos piauienses.
Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.